quarta-feira, 30 de março de 2011

SEM LIMITES



















Ora em cartaz nacional, “Sem Limites”(Limitess/EUA,2011), o filme de Neil Burger (de “O Ilusionista”) , tem um tema interessante. Trata de um escritor em crise criativa que perambula pelas ruas de New York atormentado por afetos fracassados e a falta de dinheiro. Nessa situação ele encontra o irmão de sua ex-mulher antigo usuário de drogas que o convida a uma conversa e revela estar representando uma firma da indústria farmacêutica preste a lançar o revolucionário NZT, um comprimido que agiliza o potencial do cérebro a ponto de a pessoa se tornar um gênio em pouco tempo. O escritor resolve tomar o tal remédio em um momento tenso: cobrança de seu aluguel atrasado, monitor do seu pc em branco, sem nenhuma inspiração para o livro que é obrigado a escrever. No mesmo momento, muda sua perspectiva: termina parte do livro, é convidado a ser assesssor financeiro de um magnata e por ai vai.

O original literário é de Alan Glynn e o roteiro de Leslie Dixon. Bradley Cooper protagoniza Eddie Morra, o jovem escritor que de repente se transforma em uma super-inteligencia. Ao chegar ao mundo das finanças é cobiçado por um ambicioso executivo (Robert de Niro). Nos bastidores, luta com os efeitos colaterais do remédio e com a sua possível escassez já que o fornecedor é encontrado morto.

Estilo literário engenhoso, comparando o ativador cerebral com uma droga do tipo LSD, alude não apenas ao vicio que isto possa causar, mas à ambição pelo efeito no intelecto. O desenvolvimento é muito bom e as possíveis falhas são esquecidas no desenvolvimento da trama. Isto não quer dizer que “Sem Limite” escape dos limites de uma produção comercial norte-americana. Nada é tratado de forma densa, passando-se por cima de aspectos da vida intima do personagem e, mais ainda, das figuras que surgem em sua aventura por um mundo que desconhecia.

O objetivo foi aproveitar a curiosidade do tema. E as respostas às indagações do espectador são quase todas apresentadas e aceitas. Uma delas: se o usuário da droga milagrosa se torna um sábio ele deve procurar identificar a fórmula e providenciar o seu, digamos, genérico. Por outro lado, os efeitos negativos podem ser solucionados com a perspicácia de quem estuda o processo de uso até pelo modo de usar. Afinal, o “paciente” que toma o tal NZT conhece a diferença do remédio para as drogas usadas e abusadas a ponto de criar dependência. Mas uma das vantagens do roteiro é não demonstrar esse grau de sabedoria do herói ao longo do filme. Deixa uma surpresa para o final. E não esvazia o teor de ficção-cientifica nos últimos planos: ao contrário, prossegue com mais informações.

Um elenco bem controlado tem bom desempenho. Os buracos da trama não impedem que ela se torne repetitiva ou desinteressante. Um desses buracos é o fim do ex-cunhado de Eddie. Não se sabe detalhes de sua morte. Mas há relação com a droga que ele propaga até na aparição de um russo que deseja o “remédio mágico” de qualquer maneira. E os efeitos colaterais em novos e velhos usuários não acrescentam o grau de sabedoria que o escritor ganha e sabe aproveitar.

O filme começa com um plano de Eddie na beirada da sacada de seu apartamento, no alto de um prédio, ameaçando se jogar. Há um fato ao lado que chama a sua atenção. Mas a câmera desvia-se no tempo e no espaço. Não é uma fusão ou um “fade out”. Surge uma legenda anotando o tempo principiando a narrativa do jovem que está com dificuldade de criar seu primeiro romance. Uma seqüência nas ruas de NY. Daí o começo de uma intriga que vai chamar a atenção até dos acostumados com “thrillers” onde há elementos policiais e de espionagem.

Outro detalhe: o argumento deixam brecha para uma critica à saga capitalista. O executivo que incorpora entre suas empresas o laboratório que fabrica o produto estimulador dos neurônios humanos representa a saga de uma classe que não deixa passar as oportunidades de crescer. Mas há uma derivada para a crítica a esse comportamento. Muito bem estruturada.

Uma boa surpresa na área do cinema para o grande público.

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