sexta-feira, 29 de outubro de 2010

CINEMAS & OPINIÃO




















Na semana do dia 20/10 Belém recebeu mais sete salas de cinema localizadas no mais novo Shopping Doca Boulevard , somando-se, assim, mais espaços para a exibição de filmes – 20 ao todo.

Temos sempre a opinião de cinéfilos e dos interessados em ver esta arte abrindo as fronteiras com programas que nem sempre chegam por aqui. Recebi e repasso aos nossos leitores o email de Marly Anne Nobumasa que assim se expressou sobre o assunto:

“Sou assídua leitora da coluna Panorama, porém nunca me senti tão provocada a comentar um tema como o de hoje. Muito oportuna a chegada da empresa Cinépolis aguardada pelo diferencial na infra-estrutura de suas salas e serviços como pela expectativa de suprimir o que hoje, infelizmente, está habitual nas sessões de cinema, particularmente em nossa capital – o bombardeio de comerciais e propagandas de empresas e restaurantes antes do início do filme. Uma média de três a quatro inserções por filme, ora, não demorará muito e seremos surpreendidos no meio do filme com um intervalo comercial onde seremos agraciados com mais uma oportunidade de conhecermos o cardápio de mais um restaurante e mais pacotes promocionais de academias de ginástica onde poderemos gastar as calorias da pipoca.
Anseio que a chegada dos novos cinemas nos traga, além da opção de escolher onde ver tal filme, nos proporcione também a opção de assistir a um filme com trailers dos novos lançamentos ou a sensação de estarmos diante da sessão da tarde com diversos comerciais e até o saudoso plim plim...Bom filme e me conte como foi ....Um grande abraço”.

Bem, o que pode ser anotado na opinião da leitora Marly Mobumasa é que a inauguração das salas da Empresa Cinépolis deve constituir em diferencial para que haja competitividade entre as empresas aqui instaladas e que as exibições dos filmes nas sessões regulares declinem dos clips de publicidade que têm sido veiculados, segundo ela, uma afinidade com a “sessão da tarde” especialmente nas televisões de canal aberto.

A ampliação dos espaços de exibição de filmes distribuídos em áreas diversas, sem dúvida, abre a conquista de novo público devido a vários fatores. Um deles, a proximidade dos cinemas aos bairros residenciais e a locais com afluência de pessoas que nem sempre fazem dessa arte uma agenda regular de sua programação de vida. Acostumadas à televisão como canal direto da melhor maneira de aproveitar um “fim de tarde”, por exemplo, cedem à rotina providencial para “ficar em casa”. A atração dos shoppings, às vezes, é reveladora de um meio de explorar o prazer pela “coisa nova” e estando uma sala de cinema nesses locais, com uma programação atrativa, reconhecidamente fará a diferença na “esticada” da pessoa para assistir a um filme cujo título a atraiu. Assim, inicia-se novo hábito e a reorganização da agenda de eventos pessoais que servirão de guia ao novo “modo de viver”.

Que programação essas pessoas podem encontrar nas salas de cinema dos três shoppings da cidade?

Nos Pátio e Castanheira a empresa Moviecom lança o filme do Arnaldo Jabor, “Suprema Felicidade” (Brasil, 2010), a comédia romântica “Coincidências do Amor” (EUA, 2010), com Jennifer Aniston e Jeff Goldblum entre outros, e a animação “Garfield” em 3D e com mais horários.

No Shopping Boulevard a programação da Cinépolis, apresenta como novidades os mesmos filmes, ou seja, “Suprema Felicidade”, “Confidencias de Amor” e “Garfield”. E continua, dando destaque para “Avatar” em 3D, e o novo campeão de bilheteria norte-americano “Atividade Paranormal 2”, a ficção (e terror) “Instinto de Vingança”, e o filme brasileiro mais disputado pelo publico este ano:“Tropa de Elite 2

As salas alternativas oferecem: “A Guerra dos Botões” de Yves Robert, até domingo no Olympia; os dois primeiros episódios de “Decágolo” de K. Kieslowsky – 2ª.Feira, no CC Alexandrino Moreira (IAP), e “A Carruagem Fantasma”(Körkalen/Suécia, 1921) de Victor Sjostrom no auditório Benedito Nunes da Livraria Saraiva, 5ª.Feira às 19 h. O “Líbero Luxardo segue com "Tudo pode dar certo", de Woody Allen, até 31/10 e, no Cine Estação, entra em cartaz 4ª e 5ª feira a produção finlandesa: “Luzes na Escuridão”.

No Olympia começa na 4ª Feira o Festival Amazônia Doc 2, com filmes inéditos latino americanos. Destaque para as produções dos paraenses Francisco Carneiro e Renato Tapajós.

Façam suas escolhas e boa sorte!

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

INSTINTO DE VINGANÇA



O conto de Edgar Allan Poe “The Tell-Tale Heart” foi publicado em 1843 e deu margem a várias interpretações. Trata de um homem, justamente quem narra a história, que mata um idoso no lugar onde mora e retalha o corpo guardando as partes no subsolo. Ele afirma que não suportava o “olhar de águia” que este possuía. Mas depois de consumado o assassinato, o matador passa a ouvir o coração do assassinado pulsando fortemente do lugar onde se encontrava.

Esse conto foi filmado várias vezes em curta-metragem, somente em 1960 motivando a realização de um filme longo sugestivo dirigido por Ernst Morris. Presentemente ele recebe nova versão no cinema, intitulada de “Instinto de Vingança” (Tall Tell/EUA, Ingl, 2009) dirigido por Michael Cuevas, mais ligado a TV com apenas um título importante em cinema: “O Fim da Inocência” (Twelve and Holding/EUA,2005).

O roteiro de David Calahan (do recente “Os Mercenários”/The Exapandables- o filme de Sylvester Stallone com locações no RJ) muda radicalmente o original literário. Para esta versão, o personagem Terry (John Baca) está convalescendo de um transplante cardíaco, e após certo tempo começa a sentir taquicardia (batidas rápidas e fortes) quando se encontra diante de certas pessoas. Não demora em saber que essas pessoas mataram o doador do órgão e, como tal, devem ser assassinadas. Terry é viúvo, tem uma filha menor cuja pediatra tem certa inclinação romântica pelo rapaz. Há um segredo na trama que se elucida no final. Muitas pistas falsas procuram iludir o espectador que pressente de inicio como a história vai se conduzir.

Desta vez a ficção joga fora qualquer proposta cientifica. Como narrativa, observa-se que o diretor apela o tempo todo para o seu campo de rotina, ou seja, a televisão. Há uma enxurrada de closes, o enquadramento restringe um campo maior quando as tomadas são externas, a montagem é típica dos tele-seriados economizando o enfoque da ação.

“Instinto de Vingança” acaba sendo um filme de terror comum, apenas com uma imagem menos explorada do vilão, justamente onde reside a idéia de Poe, o coração que na época do escritor não precisava se acomodar ao corpo de outra pessoa para clamar por vingança e com isso ganhando mais subsídio na interpretação de que o drama é produto da mente do principal protagonista.

O final explora algumas idéias que o espectador mais arguto vai acumulando ao longo das seqüências e tem a chance de avaliar o bad-end na última tomada através do diálogo entre o transplantado e a médica sua então namorada. Esse detalhe vai responder pelas imagens sem nexo que ele vê surgir e que serão encaixadas no final.

Na última terça feira, o meu comentário sobre ‘A Última Sessão de Cinema” foi publicado sem o endereço onde seria apresentado o programa (cf www.blogdaluzia,com). O filme foi exibido no Cine Clube Pedro Veriano (Casa da Linguagem). Hoje é bom alertar que o clássico “A Guerra dos Botões” de Yves Robert está no Cine Olympia em sessão trgular (18h30).Muitos cinéfilos não conhecem. Vale a pena ver

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

A PRODUÇÃO DO MEDO
















O que se entende por “produzir medo”? Ou o que se entende por esse medo produzido pelo cinema?

Na linha da narrativa cinematográfica, a arte de mostrar o cotidiano surgiu desde o “primeiro cinema” cujas caracteristicas, nos primeiros dez anos da invenção dessa arte e a primeira exibição dos primeiros filmes evidenciaram as imagens captadas do dia-a-dia das pessoas, ou seja, a representação da realidade do cotidiano através de planos fixos. Seguidamente foi capturando outros aspectos que desenharam a narrativa atual como o enquadramento e a composição dos planos.

Bem, se observarmos a narração de “Atividade Paranormal 2” (Paranormal Activity 2, EUA, 2010, 91 min.) é possivel avaliar que há um tema – captura de fenomenos paranormais numa casa onde mora uma familia (pais e dois filhos, sendo o menino recenascido), e um método para essa captura – objetivado no transversalizar as afirmações de pessoas residentes sobre fenômenos ocorrendo no ambiente de moradia como sendo: sons, objetos sendo jogados sem causa aparente, portas se abrindo e fechando com violência, atitudes de uma criança e de um cão compativeis com a identificação de alguém no ambiente etc. Nesse método, o uso de câmeras montadas em pontos estratégicos da casa além da câmara portátil (que tem outro objetivo), é interessante verificar que a representação da realidade do cotidiano do “primeiro cinema” se condensa para ampliar o foco do interesse – mostrar a subjacência dos objetos e a essencialidade das imagens percorrendo outras expectativas que se acercam de emoções que não se ajustam ao “que fazer” da rotina, mas captam o outro lado do ambiente onde o olhar humano deixou de ter visibildade para consentir que esta seja sentida e não vista.

É nessa perspectiva que é possivel vislumbrar as ocorrências sistematicas desse ambiente em captura transferida ao espectador do filme e sentida por este transformado em agente propagador da tensão e do suspense em acompanhar os acontecimentos que são parte dos diálogos e das formas de tecer aquela rotina. Desde as primeiras falas dos protagonistas que estão entre dois lados – uns que já conhecem os fatos anteriores de poltergeist na casa e outros que têm conceitos desfavoráveis a esse respeito - o público vai reconhecendo os tipos que são apresentados sem que estejam esteotipados. É na identificação racional dos dias e noites em foco pela câmara – em que em alguns momentos nada acontece e em outros surgem detalhes muito tenues do que a câmera precisa mostrar aos personagens e que o público, qual voyeur, vai reconhecendo que são aspectos observáveis que devem ser extremados no final. Mas não antecipa esse sentimento. E ai é que entra o ato de “produzir medo” do qual se tratava no inicio. Em meio às imagens da rotina da casa e condicionados pelos diálogos vão sendo avolumados os intercambios entre imagens produzidas e emoções sentidas. Não que o filme detone aqueles sons de impacto que assustam, mas no silencio que são vistos como se estivessemos dentro da câmera é que há o aspecto do saber reconhecer qua há algo diverso de uma rotina normal.

O “produzir medo”, então não se realiza pela convenção, mas pela ausência dela, pela economia dos planos e pelo final abrupto do filme.

Rezadeiras, incorporação de espíritos, desaparecimento de pessoas surtem efeito e são visto pelos nossos olhos, mas dificil saber se ocorreram. Salvo pelas referências finais do que aconteceu, nas palavras escritas, sem imagens que operem como armas do terror.

Creio que esse é o resultado que fica de “ Atividade Paranormal 2”. Curioso e aproveitado numa forma que está lançando um novo gênero ou uma nova cinestética.

terça-feira, 26 de outubro de 2010

A ÚLTIMA SESSÃO DE CINEMA







Poucos filmes possuem a faculdade de registrar o comportamento de uma geração como este “The Last Picture Show”(A Última Sessão de Cinema) de Peter Bogdanovich com base em um livro e roteiro de Larry McMurtry.
O ano da ação é 1952. O lugar é a pequena cidade de Anarene, no Texas. Ali moram os amigos Sonny (Timothy Bottons) e Duane (Jeff Briges). A rotina engloba o colégio, os jogos e um cinema. O único cinema da cidade oferece o motivo dos sonhos dessa juventude que circula entre duas guerras, a 2ªMundial e a da Coréia.

Jacey (Cybill Sheperd) é a namorada de Duane e pertence à uma classe mais abastada.O relacionamento evoca um tempo em que começavam a surgir sinais da emancipação feminina com uma (relativa) liberdade sexual. Mas todos são românticos e os tipos que significam alguma coisa para eles ou seus modelos estão na tela, seja um cow-boy como John Wayne em “Rio Vermelho”(Red River) seja um galã dos muitos que Hollywood edificava para rapazes e moças terem como padrão.

Quem viveu esse tempo, mesmo em outro país, como é o nosso caso, se identificou com alguns tipos. A situação evocada é que foge ao esquema pelo fantasma de uma convocação para a guerra. Mas não é à toa, que Bogdanovich, um historiador da cinematografia norte-americana, e Larry McMurtry, escrevendo um texto com forte acento autobiográfico, pontuam a ação nos estertores do cinema de rua na pacata cidade.

A época marcava o fim das vesperais (para nós era esse o termo, para outras regiões o nome era “matinê”) como ponto de encontro de cinéfilos. Por aqui, havia as salas de cinema como o Poeira, mais tarde Nazaré 1, o Iracema, depois Nazaré 2, o Guarani, o Popular, o Moderno, o Independência, e, principalmente, o ainda de pé Olímpia. As estréias já espelhavam mudanças. A censura dos estúdios majoritários enfraquecia. Já começavam a aparecer nas telas as camas de casal, os sanitários, o sangue em ferimentos, as falas mais francas e os beijos mais “quentes” - embora sem o correlato de hoje, com enfoque dos apaixonados fazendo sexo (mesmo na disposição insinuada como a cena da lareira no clássico “Le Diable au Corps”/Adultera de Claude Autant-Lara). O que ainda persistia era o mocinho galante que brigava sem derrubar seu chapéu e a mocinha que servia de premio à valentia demonstrada nas inúmeras cenas de perigo e, normalmente, o “happy end”.

O filme de Bogdanovich não é apenas a última sessão de um cinema modesto que, no fim da história está fechando suas portas. Nem mesmo é uma espécie de prévia do “Cinema Paradiso” de Giuseppe Tornatore. O espetáculo cinematográfico serve de detalhe num painel social em um determinado período. O titulo, portanto, é abrangente: assim como a sala de espetáculos desaparece também os velhos ideais são forçados a mudar.

É emblemático, por exemplo, o papel de Sam, o verdadeiro cow-boy interpretado por Ben Johnson. Ali está o arquétipo do herói que sai de cena.

Com este filme de 1971 vencedor dos Oscar de coadjuvantes (Ben Johnson e Cloris Leachman) e candidato a mais 5 categorias, além de muitos outros prêmios internacionais, o Cine Clube Pedro Veriano (Casa da Linguagem/ABDeD – Av.Nazaré com Assis de Vasconcelos) encerra o programa Cinema Sobre Cinema. Foi um exaustivo passeio por um gênero que vê discute um tema relativo às modificações de uma época ou geração, onde a arte repercute como a representação desse realismo, não somente na cultura artistica, mas no comportamento da geração impactada por tantas mudanças.

E ao ser apresentado num espaço de cinema alternativo, mostra a odisséia dessa arte em definir a diferenciação entre o que é somente o produto comercial e o que deixa linhas sociais e políticas para a discussão. As salas alternativas de cinema operavam regularmente em grandes metrópoles como Paris, EUA etc. E ainda hoje um público cativo dessas discussões ainda se presentfica e ressuscita a arte da análise e a reflexão sobre a própria arte. Somos seguidores desse ideal refletido em “points” que temos ampliado na ACCPA. Uma ação que não deve deixar de ser o norte dos que têm a perspectiva de que o avanço das teconologias visuais não quer dizer a morte do cinema, mas o declinio de certas estruturas pesadas e o avanço da factibilidade técnica , mais prática, que tendem a melhorar a nova era da
reprodutibilidade da arte.

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

MENSAGEIROS DA MORTE

Como sempre, este espaço revela filmes inéditos no circuito comercial e lançados apenas em DVD. É o caso de “Depois de Partir” (Afterward/França,Canadá,2009) que não percorreu os nossos cinemas por conta da estimativa de mercado (segundo me disse o representante da disgtribuidora Paris Filmes). Uma pena, pois é um excelente filme.




Trata de Nathan (Romain Duris), um advogado bem sucedido que na infância teve morte clínica depois de um atropelamento. Certo dia, em seu escritório, recebe a visita de uma pessoa que se apresenta como dr. Kay (John Malkovich). Insistementemente essa visita é feita a ele e, de uma feita, o desconhecido revela que ele precisa tomar cuidado com a saúde, que há indícios de morte súbita pela vida que leva. Com o casamento em crise depois de perder um filho, Nathan passa a tentar a reconciliação com a esposa, Claire (Evangeline Lilly) e viver melhor os seus dias. Mas as coisas não são bem definidas como se pode resumir. Logo o advogado também pressente quem vai morrer e compreende através de Kay o efeito colateral do que lhe aconteceu em criança.

O roteiro, com base em um romance de Guillaume Musso, é extremamente edificante, valoriza a vida sem apelar para recursos melodramáticos. O diretor Gilles Bourdos consegue bom rendimento do elenco, da fotografia de Pin Bing Lee, e da musica (premiada) de Alexandre Desplat. Ressalto em especial a participação de John Malkovich, o ator certo para criar um tipo misterioso que sustenta a idéia de se vislumbrar os limites da existência.

E do lado oposto em temática é o clássico “Trinta Anos Esta Noite”(Le Feu Follet/França,1963) de Louis Malle sobre o livro de Pierre Drieu La Rochelle. Aqui é o homem deprimido que resolve se suicidar. No começo do filme ele está numa clínica se reabilitando de uma crise psicológica ajudada pelo alcoolismo. Ao ser avaliado com a saude recuperada quando já havia se aclimatado no ambiente, é levado para casa. Mas não demora a sentir que sua vida é inútil, e isto se acentua na visita a um amigo, na falta de comunicação com a esposa.

Maurice Ronet tem um de seus melhores momentos como ator.

Depois de um filme “deprê” como o de Malle nada melhor alugar o DVD de “O Grande Mentiroso” (The Invention of Lying/EUA, 2009) de Ricky Gervais e Matthew Robinson.
O roteiro segue o funcionário Mark (Ricky Gervais) na descoberta de que a mentira é necessária para se ir levando a existência numa sociedade hipócrita. Ele melhora o seu astral até que as pessoas pensem que as suas mentiras possuem um cunho religioso.
Um filme muito divertido que não se furta a um conteúdo denso. Também esteve ausente dos cinemas comerciais.

“Domingo Maldito”(Sunday Bloody Sunday/Inglaterra,1971) é um dos filmes mais aplaudidos de John Schlesinger (de “Perdidos na Noite” e “O Dia do Gafanhoto”). Peter Finch protagoniza um médico de sucesso na Londres dos anos 70 e que envereda por um triangulo amoroso com os vértices formados pela esposa, Glenda Jackson, e o designer interpretado por Murray Head.
Para a época foi um filme ousado. No Brasil muitas cenas sofreram a atuação da censura. Mas foi candidato a Oscar e é cultuado pelos cinéfilos internacionais.

“O Castelo” (Das SchloB)/Alemanha, 1997 é a versão de parte do livro de Franz Kafka realizado por Michael Haneke, o cineasta de “A Fita Branca”, “Cachê” e “A Professora de Piano”. A riqueza do texto de Kafka tenta ser preservada com a ação sendo “lida” (em voz alta) como se a imagem fosse simplesmente uma ilustração. Mas impressiona o que Haneke explorou na narrativa procurando transpor a densidade do original literário discutindo a perspectiva dos personagens que surgem e mantém heterogeneos comportamentos diante do que desconhecem dos viventes do castelo. É o tipo do filme bom para um debate sobre o relacionamento do cinema com a literatura e a tentativa de explorar a criação e o poder. A cópia em DVD não conclui o drama do topografo K que deseja entrar no castelo. Não é melhor filme de Haneke, mas precisa ser visto.

DVDS MAIS LOCADOS (FOXVIDEO)

1. Esquadrão Classe A
2. Como Treinar o Seu Dragão
3. Homem de Ferro 2
4. Tiras em Apuros
5. Tudo Pode Dar Certo
6. Plano B
7. À Prova de Morte
8. Lost - 6ª Temporada
9. House - 6ª Temporada
10. Ong-Bak 3

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

MAIS CINEMAS, MAIS ESTRÉIAS



Com mais cinemas na cidade supõe-se o aumento do número de estréias comerciais. Mas os cinéfilos exigentes permanecem com poucas opções.

Estréiam: “Juntos Pelo Acaso”, “Instinto de Vingança”,“Atividades Paranormais 2” e “Piranha 3D”, ficando em pré-estréia a projeção em 3D “Garfield, Um Super Herói Animal”. Também passa a ser visto em mais horários, nos novos Cinépolis (Doca Boulevard), o campeão de bilheteria “Avatar”, agora na copia original em 3D. O primeiro filme mencionado é uma comédia romântica. O segundo é uma ficção-cientifica de terror. O terceiro é uma natural seqüência de um desses sucessos de bilheteria com experiências baratas. E o quarto é o “remake” de um “horror” dos anos 1970.

Passando para a área alternativa: no Cine Libero Luxardo (CENTUR) prossegue “Tudo Pode Dar Certo”, o filme de Woody Allen lançado em 2009 que só agora chega à Belém (no sudeste já desponta o novo trabalho do veterano cineasta & humorista). Na Sessão Cult do mesmo cinema, sábado, 23às 16 h, a vez é da exibição de “O Açougueiro”(Le Boucher) um dos melhores filmes de Claude Chabrol, membro fundador do movimento “nouvelle vague”, falecido no mês passado. Na Sessão Cinemateca, do Cine Olímpia, depois de vários adiamentos, será exibido, domingo, 24 (16 h) o único filme dramático de Charles Chaplin: “Casamento ou Luxo”(Woman of Paris/1925). No Cine Clube Pedro Veriano (Casa da Linguagem), na 3ª feira, 26, às 18h30, “A Última Sessão de Cinema”(The Last Pictures Show), de Peter Bogdanovich, encerrando o programa “Cinema Sobre Cinema”. A exceção das sessões normais (19h30) do Cine Libero Luxardo (com “Tudo Pode Dar Certo”), as outras sessões são todas gratuitas.

A comédia “Juntos Por Acaso”(Life As We Know It/EUA, 2010) reúne Katherine Heigl e Josh Duhamel como o casal encarregado de tomar conta de uma afilhada, Sophie (Alexis Clageti) depois que os pais da criança morrem num acidente. O par se odeia e o tom hilário do roteiro está na conciliação forçada pela circunstancia. O diretor é Greg Berlani e a atriz licenciou-se do seriado “Grey’s Anatomy” para protagonizar Holly, a empresária que não morre de amores por Eric (Duhamel). A atriz até recentemente se dedicaca ao seriado que levou alguns premios Emmi e Globo de Ouro, mas devido a nova escalação em papel no cinema não renovou o contrato com o seriado. As críticas, da mídia norte-americana detonam seu desempenho no filme.

“Instinto de Vingança”(Tell Tale/EUA/2009) trata de Terry (Josh Lucas), um jovem transplantado cardiáco que após o ato cirurgico apresenta sintomas de mal-estar ao
cruzar com um determinado médico. Descobre que o órgão recebido teria sido de um assassino e vai ganhando autonomia a ponto de poder matá-lo se ele não desvendar o mistério que cerca o caso. A direção é de Michael Cuesta e o roteiro de David Callahan. Na produção estão os irmãos Ridley e Tony Scott.

“Atividades Paranormais 2”(Paranormal Activity 2/2010) segue a fórmula do filme que custa pouco e rende muito. No primeiro exemplar, um casal instala uma câmera em seu quarto e registra a presença de entidades desencarnadas. Neste segundo filme arma-se uma rede de artefatos digitais para captar melhor essas manifestações paranormais. O diretor é o mesmo, Tod Williams, e o roteiro é escrito por Oren Poli e Michael R. Pwrry, o primeiro roteirista e diretor da versão de 2007.

“Piranha 3”(EUA, 2010) é a refilmagem do que se apresentou nos anos 70, agora com a atração dos efeitos tridimensionais. No roteiro, um terremoto no fundo do mar libera um cardume de piranhas que passa a atacar os banhistas. Dirigido por Alexander Aja, o filme não nega a condição de um espetáculo de feira, um programa na linha do Trem Fantasma e outros brinquedos que por aqui se exibiam no “arraial” montado durante a quadra nazarena.

“Garfield, Um Super Herói Animal” (Garfield’s Pet Force/EUA, 2010) mostra o conhecido gato preguiçoso e comedor de lasanha e um gato dos gibis que se associam contra uma ameaça que pode acabar com o mundo. A direção é de Jim Davis e a projeção será em 3D.

Os locais de exibição, salvo os filmes alternativos, não foram citados, pois esse programas comerciais, hoje, estão distribuidos nos cinemas dos três shoppings da cidade. É procurar o local mais perto de casa e escolher o que lhe interessa. Boa sorte!

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

TROPA DE ELITE 2


















Em um país democrático pode-se denunciar falcatruas nas altas esferas administrativas sem medo de um censor qualquer dar tesouradas num filme ou prender quem denuncia. “Tropa de Elite 2” (Brasil, 2010) lembra esta qualidade quando, apesar de nos créditos iniciais dizer que se tratar de uma obra de ficção, acusar autoridades cariocas de crimes como a venda de armas a traficantes nos morros do Rio de Janeiro. No climax, sequencial chega a focalizar uma cena na Assembléia Legislativa onde o principal personagem, Coronel Nascimento (Wagner Moura), acusa alguns deputados como corruptos ligados às quadrilhas. Este enfoque cinematográfico lembra certos filmes norte-americanos como “Corações e Mentes”, ”Sete Dias de Maio” ou, nos dias de hoje, “Wall Street, O Dinheiro Não Dorme”.

O filme de José Padilha examina a verdadeira guerra entre policiais e marginais nas favelas do Rio de Janeiro de um ângulo diferente da primeira exposição (“Tropa de Elite”, 2008, premio maior do Festival de Berlim). Agora é a própria policia que assume a qualidade de vilã. Pouco se vê, por exemplo, do favelado. O focalizado é o agente “durão” e corrupto que mata sem hesitar, negocia com os fora-da-lei, “queima os arquivos humanos” quando sabe que uma ou mais pessoas pode(m) denunciá-lo.

Nascimento, que no primeiro filme tinha a patente de capitão e comandava as investidas nos morros, hoje é coronel e trabalha proximo ao Secretário Estadual de Segurança Pública. A sua posição é vista como decisiva em casos polêmicos, a exemplo, uma rebelião em um presídio onde a guarda invade e mata mesmo que um candidato a cargo eletivo (e professor) esteja negociando antes de deflagar a operação, pedindo paz aos detentos. Sua interferência surtiria efeito, mas os policiais não esperam por isso. Nascimento não dera ordens de ataque, mas a desobediência da tropa tem rescaldos na ação cometida. E continua a ser responsabilizado pelos desmandos que se processam em diversas operações. A ponto de impor autoridade acima de circunstâncias ou de pretensas demonstrações do “ego” de alguns comandados (quando na verdade o autoritarismo encobre o sadismo – e este é a resposta para conluios com o crime mal resolvidos).

Padilha aponta para o hiperrealismo, uma forma de fazer cinema com a liberdade de expressão que se têm hoje. As seqüências de luta armada dentro e fora da penitenciária e das “covas” das gangues lembra “Carandiru” de Hector Babenco. Mas se aquele filme enveredava por retoques alegóricos, até mesmo de alusão religiosa, aqui em “Tropa de Elite 2” não há desvio da problemática focalizada. E as locações nos pontos dos acontecimentos assim como a utilização de tomadas manuais deixam o aspecto de tele reportagem que no caso é muito sugestivo. Nas cenas de ação é como se o espectador estivesse presenciando tomadas ao vivo dos acontecimentos. Ou seja, sinta-se testemunha daqueles fatos, mesmo porque tem conhecimento deles através da midia. Apesar disso não se pode dizer que o filme é apenas um relato seco do que acontece. O realismo corre para os bastidores, e o ritmo de denúncia incorpora o mundo oficial de políticos nominando os tipos de gestores a quem interessa certas parcerias com aquele pelotão de corrupos da milicia formada e vai crescendo até encerrar com uma tomada aérea da Esplanada dos Ministérios em Brasília.

Não sei até que ponto o filme é lançado em época de eleição e no roteiro menciona um mesmo período. Para quem não costuma pensar um pouco em cinema e ver que Padilha está jogando culpa e culpados numa posição genérica que envolve também o tempo. Não há datação explícita, mas os fatos que emergem exploram a atualidade, como a referência à candidatos e à Ficha Limpa.

Tudo pode estar ocorrendo em 2010, como muito antes ou depois, valendo também como cronologia a distância da ação, iniciando em um pretenso “tempo real” para depois retroceder 4 anos e vir caminhando ao encontro da primeira data. A denúncia repercute a ponto de receber aplausos (foi dessa forma a reação dos espectadores na sessão em que estive). Pode valer para os mais apressados como um apelo de oposição (a uma feição genérica de governo). Mas volto ao que escrevi no inicio deste comentário, salientando que a liberdade de expressão é um atestado de um governo democrático. Palmas a isso, como palmas ao trabalho de Padilha, extensivas ao
intérpretes, especialmente Wagner Moura, um dos bons atores da temporada.

terça-feira, 12 de outubro de 2010

CINE CLUBE PEDRO VERIANO NO BAIRRO DO GUAMÁ





Em homenagem ao Dia das Crianças, a programação do Cine Clube Pedro Veriano vai para o bairro do Guamá levando 07 animações brasileiras.

Nesta terça-feira, excepcionalmente o Cine Clube Pedro Veriano leva sua tela para a sede do Bole Bole, no bairro do Guamá. Na programação estão os 07 curtas infantis do Programa 01 da Programadora Brasil.

Feitas em diversas técnicas e condições formam interessante panorama da produção no gênero. Os trabalhos que abrem e encerram o programa, justamente os mais recentes, são frutos do edital infanto-juvenil do Ministério da Cultura, o Curta Criança.

Vejam a crítica:

Produções que levam a sério o público infantil
Rodrigo Grota

Mesmo não se configurando uma definitiva síntese da animação brasileira dos últimos anos, o programa Curtas Infantis 1 aponta as virtudes e singularidades de nossa cinematografia dirigida para o público infantil. O DVD reúne três produções de São Paulo, duas do Rio, um curta gaúcho e uma animação do Ceará.

Na animação paulista Disfarce Explosivo (2000), de Mário Galindo, há um clima próximo às situações cômicas que Mazzaropi ambientava no meio rural brasileiro. Tecnicamente bem produzido, o filme remete à animação "A Fuga das Galinhas", preservando um humor que, às vezes, soa ingênuo.

Em O Tamanho que não Cai bem (2001) vemos um ótimo resultado de uma oficina realizada com crianças de uma escola de Porto Alegre. Esta animação tem na ingenuidade e no aspecto lúdico suas maiores forças. Outra qualidade: os desenhos dos personagens se alternam em alguns momentos, criando uma espécie de fluxo interno proporcional à transitoriedade da vida.



Isabel e o Cachorro Flautista (2004), de Christian Saghaard, mistura imagens em 35mm e desenhos animados. Sob um tom de fábula, o espectador mergulha em um universo fantástico com certa facilidade, graças à interpretação singela da estreante Júlia Freitas. O filme tem na inocência sua principal virtude.


Uma das animações brasileiras mais premiadas nos últimos anos, Historietas Assombradas (para crianças malcriadas) (2005), de Victor-Hugo Borges, é composta por três histórias livremente adaptadas do folclore brasileiro. Produzido com uma técnica mista, o curta apresenta uma fluidez narrativa encantadora, fortalecida pela voz sóbria de Mirian Muniz. Com uma estética próxima aos filmes de Tim Burton, trata-se de um ótimo exemplo de como apresentar temas de nossa cultura sob uma narrativa dinâmica e não-didática.

Em Alma Carioca: um Choro de Menino... (2002), de William Côgo, além da trilha sonora impecável, há também a evocação de um Rio nostálgico, sem a violência e a pobreza dos dias atuais. O excessivo idealismo, porém, se revela um mecanismo didático, ignorando contradições e controvérsias tão naturais a uma narrativa dramática.

Produzido pela TVE Brasil, Mitos do Mondo: Como Surgiu a Noite (2005), de Andrés Lieban, unifica as diversas raízes que formam o que se poderia chamar de "civilização brasileira". A animação tem como principal mérito apresentar a cultura indígena de forma não-depreciativa, ainda que, em alguns momentos, o conteúdo se revele um tanto caricato.

O Nordestino e o Toque de sua Lamparina (1998), de Ítalo Maia, foi produzido pelo Núcleo de Animação da Casa Amarela, no Ceará. Mostra o inusitado encontro de um sertanejo e um daqueles gênios típicos das histórias contadas no lendário ?As Mil e Uma Noites?. Com um toque de humor, e trilha sonora adequada, o filme oferece um tratamento mais lúdico a um tema tão associado às mazelas sociais.

Serviço:
Cine Clube Pedro Veriano em homenagem ao Dia das Crianças, na sede do Bole Bole, passagem pedreirinha,s/n no bairro do Guamá, às 18h30, com entrada franca.

Divulguem e compareçam!

Dani Franco - Jornalista DRT-Pa 1749
Diretoria ABDeC-Pa
(91) 8167 5745 / 8889 3639
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sexta-feira, 8 de outubro de 2010

A NOVA TROPA DE ELITE & OUTROS



















A estréia mais evidente no circuito comercial neste final de semana é “Tropa de Elite 2”, um ambicioso lançamento nacional. Estréia também, especificamente no Moviecom Pátio 2, “A Lenda dos Guardiões”de Zack Snider, animação em 3D. E durante a semana haverá sessões prévias de 21 h na mesma sala da reprise, agora em cópia tridimensional, de “Avatar”, incluindo mais 15 minutos editados depois do lançamento normal.

No circuito extra o programa est´assim: “Tudo Pode Dar Certo”, de Woody Allen (Cine Estação 4ª e 5as Feiras próximas), filmes referente ao Círio no Olympia e Libero Luxardo, onde se inclui o longa-metragem de Eliana Caffe “O Sol do Meio Dia” com locações no Pará.

“Tropa de Elite 2”(Brasil/2010) é uma conseqüência comercialmente natural do sucesso do primeiro filme que o diretor José Padilha realizou sobre a ação policial nos morros cariocas. Agora o Capitão Nascimento (Wagner Moura) enfrenta as milícias, um novo problema que atormenta a cidade. Ele logo bate de frente com o sistema que controla o estado, se equilibrando entre o desafio de pacificar o ambiente e cuidar de Rafael (Pedro Van Held), seu filho que está na fase de adolescencia e, ainda, Rosane (Maria Ribeiro), sua esposa. Ao seu lado ele conta com o apoio de Matias (André Ramiro), escolhido para substituí-lo no BOPE.

O primeiro “Tropa de Elite” foi um fenômeno de publico e de critica. Interessante é que o filme foi “descoberto” através das edições piratas. Quando estreou nos cinemas muita gente quis rever o que já tinha assistido em casa.

O diretor José Padilha surgiu com o impressionante documentário “Onibus 174”. “Tropa de Elite 2” é mais um filme brasileiro candidato a campeão de bilheteria, competindo nessa área com “Chico Xavier” e “Nosso Lar”.

'Lenda dos Guardiões (Legend of the Guardians/EUA,2010) é uma animação em 3D com um toque de aventura. O argumento com base nos 3 primeiros dos 15 livros de Kathryn Lasky, segue Soren, uma jovem coruja fascinada pelas histórias épicas contadas pelo seu pai sobre os Guardiões de GaHoole, um bando mítico de guerreiros alados que lutaram em uma grande batalha para salvar todas as corujas dos maldosos Puros. Exibições na sala 2 do Moviecom Pátio.

“Tudo Pode Dar Certo”(Wathever Work/EUA,2009) marca o retorno de Woody Allen a Nova York. Com uma filmografia colada na grande cidade norte-americana ele viveu algum tempo na Europa onde realizou “Match Point”(Ponto Final), um de seus melhores momentos como diretor, e “Vicky, Cristina, Barcelona”. Na volta à casa focaliza um tipo excêntrico que muito tem a ver com sua pessoa. O velho Boris (Larry David) casa-se com uma ninfeta que lhe pede abrigo (Evan Rachel Wood), mas o casamento termina com a intromissão da mãe (Patricia Clarkson) da jovem, que expoe idéias que mudam o pensamento da filha. O cineasta preferiu dar um papel moldado ao seu jeito para Larry David e usou o recurso de falar com a objetiva já revelado em “Annie Hall”(Noivo Neurótico, Noiva Nervosa).

“O Sol do Meio Dia”(Brasil/2009) ainda não é o filme que registre o modo de ser do paraense. A predileção pelo exotismo joga o trabalho de Eliane Caffe, a diretora de “Narradores de Javé” e “Kenoma”, para o que se explorou anos a fio, em cinema, da nossa paisagem. Uma pena, pois houve boa intenção.

Registro

A coluna Panorama de “O Liberal” da edição de 4ª. feira deixou de fora a minha opinião sobre “O Último Exorcismo”, ainda em cartaz. Achei que desta vez o logro de falso documentário não funcionou. O espectador é desrespeitado no flagrante arremedo de realidade, produzindo-se um dos finais mais ridículos de que se tem noticia. O texto integral está neste blog. Procurem acessar e ler o texto integral.

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

O ÚLTIMO EXORCISMO

A fórmula narrativa e temática de “A Bruxa de Blair” (1999) continua sendo usada por certos cineastas, sobretudo os que pretendem aumentar o “caixa baixo” de suas produções. É o caso de Daniel Stamm com “O Último Exorcismo”(The Last Exorcism/EUA, 2010).





Antes de qualquer comentário é interessante observar que a referida fórmula está sendo usada exclusivamente para o gênero terror. Basicamente é uso do metacinema.

No filme em questão, o pastor Cotton Marcus (Patrick Fabian) mostra-se descrente de quase tudo que aprendeu na religião ao longo dos anos. Quando recebe o convite para exorcizar uma jovem em uma fazenda próxima de Nova Orleans, ele aproveita para produzir um documentário que desmitificará o procedimento. Leva uma assistente e um cameraman e se dirige para a fazenda , se defrontando com a família da jovem: o pai e um irmão. O primeiro, não aceita o registro filmado dos procedimentos. A câmera parece desligada (há um espaço negro) mas logo volta a funcionar e aí não se ouve mais reclamos do fazendeiro. A jovem Nell (Ashley Bell) recebe o pastor com respeito, mas apresenta poucas informações sobre as crises de gritos e choros que a atormentam (inclusive durante a noite). Nas consultas a livros sagrados Cotton atribui os sintomas da jovem à possessão (mesmo que não se mostre crente nisso) de um determinado demônio. Começando o ritual ele provoca uma crise em Nell, logo sanada com as preces. Para o pastor seria um efeito psicológico e bastaria o procedimento. Mas não demora e os sintomas de possessão recomeçam a se manifestar. Nesse ínterim, Cotton descobre que Nell está grávida. Seria a causa do fenômeno: vergonha (e medo) dos familiares. Revelado pela jovem como pai da criança um rapaz da vizinhança demonstra ter outra orientação sexual. E o caso não termina.

O pastor da localidade e uma ajudante surgem com novos procedimentos mas, no fim das contas, Nell é “exorcizada” por outras pessoas e de forma brutal.

As imagens capturadas de toda essa encenação é de supor que são registradas através da câmera do pastor Cotton. Mas há detalhes que escapam: como o uso de uma narrativa em primeira pessoa. Em seguida, alguns planos fixos da casa da fazenda e outros detalhes de edição não resumidos à captura da câmera emergem nessas imagens. No caso de “A Bruxa de Blair” e, mesmo, de “REC” (Espanha, 2007) ou de “Atividade Paranormal” (EUA, 2007, este com uma seqüência em vias de lançamento), a idéia é de que tudo se registra através da “câmera-olho”. Uma lição de linguagem que se inicia com Vertov e, no cinema moderno, apossa-se de recursos digitais. Os meios de ligar planos para efeito de “timing” cabem no uso do que foi gravado (o caso de “A Bruxa..”) ou o automatismo do aparelho (como em “Atividades Paranormais” onde a câmera fica ligada quando as pessoas estão dormindo).

Mas o grande problema de “O Último Exorcismo” é que o roteiro se perde quando está com todo o processo em acerto. A revelação de um trauma psicológico da “paciente” resolveria bem o filme. Não havia necessidade de apelar para um flagrante engodo, quando em licença ao terror se mostra um final clichê de filme do gênero, com um absurdo fecho das filmagens (pergunta-se quem achou a gravação e como esta foi salva sabendo-se que este é um procedimento imprescindível na filmagem com câmera digital?).

Objetivando assustar, o filme ora em cartaz apresentou uma baixa planilha de custos, mas teve alta rentabilidade (ainda está rendendo. A “Bruxa de Blair gastou 50 mil dólares e rendeu cem milhões). Ao explorar uma suposta realidade como verdade, uma das bases da cinematografia, serve a estripulias ligadas unicamente à capacidade de renda. Por suposto, isto quer demonstrar que mais produções estão sendo realizadas com o objetivo de assustar, haja vista os custos menores do que, por exemplo, séries do tipo “Eu Sei o Que Vocês Fizeram no Verão Passado”(1997) e rendem o mesmo ou mais dividendos.

Votos de que este seja, realmente, “o último exorcismo” de faz de conta no cinema.

COMER REZAR AMAR





Outro dia, um programa de TV por assinatura apresentou uma entrevista com a escritora Elizabeth Gilbert, autora do “best-seller” “Comer, Rezar, Amar”. Como era uma entrevista de brasileiro para brasileiros/as, a escritora mostrou-se alegre, expansiva, dizendo que se tratava de uma autobiografia (seu marido atual é brasileiro). E aproveitou para dizer que gostou muito do filme que fizeram sobre o seu texto, especialmente pela escolha de Julia Roberts. Realmente um”alter-ego” como Julia, que depois da maternidade emagreceu bastante e que durante as filmagens na Itália disse ter engordado 5 quilos, é gratificante. Mas se isso basta para quem concebeu a idéia básica do argumento, como foi apresentada na tela do cinema é no mínimo discutível.

O enredo cobre os anos que se seguiram ao divorcio de Liz, uma escritora bem sucedida que achou um único modo de superar o fim de uma união de mais de 8 anos: viajar. Ela escolhe um roteiro que começa por Bali, onde consultará um xamã que lhe prognostica uma completa mudança no plano econômico e um novo objetivo de afeto, circula em Roma, onde se deliciará com a culinária italiana, vai a Calcutá onde reza nos locais sagrados do hinduísmo e volta a Bali não só para “prestar contas” ao xamã mas achar o novo amor.

Se a personagem enfrentou trauma emocional e achou que percorrendo outros cenários seria a solução para seu problema é uma concepção bastante especifica. Nada no roteiro exprime que a escritora norte-americana viaja para esquecer males passados. Não há qualquer detalhe cinematográfico que esmiúce uma personalidade, que construa um tipo que tenha sofrido uma ruptura traumática na sua vida afetiva. E, principalmente, pelo fato de pouco se exigir da personagem interpretada por Julia Roberts de expressões correspondentes ao que se sabe dela (pelo que está escrito). Noutras palavras: não há cinema de introspecção, deixando o diretor Ryan Murphy optar pelo cinema turístico.

Realmente o filme parece um desses documentos de viagem, ou comercial de agencia de viagens. O que se vê dos lugares onde circula a protagonista é o que se vêm mostrando anos a fio desses mesmos espaços, seja em cinema comercial, seja em tele programas. Do tipo “Pelo Mundo” de um canal fechado de tv. E se esta é a opção psicológica da escritora, a pressa em mostrar o modo como vai se firmando entre as guloseimas e as predições animadoras dos magos orientais chega a chocar a quem, por exemplo, assistiu no cinema a trilogia de Michelangelo Antonioni (“Aventura”,”A Noite”, ”Eclipse”) sobre a incomunicabilidade.

A receita “comer rezar amar” (assim mesmo, sem virgulas entre as palavras) é um recurso que pode ser interessante se focalizado de uma forma que se detenha no que há de substancial nesses quesitos. Talvez o livro, que eu não conheço, chegue a isso. Afinal, escrevendo a sua própria experiência. Elizabeth Gilbert deve ter exposto uma sinceridade inconteste. Afinal, é a sua experiência, o que lhe aconteceu (e por mais que não tenha sabido dissertar sobre suas emoções o modo de expor, a partir de uma cronologia, deve ter sido sincero). O filme é fantasioso e longo demais (140 minutos). Deixa a impressão de que os intérpretes se divertiram mais do que os espectadores. E um detalhe: quando se focaliza o amor brasileiro de Liz (Javier Bardem) ouve-se a nossa bossa nova, o que é um alívio para a monotonia crescente. O cômico é dizer que brasileiro beija filho na boca. Podemos ser carinhosos, mas a nossa cultura afetiva está muito mal colocada no filme.

terça-feira, 5 de outubro de 2010

GENTE GRANDE





Nestas andanças pelo cinema e responsabilidade de opinar sobre um filme em exibição, há 38 anos, em Panorama (O Liberal), o respeito que tenho pelo/a leitor/a é assistir a qualquer programa em lançamento sem discriminação pela posição de alerta de experts de que tal filme é descartável e, mesmo assim, discorrer sobre ele. Este ano acho que já bati o recorde de vezes em que fui assistir a certas produções cujo apelo comercial abrangia a inbecilidade, mas que a indústria teima em circular explorando o que ela própria já determinou como “diversão”. Alguns são muito chatos outros até menos, mas ainda não me vi saindo de uma sessão em sinal de desconforto. Tratar do filme tem sido o meu compromisso quando agendo uma ida ao cinema de rua.

“Gente Grande” (Grown Ups/EUA,2010) tem o apelo descartavel. É o tipo do filme em que os atores se divertem mais do que os espectadores. Produzido pelo ator Adam Sandler e dirigido pelo amigo dele Dennis Dugan trata da reunião de colegas de escola, 30 anos depois de deixarem esta condição, em uma casa à beira de um lago para onde se dirigem depois de assistirem ao funeral do seu treinador de basquete.

O tema serve para reunir os comediantes mais em voga no atual cinema norte-americano: Sandler, Chris Rock, Rob Schneider, David Spade, e Kevin James. Eles e as atrizes Salma Hayek, Maya Rudolph, Maria Bello e Joyce Van Patten – interpetando as esposas - investem-se de personagens que vivem esses momentos onde o principal é se divertir animadamente nos feriados da independência norte-americana.

O que se vê são brincadeiras que envolvem a todos os membros das famílias e algumas lembranças dos “meninões”(a idéia é mostrar que eles sentem saudade daqueles momentos apesar da idade). Aliás, o enfoque predileto é as crianças, e muitas participam dos jogos dos adultos mostrando com isso que os papais não ficaram muito longe de seus comportamentos.

Mergulhos em piscina a partir de tobogãs, exercícios pândegos de arco e flecha, passeios de barco, descida em bote inflável por águas revoltas, os divertimentos se acumulam e cobrem o tempo da projeção.

Alguns tipos conseguem fazer graça com a própria presença (o caso de Rob Scheider). Outros estão até mesmo melancólicos como o chatissimo Chris Rock. E Sandler parece coordenar a pândega sempre exibindo um sorriso. Realmente dá para espelhar felicidade se divertindo quando o mercado mundial está aberto e a produção mostrando lucros.

Apelo à comédia visual acontece de forma homeopática. Talvez alguém consiga rir quando um dos personagens é alvejado por uma flecha no pé. Esta sequência será objeto de lembrança em diversas situações já vividas pelos personagens (que são mostrados desde criança). Outra lembrança de comédia visual é quando um tipo que resolve mergulhar na grande piscina correndo em um cabo que percorre toda a extensão de água, ultrapassa o limite em que deveria cair e segue quebrando o madeirame à frente. Mas o centro do riso repousa nas falas e nas citações especificamente nacionais - ou regionais. Mesmo que o espectador local seja versado em inglês talvez não consiga dimensionar a pretensa comicidade de algumas situações.

Em resumo pode-se dizer que o filme é um documentário de um piquenique freqüentado por velhos amigos. Convém perguntar a mim mesma: o que estou fazendo na poltrona do cinema assistindo a esse pessoal se esbaldar sem qualquer análise que estruture os tipos ou comente o plano cultural? Eles brincam e trabalham ao mesmo tempo. OK, nada melhor do que realizar um trabalho de forma prazerosa. Um efeito mimético é que é difícil. Especialmente para quem mora em outro país. Por tudo isso é possível concluir que “Gente Grande” é para pouca gente.

ADEUS

Depois de Tony Curtis e Arthur Penn (o diretor de “Bonnie & Clyde”) morre Gloria Stuart, veteraníssima atriz do período do cinema mudo e já perto dos 90 anos interpretou a personagem-chave de “Titanic”(ela representava a protagonista vivida por Kate Winslet quando idosa).
Joseph Losen tratava esses artistas que se vão como “silhuetas na paisagem,” ou o que deixam em imagens projetadas em tantos filmes que fizeram.

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

RARIDADES EM DVD





Apesar de ter sido premiado com o Urso de Prata no Festival de Berlim, “Procurando Elly”(Darbarey Elli/Irã,2009) é inédito em nossos cinemas. Com direção e roteiro de Asghar Farhadi trata de um grupo de amigos que organiza um piquenique numa praia para marcar a volta de um parente, Ahmad, que havia passado algum tempo na Alemanha. Com a turma, segue a jovem Elly, a professora da filha de Seideh. Tudo corre entre manifestações de alegria e arranjos para que o tempo de convivio dê certo, até que o filho menor de um dos participantes do piquenique desaparece da companhia dos adultos e após alguns minutos seja encontrado quase afogado. Enquanto todos ajudam o salvamento do garoto, Elly some do local. Ninguém sabe para onde foi e nem é conhecido qualquer detalhe de sua vida.

O filme lembra, em seu argumento, o clássico “A Aventura” de Miguelangelo Antonioni. A diferença é que além dos caracteres explorados que envolvem a desaparecida ganha-se informações sobre uma pessoa que estava entre os amigos, aparentava tristeza, mas a última vez que a câmera a captura está sorridente, brincando de empinar papagaio com os demais.

Fugindo às características do cinema iraniano de Abbas Kiarostami ou outros cineastas que revelaram ao ocidente o que se filma em Teerã, o filme de Farhadi exibe um toque universal e mais aberto, com uma narrativa aplicavel em qualquer parte do mundo. Exemplo de bom cinema.

“Amor e Anarquia”(Film D’Amore e D’Anarchia/Itália 1973) está entre as obras mais importantes da diretora Lina Wertmuller (de “Mimi, O Metalurgico”). O ator preferido da cineasta, Giancarlo Giannini protagoniza um ingênuo camponês que vai à Roma seduzido pelas idéias anarquistas e planeja assassinar o ditador Benito Mussolini. Procurando uma amiga de infância em um bordel (Mariangela Melato) apaixona-se por uma das muitas jovens que povoam o ambiente de prostituição, cria confusões por manter a idéia, é preso, torturado e morto.

Giancarlo Giannini recebeu a Palma de Ouro de melhor ator no Festival de Cannes e Lina Polito, o prêmio Faixa de Prata da critica italiana. O filme foi exibido em Belém inclusive em sessões do Cine Clube APCC.

“Intimidade”(Intimacy/França,Inglaterra, Alemanha/Espanha, 2001) é inédito nos cinemas locais. Dirigido por Patrice Chéreau expõe em seqüências duras, com amostra de sexo explicito, o drama de um músico londrino que se sente fracassado e foge da rotina encontrando-se uma vez por semana com uma mulher que ele mal conhece só para relações sexuais. O filme explora também a solidão que cerca a vida deste personagem. Em dado momento ele quer estancar a rotina erótica, mas entram no jogo os sentimentos do par, agora arriscados. Adaptação do livro homônimo e mais um conto do escritor inglês Hanif Kureishi (Minha Adorável Lavanderia).

REGISTRO

Semana passada o cinema perdeu duas figuras marcantes: o diretor Arthur Penn e o ator Tony Curtis. Em DVD você pode encontrar de Penn os filmes: “Bonnie & Clyde, Uma Rajada de Balas”, “O Milagre de Ann Sullivan”, “Caçada Humana”, “Um Lance no Escuro”, “Amigos Para Sempre” e “Morte no Inverno”(alguns títulos podem estar esgotados nas locadoras). De Tony Curtis há muito a escolher sendo os filmes mais importantes “Quanto Mais Quentes Melhor”, “O Homem que Odiava as Mulheres”, “Spartacus”, “A Embriaguez do Sucesso”e “Acorrentados”.
Arthur Penn pertenceu à geração que veio do jornalismo (especialmente do telejornalismo) nos anos 1950, o grupo em que figuravam John Frankenheimmer, Sidney Lumet, Martin Ritt e Stanley Kubrick.

Curtis era um menino pobre que se engajou na marinha e chegou ao cinema interpretando uma “ponta” em “Assassinos” (de Robert Siodmak com Burt Lancaster). Protagonizou muitos filmes nos estudios da Universal continuando a série de contos árabes que essa empresa produziu uma década antes. Firmou-se como comediante e pelo menos duas vezes como ator dramático (em “Embriaguez do Sucesso” e como o “Estrangulador de Boston”em “O Homem que Odiavas aas Mulheres” de Richard Flesicher). Era pai de Jammie Lee Curtis, de seu casamento com Janet Leigh.

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

TURISMO & PARODIA



























A semana cinematográfica a começar nesta sexta feira, 01/10, apresenta duas estréias no circuito comercial de Belém/PA: “Comer, Rezar, Amar” e “Os Vampiros que se Mordam”.

A área extra lança filme inédito de Woody Allen, em Belém: “Tudo Pode Dar Certo” (Cine Estação). As continuações apresentam titulos lançados nas últimas semanas como: “Nosso Lar”, “Wall Street, O Dinheiro Não Dorme”, “Resident Evil 4, Recomeço”, “O Último Exorcismo”, “Gente Grande” e ”Karate Kid 4”. No Cine Olimpia permanece até sábado, 02/10, “A Cabeça de Mamãe” muito bom filme francês de Carine Tardieu. No Libero Luxardo, prossegue “Amores Parisienses”, comédia musical de Alian Resnais. E no CC Alexandrino Moreira (IAP), na segunda feira, 4, será exibido “Três Mulheres" (EUA, 1977) de Robert Altman, com Shelley Duvall, Sissy Spacke e Janice Rule.

“Comer. Rezar, Amar” (Eat, Pray, Love/EUA,2010) é o filme extraído do best-seller de Elizabeth Gilbert sobre uma norte-americana deprimida pelas relações sentimentais insatisfatórias e que procura sair desse estado de ansiedade usando a estrategia de viajar para conhecer não só o mundo mas a si mesma. Circula pela Itália, pela Índia, por Bali e entre passeios por lugares turísticos e comidas típicas vai encontrando a paz interior que persegue. Mas isso só se completa quando encontra que acha ser o seu verdadeiro amor.

A autora foi recentemente entrevistada em um programa brasileiro de televisão. Ela confessou o lado autobiográfico do texto de seu livro e se disse satisfeita com o que foi transferido para o cinema, especialmente pela escolha de Julia Roberts para o papel principal. A crítica internacional também saudou Julia embora não viu no filme mais do que uma espécie de “publicidade de agência de viagem”.

Filmado nas diversas locações, o resultado em mais de duas horas deve encantar quem gosta de passear através das telas em cenários que desejaria conhecer pessoalmente e sabe que não conhecerá (ou se conheceu preza em rever). O gênero de filme já deu margem a muitos exemplares interessantes, lembrando a Veneza de “Quando o Coração Floresce” (Summertime), de David Lean. Mas o diretor Ryan Murphy não exibe um currículo promissor e se a fotogenia ambiente não der conta, o programa pode ser até cansativo. É ver para avaliar.

“Os Vampiros que se Mordam” (Vampire Suck/EUA, 2010) vai de parodia aos filmes de vampiros que hoje dominam o gosto da juventude. O argumento centraliza a ação em Becca, uma adolescente ansiosa que não é vampira, está indecisa entre dois garotos e antes de conseguir escolher precisa aclimatar o pai controlador, que a faz passar embaraços tratando-a como criança.

A idéia é justamente canalizar a atração da saga recriada por Stephanie Meyer, a partir de “Crepusculo”, com as comédias colegiais. Mas a direção de Jason Friedeberg e Aaron Seltzer não estimula. Eles foram os responsáveis pelo terrível “Espartalhões” e ainda “A Liga da Injustiça”. Longe, portanto, da verve de um David Zucker do grupo “Apertem os Cintos o Piloto Sumiu”e/ou”Corra que a Policia Vem Aí”.

“Tudo Pode Dar Certo”(Whatever Works/EUA,2009) é uma comédia dirigida por Woody Allen, o que vale dizer um filme inteligente. O problema desta vez é que Allen concebeu o protagonismo do irriquieto Boris Yelinkoff, para si. Mas não quis interpretar. Deu a chance para Larry David e daí, qualquer espectador que conheça Allen de tantos sucessos percebe a falta de entrosamento do tipo. Mas não deixa de ser interessante ver Boris falando para a câmera todo tempo, estimulando uma interatividade da platéio que estimula o riso. É filme para ser visto sem falta pelos que gostam do ator/cineasta de “Annie Hall”, “Manhattam”, “A Rosa Purpura do Cairo”,e/ou “Match Point”. No Cine Estação a partir de 4ª. Feira apenas em sessões noturnas (18 e 20h30).

“Três Mulheres" (EUA, 1977) traz Robert Altman com elenco feminino inteligente para o CC Alexandrino Mereira. O intimismo e a “alma” do micromundo destas mulheres explora uma incisiva discussão.

TONY CURTIS E ARTHUR PENN

A coluna registra duas perdas expressivas para o cinema: Tony Curtis e Arthur Penn. O primeiro foi um dos atores mais populares dos anos50/60.Versátil, fez comédias clássicas como “Quanto Mais Quente Melhor” e dramas densos como “A Embriaguez do Sucesso” e “O Homem que Odiava as Mulheres”. Penn dirigiu obras-primas como “Mickey One”, ”O Milagre de Ann Sullivan”, ”Caçada Humana” e “Bonnie & Clyyde”. Os dois merecem homenagens dos cinéfilos e por aqui ganharão exibições de seus filmes mais notados através do circuito da ACCPA.