terça-feira, 26 de outubro de 2010

A ÚLTIMA SESSÃO DE CINEMA







Poucos filmes possuem a faculdade de registrar o comportamento de uma geração como este “The Last Picture Show”(A Última Sessão de Cinema) de Peter Bogdanovich com base em um livro e roteiro de Larry McMurtry.
O ano da ação é 1952. O lugar é a pequena cidade de Anarene, no Texas. Ali moram os amigos Sonny (Timothy Bottons) e Duane (Jeff Briges). A rotina engloba o colégio, os jogos e um cinema. O único cinema da cidade oferece o motivo dos sonhos dessa juventude que circula entre duas guerras, a 2ªMundial e a da Coréia.

Jacey (Cybill Sheperd) é a namorada de Duane e pertence à uma classe mais abastada.O relacionamento evoca um tempo em que começavam a surgir sinais da emancipação feminina com uma (relativa) liberdade sexual. Mas todos são românticos e os tipos que significam alguma coisa para eles ou seus modelos estão na tela, seja um cow-boy como John Wayne em “Rio Vermelho”(Red River) seja um galã dos muitos que Hollywood edificava para rapazes e moças terem como padrão.

Quem viveu esse tempo, mesmo em outro país, como é o nosso caso, se identificou com alguns tipos. A situação evocada é que foge ao esquema pelo fantasma de uma convocação para a guerra. Mas não é à toa, que Bogdanovich, um historiador da cinematografia norte-americana, e Larry McMurtry, escrevendo um texto com forte acento autobiográfico, pontuam a ação nos estertores do cinema de rua na pacata cidade.

A época marcava o fim das vesperais (para nós era esse o termo, para outras regiões o nome era “matinê”) como ponto de encontro de cinéfilos. Por aqui, havia as salas de cinema como o Poeira, mais tarde Nazaré 1, o Iracema, depois Nazaré 2, o Guarani, o Popular, o Moderno, o Independência, e, principalmente, o ainda de pé Olímpia. As estréias já espelhavam mudanças. A censura dos estúdios majoritários enfraquecia. Já começavam a aparecer nas telas as camas de casal, os sanitários, o sangue em ferimentos, as falas mais francas e os beijos mais “quentes” - embora sem o correlato de hoje, com enfoque dos apaixonados fazendo sexo (mesmo na disposição insinuada como a cena da lareira no clássico “Le Diable au Corps”/Adultera de Claude Autant-Lara). O que ainda persistia era o mocinho galante que brigava sem derrubar seu chapéu e a mocinha que servia de premio à valentia demonstrada nas inúmeras cenas de perigo e, normalmente, o “happy end”.

O filme de Bogdanovich não é apenas a última sessão de um cinema modesto que, no fim da história está fechando suas portas. Nem mesmo é uma espécie de prévia do “Cinema Paradiso” de Giuseppe Tornatore. O espetáculo cinematográfico serve de detalhe num painel social em um determinado período. O titulo, portanto, é abrangente: assim como a sala de espetáculos desaparece também os velhos ideais são forçados a mudar.

É emblemático, por exemplo, o papel de Sam, o verdadeiro cow-boy interpretado por Ben Johnson. Ali está o arquétipo do herói que sai de cena.

Com este filme de 1971 vencedor dos Oscar de coadjuvantes (Ben Johnson e Cloris Leachman) e candidato a mais 5 categorias, além de muitos outros prêmios internacionais, o Cine Clube Pedro Veriano (Casa da Linguagem/ABDeD – Av.Nazaré com Assis de Vasconcelos) encerra o programa Cinema Sobre Cinema. Foi um exaustivo passeio por um gênero que vê discute um tema relativo às modificações de uma época ou geração, onde a arte repercute como a representação desse realismo, não somente na cultura artistica, mas no comportamento da geração impactada por tantas mudanças.

E ao ser apresentado num espaço de cinema alternativo, mostra a odisséia dessa arte em definir a diferenciação entre o que é somente o produto comercial e o que deixa linhas sociais e políticas para a discussão. As salas alternativas de cinema operavam regularmente em grandes metrópoles como Paris, EUA etc. E ainda hoje um público cativo dessas discussões ainda se presentfica e ressuscita a arte da análise e a reflexão sobre a própria arte. Somos seguidores desse ideal refletido em “points” que temos ampliado na ACCPA. Uma ação que não deve deixar de ser o norte dos que têm a perspectiva de que o avanço das teconologias visuais não quer dizer a morte do cinema, mas o declinio de certas estruturas pesadas e o avanço da factibilidade técnica , mais prática, que tendem a melhorar a nova era da
reprodutibilidade da arte.

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