quarta-feira, 27 de outubro de 2010

A PRODUÇÃO DO MEDO
















O que se entende por “produzir medo”? Ou o que se entende por esse medo produzido pelo cinema?

Na linha da narrativa cinematográfica, a arte de mostrar o cotidiano surgiu desde o “primeiro cinema” cujas caracteristicas, nos primeiros dez anos da invenção dessa arte e a primeira exibição dos primeiros filmes evidenciaram as imagens captadas do dia-a-dia das pessoas, ou seja, a representação da realidade do cotidiano através de planos fixos. Seguidamente foi capturando outros aspectos que desenharam a narrativa atual como o enquadramento e a composição dos planos.

Bem, se observarmos a narração de “Atividade Paranormal 2” (Paranormal Activity 2, EUA, 2010, 91 min.) é possivel avaliar que há um tema – captura de fenomenos paranormais numa casa onde mora uma familia (pais e dois filhos, sendo o menino recenascido), e um método para essa captura – objetivado no transversalizar as afirmações de pessoas residentes sobre fenômenos ocorrendo no ambiente de moradia como sendo: sons, objetos sendo jogados sem causa aparente, portas se abrindo e fechando com violência, atitudes de uma criança e de um cão compativeis com a identificação de alguém no ambiente etc. Nesse método, o uso de câmeras montadas em pontos estratégicos da casa além da câmara portátil (que tem outro objetivo), é interessante verificar que a representação da realidade do cotidiano do “primeiro cinema” se condensa para ampliar o foco do interesse – mostrar a subjacência dos objetos e a essencialidade das imagens percorrendo outras expectativas que se acercam de emoções que não se ajustam ao “que fazer” da rotina, mas captam o outro lado do ambiente onde o olhar humano deixou de ter visibildade para consentir que esta seja sentida e não vista.

É nessa perspectiva que é possivel vislumbrar as ocorrências sistematicas desse ambiente em captura transferida ao espectador do filme e sentida por este transformado em agente propagador da tensão e do suspense em acompanhar os acontecimentos que são parte dos diálogos e das formas de tecer aquela rotina. Desde as primeiras falas dos protagonistas que estão entre dois lados – uns que já conhecem os fatos anteriores de poltergeist na casa e outros que têm conceitos desfavoráveis a esse respeito - o público vai reconhecendo os tipos que são apresentados sem que estejam esteotipados. É na identificação racional dos dias e noites em foco pela câmara – em que em alguns momentos nada acontece e em outros surgem detalhes muito tenues do que a câmera precisa mostrar aos personagens e que o público, qual voyeur, vai reconhecendo que são aspectos observáveis que devem ser extremados no final. Mas não antecipa esse sentimento. E ai é que entra o ato de “produzir medo” do qual se tratava no inicio. Em meio às imagens da rotina da casa e condicionados pelos diálogos vão sendo avolumados os intercambios entre imagens produzidas e emoções sentidas. Não que o filme detone aqueles sons de impacto que assustam, mas no silencio que são vistos como se estivessemos dentro da câmera é que há o aspecto do saber reconhecer qua há algo diverso de uma rotina normal.

O “produzir medo”, então não se realiza pela convenção, mas pela ausência dela, pela economia dos planos e pelo final abrupto do filme.

Rezadeiras, incorporação de espíritos, desaparecimento de pessoas surtem efeito e são visto pelos nossos olhos, mas dificil saber se ocorreram. Salvo pelas referências finais do que aconteceu, nas palavras escritas, sem imagens que operem como armas do terror.

Creio que esse é o resultado que fica de “ Atividade Paranormal 2”. Curioso e aproveitado numa forma que está lançando um novo gênero ou uma nova cinestética.

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