quinta-feira, 7 de outubro de 2010

O ÚLTIMO EXORCISMO

A fórmula narrativa e temática de “A Bruxa de Blair” (1999) continua sendo usada por certos cineastas, sobretudo os que pretendem aumentar o “caixa baixo” de suas produções. É o caso de Daniel Stamm com “O Último Exorcismo”(The Last Exorcism/EUA, 2010).





Antes de qualquer comentário é interessante observar que a referida fórmula está sendo usada exclusivamente para o gênero terror. Basicamente é uso do metacinema.

No filme em questão, o pastor Cotton Marcus (Patrick Fabian) mostra-se descrente de quase tudo que aprendeu na religião ao longo dos anos. Quando recebe o convite para exorcizar uma jovem em uma fazenda próxima de Nova Orleans, ele aproveita para produzir um documentário que desmitificará o procedimento. Leva uma assistente e um cameraman e se dirige para a fazenda , se defrontando com a família da jovem: o pai e um irmão. O primeiro, não aceita o registro filmado dos procedimentos. A câmera parece desligada (há um espaço negro) mas logo volta a funcionar e aí não se ouve mais reclamos do fazendeiro. A jovem Nell (Ashley Bell) recebe o pastor com respeito, mas apresenta poucas informações sobre as crises de gritos e choros que a atormentam (inclusive durante a noite). Nas consultas a livros sagrados Cotton atribui os sintomas da jovem à possessão (mesmo que não se mostre crente nisso) de um determinado demônio. Começando o ritual ele provoca uma crise em Nell, logo sanada com as preces. Para o pastor seria um efeito psicológico e bastaria o procedimento. Mas não demora e os sintomas de possessão recomeçam a se manifestar. Nesse ínterim, Cotton descobre que Nell está grávida. Seria a causa do fenômeno: vergonha (e medo) dos familiares. Revelado pela jovem como pai da criança um rapaz da vizinhança demonstra ter outra orientação sexual. E o caso não termina.

O pastor da localidade e uma ajudante surgem com novos procedimentos mas, no fim das contas, Nell é “exorcizada” por outras pessoas e de forma brutal.

As imagens capturadas de toda essa encenação é de supor que são registradas através da câmera do pastor Cotton. Mas há detalhes que escapam: como o uso de uma narrativa em primeira pessoa. Em seguida, alguns planos fixos da casa da fazenda e outros detalhes de edição não resumidos à captura da câmera emergem nessas imagens. No caso de “A Bruxa de Blair” e, mesmo, de “REC” (Espanha, 2007) ou de “Atividade Paranormal” (EUA, 2007, este com uma seqüência em vias de lançamento), a idéia é de que tudo se registra através da “câmera-olho”. Uma lição de linguagem que se inicia com Vertov e, no cinema moderno, apossa-se de recursos digitais. Os meios de ligar planos para efeito de “timing” cabem no uso do que foi gravado (o caso de “A Bruxa..”) ou o automatismo do aparelho (como em “Atividades Paranormais” onde a câmera fica ligada quando as pessoas estão dormindo).

Mas o grande problema de “O Último Exorcismo” é que o roteiro se perde quando está com todo o processo em acerto. A revelação de um trauma psicológico da “paciente” resolveria bem o filme. Não havia necessidade de apelar para um flagrante engodo, quando em licença ao terror se mostra um final clichê de filme do gênero, com um absurdo fecho das filmagens (pergunta-se quem achou a gravação e como esta foi salva sabendo-se que este é um procedimento imprescindível na filmagem com câmera digital?).

Objetivando assustar, o filme ora em cartaz apresentou uma baixa planilha de custos, mas teve alta rentabilidade (ainda está rendendo. A “Bruxa de Blair gastou 50 mil dólares e rendeu cem milhões). Ao explorar uma suposta realidade como verdade, uma das bases da cinematografia, serve a estripulias ligadas unicamente à capacidade de renda. Por suposto, isto quer demonstrar que mais produções estão sendo realizadas com o objetivo de assustar, haja vista os custos menores do que, por exemplo, séries do tipo “Eu Sei o Que Vocês Fizeram no Verão Passado”(1997) e rendem o mesmo ou mais dividendos.

Votos de que este seja, realmente, “o último exorcismo” de faz de conta no cinema.

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