quinta-feira, 27 de maio de 2010

FÚRIA DE TITÃS




























A mitologia grega, no cinema, ganha versões que as refazem ao gosto dos produtores de filmes. A minha geração deve lembrar a figura mítica de Hércules, explorada em uma série, pelo cinema italiano, destacando-se o então atleta Steve Reeves que passou a personificar esses tipos. Os roteiros eram tão livres que o aprendizado na escola sobre o mito grego, ou a leitura dos livros “Os 12 Trabalhos de Hercules” de Monteiro Lobato, não se coadunavam com as abordagens cinematográficas exploradas.
Em 1981, Hollywood apresentou uma versão da lenda grega, que intitulou “Fúria de Titãs”(Clash if Titans), despontando um elenco de figuras notáveis como Laurence Olivier (Zeus), Claire Bloom (Hera), Maggie Smith (Thetis), Ursula Andress (Afrodite), Burgess Meredith (Ammon) e Flora Robson (a bruxa Stygian). Os monstros foram produzidos em “stop-motion” pelo mestre na técnica, Ray Harryhauser, responsável por “Invasão dos Discos Voadores”, “Monstro do Mar Revolto”, “Jasão e o Velo de Ouro”. O roteiro, de Beverly Cross, brincou moderadamente com os personagens. O filme focalizava a figura de Perseu, famoso por matar a Gorgona, ou Medusa, mulher de cabelos de cobra que ao se deixar ver por uma pessoa transformava esta pessoa em pedra.
Agora, no bojo da tecnologia digital e na moda da 3D, surge uma nova versão de “Fúria de Titãs”, dirigida pelo francês Louis Leterrier (“Hulk”) com o ator Sam Worthington encarnando Perseu e mais: Liam Neeson (Zeus), Ralph Fiennes (Hades), Alexa Davalos (Andrômeda) Izabella Miko (Atenas) e muitos outros atores pouco conhecidos.

As inovações se cruzam desde o inicio. No que se sabe da mitologia, Perseu, filho de Zeus com a mortal Dânae foram banidos pelo avô Acrisio para que não se concretizasse a profecia de seu assassinato pelo neto. Os dois foram lançados ao mar num caixão e resgatados por pescadores tendo a frente Dictis, irmão do rei Serifo. Nesta versão, não há alusão a que a salvação de Perseu se deu por interferência de Zeus. Mostra o assassinato da família adotiva do herói por conta dos deuses (não cita o relacionamento do rei Polidectes com Dânae) e a missão de vingança por parte do semi-deus. É com este pensamento que Perseu enfrenta não só a Medusa, mas diversos monstros, o que possa dar margem a demonstração de efeitos especiais modernos.
Segundo o noticiário, Leterrier, grande admirador de Ray Harryhouse, teria realizado o filme em 2D, apoiando a ação nos prodígios digitais. Contudo, a produtora (Legendary Pictures/Warner) achou que “Fúria...” teria que ser no processo 3D para atrair mais público. Houve então uma rápida adaptação para que os efeitos tridimensionais ganhassem campo. E comercialmente deu certo, pois a estréia nos cinemas norte-americanos ultrapassou 70 milhões de dólares.

O que dizer do que está nas telas? Figuras monstruosas emitem urros intensos, tomando todo o retângulo da projeção em luta aparentemente desigual com Perseu. Na guerra contra a Medusa, carecem os recursos vindos do Olimpo que a lenda conta, a começar com um espelho feito escudo, o modo de proteger a figura que encanta com um simples olhar, presente da deusa Atena. Outros presentes ofertados pelos deuses também não contam como: um capacete que tornaria o herói invisível, dado pelo próprio Hades, o irmão de Zeus e vilão da história, e, ainda, as sandálias aladas doadas por Hermes. Pouco se fala dessas figuras divinas e mesmo Hades é visto apenas como o descontente deus das trevas que desafia o irmão todo-poderoso pelo que se considera detratado.

Não se deve esperar uma aula de mitologia grega dada por Hollywood. “Fúria de Titãs 2010” é ação pura e simples, exibindo figuras moldadas em computadores, com os intérpretes procurando dar alguma verossimilhança em contracenar com placas verdes que só ganharão figuras em edição posterior. Naturalmente implica em um exercício árduo do elenco, mas o profissionalismo exige-lhes seriedade, o que devem ter nessas horas. Mas, a julgar pelas matérias publicadas sobre o filme em diversas revistas e sites, o pessoal do set se divertiu bastante durante as filmagens. Talvez seja o caso de dizer que o trabalho foi prazeroso, até mais do que para alguns espectadores, obrigados a assistir o que eles fizeram.

sexta-feira, 21 de maio de 2010

7 ANOS

















O cineasta francês Jean-Pascal Hattu é o realizador de “Sete Anos”( 7 Ans/França,2006) seu terceiro filme de longa metragem. Trata da convivência de 3 personagens: Maité (Valerie Donzelli), casada com Vincent (Bruno Todeschini) que está sentenciado a sete anos de prisão, sem que seja informado ao espectador qual foi o seu crime, embora Maité pergunte sem obter resposta. O outro tipo é Jean (Cyril Troley) guarda penitenciário. Nas constantes visitas ao marido, no presídio, a mulher passa a ter um relacionamento intimo com o carcereiro. Vicent, que ama muito a esposa, percebe a transação sexual entre os dois, mas Jean, de alguma forma o ajuda no cárcere e o tem como amigo. O sexo, no entender de Maité, alivia o drama do distanciamento do marido, sentimento que reconhece e revela ao parceiro. O triangulo amoroso chega a reações bizarras como Vicent querer escutar uma gravação de Jean mantendo relação sexual com a sua companheira. Ele se sente nessa gravação, substituindo o outro.
O filme deu a Valerie Donzelli o prêmio de melhor atriz no Festival de Veneza e outros prêmios a Bruno Todeschini. Foi também premiado em outras mostras internacionais de cinema.
Em primeiro lugar há de se considerar que a linguagem de Jean-Pascal Hattu difere do que se costuma ver em cinema comercial. Os diálogos são econômicos apesar de a trama exigir detalhes de posturas. Os personagens agem como se não tivessem duvidas, e, paradoxalmente, todos possuem duvidas. Isso leva ao aproveitamento de detalhes narrativos que endossem o drama, seja o ambiente (a casa onde mora Maité, o inverno, a prisão), sejam preceitos básicos da linguagem cinematográfica como a iluminação e o enquadramento. Nada é gratuito até porque o objetivo é mesmo construir uma peça introspectiva com o mínimo de interferência verbal. Outro aspecto é que o filme exige muito dos intérpretes. Todos conseguem dizer por suas posturas o que o roteiro (do próprio diretor) implica. Uma expressão de Jean, apaixonado por Maité além de simplesmente ser o seu parceiro sexual, diz como vai diminuindo a diferença entre sexo e amor, deixando uma relação física de oportunidade ganhar a dimensão de afeto que pode até mesmo rivalizar com o que sente Vincent.
É interessante observar que a trama do filme não deixa espaço para explicações. Desde o fato que levou o marido a prisão ao modo como a esposa resolve fugir de tudo e de todos. O que se vê são imagens de atitudes. No final, quando a jovem está numa região montanhosa coberta de neve, poucos comentários delineiam a paisagem: a câmera corre pelo relevo frio demonstrando que as relações da personagem com o marido e o amante estão “congeladas”. E não se sabe se Maité vai voltar a visitar o marido preso da mesma forma que visitava, levando-lhe roupa limpa e falando de seu afeto, e ou se vai continuar seguindo Jean, o único do trio que diz verbalmente estar saindo do cenário.
É admirável a capacidade com que os três personagens enfrentam paixões e perdão, em como a violência ligada ao sentido de posse (seja do marido, seja do amante ocasional) passe ao largo de uma espécie de “Jules et Jim” (Uma Mulher Para Dois) embalada em sofrimento (as cenas de sexo demonstram a apatia de Maité em tantas vezes que se entrega ao outro pensando no seu verdadeiro amor, o marido preso).
“7 Anos” é um filme duro, amargo, narrado sem as concessões naturais dos dramas passionais ou mesmo dos que enfocam presídios. Não chega nem mesmo a demonstrar piedade por alguém. Maité, por exemplo, cria o filho de uma vizinha, garoto esperto que percebe a sua infidelidade conjugal e que só é desprezado na trama quando, nos últimos planos, foge do enquadramento numa brincadeira de trenó (ele não vai embora da história, mas a sua importância fica devidamente caracterizada no enfoque). Também é importante notar as tarefas da esposa do prisioneiro, lavando e engomando as roupas do marido, demonstrando seu permanente pensar nele. A ausência do sexo entre o casal é também demonstrada na seqüência em que marido e mulher trocam beijos na área de visita da cadeia e o guarda que vigia os dois de vez em quando aparece para afastar a dupla.
Jean-Pascal Hattu já foi ator de filme de TV e esta produção de 2006 é a sua mais recente. Desconhecido o motivo de seu silêncio, apesar da boa receptividade que o filme obteve diante da critica internacional. Por certo, “7 Anos” não é programa popular por excelência. Mesmo com muitas exibições de nudez e sexo. É uma experiência ousada numa área difícil do cinema, aquela que se preocupa mais com o sentimento do que com a ação.
Cotação: Bom (***)

DO OLIMPO AO FOLCLORE BAIANO






Somente duas estréias estão previstas para os cinemas da Empresa Moviecom/ Belém: “Fúria de Titãs” e “Quincas Berro D’Água”. O primeiro é refilmagem de um cultuado filme de 1981, do veterano diretor norte-americano Delmer Daves. O segundo é uma adaptação do romance de Jorge Amado feita pelo conterrâneo do escritor, cineasta Sérgio Machado.
Na área extra, como de hábito, ocorrem os programas mais interessantes: “O Jardim dos Finzi Contini”, último filme importante de Vittorio De Sica (amanhã, sábado, na Sessão Cult do Cine Libero Luxardo); o clássico “Um Lugar ao Sol”, de George Stevens, inaugurando a Sessão Nostalgia do Olympia (domingo à tarde); o polêmico “Week End a Francesa”, de Jean Luc Godard (no Cine Clube Alexandrino Moreira/IPA, 2ª feira à noite) e “Splendor”, de Ettore Scola (na 3ª.Feira, no Cine Clube Pedro Veriano/ Casa da Linguagem).
Além dessa programação, prossegue no Olympia, de terça a domingo às 18,30 a exibição de “Sete Anos” de Jean-Palcal Hattu, e, no Cine Libero Luxardo, até domingo à noite, “Ao Lado da Pianista” de Dennis Decourt.
“Duelo de Titãs”(Clash of Titans/EUA/2010) tem a direção de Louis Leterrier e se baseia no filme do mesmo nome realizado há 29 anos. Para se dimensionar o projeto é interessante evidenciar um aspecto: no filme de 1981, o grande Laurence Olivier interpretava o papel de Zeus, o todo-poderoso do Olimpo, e havia o criativo “stop motion” do mestre Ray Harryhouse.
Quanto ao novo filme, há mudança no motivo da ação de Perseu, o deus que matou a Medusa, visto que agora ele passa a lutar contra os demais deuses em vingança pela morte de seu pai, enquanto que na versão de Delmer Davis a sua aventura visava o amor de Andrômeda.
A mitologia grega é de há muito um motivo para cinema. Muitos filmes abordaram deuses e heróis, quase sempre mudando o que se sabe sobre as figuras que povoaram mentes ocidentais desde os primórdios da civilização. Agora, com a facilidade de efeitos especiais oferecidos pela computação gráfica, o gênero, como lendas de outras fontes, passaram a servir de meta de blockbusters. No caso de “Fúria de Titãs”, são 3 roteiristas (Travis Beacham, Phil Hay e Matt Manfredi) que trabalharam no que escreveu Beverly Cross. O resultado visa, obviamente, o grande publico que é apaixonado por videogame e pouco se dá ao que de mais tradicional exista sobre as lendas gregas.
Lançamento nacional em cópias legendadas e dubladas.
“Quinas Berro D’Água”(Brasil, 2010) aborda o malandro que descende de família rica e ao morrer consegue reunir num pequeno aposento os seus amigos de farra e os parentes de outra classe social. Este quadro que investe contra toda sorte de preconceito ganha no filme de Sérgio Machado (assistente de Walter Salles em “Central do Brasil” e roteirista de “Abril Despedaçado”), uma visão, segundo alguns críticos, carnavalesca. Mas até por isso inserida no contexto imaginado pelo escritor. Exibição no Moviecom Castanheira sala 1.
“O Jardim dos Finzi-Contini” (Il Giardino degli Finzi-Contini/Itália, 1970) explora o avanço do nazi-fascismo com a prisão de judeus. A família que dá título ao filme, composta de um professor renomado e sua prole, vê, gradativamente cerceados, os seus movimentos, acabando por embarcar para um campo de concentração. Em destaque, o papel de Micól (Dominique Sanda) e Giorgio (Lino Capolicchio), jovens cujo destino envolve-os em uma tragédia. O filme, com roteiro de Vittorio Bonicelli e Ugo Pirro com base em um romance de Giorgio Brassani, foi o último trabalho de vulto na filmografia de Vittorio De Sica, um dos mestres do cinema neo-realista. Imperdível.
“Week End à Francesa”(Week End/França, 1967) é um dos oito filmes que Jean-Luc Godard dirigiu só nesse ano. Focaliza a viagem de uma família na classe burguesa para uma estação de veraneio com o trajeto tumultuado a partir de um acidente que “engarrafa” o transito. Isto é motivo para Godard criticar uma classe social no estilo que só ele sabe fazer. Entre um diálogo e outro, as condições se revelam ilustrativas do que cada representante de uma classe objetiva. Imperdível.

quinta-feira, 20 de maio de 2010

ROBIN HOOD





Robin Hood, moldado na mitologia inglesa, alcançou muitas gerações de brasileiros através do cinema. A primeira abordagem de suas aventuras se deu na fase silenciosa, precisamente em 1912, com direção de Etienne Arnaud. Mas tudo o que se fez até 1922, incluindo um filme de 1913 dirigido por Theodore Marston com William Russel, perdeu para o exemplar protagonizado por Douglas Fairbanks e dirigido por Allan Dwan, que ficaria muitos anos como o espetáculo definitivo sobre o arqueiro de Sherwood. Até surgir, em 1938, “Aventuras de Robin Hood”(Adventures of Robin Hood) de Michael Curtiz com Errol Flynn. Foi o primeiro filme colorido com o personagem e o roteiro ágil, seguindo a lenda sem alterar detalhes, entusiasmando todas as platéias. Daí para os dias de hoje muitos Robin Hoods surgiram nas telas (há cerca de 25 versões para cinema e TV), chegando até mesmo a exemplares brasileiros como os protagonizados por Renato Aragão (“Robin Hood, O Trapalhão da Floresta,1974) e por Xuxa (“O Mistério de Robin Hood”,1990).
O filme atual, “Robin Hood’(EUA/ Ingl..2010) dirigido por Ridley Scott com Russel Crowe, procurou criar um certo realismo em torno do personagem. Imprimiu uma biografia de identificação, ao mostrar quem era Robin de Longstride, órfão de pai desde os 6 anos, realizando pequenos trabalhos até se engajar no exército do rei Ricardo Coração de Leão e, com ele, participando de uma das Cruzadas. O filme trata o tipo como um episódio histórico, apresentando novos fatos, desde o lugar de uma invasão francesa na costa inglesa com resistência armada que Robin comanda ao lado do rei. Considera os soberanos ingleses no limite da maldade: Ricardo, na Terra Santa, havia morto dezenas de muçulmanos de forma cruel (o arqueiro Robin teria assistido ao massacre e por isso se indispôs contra o monarca); e João, o irmão que ficou no trono, procurando recuperar as finanças inglesas arrasadas na campanha do governo anterior, criou tremendo arrocho na economia popular, aumentando impostos e saqueando fazendas. Tudo isso teria levado o jovem guerreiro a uma posição independente, tornando-se um “fora da lei” e passando a habitar a floresta e lutar contra os ricos para dar aos pobres.
O roteiro de Brian Helgeland termina onde os outros filmes sobre Robin Hood começaram: quando o personagem se embrenha nas matas e passa a agir por conta própria ao lado de um grupo de amigos. Isto não quer dizer que Ridley Scott tenha preferido dissertar sobre o caráter do arqueiro acima do protótipo de herói. O heroísmo vem também de outros momentos. Como o que Robin atende, no campo de batalha, ao moribundo Sir Robert Loxley (Max Von Sidow) levando a espada que este guarda com carinho e lhe fora dada pelo pai, à aldeia onde nasceu. Encontra Lady Marion (Cate Blanchett), esposa de Sir Robert e o romance é esboçado. A jovem segue, então, o arqueiro participando ativamente na luta contra os franceses e continuando ao seu lado mesmo na desgraça.
A produção milionária, o cuidado que Ridley Scott imprime nessa produção, incluindo uma fotografia nebulosa, geram uma espécie de painel temporal. Mas nada sugere a lenda conhecida do galante bandoleiro que usa a sua habilidade no arco e flecha contra os exércitos reais. Aquela ingenuidade perde-se no realismo do filme. Até a fantasia do arqueiro é descolada de sua indumentária deixando de usar o “uniforme” que o identificava: uma calça verde colante e o chapéu com uma pena na lateral.
O realismo de Scott foi uma opção do diretor dentre as várias versões circulantes no Reino Unido sobre a figura carismática de Robin Hood. O fato de nada constar sobre essa história nos escritos ingleses, não quer dizer que o tipo não existiu. Isso hoje é possível tratar quando se pensa que muitas populações iletradas deixaram a sua história através da oralidade, nas mãos de outros, dos viajantes, dos cronistas. Por suposto, o personagem inglês viveu durante o século XIII e uma das primeiras referências a ele vem através do poema épico Piers Plowman, escrito por William Langand, em 1377. Quando foi compilada a Gesta (canto épico medieval) de Hood no ano de 1400, essas histórias já circulavam há alguns anos.
O diretor Scott abandonou a ingenuidade que marcou os demais filmes sobre Robin Hood e deu a ele uma tonalidade diferente, deixando os velhos amantes do tipo desconsolados. O filme atual tem 140 minutos.
Cotação: Bom (***)

terça-feira, 18 de maio de 2010

DO CINEMA PARA O DVD






Com uma grande campanha de venda, ajudada até mesmo pela visita do diretor James Cameron e da atriz Sigourney Weaver, foi lançado no Brasil o DVD (simples e blue-ray) de “Avatar”. O filme é hoje considerado a maior bilheteria da história ultrapassando “Titanic”, do mesmo cineasta. Naturalmente está se levando em conta os valores auferidos, deixando de contabilizar o numero de espectadores (o valor do ingresso era menor quando lançado “Titanic”). Aliás, se a contabilidade dos filmes mais vistos preservar a quantidade de público e não a renda, ainda pesam clássicos como “Nascimento de uma Nação”, filme mudo de 1914, “... E O Vento Levou”, e até mesmo megaespetaculos de temática religiosa como “Os Dez Mandamentos”(versão de 1956) e “Bem Hur”(1959).
“Avatar” foi realizado para ser visto em tela gigante (do tipo IMAX) de 3 D. Os planos de abismos gigantescos, de aeronaves cortando montanhas, é um deslumbramento se olhados em relevo. Obviamente, em televisão (até mesmo nas de 42 polegadas ou acima), o espetáculo perde qualidade. Felizmente o trabalho de Cameron se destaca não só pela forma. Há conteúdo, embora discutível. E nisso se observa o preservacionismo, a meta que o cineasta veio defender no Brasil, discursando sobre o que a hidrelétrica de Belo Monte pode causar no meio ambiente, colocando os índios da região no mesmo patamar dos personagens de Pandora, o planeta a ser explorado, com ímpetos destruidores, pelos homens da terra, no caso os norte-americanos.
O filme está em locadoras e em lojas para venda.
Outro titulo recente de cinema que já se encontra em DVD é “Lula, O Filho do Brasil”, de Fabio Barreto. Insucesso de publico, derrubando uma expectativa que o via como o sucessor de “Os Filhos de Francisco” em termos de rentabilidade, o filme reflete uma insuficiência que parte do roteiro e ganha campo em opções de imagens que, por exemplo, pouco explicitam sobre o operário quando político, sua ascensão de sindicalista a líder partidário, focalizando a sua odisséia após o falecimento da primeira esposa com uma aceleração narrativa que parece querer limitar o interesse nos primeiros anos do biografado.
Para infelicidade geral da produção, o diretor foi seriamente acidentado e ainda hoje está sob cuidados médicos, impedido de retomar a sua carreira. Um drama da família Barreto que todos os que de alguma forma se ligam ao cinema no país lamentam com sinceridade.
Mas há novidades no mercado de DVD, ou seja, mais filmes que não chegaram aos cinemas de Belém. “A Procura de Eric” (Looking Eric/Ingl,2009) é de Ken Loach e pela primeira vez mostra o diretor, ligado a dramas políticos, em tom de comédia. Trata da amizade entre um operário com um ídolo do futebol inglês e uma operação que envolve o personagem de forma dramática a ser salvo pelos amigos.
Também inédito é “Estão Todos Bem” (Everybody’s Fine/EUA, 2009) de Kirk Jones. Uma refilmagem de “Siamo Tutti Bene” de Giuseppe Tornatore com Marcello Mastroianni (obteve o mesmo titulo no Brasil). Trata de um viúvo de meia idade que resolve visitar os filhos uma vez que estes não podem encontrá-lo no Natal como esperava. Mas a viagem é só de desencontros. O drama de cada um dos antigos meninos é explorado de forma sucinta pelo roteiro, refletindo a solidão do velho pai. Aqui Robert De Niro assume o papel principal. Muito bem. É melodrama, comove, mas isto não é defeito.
Na área dos chamados clássicos há “Musica e Lagrimas” (The Glenn Miller Story/EUA,1954) de Anthony Mann, Biografa o “band-leader” Glenn Miller, representado por James Stewart. Muito romance acima de uma realidade não tão suave como a morte do musico, desaparecido quando de uma viagem aérea no tempo da 2ª;Guerra Mundial.

DVDs MAIS LOCADOS (FOXVIDEO)

Avatar
Encontro de Casais
Onde Vivem os Monstros
Jogos Mortais VI
Vício Frenético
Abraços Partidos
Aprendiz de Vampiro
Lula, O Filho do Brasil
Assalto ao Carro Blindado
Chéri

terça-feira, 11 de maio de 2010

A VOLTA DE FREDDY KRUEGER





















A pergunta que fica no ar: quem tem medo de Freddy Krueger ?
Em 1982, Wes Craven concebeu o primeiro filme do que seria uma série em que o principal personagem, um “serial killer” conhecido como Freddie Krueger. O ator para esse papel foi o então desconhecido Robert Englud. O artesanato de Craven previa a aparição do tipo em locais escuros com um acorde da trilha sonora enfatizando esta aparição. O roteiro, do próprio Craven, enfocava a figura de um tipo emergindo de um pesadelo concretizado. Ou seja, Krueger praticamente saia dos sonhos de suas vitimas. O espectador que certamente já tivera um pesadelo ao longo de sua vida achava o efeito mimético pretendido pelo realizador. E o gênero terror ganhava um ícone.

“A Hora do Pesadelo”(Nightmare on Elm Street) gerou 8 filmes além de série de TV. Chegou a surgir “Freddy contra Caça Fantasmas”, “Freddy Vs Ghostbusters/2004) depois de se ter visto “Freddy’s Dead, The Final Nightmare” com direção de Rachel Talalay roteirista ao lado de Craven.
Este ano, Samuel Bayer foi convocado para dirigir uma espécie de reciclagem da franquia, a exemplo do que se fez com outras como “Jornada nas Estrelas”. O ator também mudou: passou a ser Jackie Earl Haley, que antes já desempenhara o personagem de Walter Kovacs, em “Watchmen”(2009). A produção ficou com Michael Bay, diretor de “Armagedom”, além de produtor de “Transformers” e da nova versão de outra franquia de horror “Sexta Feira 13”(Friday the 13th/2009). E o roteiro passou a ser escrito por Wesley Strick, com alguma experiência no gênero (“Arachnophobia”) e Eric Heisserer, autor de apenas um episódio da série de TV “Stranger Adventure”.
Se o filme evidencia uma emoção, pergunta-se: o que é o medo? A definição mais encontrada é a de que “é uma reação em cadeia no cérebro que tem início com um estímulo de estresse e termina com a liberação de compostos químicos que causam aumento da freqüência cardíaca e aceleração na respiração, energizando os músculos”. Os autores dão exemplo de um ruído na sala quando a pessoa está só e no escuro. Ela pensa que alguém está entrando no recinto e teme por sua vida. Neste caso, o medo é sinônimo de terror e não apenas o receio de andar de avião, de estar viajando num carro em alta velocidade ou de saltar de um trampolim.

O terror do desconhecido é explorado pelo cinema desde os seus primórdios, ou seja, desde a fase muda. O expressionismo chegou aos filmes alemães dos anos 20 (começando em 1919 com “O Gabinete do Dr Caligari” de Robert Wiene) até como um quadro da situação política do país, saído de uma guerra, sofrendo uma hiperinflação, e assediado pelas correntes opostas: o comunismo e o nazismo. No filme de Wiene o medo vinha da ação de um sonâmbulo, Cesare, que atacava de noite as pessoas que andassem pelas ruas próximas de um circo. As ruas tortuosas indicavam um clima de pesadelo. E no fim do filme tudo era mesmo um pesadelo: uma história contada por um louco a outro louco em um hospício.

Filmes como “A Hora do Pesadelo”, “Sexta Feira 13” e “Halloween” trouxeram para as telas monstros assassinos chamados respectivamente Fredy Krueger, Jason e Michael Myers. Estas figuras têm povoado o imaginário dos cinéfilos em três décadas. Os filmes (vários) procuravam mudar situações, mas, basicamente, consistiam em pessoas atormentadas pelas figuras diabólicas que surgiam das trevas e as ameaçavam de morte. Seriam arquétipos do medo se os autores se preocupassem mais com a psicologia do que com uma dramaturgia sensacionalista. Hoje só Meyers ainda não ganhou a sua reciclagem. Mas é uma questão de tempo. Estreado semana passada nos EUA “A Hora do Pesadelo” reciclada encabeçou as bilheterias da semana. Há quem observe que esse tipo de filme prospera quando o ambiente que os recebe vive crises. Presentemente, nesse país, os produtores aproveitam-se da conjuntura econômica de 2009. Mas sabem que os jovens, principalmente, estão reagindo de forma diferente às propostas do gênero. Ou seja, vêem como comédias e riem das cenas mais dantescas.

Estudar esse comportamento é mais interessante do que assistir aos filmes, invariavelmente, medíocres.

segunda-feira, 10 de maio de 2010

FILMES INEDITOS EM DVD






















Este espaço tem alertado os cinéfilos sobre os filmes que têm sido lançados em DVD e não chegam ao mercado exibidor.“Substitutos”(Surrogates/EUA,2009) por exemplo, não chegou aos nossos cinemas, apesar de ser um blockbuster, com Bruce Willis lembrando o seu papel em “Duro de Matar”. O roteiro lembra o clássico “O Mundo de 2020”(Soylent Green) de Richard Fleischer. No futuro, as pessoas se acomodam em suas casas e determinam que robôs façam todas as tarefas que lhe são impostas. É um modo, segundo os inventores, de diminuir as doenças contagiosas, os desastres diversos e até mesmo alguns delitos.

Mas as coisas não parecem tão simples quando a cópia (ou avatar) de um rapaz, é destruída e ele, na sua residência, morre. O FBI e cientistas temem que haja uma correlação e que os danos a um robô atinjam as “matrizes”, ou seja, quem o governa. Bruce Willis protagoniza o policial encarregado de desvendar o crime e ele próprio usa um avatar, que antes do meio do filme é destruído e dá margem a que ele próprio assuma as investigações. Com direção de Jonathan Mostow, cineasta que realizou o mais recente episódio da série “O Exterminador do Futuro”, é um programa inventivo e divertido, com uma dinâmica artesanal que pede o gênero. Dá para se pensar no ineditismo por aqui...

“Rastros de Justiça”(Five Minutes to Heaven/Ingl, 2008) é mais um filme sobre o IRA, ou seja, sobre a luta de irlandeses por suaindependência do Império Britânico. No caso, um ativista protestante mata um católico atirando para dentro da casa do personagem. Na hora do crime ele chega a ver o irmão menor da vitima brincando de bola na porta. Mas não reconhece o garoto e foge. Trinta e três anos depois se vê o matador saindo de uma prisão, e convidado por uma emissora de TV para encontrar o ex-menino que o viu atirar. O enfoque do lado do irmão do assassinado mostra o preparo de uma vingança, e do outro lado com um modo do assassino fugir de constantes pesadelos pela culpa que carrega. O desfecho da história não é comum, realçando valores humanos pouco exibidos no cinema atual. Direção de Oliver Hirschbiegel de um bom roteiro de Guy Hibbert.

“A Era da Inocência”(L’Age des Tenebres/Canadá, 2008) é o fecho da trilogia do diretor Denys Arcand iniciada com “A Queda do Império Americano” (o filme seguinte foi “Invasão dos Bárbaros”). Aqui o “império” já caiu, os bárbaros já invadiram, e o que existe é o sufoco de um mundo poluído e cada vez mais duro, deixando as pessoas sem sentimentos. O argumento para isso não é muito convincente e o filme é o menos feliz dos três. Mesmo assim, há uma visão aguda de problemas atuais e uma narrativa que prende a atenção do espectador.
No rol dos clássicos chega um dos menos conhecidos filmes de Samuel Fuller, ícone dos cineastas independentes dos EUA: “O Barão Aventureiro”(The Baron of Arizona/EUA,1950). Desta vez Fuller obteve recursos para uma produção acima da linha que costumava usar e só tropeça no uso de Vincent Price para o papel principal, interpretando o falsário que inventa personagens para se apossar das terras do Arizona. Ele imagina uma família de nome Peralta, visitando um camponês analfabeto e dizendo a ele que uma sua protegida é a herdeira desses Peraltas e como tal a “baronesa” do lugar. Para consubstanciar o plano, entra num convento para poder alterar papéis de doação por parte do rei espanhol. E como sabe que o documento básico está em Madri, ruma para a Espanha, ajudado por ciganos, e consegue mudar a página do livro de doações do rei. A muito custo o governo dos EUA descobre a trama, embora o pior seja a fúria popular contra o usurpador das terras que os fazendeiros haviam adquirido da união. A jovem da história é Ellen Drew. A fotografia é do mestre James Wong Howe. A narrativa muito simples faz com que se acompanhe as trapalhadas do falso barão com um certo suspense. Um filme interessante para qualquer platéia mesmo hoje, depois de 60 anos de edição.

DVDs MAIS LOCADOS (FOXVIDEO)

1. Avatar
2. Onde Vivem os Monstros
3. Vício Frenético
4. Abraços Partidos
5. Jogos Mortais VI
6. Chéri
7. Lula, O Filho do Brasil
8. Assalto ao Carro Blindado
9. Vidas Cruzadas
10. Planeta 51

domingo, 9 de maio de 2010

SER MÃE




Este poema é do poeta maranhense Coelho Neto (1864- 1934). No dia de hoje, Dia das Mães, dedico a todas as mães seguidoras deste blog e das demais que iluminam o mundo.







Ser mãe é desdobrar fibra por fibra
o coração! Ser mãe é ter no alheio
lábio que suga, o pedestal do seio,
onde a vida, onde o amor, cantando, vibra.

Ser mãe é ser um anjo que se libra
sobre um berço dormindo! É ser anseio,
é ser temeridade, é ser receio,
é ser força que os males equilibra!


Todo o bem que a mãe goza é bem do filho,
espelho em que se mira afortunada,
Luz que lhe põe nos olhos novo brilho!


Ser mãe é andar chorando num sorriso!
Ser mãe é ter um mundo e não ter nada!
Ser mãe é padecer num paraíso!