sexta-feira, 21 de maio de 2010

7 ANOS

















O cineasta francês Jean-Pascal Hattu é o realizador de “Sete Anos”( 7 Ans/França,2006) seu terceiro filme de longa metragem. Trata da convivência de 3 personagens: Maité (Valerie Donzelli), casada com Vincent (Bruno Todeschini) que está sentenciado a sete anos de prisão, sem que seja informado ao espectador qual foi o seu crime, embora Maité pergunte sem obter resposta. O outro tipo é Jean (Cyril Troley) guarda penitenciário. Nas constantes visitas ao marido, no presídio, a mulher passa a ter um relacionamento intimo com o carcereiro. Vicent, que ama muito a esposa, percebe a transação sexual entre os dois, mas Jean, de alguma forma o ajuda no cárcere e o tem como amigo. O sexo, no entender de Maité, alivia o drama do distanciamento do marido, sentimento que reconhece e revela ao parceiro. O triangulo amoroso chega a reações bizarras como Vicent querer escutar uma gravação de Jean mantendo relação sexual com a sua companheira. Ele se sente nessa gravação, substituindo o outro.
O filme deu a Valerie Donzelli o prêmio de melhor atriz no Festival de Veneza e outros prêmios a Bruno Todeschini. Foi também premiado em outras mostras internacionais de cinema.
Em primeiro lugar há de se considerar que a linguagem de Jean-Pascal Hattu difere do que se costuma ver em cinema comercial. Os diálogos são econômicos apesar de a trama exigir detalhes de posturas. Os personagens agem como se não tivessem duvidas, e, paradoxalmente, todos possuem duvidas. Isso leva ao aproveitamento de detalhes narrativos que endossem o drama, seja o ambiente (a casa onde mora Maité, o inverno, a prisão), sejam preceitos básicos da linguagem cinematográfica como a iluminação e o enquadramento. Nada é gratuito até porque o objetivo é mesmo construir uma peça introspectiva com o mínimo de interferência verbal. Outro aspecto é que o filme exige muito dos intérpretes. Todos conseguem dizer por suas posturas o que o roteiro (do próprio diretor) implica. Uma expressão de Jean, apaixonado por Maité além de simplesmente ser o seu parceiro sexual, diz como vai diminuindo a diferença entre sexo e amor, deixando uma relação física de oportunidade ganhar a dimensão de afeto que pode até mesmo rivalizar com o que sente Vincent.
É interessante observar que a trama do filme não deixa espaço para explicações. Desde o fato que levou o marido a prisão ao modo como a esposa resolve fugir de tudo e de todos. O que se vê são imagens de atitudes. No final, quando a jovem está numa região montanhosa coberta de neve, poucos comentários delineiam a paisagem: a câmera corre pelo relevo frio demonstrando que as relações da personagem com o marido e o amante estão “congeladas”. E não se sabe se Maité vai voltar a visitar o marido preso da mesma forma que visitava, levando-lhe roupa limpa e falando de seu afeto, e ou se vai continuar seguindo Jean, o único do trio que diz verbalmente estar saindo do cenário.
É admirável a capacidade com que os três personagens enfrentam paixões e perdão, em como a violência ligada ao sentido de posse (seja do marido, seja do amante ocasional) passe ao largo de uma espécie de “Jules et Jim” (Uma Mulher Para Dois) embalada em sofrimento (as cenas de sexo demonstram a apatia de Maité em tantas vezes que se entrega ao outro pensando no seu verdadeiro amor, o marido preso).
“7 Anos” é um filme duro, amargo, narrado sem as concessões naturais dos dramas passionais ou mesmo dos que enfocam presídios. Não chega nem mesmo a demonstrar piedade por alguém. Maité, por exemplo, cria o filho de uma vizinha, garoto esperto que percebe a sua infidelidade conjugal e que só é desprezado na trama quando, nos últimos planos, foge do enquadramento numa brincadeira de trenó (ele não vai embora da história, mas a sua importância fica devidamente caracterizada no enfoque). Também é importante notar as tarefas da esposa do prisioneiro, lavando e engomando as roupas do marido, demonstrando seu permanente pensar nele. A ausência do sexo entre o casal é também demonstrada na seqüência em que marido e mulher trocam beijos na área de visita da cadeia e o guarda que vigia os dois de vez em quando aparece para afastar a dupla.
Jean-Pascal Hattu já foi ator de filme de TV e esta produção de 2006 é a sua mais recente. Desconhecido o motivo de seu silêncio, apesar da boa receptividade que o filme obteve diante da critica internacional. Por certo, “7 Anos” não é programa popular por excelência. Mesmo com muitas exibições de nudez e sexo. É uma experiência ousada numa área difícil do cinema, aquela que se preocupa mais com o sentimento do que com a ação.
Cotação: Bom (***)

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