quarta-feira, 31 de julho de 2013

O CINEMA ARGETINO DÁ O TOM


Ricardo Darin e Norma Alejandro em "O Filho da Noiva"

Juan Jose Campanella (54 anos no dia 19 pp) é um dos mais notabilizados diretores argentinos. São dele filmes cultuados como “O Filho da Noiva”(El Hijo de la Novia, 2001), ”Clube da Lua”(Luna de Avellaneda, 2004) e “O Segredo dos Seus Olhos”(El Segredo de sus Ojos, 2009). Hoje (31/07 e amanhã (01/08) no cine Olympia, dentro da Mostra do Cinema Argentino, serão exibidos dois desses títulos: “Clube da Lua” (hoje) e “O Filho da Noiva”(amanhã).
“O Filho da Noiva” chegou a ser exibido em Belém. Comoveu a muitos narrando, em uma narrativa acadêmica, o drama de Rafael Belvedere (Ricardo Darin) responsável por apresentar uma postura individualista em sua vida e que, ao lado do pai, sente necessidade de rever a mãe Norma (Norma Aleandro) portadora do mal de Alzheimer. O confronto dessas personalidades roça o melodrama, mas ganha na direção de Campanella uma posição realista e que não se furta a momentos de humor. Logo se tornou um clássico do cinema sul americano, vencendo o Oscar de melhor filme estrangeiro e ganhando mais 28 prêmios em mostras internacionais.
“Clube da Lua” é menos popular, mas de uma densidade que só faz confirmar o talento do realizador e do ator principal (Ricardo Darin é o mais afamado interprete do cinema argentino atual). Trata de uma casa de diversões tradicional que entra em fase de decadência com a fuga de sócios. Um dos diretores, Román Maldonado (Darin) que nasceu no local e por isso é sócio permanente, trabalha como motorista de taxi durante o dia, de onde tira seu sustento, e emprega suas noites no clube por amor àquele lugar. Ele é o primeiro a se posicionar contra o fechamento da casa. E esta posição contrasta com os problemas que enfrenta como a separação da esposa com quem tem uma filha e a incompreensão de alguns colegas. Sua argumentação varre a afetividade pela tradição das coisas do lugar, mas a contrargumentação acena com empregos numa época devastadora e, por isso, é a vencedora.
O filme ganhou 9 prêmios e segundo um critico da mesma nacionalidade é um apanhado da cultura popular de Buenos Aires com o amargor da crise que sacudiu a cidade e o país nos anos 1970/80. No caso, o bom humor e a música surgem como coadjuvantes de um drama denso onde o que mais importa ver é o papel cada vez mais incompreendido do sócio-fundador que no momento da ultima votação dos sócios para marcar o destino do clube diz, em reposta ao argumento de quem defende o fechamento alegando a criação de 200 empregos noutro ramo, que “está certo”, engolindo lagrimas e sabendo que se está sepultando uma parte da história local e de sua própria história.
Com uma fotografia fascinante de Daniel Schulman e direção de arte de Mercedes Alfonsin capaz de recriar um ambiente, o filme impressiona e como “O Filho da Noiva” foge de um fácil esquema melodramático.
O cinema argentino é mais conhecido entre nós pelas edições em DVD. Mesmo assim, muitos perguntaram se a mostra levada a efeito pela ACCPA tinha a ver com a visita do papa ao Rio de janeiro. “-Foi coincidência” diz Marco Antonio Moreira que idealizou o programa com ajuda de Pedro Veriano. Mas houve quem reclamasse a ideia, mostrando total desconhecimento da fonte produtora. Na verdade, o ciclo, com bons títulos, marca o inicio de programas dedicados a filmografias nacionais. A ideia é trazer filmes de diversas nacionalidades, a maioria desconhecida de quem hoje frequenta cinema e mesmo locadora de vídeo. Estas, aliás, se queixam de que os frequentadores dessas lojas preferem, como aqueles que vão aos cinemas comerciais, os novos filmes de Hollywood com todo o vazio que os cerca. É triste, com toda a produção cultural que se processa em sessões especiais, que ainda haja essa argumentação. É preciso mais discernimento para que se mude esse cenário. Nós fazemos a nossa parte.


terça-feira, 30 de julho de 2013

NATAL EM JULHO



"Natal em Julho" de Preston Sturges 

O norte americano Preston Sturges(1898-1959) escreveu 45 roteiros e dirigiu 14 filmes. Antes de chegar ao cinema foi comerciante, esteve na I Guerra Mundial e também escreveu para o teatro. Sua mãe, executiva de uma produtora de artigos de beleza (um tipo de batom) insistiu para promover o filho na área que lhe prezasse. Mas a chegada ao cinema não foi tão fácil. Sturges vendeu um roteiro para os estúdios da Paramount Pictures por apenas 1 dolar devido a compromissos com esta produtora. E se tornou um cineasta independente apesar de seus filmes terem sido distribuídos por firmas “major”.
Sturges chegou a ser considerado um dos melhores diretores de cinema na época em que surgiam os “talkies”(filmes falados). Suas comédias espirituosas o colocaram no patamar de grandes como Frank Capra e Leo McCarey. Em 1930 revolucionou a comédia screwball (gênero fora do convencional, originando situações diversas e inesperadas). Hoje é um nome esquecido dos cinéfilos. Felizmente o DVD está divulgando seu trabalho. E depois de lançar no Brasil o criativo “Contrastes Humanos”(Sullivan”s Travels, 1941) circula uma cópia de “Natal em Julho”(Christmas in July, 1940) a historia de um escriturário que tem uma ideia para um concurso de slogans e os colegas de repartição fazem uma brincadeira com seu desejo mandando-lhe um falso telegrama de que teria sido o contemplado no concurso para o slogan de um tipo de café. Louco de alegria ele e sua noiva passam a comprar presentes para todos da rua onde mora. E o esbanjamento vai até que a verdade venha à tona.
Dick Powell (1904-1963) e Ellen Drew(1915-3003) encabeçam o elenco. Um filme simples, curto, mas criativo e divertido ao extremo. Em nada envelheceu com seus 73 anos. Procurem ver.
E em se tratando de boa diversão também é “O Negociador”(Whole Lotta Sole, EUA, 2012) de Terry George, irlandês, diretor de “Hotel Ruanda”(2004). O ator Brendan Fraser é também o produtor. Historia de um jovem que deve a um gangster por jogar na roleta e perder e é ameaçado por este a ter seu filho de 6 meses sequestrado para contentar a filha do bandido que é considerada estéril. Para resolver a situação ele pensa em roubar uma loja. Coincidentemente acaba no estabelecimento dirigido por seu suposto pai, que ele não conhecia, pois, foi resultado de um breve namoro deste com sua mãe. A confusão que acontece dentro da loja lembra filmes dos Irmãos Marx. Produção modesta, mas contemplada com uma narrativa ágil e bem estruturada a ponto de evitar os “furos”que poderiam surgir do acumulo de situações. Filme inédito nos nossos cinemas.
“Paixão Fatal”(Flame of New Orleans, EUA, 1941) é um dos primeiros filmes de René Clair (1898-1981), cineasta francês que chegou a ser membro da Academie Française e realizou clássicos surrealistas como “O Milhão”(Le Million, França,1931) e comédias como “Esta Noite é Minha”(Les Belles de la Nuit, França, 1952). Rodado em Hollywood.para onde se dirigiu depois que sua pátria foi invadida pelos alemães, o filme trata de uma falsa condessa que vinda de Paris tenta arranjar marido rico em Nova Orleans. Mas quando já está com o pretendente (um banqueiro) “engatilhado” ela se apaixona por um capitão de navio. Marlene Dietrich contracena com Bruce Cabot (o capitão) e Roland Young (o banqueiro). Curioso e agradável embora não seja dos melhores trabalhos do cineasta.
Nas circuladas pelas casas de aluguel e venda de vídeos observa-se que a produção dessas midias está recebendo uma larga manifestação de interesse. Para quem estuda cinema e/ou gosta de assistir filmes em casa esse meio de aquisição e/ou aluguel de cópias tem sido benefico no momento em que o cinema de rua (ou shoppings) se assenhoreia de todos os horários com blockbusters vazios.
Aos leitores, digo, que um estudo eficiente sobre cinema é assistir a essa produção de filmes antigos que chegam às locadoras. Reconhecer como as narrativas de ontem e hoje se estruturam não deixa de ser uma atração para aqueles que não querem trocar gato por lebre.


sexta-feira, 26 de julho de 2013

O HOMEM DE AÇO




Um dos personagens de histórias em quadrinhos mais aclamados é o Super-Homem ou, na grafia original inglesa, Superman. Foi criado em 1938 pelos judeus Joe Shuster e Jerry Siegel para a revista “Dectetive Comics”(DC). No mesmo ano, o personagem chegaria ao Brasil no suplemento do jornal carioca “A Gazeta”, chamado de “Gazetinha”. Depois foi publicado na revista “Lobinho” e em seguida em outras até ganhar revista própria: Superman. Interessante é que alguns nomes originais dos tipos foram adaptados em nosso país: Clark Kent seria Edu, Lois Lane, a namorada, era Miriam Lane, embora o planeta de origem do personagem continuasse a ser chamado de Krypton. Os autores informavam que a cidade de Metrópolis tinha esse nome devido ao famoso filme de Fritz Lang. E Clark veio de Clark Gable.
No cinema houve dois seriados com o ator George Reeves (pseudônimo de George Keefer Brewer, 1914-1959), alguns desenhos animados, quatro filmes “classe A” com Christopher Reeve (1952-2004) e uma volta com outro interprete, Brandon Routh este ultimo não conseguindo chamar a atenção e o filme fracassou nas bilheterias. Este ano surge “O Homem de Aço”(Mano of Steel, EUA, 2013) dirigido por Zack Snyder e lançando o inglês Henry Cavill no papel-titulo.
O novo filme consome 142 minutos de projeção, uma avalancha de efeitos especiais, e pretende recontar a história de Kal-El (filho das Estrelas, no idioma do lugar), o garotinho nascido em Krypton quando o planeta agonizava e enviado por seu pai, Jo-El para o planeta que melhor se adaptava a seu organismo, a Terra. Com isso, o roteiro de David S. Goyer, e do produtor Christipher Nolan (diretor dos últimos “Batman”) segue um recurso em moda na indústria cinematográfica: quando cansa a numeração de sequências de uma historia faz-se o que chamam de “prequel”, ou seja, a volta à origem do assunto.
Algumas historias de ficção cientifica são chamadas de “messiânicas” por fazerem analogia com a vida de Cristo. O caso de “O Dia em que a Terra Parou”, com o personagem Klatoo (Michael Rennie) morrendo e ressuscitando para cumprir sua missão. O Super-Homem também veio do céu para ajudar as pessoas na Terra. Neste novo filme ainda se menciona ter sido um dos raros meninos nascidos de parto normal(os demais seriam produtos de inseminação artificial).
O recurso de achar vilão à altura do personagem invulnerável (que assim seria devido a diferença de gravidade entre seu mundo de origem e o nosso) repete o que foi visto em “Superman II”,de Richard Lester: é uma figura vinda do próprio planeta Kyrpton (no caso, os banidos do mundo em destruição que haviam se rebelado contra a autoridade local e matado o cientista Jo-El, pai do futuro Superman). Com isso, ficamais cômodo colocar o conflito entre seres de poderes semelhantes. Mas tudo isso sem humor: numa briga entre gigantes uma cidade inteira é destruída.
Os autores de “Homem de Aço” endereçaram seu produto às crianças pequenas. Não creio que maiores se deixem entusiasmar com a parafernália digital que mostra prédios caindo (tem um deles que “cai duas vezes”) uma inflação de sequencias de desastres, uma parafernália de edição que focalize o herói indo e vindo contra o seu vilão de igual poder, tudo a ponto de se tornar difícil, em certos planos, evidenciar as posições de luta.
O roteiro se dá ao luxo de montagem acronologica. Há momentos da infância de Clark Kent, ou Jo-El, intercalados na ação quando adulto. É nesses hiatos que surge o pai adotivo (Kevin Costner) um fazendeiro que vive discursando sobre bons propósitos. Recurso que tenta mudar o que foi visto nas versões anteriores com mais simplicidade onde se conservava o ingênuo da  historia.
“Homem de Aço”, afinal, é um blockbuster do verão norte-americano produzido para faturar. O que existia de interessante na origem desse personagem deixa vaga para uma visão formalmente requintada, mas flagrantemente oca. O que havia de imaginoso na origem do tipo emerge num propósito de filme de ação a imitar videogames. Puro desperdício. E horas perdidas para quem precisa trabalhar (como eu).


quinta-feira, 25 de julho de 2013

HI-YO SILVER!


John Deep e Armie Hammer em "O Cavaleiro Solitário"

Conforme a pesquisa que fiz, a figura do “Cavaleiro Solitário” nasceu no rádio em 1933, criado pela equipe de George Washington Trendle inspirada no escritor Fran Striker. Em seguida ganhou quadrinhos e cinema. Entre nós popularizou-se com o nome de Zorro. Foi explorado até em música popular. Chegou aos quadrinhos em 1938, desenhado por Ed Kressy e, depois, por Charles Flanders, o mesmo que desenhou o Agente Secreto X-9, depois de Alex Raymond. Logo alcançou o cinema, gerando desenhos animados e seriados, o primeiro em 1938 com o nome brasileiro de “O Guarda Vingador”.
Na minha infância era muito popular o Zorro com seu amigo indio Tonto e seu cavalo branco “que só faltava falar”, Silver. Esse tempo faz parte da memória em que trocávamos revistas desse nossos heróis com meus primos abaetetubenses (Thelma e Paulo Reis, por exemplo).
Hoje , com o faroeste em queda livre (o gênero quase desapareceu depois da morte de John Wayne e da desistência dos exemplares europeus), surge uma superprodução da Disney assinada por Jerry Bruckenheimer (produtor) e Gore Verbinsky (produtor e diretor). O roteiro coube a Justin Hayth, Ted Elliot e Tony Rossio com argumento (historia) também dos 3. Verbinsky, o diretor, veio do sucesso comercial de “Piratas do Caribe” e artisticamente do desenho animado “Rango”(Oscar de animação em 2011) além de “O Sol de Cada Manhã” (The Waether Man, 2005) aquele filme em que Nicolas Cage protagoniza um apresentador da meteorologia na TV, e, ainda em “O Chamado”(The Ring, 2005) versão do filme japonês de Hiroshi Takahashi.
“O Cavaleiro Solitário”(The Lone Ranger/EUA,2013) talvez tenha exgerado em tempo de duração (2 horas e 40 minutos de projeção). Gastou mais de 200 milhões de dolares e mexeu com a história politica norte-americana. Há por exemplo, uma sequencia em que os indios Comanche são massacrados pelos construtores de uma estrada de ferro que passa pelas terras deles. Em meio a espaços de comédia, muito inspirados e que promovem a ficção de gibi (o personagem só falta voar em seu cavalo e isso dá margem a que Tonto, o indio, pergunte-lhe se o cavalo voa), há momentos dramáticos como o close do velho chefe da tribo sendo apunhalado e revidando num militar. Mas o que importou a Verbinski foi ver o velho oeste de cinema como se via talvez no tempo de seus pais. Em filmes, naturalmente. E avalio o olhar da garotada dos seriados sobre este gigante da Disney com todos os elementos que ela curtia nas salas escuras. Não falta nem mesmo o “grito de guerra” do mocinho: “Hy-Ho Silver”. E asssim é sabido que Silver quer dizer prata e o trágico destino dos índios coube à mina de prata da região que foi mostrada por Tonto quando ainda era criança, trocando a informação aos soldados por um relógio.
Muito curioso, também, como o roteiro pontua a historia a partir de uma visita de um menino a um parque de diversões onde está o velho índio, justamente Tonto. Obviamente o tempo é outro (século XXI) e o menino conversa com o personagem posto em exposição, passando daí ao longo flash-back que conta como se formou a dupla de justiceiros. A exposição, aliás, tem uma curiosa métrica com intercessão de planos que ja passaram e que não foram bem percebidos.
O filme tem ótimo ritmo, a música lembra os velhos seriados e episódios de TV (um arremedo de uma ária da opera “Cavalleria Rusticana”de Pietro Mascagni impulsiona a sequencia final em que Ranger luta contra os vilões majoritários em meio à uma viagem de trem), e John Depp está irreconhecível (e excelente) como Tonto.
Gostei do que vi. E pensava que não ia gostar (a maior parte das criticas mundiais achou um resultado desanimador). Não sei se a garotada que cultua novos personagens vai gostar. E um detalhe: ninguém comenta o motivo de se chamar Zorro, à semelhança do espadachim hispano. Mais uma da globalização?


terça-feira, 23 de julho de 2013

O MELHOR ESTÁ NOS EXTRAS


"Branco como a Neve" ( Turquia), no "Libero Luxardo".

As salas comerciais da cidade nos shoppings lançaram esta semana apenas dois filmes: “O Concurso” e “Turbo”. Enquanto isso as salas cheias estão centrando nos blockbuster das férias como “O Homem de Aço”, “O Cavaleiro Solitário”, “Guerra Mundial”, além do desenho “Meu Malvado Favorito 2”, e da comédia brasileira “Minha Mãe é Uma Peça”.
Nas salas especiais estão: “Branco como a Neve” e “O Vendedor”, filmes europeus em dobradinha de horários no Cine Libero Luxardo; e um programa de comédias visuais no Cine Olympia, a MOSTRA DE COMÉDIAS CLÁSSICAS.
 “O Concurso”(Brasil, 2013) apresenta quatro amigos - Caio (Danton Mello), Rogério Carlos (Fábio Porchat), Bernardinho (Rodrigo Pandolfo) e Freitas (Anderson Di Rizzi) – que vieram das várias regiões brasileiras para o RJ e se inscrevem num concurso para o cargo de juiz federal, mas, enquanto esperam, se metem em aventuras desastrosas em função de “comprar” a prova. Mais uma comedia nacional, agora dirigida por Pedro Vasconcelos.
 “Turbo” (EUA, 2013) marca a estreia de David Screm na direção, com roteiro dele e de Robert Siegel e David Soren. Trata de um caracol de jardim acidentado sendo que esse episódio parece ser um bem para ele, pois, dessa forma, pode realizar um velho sonho.
O filme lembra “Carros”(1 e 2) da PIXAR. Isso é lamentável, pois as aventuras dos automóveis de John Lesseter estão entre as piores produções do estúdio que explorou obras elogiadas como “Ratatouille”(2007), ”Wall E”(2008), ”Up”(2009) e os 3 “Toy Story” (1995, 1999 e 2010). Os críticos norte-americanos que já assistiram ao “Turbo” em sessões prévias não se mostraram muito contentes. As cópias estão dubladas e em 3D.
“Branco como a Neve”(Kar Beyaz, Turquia, 2010) conta o drama do garoto Hasan, de 9 anos, que vende uma bebida típica de sua terra, nas montanhas turcas, para ajudar a mãe e irmãos uma vez que o pai está preso. Numa viagem para deixar encomenda de bebida ele se perde na região gelada. A aventura está nessa situação e/ou como sair dela. O filme ganhou prêmios em seu país de origem e é dirigido por Selim Günes. As sessões estão no Cine Líbero Luxardo, às 18 h e aos sábados às 17h.
“O Vendedor”(Le Vendeur, Canadá, 2011) focaliza um vendedor de carros, com 67 anos de idade (Gilbert Sicote, em desempenho magistral), que espera a aposentadoria, mas sofre o abalo do fechamento da fábrica a que serve. No meio desse trabalho há perdas muito grandes em sua vida. Mas a vida continua. É o filme de estréia do diretor Sebatien Pilote. Muitos elogios e prêmios internacionais, a exemplo, o de Sundance. Outro programa do Cine Libero Luxardo. Conferir programação.
As comédias visuais, muito famosas na época anterior ao advento do som nas películas, ainda hoje provocam o riso. E muitos intérpretes dessas comédias inscreveram seus nomes entre os mais importantes na evolução da linguagem cinematográfica. Desde sexta feira, o cine Olympia exibe essa programação de uma série de filmes cômicos das décadas de 1920 e 1930. São eles: Curtas de Chaplin (“O Imigrante”, “Rua da Paz” e “O Balneário” entre outros) realizados para a produtora Mutual onde o comediante trabalhou no inicio de carreira e promoveu o tipo que havia criado, o vagabundo Carlitos;“O Calouro” (The Freshman, 1923) de Fred C. Newmeyer, com Harold Lloyd (conhecido por aqui como “Caixa D’Oculos”) filme onde ele critica o meio universitário da época através de um precursor dos nerd; “O Homem do Rio” (Steamboat Bill Junior, 1929) de Carl Reisner, com Buster Keaton, o comediante que não ria (daí ser conhecido como “Cara de Pedra”); “O Homem Forte”(The Strong Man, 1926) um dos primeiros filmes de Frank Capra com o comediante Harry Langdon (o “Cara de Bebê”) e “Bucha pra Canhão”(Great Guns, 1941) de Monty Banks, com o Gordo (Oliver Hardy) e o Magro (Stan Laurell). Sessões diárias sempre as 18h30 exceto 2ª. e  3ªs feiras.

As férias da turma de cinéfilos estão produtivas com essas exibições. Vamos lá!

segunda-feira, 22 de julho de 2013

NOVO FILME DE KIAROSTAMI


"Um Alguém Apaixonado" (2012)
O mais recente filme do diretor iraniano Abbas Kiarostami está em DVD: “Um Alguém Apaixonado”(Like Someone in Love, França, Japão,  2012). Esse diretor ficou conhecido a partir de outras produções realizadas em sua terra como: “Onde é a Casa do Meu Amigo” (1987), ”Através das Oliveiras”(1994), “Gosto de Cereja”(1997). Em 2010, já morando longe da terra dos aiatolás, ele realizou “Cópia Fiel” (Copie Conforme), com Juliette Binoche. Neste filme recente focado na cidade de Tóquio, ele evidencia o drama de uma estudante que para manter-se na universidade é garota de programa e nesta qualidade, conhece um professor aposentado que lhe pede apenas companhia para aliviar uma doída solidão. Mas a jovem tem um namorado, ou candidato a isso, que lhe assedia sempre e trabalha como mecânico em uma oficina. Esse homem vai tumultuar não só a vida dela como a do mestre amigo. Uma situação do modo como é enfocada (a ação se passa em menos de dois dias), uma narrativa simples, sem rebuscados formais e muito bem resolvida como cinema. Atuações marcantes de Rita Takanashi, Todashi Okono e Ryo Okase.

Um dos últimos filmes do diretor norte-americano Elia Kazan (“Sindicato de Ladrões”, 1954; “Uma Rua Chamada Pecado”, 1951), “Rio Violento’(Wild River/EUA, 1960) também pode ser visto em DVD. O ator Montgomery Clift (1920-1966) protagoniza um agente federal do governo Franklin Roosevelt que vai a uma ilha do Mississipi tentar evacuar o espaço a ser inundado para a construção de uma represa e hidroelétrica. A dona de uma casa (Jo Van Flett, excelente) recusa abandonar o espaço comprado por seus ancestrais. A neta (Lee Remick), mãe de dois filhos e sem marido, acaba se apaixonando pelo agente e tenta mudar a Ideia da avó em esperar a inundação de sua terra. Não é dos mais aplaudidos filmes do cineasta polêmico (foi acusado de contribuir com o Senador Joseph McCarthy na “caça as bruxas” de comunistas no cinema), mas está bem acima da média. Vale conhecer.

“Terapia de Risco” (Side Effects, EUA, 2011) foi anunciado como o último filme do prolífico diretor Steven Soderbergh. Felizmente não foi (ele já tem dois títulos posteriores). Trata de uma jovem (Rooney Mara, a excelente intérprete da versão norte-americana de “Os Homens que Não Amavam as Mulheres”, The Gir with the Dragon Tatoo, 2011, de David Fincher), apresentando problemas de ansiedade sendo tratada com uma nova droga e após a medicação passa a apresentar sintomas graves demonstrando-se os efeitos colaterais perigosos desse remédio. É casada com um analista de sistema (Channing Tatum) preso anteriormente por troca de informações sigilosas. O drama ganha a feição de um thriller e a narrativa é sempre interessante, mesmo sem se aprofundar no caso clinico focalizado. O filme chegou a ser exibido em Belém, numa sala distante do centro e por poucos dias.

“Atirador de Elite”(Le Gietteur, França, 2012) é um drama criminal comum e pode chamar a atenção pela dupla central de interpretes: Daniel Auteil e Mathieu Kassovitz (de “O Fabuloso Destino de Amélie Poulain”, 2001). O roteiro focaliza um policial cuja tarefa obsessiva é descobrir e prender um ladrão. O filme não difere de muitas produções do cinema norte-americano, até nos desastres de carro e tiroteio. O diretor é o italiano Michele Placido, ator em cerca de 118 filmes, diretor de 12 e premiado como diretor por “Ligações Criminosas”(Romanzo Criminale, 2005) entre os 20 que recebeu nas duas categorias (ator e diretor). Espera-se muito mais do que é possível ver em DVD (não chegou aos cinemas locais).

“O Grito nas Selvas”(The Call of the Wild, EUA, 1935) é um filme menor do diretor William Wellman (o primeiro vencedor de Oscar, ”Asas” e da primeira versão de “Nasce uma Estrela”, 1937). O ator Clark Gable (1901-1960) protagoniza um jogador que se aventura atrás de ouro no Alaska e finalizando em outra missão, a de procurar o marido da personagem Claire Blake, vivida pela atriz Loretta Young (1913-2000). Título esquecido que chega em DVD como uma curiosidade e nada mais.

sexta-feira, 19 de julho de 2013

MOSTRA DE COMÉDIAS CLÁSSICAS

Chaplin, hoje, em O Imigrante- Rua da Paz- O Aventureiro e O Balneário



CINE OLYMPIA - MOSTRA DE COMÉDIAS CLÁSSICAS 
De 19 à 25/07/13 (exceto dias 22 e 23/07)

Dia 19/07 - Curtas de Charlie Chaplin (O Imigrante- Rua da Paz- O Aventureiro e O Balneário) (1916-1920).
Dia 20/07 - O Calouro (The Freshman) com Harold Lloyd (1925)
Dia 21/0 - O Homem do Rio(Steamboat Bill Jr) de Buster Keaton(1928)
Dia 24/07 - O Homem Forte(The Strong Man) com Harry Langdon (1926)
Dia 25/07 - Bucha Para Canhão(Greatn Guns) com o Gordo(Oliver Hardy)e o Magro(Stan Laurell) (1941).

MOSTRA DE COMÉDIAS CLÁSSICAS
CINE OLYMPIA
DE 10 À 25/07/13
HORÁRIO : 18:30 H
ENTRADA FRANCA
LIVRE


TEATRO NA TELA


 Paulo Gustavo em "Minha Mãe é uma Peça"
Paulo Gustavo Barros ou Paulo Gustavo é o responsável pela criação da personagem Dona Hermínia nascida para o teatro e com passagem na televisão. Sua chegada ao cinema seria uma consequência natural da onda de comédias que estão alimentando o cinema brasileiro de hoje, se considerarmos a bilheteria.
      “Minha Mãe é uma Peça”(Brasil, 2010), inspirado na peça homônima de muito sucesso trata da citada Hermínia, dona de casa (o próprio Paulo Gustavo de travesti) separada do marido (no filme Herson Capri), mãe de 3 filhos, o mais velho (Garib, Bruno Babiano) adulto estabilizado e morando longe, os mais novos chamando a atenção pela homossexualidade do rapaz(Juliano, Rodrigo Pandolfo) que procura esconder sua tendência, e pela menina obesa e desastrada (Marcelina, Mariana Xavier). Alia-se à tia  Zélia (Suely Franco) com quem passa um tempo de suposto “desamor” dos filhos por ela. A rotina desses tipos é tratada de forma a fazer gags. E para isso reforçam-se os estereótipos e as situações. Como o original é de teatro, o maior trabalho do roteiro de Gustavo e Felipe Braz é tirar essa impressão e o que se vê é uma saraivada de mini sequências ou esquetes que tentam um ritmo cinematográfico no processo narrativo. Isso não quer dizer que a leitura da historia sofra mudança radical. Pelo exagero das figuras em cena (ou em planos) é puro “teatro de variedades”. E não sei, pois não vi, se no palco a peça funciona melhor.
        O sucesso popular que está obtendo o filme, dirigido por André Pellenz, tem sua raiz nos programas humorísticos de TV e no próprio palco de onde veio. Mãe despótica, marido volúvel que já anda com mulher jovem a tiracolo, filho adulto, filho gay, filha gordinha e potencialmente engraçada (até por isso) seguem um esquema que não esconde preconceitos, pois sabe que o publico ri de um tipo de caricatura do “politicamente incorreto”. Nada no enredo ganha foro da realidade social brasileira sem a maquilagem de um show humorístico. É como a escolhinha do Chico Anysio ou o cenário da Zorra Total ou A Praça é Nossa. Se há público para esses shows em horários nobres naturalmente esse público se desloca para o cinema, pois sabe, de antemão, que vai se divertir.
           É preciso considerar que não é só o cinema nacional de hoje que se alimenta de comédias como forma de atrair platéia. Ontem era assim, e a diferença é que introduzia números musicais, pois, na época, não havia televisão e os cantores de rádio só eram conhecidos dos fãs, além de seus portos de origem, através das vozes. Foi o tempo das chanchadas. E quando chegaram os chamados “anos de chumbo”, a inocência do tipo de filme começou a ser diluída, com o advento do chamado “cinema novo”, passando ao apelo ao erótico na fórmula. E driblando uma censura que privilegiava o tema político via-se o que foi chamado de pornochanchada. Hoje, a liberdade de expressão deixa que dona Hermínia pronuncie “palavrões” e, com isso, provoque o riso de alguns (na minha sessão a plateia ria de cada termo disparado pela personagem). A vantagem, se é que se pode dizer assim, com outros exemplares do gênero, é que se limita a vulgarização do erótico. Com isso, o filme é aceito pelas famílias tradicionais que ainda vestem um comportamento hipócrita. O que não se diz é que se arma de preconceitos hoje considerados proibitivos. Mas vale tudo no afã de comercializar o produto. Cinema sério passa longe. E mesmo a diversão simples, mas inteligente, segue o caminho das férias.

quarta-feira, 17 de julho de 2013

ILUSIONISTAS



"Truque de Mestre" , de Louis Leterrier.

Quatro ilusionistas conseguem polarizar a atenção de uma platéia ao tempo em que assaltam um banco em outro país. Ainda mais: distribuem parte do dinheiro com a plateia, provocando, explicitamente, uma chuva de cédulas. Nesse caso, cabe pensar no quanto é possível vender ilusões às pessoas. Pelo menos é isso o que disse o diretor Louis Leterrier (“Carga Explosiva 2”, “O Incrível Hulk”, ”Fúria de Titãs”), afirmando que foi o filme que lhe deu chance de atuar espontaneamente, ou seja, sem estar preso às regras dos grandes estúdios produtores.  
Esse filme de que trata Leterrier, “Truque de Mestre” (Now You See Me, EUA, 2013), parte de uma boa ideia. Não é simplesmente desmascarar “mágicos” como Uri Geller que ia para a televisão entortar talheres. Estes são amparados por uma suntuosa direção de arte e aplicam os truques, sua especialidade (escapismo, "ler" mentes etc.) que podem chegar ao sugestionamento coletivo, sem deixar brechas para críticas de cima da hora. Tanto que uma das partes do roteiro é saber como os artistas nos EUA conseguem que se faça um roubo na França ao mesmo tempo em que atuam num palco em Las Vegas.
O roteiro é curioso, mas tem furos, ou melhor, não satisfaz nas explicações de certos comportamentos, em especial, o de um agente de policia (Mark Ruffalo) que acompanha o caso dos roubos. E, diga-se de passagem, pouco ajuda a intervenção de um mágico veterano que se mostra solicito com as autoridades (Morgan Freeman).
Os quatro ilusionistas são interpretados por Jesse Eisenberg, Woody Harrelson, Isla Fisher e Dave Franco. São todos simpáticos bastante a se filiarem no grupo dos vilões heróicos. E a narrativa ajuda na composição de um cenário hipnótico, com uma intensa movimentação de câmera (poucas vezes fixa), uma direção de arte que inspira grandiosidade e uma iluminação digna de números circenses (gelo seco, fumaça). Leterrier consegue criar o clima para os seus personagens. Mas não interessa defini-los. São apresentados ao público cada um de per se, com suas virtudes e truques, daí despertarem a atenção do responsável pelo clima entre truques e roubos. Interessante que um membro do grupo ao sucumbir ao trabalho da policia não leva à lamúria os colegas como se poderia esperar (mas isso tem razão de ser). E afinal nada é dito sobre a mágica ligada ao furto e com que recursos esses ilusionistas atuam para produzir esse furto. O palco das aventuras dos quatro colegas é tão grandioso que seria licito pensá-los milionários excêntricos se divertindo em desafiar a lei e imitar Robin Hood.
Esse, aliás, é o dado que emerge ao público espectador. Contudo, nas entrelinhas, a narrativa vai expondo, sem que seja notado ostensivamente, quem é que está por trás da negociação inicial na reunião entre os quatro mágicos, quem financia, inicialmente, as investidas mágicas, e quem completa a sentença da pretensão final. Mas esse percurso escamoteado se torna eficaz devido integrar a justificativa das mágicas, embora, subjacente, esteja o real meio de realizar os roubos que ocorrem no momento da apresentação.
“Truque de Mestre” só consegue impressionar na temporada cinematográfica atual por ser “um estranho no ninho”. Claro que exibe o lado de espetáculo exigido a um blockbuster (e o diretor veio desse gênero de filme), mas o argumento não tem super-herói nem trata de ETs ou lendas. No máximo lança com bom humor a imagem de novos tipos lendários como o cinema mostrou um Arséne Lupin. Mesmo assim são personagens que em fuga lembram os “colegas” de quadrinhos ao saltar por edifícios em noite que só falta ter uma imagem de Batman nas nuvens.
O filme tem bom humor e consegue por isso mesmo divertir. À saída do cinema as pessoas vão perguntar pela racionalidade das situações expostas, como o cofre construído à semelhança de um verdadeiro, o modo simultaneo de crimes a distancia, fatos expostos nas imagens com poucas e nem sempre aceitáveis explicações. Mas o objetivo dos autores foi divertir. E conseguiram. Cinema é uma ilusão. Mesmo sem nada consistente. É o truque pelo truque.


terça-feira, 16 de julho de 2013

ELITE RURAL E IDOSOS EM DVD


“O Quarteto”, de Dustin Hoffman em DVD. Muito interessante.

O diretor Vincente Minnelli (1903-1986) é mais conhecido pelo cinéfilo por seus filmes musicais. Mas ele teve incursões por outros gêneros como as comédias e o drama. É dele “Herança da Carne”(Home from the Hill, EUA, 1960) inspirado no livro de William Humphrey através de um roteiro bem comportado de Harriet Frank Jr e Irving Raveth. Trata de uma situação familiar rural onde, numa cidade do Texas, o magnata Capitão Wade Hunnicutt(Robert Mitchum) vive separado sexualmente da esposa Hannah (Eleanor Parker) desde que ela o flagrou com outra (ou outras, pois, o conhecido no lugar é mulherengo assumido) na casa da fazenda. Ele tem um filho com uma delas, o então empregado da família, Rafe Copley (George Peppard). O casal tem um filho, Theron (George Hamilton) criado pela mãe. Quando este se apaixona por Libby (Luana Patten) resulta na gravidez dela. O caso ganha feição de escândalo na cidade, pois, as pessoas pensam que a criança é de Humphrey , haja vista que a jovem une-se a Rafe que resolve salvar a situação casando-se com ela. Acabrunhado com o falatório, o pai da jovem, Albert (Everett Sloane) acha por bem revidar a acusação matando o magnata. Theron que a esssas alturas saira de casa para custear sua própria independência tenta vingar o pai.
Romanesco na essência, o filme consegue ser um bom contador de história como era praxe no cinema de então. O que causa incômodo hoje, especialmente em DVD, é o enquadramento usado nas primeiras produções em cinemascope apelando para os grandes planos como se os atores estivessem em um palco representando. Isso era exigido para o aproveitamento da largura da tela que assumia a feição de uma novidade. Mas o recurso diminuía os movimentos de câmera e os planos próximos. Fica difícil delinear comportamentos humanos embora se note o esforço de Robert Mitchum como o tipo do patriarca de difícil trato.
Minnelli realizou esse filme em seguida ao sucesso de “Gigi”(1958) e de duas provas de sua versatilidade e prestígio na Companhia Metro: “Brotinho Indócil” (The Reluctant Debutant, 1958) e “Deus Sabe o Quanto eu Amei”(Some Came Running, 1959). Era um diretor versátil que deixou títulos ainda hoje apreciáveis. Foi marido de Judy Garland e pai de Liza Minnelli .
“O Quarteto”(Quartet, EUA, 2012) é o primeiro filme que Dustin Hoffman dirigiu. Famoso como intérprete de sucessos a começar com “A Primeira Noite de um Homem”(The Graduate, 1967) ele se apaixonou pela peça de Ronald Harwood que o próprio autor escreveu para o cinema. Um dos muitos filmes sobre pessoas idosas, mas com uma sensibilidade flagrante. Trata de músicos que vivem num asilo e anualmente apresentam-se em um concerto. No caso, esse que está sendo ensaiado é dedicado ao aniversário de Giuseppe Verdi, o famoso compositor italiano. O enfoque evidencia conflitos familiares e problemas da idade. Um grupo de bons atores ganha espaço com direção segura, valendo a ideia de que atores dirigem bem atores: Maggie Smith, Tom Courtney, Bill Connoly, Pauline Collins, Michael Gambom, como sempre fascinam em seu desempenho. Estão admiráveis e conduzem a sintonia com as vicissitudes da idade. Inédito nos cinemas locais.
“Viúvas” (Viduvas, Argentina 2011) é, sem duvida, inusitado. Trata de duas mulheres que se encontram depois da morte de um homem de meia idade. Uma é a esposa(Graciela Borges), outra, a jovem amante (Valeria Bertucceli, tão jovem que no hospital onde se dá o óbito pensam ser filha do casal). No momento em que se acha nos estertores da morte, o personagem pede à esposa que cuide da outra. E por incrível que pareça ela cuida, embora relutante a principio pelos brios feridos por ter sido enganada durante tantos anos pelo marido. E as coisas complicam quando fica evidente que a jovem está grávida do morto. Um melodrama quase inverosimil  se não, absurdo,  bem tratado como narrativa graças à direção de Marcos Carnevale, também autor do roteiro. Segundo ele, fez “um filme de mulher para mulheres”. Não disse “que mulheres”, pois a situação exposta é muito dificil de absorver. Mas eles estão na Argentina, assim... pensemos que por lá isso pode ocorrer.  


REVENDO GARBO E O CINEMA


A eterna Garbo em tempo de Mostra: cine Olympia.

Greta Garbo, ou Greta Lovisa Gustafsson(1905-1990), foi mais do que uma simples estrela, foi uma lenda do cinema mundial. Nascida em Estocolmo ( Suécia), perdeu o pai quando tinha 14 anos, empregou-se numa loja, fez um filme curto para uma casa de modas e esse episódio chamou a atenção de pessoas ligadas ao cinema chegando ao diretor Mauritz Stiller que a convidou para atuar no seu filme “A Saga de Gosta Berling”(1924). Este filme, que em Belém foi exibido pelo Cine Clube Os Espectadores (1955) cuja coordenação estava a cargo do saudoso Prof. Orlando Teixeira da Costa, impulsionou a carreira da jovem sueca que, ao lado do seu diretor se mudaria para os EUA onde, em 1926 estaria filmando “Laranjais em Flor”(Torrent). Daí em diante assumiria dois aspectos: o de uma atriz talentosa que soube passar da fase muda para a fase sonora do cinema sem perder o conceito de excelete intérprete; e de mulher reclusa, sem casamento, sem espaço na rede de fofocas relacionada a casos românticos, ganhando ainda mais mistério em torno de si depois de ter deixado as câmeras, insatisfeita com a idéia de os produtores a lançarem em comédias, depois de ter atuado em “Ninotchka”(1939), e  “Duas Vezes Meu” (Two Faced Woman, 1941).
Garbo foi contratada pelos estudios da Metro Goldywn Mayer onde atuou, a maioria das vezes, em filmes norte-americanos. Seu prestigio era excepcional a ponto de exigir a contratação de John Gilbert, ator do cinema mudo em decadência depois da chegada do som, para contracenar com ela e ser o galã em “Rainha Cristina”(Queen Christine, 1931). O ator não conseguiu convencer os executivos do estúdio, tendo sido esse filme praticamente a sua despedida das telas. Gilbert ainda atuou em apenas um papel secundário em “O Capitão Odeia o Mar”(The Capitain Hates the Sea, 1934) do diretor Lewis Milestone (1895-1980).
Hoje, o espectador local tem a chance de assistir a alguns dos filmes mais marcantes de “La Garbo” em exibição no Cine Olympia. Nesta terça feira, 16, estará “Ana Karenina”(1937), de Clarence Brown (1890-1987); amanhã, 17, será a vez de  “A Dama das Camelias”(Camille, 1936) de George Cukor (1899-1983); e na 5ª feira “Ninotchka”(1939), de Ernst Lubitsch (1892-1947), com roteiro de Billy Wilder (1906-2002). Como se vê, trata-se de diretores consagrados que fizeram de Miss Garbo uma estrela de sucesso.
É interessante ver, por exemplo, duas versões de “Ana Karenina”, romance de Leon Tolstoy. A outra versão  mais recente está no cine Estaçaõ (a partir de 5ª feira). Se na de Clarence Brown a narrativa clássica traduz o livro de forma linear, no texto  recente, de 2012, assinado pelo inglês Joe Wright, o delírio formal passa pelo teatro e realiza uma espécie de balé moderno subsumindo o cenário antigo. São estilos que dizem das mudanças estruturais do cinema, mas a certeza é que a interpretação de Greta Garbo é mais afeita ao tipo descrito pelo escritor russo. Um close dela deixando aparecer as lágrimas motivada pela sua exclusão do convívio com o único filho, mesmo que o fato tenha se dado por sua própria vontade em trocar o marido por um homem mais novo, é um exemplo do que a sueca sabia demonstrar numa arte que ela viu crescer.
Rever Garbo é conhecer uma parte da história do cinema. Este é o objetivo da ACCPA ao programar mostras de filmes antigos. Como não há filmes de outras escolas que seja possivel exibir nesses eventos, o sentido é criar a expectativa ao público que frequenta as salas do cinema extra de como esses exemplares trouxeram a sistematização e a solidificação de “modos de fazer cinema”e de uma linguagem que tem circulado ainda hoje.
Depois do ciclo Greta Garbo está sendo organizado o de comédias, com exemplares que alinham filmes de Charles Chaplin a Harold Lloyd, alcançando-se, também, o cinema argentino moderno, ressaltando uma variedade de gêneros e desempenhos marcantes de atores.
Um informe importante é que este mês, a Sessão Cinemateca que se realiza aos domingos a tarde na nossa sala centenária foi suspensa. Mas ela retorna a partir de agosto. E certamente vai ajudar a quem está estudando a arte cinematográfica, em especial, a história dessa arte. Seria a base para se adentrar pela cinematografia amazônica, ou seja, qual o formato do cinema que se faz nesta região. Enquanto isso, vamos aplaudir Miss Garbo.



segunda-feira, 15 de julho de 2013

ANA KARENINA


Keira-Knightley e Aaron-Taylor-Johnson em "Ana Karenina".

Com direção de Joe Wright (“Orgulho e Preconceito”, 2005; “Desejo e Reparação”, 2007), roteiro de Tom Stoppard e fotografia de Seamus McGarvey, a mais nova versão de “Ana Karenina”(UK, 2012), baseada no romance de Leon Tolstoy, ganhou o Oscar de melhor figurino este ano. E só não alcançou as nossas telas grandes no tempo hábil (quando foram exibidos alguns filmes já candidatos ao prêmio da Academia de Hollywood) devido à insensibilidade de nossos exibidores que têm privilegiado os blockbusters vazios impingidos pelos distribuidores. Hoje, felizmente, o filme de Wright chega aos cinemas locais e excepcionalmente em lançamento simultâneo no Cine Libero Luxardo e Estação das Docas - Cine Teatro Maria Sylvia Nunes.
Ambientado na Rússia imperial de meados do século XIX, o roteiro do vencedor do Oscar por “Shakespeare Apaixonado”(1998) e coautor dos roteiros de”Império do Sol”(1997) e “Brazil-O Film(1985), além de mais de 20 outros títulos entre longas e curtas, “Ana Karenina” tem Keira Knightley no papel-título, uma aristocrata que viaja de São Petersburgo a Moscou com o objetivo de salvar o casamento de seu irmão - o Príncipe Oblonsky (Matthew Macfadyen) -, tentando convencer a cunhada a perdoar as traições dele com uma empregada. Durante esta missão acaba se apaixonando pelo jovem militar Vronsky (Taylor-Johnson) que encontra durante uma festa. De volta a São Petersburgo, Ana inicia um longo relacionamento extraconjugal esforçando-se em guardar segredo de seu marido, o aristocrata Karenin (Jude Law), mas sem evitar os comentários maldosos da sociedade. A paixão adúltera chega a um ponto que ameaça a guarda do filho de Ana a quem o marido faz questão não só de manter a guarda como de proibir que ela veja a criança.
“Ana Karenina” já teve 10 versões cinematográficas (contando o que se fez para a televisão) sendo a mais conhecida a que foi realizada em 1935 com direção de Clarence Brown e interpretação de Greta Garbo. A versão de agora mescla cinema e teatro de forma inventiva, com a atitude servindo a um ritmo alucinante. É assim que o primeiro plano é um palco onde a cortina se abre e a câmera penetra como se fosse um espectador a invadir a cena. Esse movimento de câmera não é exclusivo da abertura. Grande mobilidade cerca o “décor” realçando uma direção de arte aprimorada de Thomas Brown, Nick Gottschalk, Tom Still e Niall Moroney, por sua vez responsável pela evidencia do guarda-roupa premiado de Jaqueline Durran.
A impressão do luxo ambiente retira um pouco da textura melodramática que cercou as outras versões do livro. E com isso aproxima mais “Ana Karenina” do objetivo de Tolstoy, no caso, uma visão critica da Russia imperial. Tanto assim que a sequencia de lagrimas que cercava a despedida da mãe com o filho, colocada em evidencia não só na obra de Clarence Brown como na de Julien Duviver ,em 1948, com Vivien Leigh, passa ao largo de um fecho que deixa a estação ferroviária do epilogo (a titulo de exemplo) para uma volta ao palco, como se o que foi apresentado fosse uma peça de caráter dinâmico e que por sua estrutura dramática caberia muito bem no ambiente do palco. É um raro exemplo de como as artes teatral e cinematográfica podem se unir sem perder suas características ( e sem diminuí-las, ao contrário, estimulando-as).
Há também que ser evidenciada a direção de atores – uma multidão de principais e extras circulando no set – uma dificil empreitada que tem no filme um exemplar significativo de trabalho conjunto com os técnicos da segunda unidade.
Outra nota é quanto ao desempenho nos protagonismos de figuras clássicas do romance de Tolstoi, assumido pelos atores principais, todos do cinema inglês e adjacências. Mas o conjunto tem força inegável na representação integrada.
Um belo espetáculo. Quem já assistiu ao filme em telinha (DVD) deve experimentar em espaço maior. Para não perder.


terça-feira, 9 de julho de 2013

“FAUSTO” COM MUSICA AO VIVO

"Fausto", de F.W.Murnau será exibido no Olympia com acompanhemento musical

Prossegue hoje (09/07) no Olympia (18h30) o programa “Cinema e Música” revivendo os primeiros anos daquele cinema com a projeção de filmes mudos e acompanhamento musical ao vivo pelo pianista paraense Paulo José Campos de Mello. É uma iniciativa da FUMBEL e Fundação Carlos Gomes, além do apoio da Associação de Críticos de Cinema do Pará (ACCPA).
O filme de hoje é o clássico expressionista “Fausto”(Faust/Alemanha, 1925) de F. W. Murnau (1888-1931). O último que o cineasta de “Nosferatu”(1922) e“A Última Gargalhada” (1924) fez em sua terra natal antes de embarcar para os EUA, contratado pela Fox e ai criar outra obra que se tornou clássica “Aurora”(Sunrise, 1927).
Murnau faleceu em 1931, num desastre rodoviário. Além de “Aurora”, em seu novo espaço de trabalho fez quatro filmes: “Os quatro demônios”(1928),A garota da cidade”(1930) e “Tabu”(1931), este de parceria com o documentarista Robert Flaherty. Além do expressionismo alemão ele fez parte também do movimento Kammerspiel.
Sobre “Fausto” é preciso evidenciar os nomes da literatura alemã que subsidiaram as letras com essa figura. O Dr. Johann Wolgang von Goethe (1749-1832), escritor alemão e também cientista, liderou a literatura romântica européia, no final do século XVIII e inicio do XIX. Sua obra traduz-se entre romances, peças de teatro, poemas, autobiografias, teoria da arte, literatura e ciências naturais. Muito se escreveu sobre sua figura e sua produção literária, mas o que o imortalizou foi o poema “Faust”. Essa obra partiu da lenda de Fausto que seria o Dr. Johannes Georg Faust (1480-1540), misto de médico, alquimista e mágico, inspirador de contos populares e da obra do escritor Christopher Marlowe em “A Trágica História do Doutor Fausto”(1604). Nas histórias que circulavam dizia-se que esse personagem teria vendido a alma ao demônio (Mefistofeles, que quer dizer “Sem Luz”). Isso era visto como parte de possiveis blasfemias que irritaram os membros da igreja, na época, projetando essa obra de Goethe como símbolo do mal.
A odisseia do Dr. Fausto deu margem a diversos filmes nem sempre com base na obra de Goethe. Mas à época de Murnau, o movimento expressionista tomava as artes de um modo geral e há quem o veja como uma forma de retratar a Alemanha entre duas guerras, assolada pela hiperinflação e diminuição de seu território repercutindo a dor de uma derrota em campo de batalha.
No cinema, o expressionismo ganhou seu primeiro grande exemplo em 1919 com “O Gabinete do Dr. Caligari”, de Robert Wiene. Na década seguinte, o jovem Frederich Murnau foi buscar inspiração na obra de Bram Stoker com “Nosferatu”(1921). Não usou o nome Dracula, pois não pagou direitos autorais. O sucesso gerou a sua obra-prima na fase alemã, “Dert Letze Mann” (A Última Gargalhada) onde, além da forma expressionista, usava elementos do movimento que surgia e que se chamava “kammerspiel (cinema de câmera). Não tinha diálogos (nos intertítulos). Só as imagens contavam o drama de um porteiro de edifício que se julgava uma autoridade devido ao uniforme que usava. “Fausto” seria uma consequência natural da trajetória do cineasta na escola que aderiu. Emil Jannings, seu ator de “...Gargalhada” e um dos maiores talentos do cinema alemão da fase silenciosa, protagonizou o médico desesperado com as mortes causadas pela peste que aceitava negociar com o demônio para não só curar os doentes como viver para sempre. O trato só vai despertar o arrependimento do médico quando se apaixona por uma virgem, Gretchen, fato que a interferência diabólica logo se faz sentir.
Jannings e a direção de arte a cargo de Robert Herlth e Walter Roehrig criaram o clima de pesadelo do original. Deve-se muito à fotografia de Carl Hoffman. A concepção musical que na estreia estava a cargo de Wolfgang Dauer agora passa para a concepção do pianista paraense. Com esta obra prima do cinema, o programa de filmes silenciosos ganha mais um motivo inerente à qualidade de centenário de nossa casa de exibições cinematográficas.

O programa “Cinema e Musica” recupera as façanhas de uma “máquina do tempo”. Na primeira fase do Cine Olympia atraia as mulheres com seus vestidos de tafetá changeant e enormes chapéus, e homens de casaca e cartola. Uma cópia da assistência das óperas e comédias exibidas no vizinho Theatro da Paz. Hoje, a democracia das artes explora mais o olhar dos estudiosos e curiosos em assistir as imagens desse tempo, o “point” de seus  ancestrais, nessa sala centenária.