sexta-feira, 25 de novembro de 2011

DISCUSSÃO SOBRE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FILMES


A Campanha 16 dias de Ativismo pelo Fim da Violência contra as Mulheres, que acontece simultaneamente em 159 países, este ano de 2011 tem como tema: “Desde a paz no lar até a paz no mundo: desafiemos o militarismo e terminemos com a violência contra as mulheres” será motivo de discussão, pelo GEPEM/UFPA, num dialogo com um dos meios de comunicação dos mais ilustrativos e de grande força interativa – o cinema – numa programação de filmes que possam dizer alguma coisa sobre esse tema. Com esse objetivo, foram escolhidos dois títulos encenando significados que demonstram a importância dessa discussão. “Pelos Meus Olhos” (2003) evidencia a violência em âmbito privado e “Sim, Senhora Senhor” (2008) documenta a vida da indiana Kiran Bedi e o jogo institucional contra o trabalho público de mulheres.

Usado como tecnologia de análise, o cinema tem demonstrado auxiliar as discussões sobre as várias temáticas codificadas em imagens cujo processo de significação explora duas vertentes: a) a imagem tomada como signo linguistico com discussões sobre a arbitrariedade, a imitação e a referêncialidade; b) ou esta imagem tomada pela extensão, distância, profundidade, verticalidade, estabilidade, imitação, textura objetivando a forma de apreensão (ou a leitura) desta imagem sobre a sua especificidade (Souza, 2001).

Partindo desta abordagem através do cinema, espera-se mostrar o peso dos meios de comunicação que usam a imagem, seja ela verbal ou não verbal, na significação das diferentes formas construidas das relações sociais, na perspectiva de gênero, com ênfase nas imagens femininas, entre cenários, atores e cenas ilustrativas do modus vivendi social entre os quais a violência doméstica e institucional.

Nesta programação, convidamos a todas/os para o evento que será realizado no dia 28/11, pela manhã as 9,30h e a tarde as 15:00h, no Auditório do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas/UFPA

DIA 28/11 /2011

MANHÃ

Horário: 9h30

Auditório do IFCH

Filme: “Pelos Meus Olhos” (Te doy mis ojos, 2003, Espanha, 109 min.) de Iciar Bollain

Sinopse: A jovem Pilar (Laia Marull) foge de casa com o filho, numa noite de inverno, instalando-se na casa da irmã (Candela Peña). Tem medo que o marido(Luis Tosar) a encontre, o que ocorre pouco depois. Mas ela permanece entre os familiares criando-se, inclusive, um quadro que vai mostrar quem é quem na relação. Evidenciam-se os conceitos de lar, amor e proteção confundidos com violência, dor e medo.

Debate sobre a violência doméstica e sexual contra as mulheres.

TARDE

Horário: 15h00

Auditório do IFCH

Filme: “Sim Senhora, Senhor” (Yes Madam, Sir, 2008, Austrália/India, 95 min.), de Megan Doneman.

Sinopse: A vida de Kiran Bedi, a primeira mulher a entrar no serviço policial da Índia, é documentada nesse percurso e mostra as violências políticas que a submeteram por demonstrar melhoria na vida dos detentos e assumir o cargo de Diretora Geral de Polícia da Índia. Hoje é militante pela educação nas prisões.

Debate sobre a violência institucional contra as mulheres.

AMBIÇÃO DATADA

Na cultura ocidental, o dia 24 de agosto (dedicado a S. Bartolomeu), ficou marcado historicamente pela matança dos huguenotes (etimologicamente, a união dos termos franceses, Huis Genooten /colegas de casa, grupo de estudantes da Bíblia, e alemão, Eid Genossen /colegas de juramento). Trata-se dos protestantes que sofreram perseguição na França do século XVI comandada pelos súditos da Rainha Catarina de Medicis. Esse dia de agosto levou ao refrão: “o diabo está solto”. Presentemente conheci outra cultura que coloca o dia 11 de novembro de 2011 como o preceptor de uma energia que torna vulnerável a proteção celestial aos seres humanos e deixa que “os demônios se aproveitem para testar a resistência desses seres”.

Esses dois indicativos remetem ao filme “11-11-11” (EUA/Espanha, 2011) escrito e dirigido por Darren Lynn Bousman que se aproveita dos velhos mitos e conta a história de um escritor descrente, Joseph Cronet (Timotthy Gibbs) que perde a esposa e o único filho num incêndio em sua casa. Logo depois desse trauma ele segue de Nova York para Barcelona para assistir ao pai doente. Nessa cidade espanhola encontra o irmão mais novo, Samuel (Michael Landes), um clérigo com idéias confusas. Mesmo assim, o que se torna evidente no filme é a luta de Samuel para reativar a fé do irmão. O pai moribundo tenta avisar o filho descrente sobre um mistério que ronda a casa desde a morte da esposa e do outro filho. Joseph observa ao seu redor imagens assustadoras. Morre o patriarca e os fatos se precipitam para uma verdadeira batalha de assombrações, com o clérigo, a principio, transformado em vitima e, depois, revelado como um fanático que deseja fundar uma nova religião escrevendo um novo livro a ser inserido na Biblia.

O filme poderia ser interessante se o argumento explorasse um liame critico em que se destaca a proliferação de seitas no mundo moderno e a alienação advinda ou não de traumas emocionais. Ao invés disso, Darren Bouman prefere realçar os clichês de “filmes de terror”. Começa com os acordes musicais graves quando se dá uma tomada súbita. Não há clichê mais solicitado do que este dentro do gênero. Em seguida, o filme não estrutura convenientemente o papel de Samuel, sabendo-se apenas que ele nasceu quando sua mãe já tinha sido considerada infértil (depois do parto difícil do irmão mais velho). O autor quer levar à surpresa do final e a moda atual nos filmes “para assustar” é usar final macabro. Afasta-se do “happy end” quando os personagens centrais venciam os fantasmas fabricados quase sempre por Hollywood.

Um ponto que me pareceu interessante no filme foi a máscara do ator Timothy Gibbs. Ele chega a convencer na primeira hora da projeção, mostrando a imagem de um homem amargurado. Por certo, há um inicio promissor pela apresentação dessa figura, na primeira sequencia, centrada no drama vivido por ele após a tragédia que acomete sua família. A surpresa do espectador vem sequenciada com a clicheria que entorna a boa vontade em extrair melhores momentos do filme. Infelizmente isso não ocorre e o final é mesmo ridículo, com uma reviravolta sem embasamento, toques de mistério inesplicáveis e a desdita cada vez mais próxima da contagem do tempo. Dele e nosso.

“11/11/11” é uma produção que ambiciona o lucro fácil até pela estratégia de lançamento. A produtora escolheu a data/titulo para estrear o filme mundialmente. Quando muito colocou essa estréia um dia antes em alguns países. Claro que coube ao Brasil um punhado de cópias. Fosse um projeto mais responsável, um produto mais sério, talvez nem chegasse às nossas telas grandes, sendo diretamente jogado no mercado de DVD.

Será mais uma data a inscrever o cinema na era dos mitos sobre religião e crença.

TIO BOONMEE E OUTRAS VIDAS



Filmes da estatura de “Tio Boonmee que Pode Recordar Suas Vidas Passadas” (Lung Boonmee Raluek Chat, 2010) do tailandês Apichatpong Weetasethakul dificilmente chegam ao circuito comercial. Narrativa não concessiva, em que a argumentação e o desfecho não são conclusivos, deixa o/a espectador/a livre para diversas opiniões sobre o que vê. E, da mesma forma, pode ser amado e/ou rejeitado. Amado se for compreendido na sua extrema solicitação à natureza, explora uma trilha de ruídos de pássaros e o som do vento, as luzes aparentemente naturais, a floresta e as cavernas sendo convividas entre os animais e as pessoas, tudo, enfim, significando a unidade da vida física e imaterial do ser humano.

O fio condutor do enredo pode-se dizer que evidencia o cotidiano de um ex-combatente da guerra no Laos amargando ter “morto muitos comunistas”, se vê doente dos rins, num constante tratamento pela hemodiálise, e na expectativa de sua partida para um outro plano da existência. E justamente este plano, além da vida material, que é abordado com substância de uma cultura especifica, virtualmente quebrando os limites da existência terrena e das lendas ancestrais. Reunido com alguns parentes, certo dia, Boonmee vê chegar à mesa de jantar, sua esposa falecida há mais de dez anos e o filho que desaparecera há 9, surgindo como um símio de olhos vermelhos. Recebem estas figuras a cunhada de Boonmee e seu sobrinho, afinal quem cuida da sua enfermidade. Todos se admiram da juventude perene da Huay, a mulher que morrera há muitos anos e que aparece como se mantivesse a idade em que deixou o mundo dos vivos. Na conversa entre eles, ela descreve detalhes de seu sepultamento enquanto todos comentam sem espanto. E o jovem filho transformado em animal, expõe as origens de sua aparência quando por curiosidade capturou, em uma fotografia (ele era fotógrafo profissional), uma figura estranha a qual seguiu os passos e em contato com esse animal, veio a incorporar a estranha metamorfose. Todos conversam e só quem tem queixas é o próprio Boonmee, mesmo assim, construindo uma barraca na mata onde passa algumas horas com a cunhada e onde conta o seu passado.

As personagens decidem explorar uma caverna e é aí que o enfermo vai deixar seu corpo físico. Mas nada é “de graça”. Antes há a intervenção de uma lenda, como um sonho, onde uma princesa é despojada de seus bens e descobre o prazer sexual com uma figura mítica marinha. Na caverna, luzes e sombras atestam o mundo em que a lenda, a espiritualidade e a materialidade se mesclam em harmonia. Tudo o que se vê no filme é apresentado como muito natural, esvaziando a cisma de terror que uma abordagem desse feitio poderia causar em um tipo de cinema.

Formalmente é um projeto audacioso. A narrativa é constituída em sua maior parte de planos abertos e fixos. Só percebi um movimento (manual) de câmera e um plano próximo (não chega a ser um close). Há tomadas em que a câmera permanece no enquadramento enquanto os tipos focalizados saem de sua captação. Também não há travelling, não há efeito especial além de uma tomada inicial de Huay em que ela aparece só com a metade do corpo e depois se vai formando totalmente (ou quando simplesmente desaparece). Até a transformação do jovem em símio é suprimida, Nada que escandalize, que leve o folclore regional a um plano sensacionalista.

Creio que o público deve estranhar no filme sua opção pelo contemplativo, a demora das seqüências, a parcimônia dos cortes. É como um ritual tailandês. Impressionante e realmente novo em cinema exibido em gêneros ou formas.

O que dá substância ao filme é o tom comunicativo entre matéria e espírito traduzido na substância da natureza humana. Em certo momento, Tio Boonmee revela a existência integrada desses mundos, sem que isso leve a pensar numa dimensão religiosa, mas na complentação desses espaços vistos de forma unificada. Nesse aspecto, também, o/a espectador/a vai supor que o cineasta tailandês está tentando passar uma crença doutrinária sobre a concepção espírita, mas, na verdade, se trata de reverência à unicidade do ser humano como manifestação do modo de vida desse povo.

Excelente! Imperdível.

NOIR INGLÊS ENTRE AS NOVIDADES


O que é fime noir?

Raymond Borde e Etienne Chauteton apontaram, em Panorama du Film Americain (extraído e traduzido em Film Noir Reader, editado por Alain Silver e James Ursini), sete caracteristicas sobre esse cinema: “1) um crime; 2) a perspectiva dos criminosos, não da polícia; 3) uma visão invertida das tradicionais fontes de autoridade, tal como a corrupção policial; 4) alianças e lealdades instáveis; 5) a “femme fatale” (fêmea fatal): a mulher que causa a ruína e/ou morte de um bom homem; 6) violência bruta; 7) motivação e mudanças em complôs bizarros” (cf. http://www.scoretrack.net/filmnoir.html

Pois bem, ao assistir em DVD, “O Pior dos Pecados”(Brighton Rock/UK 2010) observei que o mesmo apresenta elementos do “film noir”, contando a ascensão de um marginal que se aventura a subir ao posto mais alto da máfia que divide comando em Londres. Ao assassinar um rival, ele sabe que uma jovem a quem a vitima estava seduzindo, inclusive deixando que se filmasse o idílio, é testemunha do crime e pode levá-lo à cadeia. Por isso, assedia a moça, conseguindo até mesmo que ela aceite um casamento que, na verdade, é usado como um meio de ludibriar a lei, pois a esposa não pode testemunhar em júri, os atos do marido. O caminho será matar a garota, fazendo-lhe um patético convite: os dois praticariam o suicídio uma vez que a série de crimes em que o personagem se envolve não pode mais ser ignorada.

Muito bem dirigido pelo estreante Rowan Joffe, filho do diretor Roland Joffe (“A Missão”, 1986), o filme conta com excelentes desempenhos de Sam Riley, Andrea Riseborough e da veterana e premiada Helen Mirren. Inédito nos cinemas locais tem roteiro baseado na obra de Graham Greene filmada por Roy Boulting em 1947 com o nome brasileiro de “O Rincão das Tormentas”.

Outro filme indicado e em cópia DVD é “Amargo Regresso”(Coming Home/EUA,1978), o sexto filme dirigido por Hal Ashby (1929-1988) diretor de filmes marcantes como “Muito Além do Jardim”(1979). Neste trabalho que deu a Jane Fonda e Jon Voight Oscar de melhor atriz e ator, o roteiro trata de mutilados na guerra do Vietnam. O romance entre a enfermeira (Fonda) e um paraplégico (Voight) comoveu os norte-americanos no período. Jane Fonda foi uma voz ativa contra esta campanha bélica que não freou os ideais dos vietcongs. Um bom filme, embora datado.

Já está circulando “Este Obscuro Objeto do Desejo”(Cet Obscur Objet Du Désir/França, 1977), o último filme de Luis Buñuel, o mestre espanhol de obras-primas como “O Anjo Exterminador” e “Bela da Tarde”, além de ter sido o pioneiro do surrealismo no cinema com “Um Chien Andalouz”. No roteiro, dele e de Jean Claude Carrière, um magnata francês (Fernando Rey) se apaixona por uma servente (Angela Molina e Carole Bouquet no mesmo papel) e faz de tudo para conseguir o amor da garota, assediando-a de todas as maneiras. Mas a jovem resiste e o galanteador vai às últimas conseqüências. O surrealismo está presente numa adaptação de um livro de Pierre Lou. Entre as muitas exentricidadas do cineasta está o fato de duas atrizes interpretarem o mesmo papel. Cada uma se apresenta em cada momento do humor da personagem. Mas é notado que uma delas explora sua sensualidade, enquanto a outra é mais tímida, uma é mais agressiva e a outra mais doce. E é curioso como o filme ganha atualidade no modo como aborda o terrorismo internacional. Que serve de fundo para demonstrar a luta interna que o sedutor vive para satisfazer suas ambições pessoais. Impecáveis os atores, com mérito maior a Fernando Rey.

Com tanto filme interessante esperando a vez de ser editado em DVD no Brasil algumas empresas perdem tempo lançando coisas como este “Gigantes em Fúria”(Sea Devils) de Raoul Walsh, uma das tentativas de Hollywood em mostrar Rock Hudson como um galante mocinho que namora (no caso com Yvone de Carlo) e briga de diversas maneiras. O filme marca a decadência do lendário Raoul Walsh cineasta de 139 títulos, além de ator na fase muda, responsável por clássicos autênticos como “Fúria Sanguinária”(White Heat) e “Herois Esquecidos(The Roaring Twenties).

DVDS MAIS LOCADOS (FOXVIDEO)

1. Carros 2

2. Cilada.Com

3. Kung Fu Panda 2

4. A Inquilina

5. Os Agentes do Destino

6. A Árvore da Vida

7. Transformers - O Lado Oculto da Lua

8. Os Pinguins do Papai

9. O Noivo da Minha Melhor Amiga

10. Incêndios


CASAMENTO DE VAMPIRO


Com cópias bastante para mil cinemas no território brasileiro estréia “Amanhecer Parte 1” é o novo exemplar da franquia “Crepúsculo”. A outra estréia é o premiado “Tio Boonmee que Pode Recordar Suas Vidas Passadas” filme tailandês. No Olimpia a partir de 3ª.Feira.

“A Saga Crepúsculo: Amanhecer-Parte 1”(The Twilight Saga:Breaking Down/EUA<2011) chega em sua primeira etapa, a imitar o que a indústria cinematográfica fez com o último livro da série Harry Potter. É o lançamento mais ambicioso (para os comerciantes do ramo) nesta temporada que se pode chamar de pré-natal (os filmes da quadra natalina devem seguir, embora abra espaço para “Missão Impossível 3” no dia 22 de dezembro).

Neste que deve ser o derradeiro episódio da historia do vampiro juvenil e sua amada mortal, os enamorados vão, finalmente, se casar e a jovem Bella (Kristen Stewart) engravidar. Nessas alturas, Edward (Robert Pattinson), transforma a sua amada em vampiro como ele, ou seja, imortal. Nasce uma menina, Renesmee, e há uma reação da casta de vampiros em torno da possibilidade da garotinha fazer ou não parte do grupo.

Os livros de Stephanie Meyer venderam o bastante para ela mudar de gênero e continuar vendendo bem nas livrarias internacionais. O problema é que a autora mexe não só com o mito dos vampiros como de lobisomens e outros da cultura anglo-saxã. É uma salada de fantasmagoria aliada a um romantismo tradicional. Contam que a escritora imaginou seus personagens como um deleite pessoal e foi sua irmã que a aconselhou a publicação. Hoje Meyer é das mais bem sucedidas escritoras norte-americanas. O público jovem, principalmente, foi cativado pela idéia sem se dar conta do simbolismo que sempre pautou o vampirismo como uma forma até mesmo poética do erótico (Roger Vadim viu isso no seu filme “...Et Mourir de Plaisir”- Rosas de Sangue/1960). Cópias dubladas e legendadas nos dois circuitos exibidores que atuam em Belém.

“Tio Boone Que Pode Recordar Suas Vidas Passadas” (Loong Boonmer realeuk chat/Tailandia,2010) ganhou a Palma de Ouro do Festival de Cannes do ano passado. É uma obra bem pessoal do diretor Apichatpong Weerasethakul. Em linguagem muito diversa do comum em filmes comerciais, conta a historia de um homem velho, doente dos rins, que se isola na floresta e passa a ver a esposa falecida e um filho que surge na forma de animal. Juntos, eles passam a divagar sobre segredos de uma caverna próxima.

O filme cativou a critica mais radical em Cannes. Um crítico qualificou-o como o exemplar mais característico do que se vê como “filme de arte”. Vai estar em cartaz no cine Olympia por uma semana, em película, provavelmente garantindo vaga entre os melhores do ano para alguns colegas da ACCPA.

“Terra de Ninguém” (Badlands/EUA,1973) é o primeiro longa-metragem de Terrence Malick, o diretor do hoje aclamado “A Árvore da Vida”. O roteiro (do diretor) reporta a trajetória de um criminoso que apavorou a região de Dakota nos anos 1950 (Martin Sheen). A ele se junta uma jovem enamorada, Holly( Sissy Spacek). O destino cruel dos personagens passa em uma linguagem objetiva que valoriza bastante a paisagem ambiente, uma característica do cineasta. Malick ganhou o prêmio do Festival de San Sebastian e o filme foi candidato ao Bafta(Oscar inglês). Exibição na Sessão Cult de amanhã do Cine Libero Luxardo (16 h), promovida pela ACCPA.

terça-feira, 15 de novembro de 2011

“O LIBERAL” E “PANORAMA”


Hoje “O Liberal” completa sessenta e cinco anos de presença histórica local. Como circularam em suas páginas as notícias de cinema nesse período? Quando este jornal completou cinqüenta anos, fiz uma pesquisa para avaliar esse aspecto. Lembro hoje o seu percurso entre a mídia da época e os assuntos publicados, extraindo alguns flashes dos dados.

Em um tempo em que a exibição cinematográfica já era uma constante nas programações sociais da elite paraense (considerando aqui, não só a classe social, mas a classe de letrados/as, que procurava notícias), deixando de ser registrada apenas nas páginas das revistas semanais como “A Semana”, por ex., tomando espaço na imprensa local, a criação de um jornal partidário, certamente não se interessaria pela veiculação desse tipo de informação. Mas não foi assim.

O jornal surgiu da necessidade de veicular o noticiário do PSD, partido criado naquele período (1946) por Moura Carvalho, Lameira Bittencourt, João Camargo, Dionísio Bentes de Carvalho liderados por Magalhães Barata, devido às dissidências entre os donos dos jornais existentes na época, pelas intrigas partidárias. “O Liberal” era vespertino, trazia, além das notícias palacianas cobrindo os feitos do governo, os artigos e charges que repassavam as quizílias com os contendores. Mas, como todo jornal, abrigava matérias pagas. E o primeiro enfoque sobre cinema coube aos anúncios das empresas exibidoras de filmes, que passaram a dispor de mais um espaço para publicar suas informações sobre os seus principais lançamentos.

Estes registros de divulgação se resumiam em apresentar o nome do filme, o local, o horário, a impropriedade e o preço do ingresso. A primeira inserção de anúncios do gênero coube à Empresa Cinematográfica Paraense Ltda (Olimpia, Iracema,Guarani,Popular, Iris, S.João) e utilizava duas colunas de texto na lateral esquerda da 3ª página, com o seguinte cabeçalho: “Aonde Iremos Hoje?”. Nesse tempo havia outra empresa exibidora na cidade: a Cardoso & Lopes (Moderno, Independência, Universal e Rex, depois, Vitória). Mas só a Cinematográfica Paraense anunciava em “O Liberal”.

O primeiro a fazer comentários de natureza critica foi o jornalista (já falecido) Alberto Queiroz. No final do ano de 1958 chegou a ser publicada uma lista de “melhores filmes do ano”: 1) “Depois do Vendaval”; 2) “Sublime Tentação”; 3) “Noites da Hungria”; 4) “Despedida de Solteiro”; 5) “Amante sob Medida”; 6) “As Férias do Sr. Hulot”; 7) “Se todos os Homens do Mundo...”; 8) “O Último Ato”; 9) “Rififi”; 10) “Águia Solitária”. Não houve registro das listas individuais, mas o tratamento no plural de uma referência leva a pensar em mais de um crítico na cidade.

No início de 1958, Pedro Veriano e Fernando Mendes assinavam a coluna “Liberal na 7ª Arte”, na segunda página do segundo caderno. Do “Liberal Tablóide” (anexo ao exemplar das segundas feiras), o cinema estava a cargo do Cine Clube Juventude (Guilherme Sicsú, Livaldo Carvalho e Habib Frahia e Pedro Rumiê) sem falar na continuidade da coluna “Cinema”, de Alberto Queiroz (1965). Depois surgiram comentários de filmes assinados por João de Jesus Paes Loureiro, Pedro Veriano e Ronaldo Barata. Em 1972, a regularidade da crítica se deu quando Rômulo Maiorana, desejou colocar em seu jornal um espaço permanente onde assuntos de arte em geral fossem abordados. Pediu mais informações sobre cinema, televisão, teatro, quadrinhos etc. Foi aí que chegou a minha vez, assinando a coluna que ele mesmo chamou de “Panorama”. Meu primeiro texto se intitulou “Aonde vão as crianças hoje?”, publicado em página inteira, no domingo, 12/11/1972. Nele eu me referia aos lugares públicos para a garotada. Preenchendo o espaço, havia as resenhas e fotos dos filmes lançados no período. Durante a semana (segunda a sábado), meu texto pegava oito colunas da página do segundo caderno. Aos poucos houve deslocamento destes assuntos para espaços e autorias específicas (Fernando Jares Martins, por ex., tratava de TV, Rosenildo Franco, de publicidade etc.). A coluna passou por inúmeros formatos, sempre no segundo caderno. As mexidas no desenho do jornal trouxeram deslocamentos, mas ultimamente ela se estabilizou.

A história da coluna de cinema, neste jornal, registra presenças convidadas que acabaram membros de uma associação do tipo de jornalismo: como Acyr Castro, que já fazia critica noutro órgão de imprensa, Mauricio Borba, José Augusto Affonso II (falecido), Raimundo Bezerra (falecido), Risoleta Miranda etc. Destaco, nessa origem da coluna, Edwaldo Martins, afinal o avalista da minha presença ao longo deste tempo junto a RM.

No dia 12, alcancei 39 anos nesta coluna e lembro-me da importante pesquisa que Loloca Maiorana ensejou sobre o assunto em 1996. Fica o registro carinhoso para ela e para o Didi, a quem dedico este texto.


segunda-feira, 14 de novembro de 2011

INÉDITOS NOS CINEMAS


Só em DVD circula “Corações Perdidos” (Welcome to Riley’s /EUA, 2010), o segundo filme para cinema comercial do diretor Jake Scott, filho do afamado Ridley e sobrinho de Tony Scott. Se o primeiro trabalho desse diretor, “Punkett e Mc Cleane” foi arrasado pela critica (desconheço o filme) este, tem uma intensidade importante. Dramatiza a situação de 3 tipos sofridos: um casal de meia idade e uma jovem prostituta. O roteiro, de Ken Hixon, focaliza um comerciante que viaja a negócios até New Orleans e encontra uma jovem stripper a quem passa a cuidar como se fosse sua filha. O tratamento procede: ele, casado há 30 anos, perdeu a única filha, de 15 anos, em um desastre de carro. Desde essa tragédia o relacionamento com a esposa é reticente, pois, embora não abandone o marido esta torna-se dependente de calmantes. Na viagem e pelo conhecimento da prostituta, o comerciante passa a morar na casa desta, procurando, por todos os meios, mudar o cenário em que vive a jovem. A esposa, na expectativa do retorno do marido vai a sua procura encontrando-o nesse ambiente, para ela duvidoso. Reluta, a principio, ao saber da condição da protegida, mas dá crédito ao marido dando apoio à jovem. Mesmo nessa aparente paz, as 3 personagens exibem seus problemas íntimos. E se o enredo comove, a estrutura apresentada não se resolve em fantasias otimistas. Esse melodrama explora frestas sentimentais que lhe dá um patamar de qualidade muito acima da média, especialmente pelo formato narrativo e o desempenho dos atores: James Gandolfini (conhecido pelo tipo incorporado na série premiada “The Sopranos”, na tv fechada), Melissa Leo (também “oscarizada”)e Kristen Stewart, esta última passando ao largo do tipo vivido como a namoradinha do vampiro da série “Crepusculo”.

Um belo filme a ser descoberto nas locadoras.

Outro inédito é “Trotsky”(Canadá, 2010), comédia escrita e dirigida por Jacob Tierney sobre um adolescente que se diz (até pelo nome de Leon) a reencarnação de Trotsky, o famoso revolucionário soviético. Com essa idéia fixa ele começa arranjando uma revolta dos funcionários da fabrica do pai. Na universidade, fomenta uma “revolução” pedindo um sindicato (ou representação) de alunos, a exemplo da dos professores.

Uma pena é que o humor chegue forçado na caricatura exposta pelo ator Jay Baruchel. Mesmo assim, o filme ganhou prêmios nos festivais de Tokyo, de Sofia e do Genie e Atlantic. A mim pareceu uma idéia desperdiçada.

Um filme produzido para a TV, “Fenômeno II” (Phenomeno II/EUA, 2003) foi outro achado da semana. Trata-se de uma “science-fiction” que repete a fórmula do jovem que se transforma em gênio de uma hora para outra por interferência de uma radiação vinda do espaço. As situações se acomodam no que o gênero já ofereceu e a única diferença é um final em aberto, não se sabendo se o governo norte-americano vai capturar o “gênio” que invadiu seus computadores e conhece as senhas oficiais. Quem dirige é Ken Olin, ator e diretor de muitos episódios de TV, inclusive do recente “Brothers and Sisters”. O protagonismo principal é de Christopher Shyer, por sinal, com bom desempenho.

Outro inédito em Belém, de carreira no pódio do Oscar, é a produção que representou o Canadá na categoria de filme estrangeiro este ano: ”Incêndios” (Incendies, Canadá/França, 2010, 130 min.). Trata de um casal de gêmeos que recebe a incumbência do notário, após a morte da mãe, Nawal Marwan (Lubna Azabal), de levar duas cartas a seus destinatários: o pai que eles não conheceram e a um irmão mais velho que também nunca viram. O endereço é numa região do Oriente Médio e a narrativa mescla as odisséias da filha e da mãe em dois tempos. Envolve o drama da intolerância religiosa, do preconceito e do sexismo onde a procura aos destinatários se dá com vistas à descoberta da origem familiar. Excelente narrativa que nos deixa na obrigação de gravar o nome do diretor - Denis Villeneuve (de “Redemoinho”, sendo este o seu quarto filme longa metragem).

DVDS MAIS LOCADOS (FOXVIDEO)

1. Os Agentes do Destino

2. Cilada.Com

3. Os Pinguins do Papai

4. Transformers - O Lado Oculto da Lua

5. Kung Fu Panda 2

6. A Inquilina

7. Hanna

8. O Noivo da Minha Melhor Amiga

9. Corações Perdidos

10. Incêndios.

VIAGEM FAMILIAR


“Uma Longa Viagem”(Brasil/2011) é especialmente uma longa conversa da diretora Lucia Murat com o seu irmão Heitor, lembrando as cartas que ele escreveu para ela quando no asilo transcontinental, levado a isso pela família que pretendeu livrá-lo da prisão como os irmãos, todos envolvidos na resistência contra o governo militar instalado no Brasil em 1964.

Heitor está não só envelhecido, a julgar pela retrospectiva que usa no seu papel o ator Caio Blat, como apresentando efeitos colaterais de seus anos de uso de drogas. Mesmo assim, conserva o bom humor. E faz contraponto com o tempo e o espaço que viveu. Do irmão Miguel, a quem o filme é dedicado, pouco se diz, ficando rápidas informações no correr da leitura das cartas e depoimento de Heitor.

O filme é primeiramente sincero. Poucos cineastas conseguiram jogar na tela suas vidas, seus problemas, seus momentos íntimos. Lucia que já havia feito um documentário contundente sobre os “anos de chumbo” com “Que Bom Te Ver Viva”(1989) e, no mesmo tema, Quase Dois Irmãos (2004), que lhe valeu o Prémio de Melhor Filme Ibero-Americano no Festival de Mar del Plata, regressa ao período de sua prisão, desta vez dando espaço à família, evidenciando o modo como os seus irmãos, especialmente eles, sentiram a repressão às idéias, ou, como diz uma vez Heitor, “á liberdade (....) que é o maior dos bens”. Os Murat tinham posses, podiam pagar advogados, e isso livrou Lucia de um confinamento mais demorado. Mas, ao que parece, Miguel teve outra trajetória, formando-se em medicina e se tornando pesquisador da Escola Nacional de Saúde Pública da Fiocruz (faleceu em 2009). Heitor fugiu do Brasil. Mas a fuga foi aparentemente física. Entregue ao uso do haxixe, especialmente quando esteve na India e se envolveu com os costumes da região, foi um espectador distante, sabendo do que estava acontecendo em sua pátria pelas noticias que chegavam aos países por onde passava e pelo correio. Tinha compulsão por escrever cartas à irmã. O filme é isso: as cartas.

Os recursos usados pela diretora para dar ao seu trabalho o feitio de um longa-metragem são muito criativos, driblando os recursos limitados de produção. Ela usa, por exemplo, “back projection”, ou seja, projeção de cenários (no sentido teatral) ao fundo de planos em que uma pessoa está presente (especialmente Heitor). Assim é que se vêem imagens de diversos países, seja em campo aberto seja em ruas movimentadas. O personagem fala e surge, ou nitidamente sobre as cenas projetadas no fundo, ou em silhueta como se um filme estivesse sendo projetado e uma pessoa se levantasse da poltrona sobre o foco do projetor e a sua sombra ganhasse a tela. Este recurso dilui o que poderia ser um desfile monótono de falas ou de leitura.

Premiado em Paulínia e Gramado, o novo documentário de Lucia Murat transmite a emoção que ela desejou que se registrasse de um drama particular. E por ser isso, um drama particular, não quer dizer que seja um “álbum de família” ou um assunto pertinente às pessoas envolvidas (ou gravadas). A mim pareceu um registro amplo e bem feito de um fato global, um quadro histórico que a autora está registrando em seu cinema. Trata-se de mostrar em imagens as marcas de quem viveu e sobreviveu num tempo que deixou sequelas físicas no corpo das pessoas, mas não destruiu nem as idéias nem o afeto que unia aquela família, em especial, os três irmãos.

O filme foi projetado no segundo dia da Mostra Amazônia Doc 3 de forma digital. Um processo prático que poderia ficar no velho Olympia como um presente necessário ao seu aniversário recordista (100 anos). Quem não assitiu ao filme de Lucia Murat vai ter que esperar o DVD.

O PREÇO DO AMANHÃ


Os franceses costumam dizer “le temp est d’argent”(o tempo é dinheiro). No filme “O Preço do Amanhã”(In Time/EUA,2011) o roteirista-diretor Andrew Niccol – de “O Senhor das Armas” (2005), “Simone” (2002), “Gattaca” (1997) e autor do argumento e roteiro de “O Show de Truman”(1998) – mostra uma sociedade no futuro em que a moeda é substituída por frações de tempo. Quem pode, compra até mais de um século. Os pobres se contentam com dias ou horas que adquirem como salário ou simplesmente mendigam. Nesse quadro coloca-se uma trama de Romeu e Julieta ou de muitos contos dos Grimm ou Perrault: Will Salas (Justin Timberlake) perde a mãe por falta de tempo comprado, mas ganha de um milionário que se desgosta de viver a imortalidade (mais de 100 anos) uma considerável soma de anos. Ele se apaixona por Sylvia Weis (Amanda Seyfried), filha do riquíssimo Raymond Leon (Cillian Murphy). Seqüestrando-a ele vê uma forma de chegar ao cofre paterno e com o tempo guardado distribuir essa fortuna aos que precisam viver mais. Uma atitude de Robin Hood que para dar certo precisa de uma agilidade física digna dos melhores “thriller” de Hollywood.

A idéia de Niccol não explica como começou esta distribuição de renda-tempo. Qual seria a matéria de troca que enriqueceu alguns e deixou tantos na miséria ? Comenta-se no filme sobre um controle populacional com a morte de quem “não merece tempo para viver”. Essa qualidade de jogar metáfora em plano real é não só excêntrica como denunciadora de forma mais veemente sobre uma proposta socialista a derrubar cânones do sistema capitalista. Um processo bem comum no cinema americano que está sempre em guarida nas platéias (até porque a massa que paga cinema não é rica).

Com narrativa dinâmica, muitas vezes esvaziando o potencial do argumento para melhor vender o produto (sistema que enfraqueceu filmes primitivamente densos como “A Origem”), “O Preço do Amanhã” é muito divertido, desses filmes que se vê sem piscar embora se peça algumas explicações do enredo.

Imagino o que uma historia dessas renderia nas mãos de cineastas-autores, desses que surgem em festivais e não se preocupam com o que a sua idéia possa faturar nos cinemas e TV. Certamente daria o bastante para “fundir cabeças” e levantar palmas. Por outro lado, é uma característica do cineasta trabalhar com enredos originais como fazem bons autores de ficção-cientifica, a exemplo de Richard Matheson ou Ray Bradbury. No seu “Gattaca” ele demonstrou um modo de formar uma sociedade “purificada” pela escolha dos genes, deixando-se formar fetos sem nenhum defeito físico (uma idéia que andou sendo pesquisada pelos cientistas contratados pelos nazistas). Em “O Show de Truman” criticou os programas de TV da espécie dos “Big Brothers” & adjacentes idealizando um tipo a ser educado num mundo fictício, moldado nos estúdios. E em “Simone” concebeu uma “estrela” de cinema produzida digitalmente por um cineasta amargurado com incompreensões da indústria. Sempre uma idéia instigante à maneira de poucos de outros colegas (como Charlie Kaufmann e Spize Jonze de “Quero ser John Malkovich”,1999, e “Brilho Eterno de Uma Mente sem Lembranças”, 2004). Só por isso já vale assistir a essa cobiça temporária.

Aos que têm ao menos uma pequena iniciação aos estudos sobre a análise da economia política marxiana, o filme está equivalente ao que as teorias demonstram em torno dos processos de formação da moeda de troca, da criação da mais-valia pela exploração da mão de obra, a circulação, troca e distribuição do produto em que o D1 e o D2 se inscrevem como os planos evidentes de um sistema extremamente desumano de captação do capital.

Sem dúvida, cada detalhe da formação da riqueza e concentração do capital está definido pelo produto tempo que é a moeda de troca originária. Assim, a “morte” e a “não-morte” regulam a situação das classes sociais que se formam, definindo o espaço social de cada um e os “fiscalizadores” de uma classe explorada para sugar-lhes o maior bem que é a vida. A mercadoria/produto serve também à formação dos marginais que acorrem para criar políticas de extração fraudulenta quando dela se apoderam. Poder, riqueza, usura, exploração são os tópicos centrais das idéias que Niccol desdobrou em mais um filme que espera contestar o sistema de exploração humana. Vale a pena confirmar.

PANDEMIA











O roteirista dos filmes “A Identidade Bourne”(EUA, 2001) e “O Desinformante”(EUA, 2009) volta a tratar de brechas na segurança de governos do chamado Primeiro Mundo com este novo exemplar “Contágio”(Contagion/EUA/2011) ora em cartaz nacional.

O tema é a chamada pandemia, ou seja, a epidemia de uma doença que por sua amplitude leva ao pânico em grande escala mundial. No caso, trata-se de um vírus constatado a partir de uma vitima norte-americana vinda de uma viagem a Hong Kong. A sua morte seguida de pessoas que de alguma forma tiveram contacto com ela ou em lugares por onde ela passou gera uma investigação internacional que evidencia a circulação de um novo tipo de micro-organismo. O problema é a alta letalidade e a rápida propagação. Para se produzir uma vacina (anticorpos contra o agente infectante) é preciso tempo e a insistência para que seja desencadeada a luta antinfecciosa antes de o vírus sofrer mutação capaz de alterar qualquer tipo de combate à sua ação.

O filme dirigido por Steven Soderbergh (“Sexo, Mentiras e Videotape”1989; “Che”, 2008) capta o tema básico e evoluiu para a denúncia a vários sistemas correlatos. A iniciar com o indicativo da fraude, a partir do interesse de um jornalista responsável por um blog de altissima penetração social, que procura propagar a idéia de que uma determina droga é eficaz no tratamento da virose em foco (e, na verdade, se trata de um placebo). Depois, entra em cena a cupidez da indústria farmacêutica, demonstrada não só na possibilidade de industrialização das drogas nem sempre eficazes como ainda de propagar falsas informações que lhe venham trazer benefícios. Com isso chega às imagens da revolta popular, começando com as enormes filas que se fazem nos centros de saúde e os desvios das primeiras conquistas terapêuticas a “personas gratas” do governo e da indústria específica.

Pode-se dizer que “Contágio” é um “desaster movie”com base real. Bem mais acessível à realidade moderna do que alguns títulos que se apegam às guerras nucleares e/ou invasões de seres de outros planetas. Também é um exemplo raro de retratar pânico de multidões longe de desastres naturais e/ ou incêndios como se viu em “Inferno na Torre”(1974).

Uma assertiva elementar é a de que todo mundo está sujeito às epidemias produzidas por micróbios desconhecidos. E a medicina, muitas vezes, fica um passo atrás desses males que surgem sem que se saiba a origem. No filme há dois exemplos de combate ao mal que entram no esquema de“thriller”: quando uma das médicas pesquisadores e agente de uma oorganização mundial de saúde é seqüestrada e os seus algozes pedem como resgate um lote de medicamentos tidos como eficazes contra o vírus e ela descobre, no meio das negociações, que os negociadores usam drogas inócuas. Sua reação é a de quem conhece as políticas de deu país.

Outro detalhe é o de uma jovem laboratorista que injeta em seu próprio corpo uma colônia de vírus que acha o bastante para derrotar o causador das mortes súbitas. São demonstrações de heroísmo (a jovem do primeiro exemplo corre para avisar seus seqüestradores quando sabe que o remédio ofertado não é o pretendido) que edificam heroínas da história. E não se diga que não há outros heróis: o personagem de Matt Dammon, que se sabe imune ao novo vírus, trabalha incessantemente para salvar pessoas (a começar com sua filha). No caso dele há também um fato que o enredo explora para fugir de um simples documento médico: a esposa, justamente a primeira a morrer da doença, teria adquirido o mal em um relacionamento com um velho namorado.

Com um ritmo ágil Soderbergh deixa um bom programa para o público adulto. Mas o filme tem levado a inquirições de espectadores que se sentem lesados por não terem certas respostas que gostariam de ter, ou seja, aspectos que o filme deixa de lado considerando que as informações expostas são suficientes para avaliar as denúncias apontadas. Na verdade, percebi nessas lacunas, as frações informativas necessárias para que o público ofereça suas próprias conclusões.

domingo, 13 de novembro de 2011

PROGRAMAÇÃO ESPECIAL AMAZÔNIA DOC 03















A programação abaixo, com filmes (longa e curtas) selecionados da recente Mostra Amazônia DOC 3, estará em exibição:

LOCAL: CINE OLYMPIA
HORÁRIO : 18:30.
ENTRADA FRANCA
INADEQUADO PARA MENORES DE 12 ANOS

Sábado

12/11/2011


AVE MARIA OU MÃE DO SERTANEJO ( CAMILO CAVALCANTE/CURTA/DOC/15’)

ACACIO (MARILIA ROCHA/ LONGA/DOC/85’)

Domingo

13/11/2011

DA JANELA DO MEU QUARTO ( CAO GUIMARAES /CURTA/DOC /05’)

A FALTA QUE ME FAZ(MARILIA ROCHA/ LONGA/DOC/85’/35mm)

terça-feira

15/11/2011

7 VOLTAS (ROGÉRIO NUNES / CURTA/DOC/ 20’ )

TROPICO DA SAUDADE - / LONGA /DOC / 72’)

quarta-feira

16/11/2011

CINE CAMELÔ (CLARISSA KNOLL / CURTA/ DOC / 15 )

LEITE E FERRO(CLAUDIA PRISCILA / LONGA/DOC/72’)

quinta-feira

17/11/2011

SUCUMBIÓS ( ARTURO HORTAS / CURTA/DOC / 30) (MELHOR CURTA DOC JÚRI OFICIAL)

TERRA DA LUA PARTIDA (MARCOS NEGRÃO / LONGA/DOC/52’) (MELHOR LONGA ELEITO PELO PÚBLICO E CRÍTICOS DA ACCPA)

sexta-feira

18/11/2011

SUCUMBIÓS ( ARTURO HORTAS / CURTA/DOC / 30

TERRA DA LUA PARTIDA (MARCOS NEGRÃO / LONGA/DOC/52’)

sábado

19/11/2011

MATINTA ( FERNADO SEGTOWICK / CURTA / FIC / 20) (MELHOR CURTA FICÇÃO PELO JÚRI OFICIAL, POPULAR E CRÍTICOS DA ACCPA)

TERRA DA LUA PARTIDA (MARCOS NEGRÃO / LONGA/DOC/52’)

Domingo

20/11/2011

MATINTA ( FERNADO SEGTOWICK / CURTA / FIC / 20 )

TERRA DA LUA PARTIDA (MARCOS NEGRÃO / LONGA/DOC/52’)

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

O AMIGO ANIMAL


“Winter, O Golfinho”(Dolphin Tale/EUA,2011) pertence ao grupo de filmes que abordam a amizade do ser humano por um animal. É um tema antigo, quase da idade do próprio cinema (há exemplares na fase muda). Um dos mais notáveis produtos do gênero foi uma série protagonizada pela cadela “Lassie”, onde estreava a então menina Elizabeth Taylor.

Nesta produção atual dirigida por Charles Martin Smith de um roteiro de Karen Janszen e Naom Dromi, o enfoque é um golfinho mutilado por um objeto de pesca, encontrado numa praia, e o afeto que a ele passa a dedicar o menino Sawyer Nelson (Nathan Gamble, de “Marley e Eu” e “O Buraco”). O animal está sem cauda e isto impede que sobreviva no seu “habitat”. O problema é que ele recusa todos os tipos de prótese que lhe colocam. Por seu turno, o menino, que traz consigo um drama de ausência familiar (o pai abandonou a mãe), se insere no grande aquário onde está o golfinho, que ele chama de Winter, graças a uma menina, filha de um dos atendentes aos peixes ali colocados. E o tio do garoto vai para a guerra, volta mutilado, e a recuperação de Winter se faz em paralelo com a dele.

Como muitos melodramas do tipo, o novo filme tem ponto positivo na interpretação de Nathan Gamble. Os demais do elenco se comportam como manda um roteiro previsível. Interessante é observar que o golfinho focalizado chama-se mesmo Winter e é realmente vitima de corte em sua cauda. Ele é uma das atrações do Clear Water Marine Hospital. Nesse local em que se procura reabilitar animais machucados, Swayer será uma peça importante ganhando a confiança do amigo aquático. E sabe-se que esse tipo de animal marinho é dos mais inteligentes que existem.

Na qualidade de filme essencialmente comercial “Winter, O Golfinho” cumpre a sua incumbência de sensibilizar um público alvo. Especialmente crianças. É um dos programas que a indústria cinematográfica está lançando para a platéia que paga ingresso e vai ao cinema com acompanhante. O que de melhor se pode dizer é que é um exemplar sem violência (exceto o tipo de pesca que mutilou o personagem da história). Já é alguma coisa. Melhor no gênero é, sem dúvida alguma, “Loup, Uma Amizade Para Sempre”(Loup/França,2009) , anunciado num circuito local. Ali é o documentarista Nicola Vanier quem aborda a estranha amizade de um pastor de renas, no extremo norte do planeta, por filhotes de lobo. Ele fica pressionado pelo carinho que devota e é correspondido pelos animais, considerados como os predadores naturais daqueles que recebe a incumbência de proteger. Entre essas paixões, o jovem reluta em aceitar as leis naturais embora a história seja pródiga em se acomodar às leis da natureza com os sentimentos humanos.

Gostar de animais é uma demonstração da capacidade do ser humano em reconhecer o seu potencial afetivo. Atrizes famosas no passado como Brigitte Bardot e Doris Day hoje dedicam seu tempo aos bichos que ajudam a criar (e a proteger quando não estão a seu alcance). “Winter” e “Loup” mostram novos personagens na fauna sentimental.

Ao avaliar um gênero de filme que alcança crianças com esse tom de envolvimento afetivo aos seres animais, dentro de uma narrativa que para muitos nem merecia ser chamada de cinema, pergunto: como é possivel não encarar com boa vontade essa lógica de divertimento usando a tecnologia da imagem que ao invés de criar tensão no público-mirim desenvolve sentimentos humanos?

Os que querem “encrencar” porque se deve apenas tratar de construção estética e não de envolvimentos emocionais opinando sobre os filmes, supondo vazias as minhas palavras que nada têm a ver com o que é cinema e o que é esperado de uma pessoa que escreve sobre filmes é outra coisa, repito o que disse certa vez Leonardo da Vinci: “Todo o nosso conhecimento se inicia com sentimentos”.