“Winter, O Golfinho”(Dolphin Tale/EUA,2011) pertence ao grupo de filmes que abordam a amizade do ser humano por um animal. É um tema antigo, quase da idade do próprio cinema (há exemplares na fase muda). Um dos mais notáveis produtos do gênero foi uma série protagonizada pela cadela “Lassie”, onde estreava a então menina Elizabeth Taylor.
Nesta produção atual dirigida por Charles Martin Smith de um roteiro de Karen Janszen e Naom Dromi, o enfoque é um golfinho mutilado por um objeto de pesca, encontrado numa praia, e o afeto que a ele passa a dedicar o menino Sawyer Nelson (Nathan Gamble, de “Marley e Eu” e “O Buraco”). O animal está sem cauda e isto impede que sobreviva no seu “habitat”. O problema é que ele recusa todos os tipos de prótese que lhe colocam. Por seu turno, o menino, que traz consigo um drama de ausência familiar (o pai abandonou a mãe), se insere no grande aquário onde está o golfinho, que ele chama de Winter, graças a uma menina, filha de um dos atendentes aos peixes ali colocados. E o tio do garoto vai para a guerra, volta mutilado, e a recuperação de Winter se faz em paralelo com a dele.
Como muitos melodramas do tipo, o novo filme tem ponto positivo na interpretação de Nathan Gamble. Os demais do elenco se comportam como manda um roteiro previsível. Interessante é observar que o golfinho focalizado chama-se mesmo Winter e é realmente vitima de corte em sua cauda. Ele é uma das atrações do Clear Water Marine Hospital. Nesse local em que se procura reabilitar animais machucados, Swayer será uma peça importante ganhando a confiança do amigo aquático. E sabe-se que esse tipo de animal marinho é dos mais inteligentes que existem.
Na qualidade de filme essencialmente comercial “Winter, O Golfinho” cumpre a sua incumbência de sensibilizar um público alvo. Especialmente crianças. É um dos programas que a indústria cinematográfica está lançando para a platéia que paga ingresso e vai ao cinema com acompanhante. O que de melhor se pode dizer é que é um exemplar sem violência (exceto o tipo de pesca que mutilou o personagem da história). Já é alguma coisa. Melhor no gênero é, sem dúvida alguma, “Loup, Uma Amizade Para Sempre”(Loup/França,2009) , anunciado num circuito local. Ali é o documentarista Nicola Vanier quem aborda a estranha amizade de um pastor de renas, no extremo norte do planeta, por filhotes de lobo. Ele fica pressionado pelo carinho que devota e é correspondido pelos animais, considerados como os predadores naturais daqueles que recebe a incumbência de proteger. Entre essas paixões, o jovem reluta em aceitar as leis naturais embora a história seja pródiga em se acomodar às leis da natureza com os sentimentos humanos.
Gostar de animais é uma demonstração da capacidade do ser humano em reconhecer o seu potencial afetivo. Atrizes famosas no passado como Brigitte Bardot e Doris Day hoje dedicam seu tempo aos bichos que ajudam a criar (e a proteger quando não estão a seu alcance). “Winter” e “Loup” mostram novos personagens na fauna sentimental.
Ao avaliar um gênero de filme que alcança crianças com esse tom de envolvimento afetivo aos seres animais, dentro de uma narrativa que para muitos nem merecia ser chamada de cinema, pergunto: como é possivel não encarar com boa vontade essa lógica de divertimento usando a tecnologia da imagem que ao invés de criar tensão no público-mirim desenvolve sentimentos humanos?
Os que querem “encrencar” porque se deve apenas tratar de construção estética e não de envolvimentos emocionais opinando sobre os filmes, supondo vazias as minhas palavras que nada têm a ver com o que é cinema e o que é esperado de uma pessoa que escreve sobre filmes é outra coisa, repito o que disse certa vez Leonardo da Vinci: “Todo o nosso conhecimento se inicia com sentimentos”.
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