quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

VOVÔ SEM VERGONHA


Avô e neto numa das "pegadinhas" do filme 

Pegadinhas dispostas a fazer rir quem as vê não é novidade. Em 1948, Allen Funt (1914-1999) produtor de rádio e tevê, criou um programa de rádio intitulado "Candid Microphone” (depois, Candid Camera, para a tevê) de onde solicitava aos ouvintes que posassem para a então curiosidade técnica chamada televisão.
Na virada do milênio, o grupo Jackass saiu da MTV, onde foi criado, para o cinema. O seu “comandante”, Johnny Knowville, é quem representa a figura principal do filme ora em cartaz nacional: “Jackass apresenta Vovô sem Vergonha”(Jackass Presents: Bad Grandpapa, EUA, 2013). O motivo que elevou o filme além da média do grupo, ganhando primeiro lugar nas bilheterias norte-americanas em sua semana de estreia e hoje figurante entre as “10 mais”, é que em meio às “pegadinhas” conta uma história de cunho sentimental. Basicamente é a jornada de um senhor de 80 anos (Knowville) que leva o neto de 8 ao encontro do pai, uma vez que a mãe (a filha dele) está presa como traficante de drogas, enquanto a avó acaba de falecer. A viagem de Nebraska a North Caroline é feita no carro do “velho” (uma maquilagem perfeita no ator de 42 anos) e ao longo do percurso, a dupla, ou seja, o avô e o neto se dão ao direito de iludir os passantes.
O filme é dirigido por Jeff Tremaine, membro do grupo e responsável pelos primeiros filmes dos Jackass. No roteiro está Spike Jonze, o criativo diretor-roteirista de “Quero ser John Malkovich” (1999) e “Adaptação”(2002).
Muitas situações provocadas pelo “vovô” e “netinho” são, realmente, hilárias e, por vezes, dramáticas. Uma delas: quando o ancião invade uma festa de casamento e derruba um monte de taças que estavam artisticamente colocadas ao lado de um bolo de casamento no momento da ceromônia. Há situações que possibilitam pensar em gerar reações violentas como o episódio em que o avô joga o carro em cima de um gigantesco pinguim que marcava a entrada de um estacionamento (e o dono quer logo que seja consertado o objeto).
Em algumas sequencias o apelo ao chamado humor mórbido é colocado, mas não é original (há recorrência divertida em outros filmes). A exemplo, o transporte do cadáver da esposa do avô, que segue na mala do carro em que viajam os dois personagens principais. O objetivo é jogar o corpo num rio que lhes pareça menos fácil de render explicações a quem passe por perto e, segundo o idoso, um último pedido da morta. Essa sequencia fecha com um arremate do gênero: avô e neto vão pescar no local onde está boiando a avó morta... ( é uma cena posada, sem dúvida).
Jonze certamente influenciou no muito de surreal que se apresenta durante a narrativa. Há um apelo ao bizarro quando, por exemplo, o idoso prende o pênis numa porta e pede às pessoas que passam que o ajudem a tirar o órgão. “- Dê-me uma mãozinha” diz ele. E circulando ao redor veem-se os “machões” passarem ao largo sem exibir sorrisos.
Jackson Nicoll que protagoniza o garoto Billy já tem 9 filmes no currículo tendo começado com “O Vencedor”, em 2010.
Todas as ocorrências construidas nas pegadinhas são dadas a conhecer àqueles que “cairam” nas situações irreverentes, somente no final do filme, quando a equipe de técnicos abre o jogo, ou seja, mostra às pessoas que haviam participado dos episódios que os incidentes e até os acidentes eram “coisa de cinema”. Nota-se que algumas pessoas se intimidaram com a revelação por terem contribuido em cenas disparatadas e absurdas. Uma sequencia que não levou à desconstrução, pela equipe, foi a da parte final, quando o neto se traveste de menina para participar de um concurso que mede o desempenho de garotas (beleza, fantasia, postura, dança). Esse episódio tem muito a ver com aquele final do filme “Pequena Miss Shunshine” (2006). A última cena mostra os rostos enraivecidos das mães de família.

Se a irreverência é um dos objetivos do filme este foi alcançado. O riso predominou na platéia durante toda a exibição e a criançada que estava com os pais se divertiu muito. Um fecho interessante foi a referência á amizade criada entre duas pessoas de uma mesma família que ainda não se conhecia. Mostra que o afeto não é imposto, mas um sentimento construido. 

terça-feira, 3 de dezembro de 2013

JASMINE E AS MULHERES DE ALLEN



Cate Blanchett e Sally Hawkins : mulheres dos filmes de Woody Allen.


Desde “Interiores” (Interiors, 1978) Woody Allen tem realizado filmes que focalizam a mulher. E sem contracenar com elas. Admirador de Ingmar Bergman (e de Federico Fellini) Allen viu neste seu trabalho em que focaliza 3 irmãs na expectativa do divorcio dos pais, um mosaico e que as pessoas que aparecem quase não sorriem. E todas pertencem à classe social abastada. Uma das obras mais depressivas dele. O escritor-diretor certamente inspirou-se em dramas bergmanianos como “Gritos e Sussurros” lançado meses antes. A experiência pode não ter sido um êxito de público, mas recebeu 10 prêmios internacionais e foi candidata a 5 Oscar. Viriam a seguir a Cecilia de “A Rosa Púrpura do Cairo” (The Purple Rose of Cairo, 1985) interpretada pela então esposa de Allen: Mia Farrow (e a crítica de Allen à indústria cultural). Esta é a única do grupo de mulheres retradas pelo autor que consegue encontrar momentos felizes. E no cinema, seja através de um ator de filme que sai da tela para vagar com ela pela cidade, seja pela sorte de sempre ter um filme para que vá ver e amar.
Outras personagens femininas do cineasta não têm a mesma chance de Cecilia, seja Lane (Mia Farrow) ou Stephania (Diane West) de “Setembro” (September, 1987), seja a escritora Marion (Gena Rawlands) ou Hope (outra vez Mia Farrow) de “A Outra” (The Other, 1988) ou, ainda, as personagens de “Igual a Tudo na Vida” (Anything Else, 2003) ou a Melinda (Radha Mitchell) de “Melinda, Melinda”(2004). Do grupo salva-se até por representar um papel secundário, a Nola Rice (Scarlet Johansson) de “Ponto Final” (Match Point, 2005), o melhor de Allen no gênero, até chegar a este “Blue Jasmine”(2013) ora em cartaz por aqui.
Claro que nos filmes em que ele esteve presente, como “Crimes e Pecados”(Crimes and misdemeanors, 1989) personagens femininas surgiram em plano de sofrimento (no caso, Angelica Huston assassinada pelo amante vivido por Martin Landau). Não se pode esquecer que em Meia Noite em Paris (2011) e Vicky Cristina Barcelona (2008) há crises na vida de suas personagens também. Mas a volta a um tipo como Jasmine ganha um novo formato, pois, não me pareceu “bergmaniano”. Ao contrário das irmãs que assistiam a agonia de uma delas em “Gritos e Sussurros”, ou a enfermeira que assume a identidade da sua paciente (“Persona”) aqui é uma personagem cujo drama emerge da condição social. No argumento, Allen volta à Nova York depois de uma estada europeia bem sucedida (“Meia Noite em Paris” e “Para Roma Com Amor”). E Jasmine, ou Jennifer, é uma socialite novaiorquina, que no começo do filme já perdeu o “status”, voando para São Francisco onde encontará a irmã que sempre foi pobre e por isso, esquecida. A perda foi proporcionada pela própria Jasmine, ao denunciar a corrupção do marido quando sabe que a traição dele (que ela já devia desconfiar) está em domínio público (e não fica bem manter a posição de mulher traída. Mas as fimbrias do filme deixam muito mais significados de que não é somente por esse fator, mas pelo amor que sente por ele, difícil de creditar-lhe, diga-se).
Em “Blue Jasmine” a base dramática é social que se transforma em drama psicológico. Entre morar no Brookyn ou enfrentar o kitsch da casa da irmã noutra cidade, a última opção parece melhor (até porque não a conhecem em San Francisco). Mas é difícil a ex-milionária se adaptar ao modo de vida do que seria, no máximo, um regresso ao que viveu com os pais (que se separaram). E acima de tudo, àquela altura, impossivel despojar-se da cultura da riqueza vivida por muito tempo, modos de vida internalizados que explodem a cada situação apresentada pela irmã e/ ou por um dos acompanhantes. E o filme vai confrontando as duas irmas (Sally Hawkins é a irmã Ginger e Cate Balchette a principal figura – ou a que dá título ao filme) e não mostra caminhos de redenção ou mudança que as façam sorrir. Pode-se dizer que a síntese é um close de Cate chorando. Ou falando sozinha, num banco de praça de onde os que estão ao seu redor se afastam. Além de Bergman, um Allen jogando fora a bola da sorte que seu personagm buscou em “Match Point”.

quinta-feira, 28 de novembro de 2013

BLUE JASMINE




 Cate Blanchett em desempenho magistral. Sally Hawkins segue o ritmo excelente das atuações .

Jennifer teve o nome mudado por sua mãe adotiva para Jasmine (Cate Blanchet) porque esta achava mais condizente com o tipo físico da filha, na versão desta (e confirmação da irmã), com vistas a ostentar uma outra condição social. Pretendente ao casamento com o milionário Hal (Alec Baldwin) abandona o curso de antropologia que estava para completar e divide o tempo entre promoções sociais e o deleite em suas propriedades onde o tom elegante e clássico define o tipo de classe social dos moradores de uma parte de Manhattan. Quando esta figura grã-burguesa não tem como continuar imaginando que desconhece as traições do marido, ela que convive com a corrupção alimentada por ele em seus negócios vê-se de uma hora para outra perdida pelas contingências que o levam à prisão e o confisco dos bens do casal. Como último recurso só tem um caminho: solicitar hospedagem à irmã Ginger (Sally Hawkins) que mora modestamente em S. Francisco, separada do marido e com dois filhos para criar.
Este é o enredo, em síntese, de “Blue Jasmine” (EUA, 2013) o novo filme que Woody Allen escreveu e dirigiu sem atuar. E demonstra o quanto o veterano realizador mantém a criatividade e o apuro estético além do desempenho na direção (Allen fará 78 anos no próximo dia 1° de dezembro e já está na fase de pós-produção de seu 49° filme,”Magic in the Moonlight”). A narrativa começa com a viagem de Jasmine de Nova York para São Francisco, para a casa da irmã. Um plano de avião que denuncia miniatura passa para um close da principal personagem (Cate Blanchet) numa poltrona conversando com uma senhora que está ao lado. Depois, quando se focaliza o desembarque e a despedida das duas mulheres, um rápido dialogo da passageira idosa com o também idoso que lhe espera conta o que está acontecendo com Jasmine: “ela estava falando sozinha e eu perguntei o que era e ela começou a falar de sua vida sem parar...”
Na casa da irmã, Jasmine custa a se acomodar em um plano social diverso do que usufruiu (para ela um meio “miserável”) e a narrativa passa a abrir espaço para cenas do passado da personagem. Daí em diante vê-se uma invasão de “flashbacks” sem que se pontue as intercessões com as velhas cortinas escuras, desfoques ou mesmo seguindo a fala de alguém em off. O filme inteiro é pontuado por viagens no tempo, montando um quebra-cabeças que vai definindo não só Jasmine/Jennifer como a irmã e os homens que aparecem em suas vidas.
Embora se possa ler a narrativa de 98 minutos de um só fôlego, vê-se que Allen não explora uma pontuação linear visto as rupturas através dos flashbacks tornarem dinâmica essa configuração. Em cada momento é notório um fato novo despertando o espectador para a construção do tipo de Jasmine. Se em dado momento ela que está aprendendo a conviver com as regras de uma classe social inferior à sua assumindo um novo tipo de vida desmontando a sua filosofia de vida de prática de luxo e tendo que habituar-se ao comportamento prosaico da rotina da irmã, em outro momento se compraz em dar lições de coisas para esta & circunstantes extraídas de um tempo passado de riqueza e luxo. O contraditório aí é que nessa marcha há contramarchas impactantes. E nesse caso os níveis de insanidade parece tomar conta dela. Entre a força e a fragilidade há o ímpeto de viver.
O ponto alto da historia é dividido entre o reencontro de Jasmine com o enteado que abandonou o lar quando descobriu as tramoias paternas e o namoro com um jovem viúvo que pretende ingressar na política candidatando-se a deputado. No primeiro caso, o rapaz, já casado, nega-se a se entender com a madrasta, pedindo-lhe que se afaste da vida dele. É nesse momento que a síntese de toda a situação que gerou o colapso do esquema comandando pelo marido se torna evidente e mostra a face desconhecida que gerou o problema. Quanto ao pretendente ela escondeu dele a vida anterior de falcatruas do marido que vem à tona em uma nova incidência confrontando o seu silêncio e as aspirações políticas do noivo. Todos os meios de reconstituir de forma rápida a sua vida fogem do horizonte e resta à ex-milionária ficar num banco de praça falando sozinha sobre o que viveu e vive (um monólogo que enaltece de modo extraordinário o desempenho de Cate Blachett).

O filme é excelente e vou voltar a tratar dele. Estreia amanhã, 29, no circuito Cinépolis. Imperdível.

quarta-feira, 27 de novembro de 2013

NOVOS JOGOS VORAZES



“Jogos Vorazes – Em Chamas” (The Hunger Games: Catching Fire, EUA, 2013)

Duas escritoras ganharam a opinião publica a partir dos EUA: Stephanie Meyer com “Crepúsculo”(Twilighty) e Suzanne Collins com “Jogos Vorazes”(The Hunger Games). Ambas ganharam o caminho do cinema por natural continuidade. Afinal, Hollywood sempre prestigiou a literatura popular e, ultimamente, constatou mina de ouro em obras como a da inglesa J.K. Rowlins  e o seu “Harry Potter”, além do também inglês J. R. R. Tolkien com “O Senhor dos Anéis”.
Os filmes de Stephanie Meyer foram irremediavelmente medíocres, mas deram fama a atores como Robert Pattinson. Os de Suzanne Collins ganham sua segunda versão e a estreia norte-americana já ostentou um recorde de mês, enquanto no Brasil, o filme ocupa muitas salas de cada circuito exibidor (só aqui em Belém a média de 5 salas em casa shopping).
O enredo de “Jogos Vorazes – Em Chamas” (The Hunger Games: Catching Fire, EUA, 2013) cobre o que aconteceu depois do 74° jogo quando o premio ficou com o casal do Distrito 12, Katniss Everdeen (Jennifer Lawrence) e Peeta Mellark (Josh Hutcherson). E celebra os jogos que completam 75 anos sendo realizado o terceiro Massacre Quaternário, editando a luta na arena com regras ainda mais duras ocorrentes a cada 25 anos. Temendo um insidioso clima de revolta, o presidente Snow (Donald Sutherland), agora assessorado por Plutarch Heavensbee (Phlip Seymour Hoffman), planeja atrações para os novos jogos. Uma delas é o casamento dos campeões, embora eles pensem mesmo que o ideal será Katniss morrer em luta e, com isso, abrandar o espírito de revolta que se instala na população. As situações e ocorrências ganham mais força quando é sabido que a jovem campeã dos jogos ainda é fiel ao romance com seu conterrâneo Gale (Hemsworth) e sofre ao vê-lo espancado por um funcionário do governo de Capital”, a cidade propriamente dita e o lugar urbano onde há as contendas.
A trilogia publicada exibe uma critica ao poder político onde a evidência é para o autoritarismo dos governantes da Capital, do papel da mídia na manipulação da opinião pública, da atração pelo bizarro, exemplo que vem do circo romano (e chega até a aparecer uma biga no estilo do tempo dos gladiadores). Trata-se de uma crítica social interessante, procurando refletir sobre a sociedade atual promovendo ainda nuances sobre o culto à personalidade (cf. a figura de Snow marcado pelas máscaras que usa em planos diferentes evidenciando a situação de opressão, além de explorar a superficialidade dos realities shows).
Pode-se observar que o enredo de “Jogos Vorazes” não é vazio como os vampiros românticos da saga Crepúsculo. Mas também se observa que o conteúdo, pelo menos no cinema (não conheço os livros) passa pelo crivo dos blockbuster e tudo se transforma de elementos de aventuras com heróis e vilões devidamente padronizados, deixando a intriga política entre Capital & distritos como um fator da tendência do gênero aventura.
O diretor do primeiro filme, Gary Ross, autor dos bons “A Vida em Preto e Branco”(1998)e “Seabsicuit, Alma de Herói”(2003) deixou a vaga para o colega Francis Lawrence, de “Constantine” (2005) “Eu Sou a Lenda”(2007) e “Agua Para Elefantes”(2011). E não se pode dizer que a nova direção não cumpriu sua tarefa. A narrativa é ágil e aproveita uma boa direção de arte, e o que parece irrelevante cabe ao roteiro, que muita vezes não traduz como personagens passam por lugares que seriam vedados a eles como se viu no primeiro filme (basta a visita da personagem de Jeniffer Lawrence ao seu distrito e encontro com o velho namorado, ele sendo preso e açoitado, ela vendo tudo com pouca ação para tirá-lo do suplicio). Aliás, é muito difícil julgar o que escreveu a dupla Simon Beaufoy e Michael Arndt sem saber da escritura de Suzanne Collins.
A defesa de “Jogos Vorazes 2: Em Chamas” está no que é básico, na amostragem de uma ditadura e a reação a ela. Claro que não é nada de novo, valendo apenas a maquilagem futurista. Mas é bem melhor em termos de filme-espetáculo do que a média que chega às telas mundiais.


terça-feira, 26 de novembro de 2013

O NONO DIA



 Ulrich Matthes  & os nazis  em "O Nono Dia"

Em março de 1933 abriu-se o campo de Dachau – construido em uma antiga fábrica de pólvora próximo àquela cidade alemã -  lugar da prisão de personalidades que foram julgadas perniciosas ao regime nazista imposta, nesse ano, com a chegada de Adolf Hitler ao poder. Os números registram cerca de duzentos mil prisioneiros que passaram por este campo entre franceses, polacos, soviéticos e italianos. E havia um pavilhão que os carcereiros apelidaram de "bunker de honra", onde ficavam  altas personagens da vida pública e,  numa barraca, sacerdotes provenientes de zonas ocupadas e anexadas à Alemanha. É nesse espaço que viveu o sacerdote católico de Luxemburgo, Jean Bernard (1907-1994), um homem culto que, desde janeiro de 1941 se encontrava preso sendo selecionado pelos nazistas como um possível aliado. Certo dia deram-lhe férias de 9 dias para que, de sua casa, passasse a influenciar o bispado a colaborar com o regime, fazendo com que o arcebispo da cidade acolhesse os nazistas como amigos dos cristãos, uma vez que o Papa Pio XII já havia declarado alguma ajuda nesse sentido.
O filme “O Nono Dia”(Der Neunte Tag, Alemanha, 2004) de Volker Schlondorff, trata de Bernad como Henri Kremer, com base no livro de memórias daquele, de título Pfarrerblock 25487”, e o roteiro escrito pela dupla Eberhard Görner e . Andreas Plüger.
O acerto começa na escolha do ator para viver o padre prisoneiro: Ulrich Matthes (na época do filme com 45 anos). Ele esteve em outro grande filme sobre o nazismo: “A Queda”(Der Untergang/ 2004). Protagonizava Joseph Goebbles, o ministro da propaganda do regime. A máscara desse intérprete ajuda muito na composição do sacerdote desafiado em sua fé e seus brios, enfrentando vários interrogatórios por parte de um militar, o ex-seminarista Gerbhardt, brilhante trabalho do ator August Diehl. Nessas falas discute-se fé, política e capacidade de persuasão. As outras imagens ficam com o horror do campo de Dachau, especialmente quando um padre é explicitamente crucificado e a luta que se trava para obter água, com a disputa de gotas caindo de uma bica.
A narrativa segue em linearidade a odisséia do clérigo, tanto na prisão – obrigado a esconder a prática religiosa convivente ao lado dos colegas – onde assiste às atrocidades cometidas de forma brutal e sem lógica – como na interpelação a que se submete entre os seus irmãos, preocupados com a vida dele e de si próprios sabendo das “vendetas nazistas” quando a SS não se sentia satisfeita com a atitude que exigia.
O cinema alemão estava numa maré de criticas à sua produção por “esquecer” os horrores nazistas. Certamente quem criticou não viu este filme que ora chega à Belém. Henri Kremer/Bernard tem 9 dias para cumprir a sua missão de acobertar o que acontece no regime instalado na Alemanha, e essa escolha por parte dos servidores de Hitler apoia-se, também, na morte da mãe dele, pessoa que Gernhardt diz ter sido “compreensiva” ou aliada da ideia de que a Igreja Católica devia se posicionar a favor do novo governo do país.
Schlondorff surgiu no movimento de renovação da cinematografia germânica, época em que apareceram, entre outros, Rainer W. Fassbinder, Werner Herzog, Margareth Von Trotta e Helmut Kutner. Lembro que nos anos 70/80 o Cine Clube APCC trouxe até Belém os primeiros filmes desses cineastas exibindo cópias em 16 mm nos aditórios da AABB (Gov José Malcher) e Faculdade de Ondonotlogia (Pça Batista Campos). Os filmes eram veiuculados pelo mesmo Instituto Goethe (hoje comemorando seu cinquentenário) e, para nós, no trânsito com a filial desse instituto em Salvador (Ba). Foi a descoberta de um cinema novo tão importante como os que surgiam então a seguir a “nouvelle vague” de Paris. Hoje é possível que o público conheça mais Schlondorff de “O Tambor”(Die Blechtrommel, 1979) filme vencedor do Oscar para a categoria de estrangeiro. É confortante saber que o co-diretor (ao lado de Margareth Von Trotta) do também excelente “A Honra Perdida de Katherine Blum”(Die verlorene Ehre der Katharina, 1975) continua ativo (há previsão de direção em filme para 2014). O nosso publico não deve deixar de assistir a “O Nono Dia”. Excelente.


segunda-feira, 25 de novembro de 2013

FILMES RELIGIOSOS EM DVD



Jeniffer Jones em "A Canção de Bernadette", de Henry King

Estão sendo reeditados em DVD, no Brasil, vários filmes de cunho religioso. Alguns ganham também cópias em bluray. Nas lojas anunciam “ A Biblia...No Principio” (1966) de John Huston, “S. Francisco de Assis” (1961), de Michael Curtiz, “A Canção de Bernadette”(1943), de Henry King, “A História de Ruth”(1960) de Henry Koster e “David e Betsabá”(1951) de Henry King.
Todos esses filmes são da 20th Century Fox e “A Canção.... recebeu o Oscar de melhor atriz contemplando a então novata Jennifer Jones. Interessante observar que “A Biblia...No Principio” seria um projeto megalômano do produtor italiano Dino di Laurentis. Não prosseguiu além do Gênesis tratado por um diretor eclético (Huston) cuja filmografia aponta uma diversidade de gêneros realizados, desde western (“O Tesouro de Sierra Madre”, 1948) a drama introspectivo (“Os Vivos e os Mortos”, 1987, versão de um texto difícil de se transcriar para o cinema, escrito por James Joyce). O próprio John Huston protagoniza a figura de Noé e o filme focaliza a parte de Adão e Eva e o Diluvio. Muito curioso.
Também se nota o trabalho de Michael Curtiz, o diretor de “Casablanca” (1942) em “S, Francisco de Assis”(Francis of Assis, 1961). O cineasta estava com 71 anos e doente. Seu trabalho na direção foi com dificuldade o que seria seu penúltimo filme. Aliás, este perdeu “status” quando Franco Zeffirelli, hoje com 90 anos, lançou, em 1973, “Irmão Sol, Irmã Lua”(Brother Sun and Sister Moon ) sobre o mesmo tema (filme já lançado em DVD), mas com outra categorização e narrativa.
Sem sair do tema, também foi relançado “Joana D’Arc”(Joan of Arc, 1948) de Victor Fleming (diretor de “O Magico do Oz”) com Ingrid Bergman. A atriz impulsinou a produção, pois desejava representar a Donzela de Orleans. Resultou em um filme na linha dos blockbuster, mas com certa dignidade.
Dentre os lançamentos de clássicos do cinema assisti recentemente o que desconhecia de um mestre da comédia: Ernst Lubitsch. Trata-se de “Anjo”(Angel, 1937) com Marlene Dietrich, Herbert Marshall e Melvyn Douglas. Dietrich incorpora a personagem Maria, esposa do diplomata Frederich Barker (Marshall) que entediada com a vida que lhe proporciona o marido, sempre privilegando o trabalho, resolve passar uns dias em Paris e na casa de uma velha amiga, encontra um americano, ex-combatente da I Guerra Mundial, que pretende se divertir na capital francesa. Os dois passam uma noite juntos, em um parque, mas ela não diz seu nome. Depois se sabe que o tipo é um velho amigo do marido dela e quando os dois se reencontram fica difícil esconder que foi a breve conquista a quem ele chamou de Anjo. O final é o esperado. Não por mim.
O famoso “Lubitsch Touch” ou o modo como o cineasta tratava os temas, sempre com uma elegância estilística, está presente ao longo de toda uma trama que escorreria fácil para o melodrama ou para uma comédia erótica. Resta um filme extremamente bem realizado valorizando sequencias como se vê no início quando a câmera passa por vários aposentos colocada atrás das janelas e se vê pessoas, sabe-se o que estão confabulando sem que se as ouça. Um modo criativo de se adentrar na história principal, a partir do local onde ela ganhará impulso.
O reverso do filme de Lubitch foi assistir ao pesado “Até a Vista, Querida”(Murder, my Sweet, 1946) gênero “noir”, roteiro de John Paxton, com base em um texto do romancista e roteirista Raymond Chandler. O ator Dick Powell(1904-1963) encarna o detetive Philippe Marlowe, personagem criado por Chandler que surge nos EUA, em meados dos anos 1920, numa onda de publicações populares, em contos ficionais sobre crimes. Pena que o roteiro do filme complica a trama de tal forma a torná-la quase ininteligível. Direção de Edward Dmitryk. Aliás, um dos atores que se travestiu do detetive Marlowe foi Humphrey Bogart, em À Beira do Abismo” (The Big Sleep, 1946). Sou aficcionada por esse gênero tanto na leitura quanto em filmes, contudo, Edward Dmitryk foi infeliz nesse exemplar noir.


quinta-feira, 21 de novembro de 2013

FRANCES HA



Greta Grewig é Frances Halladay. Sempre correndo.

Em “Lola, Corra, Lola” (1998), o diretor alemão Tom Tyker explora uma situação e a resolução desta – Lola deveria correr para conseguir juntar em 20 minutos, certa quantia em dinheiro a fim de salvar a vida de seu namorado. A narrativa utiliza desenho animado para ilustrar a corrida da jovem em alcançar seu objetivo. A função imediata do tipo era esse e salvando isso, a pressa toda teria fim.
Há outro filme, “Simplesmente Feliz” (2008), do inglês Mike Leigh, que trata de uma jovem professora primária, Poppy (Sally Hawkins) cujo toque viisual e caracteristicas pessoais convergem para o transitório e o lado positivo. Em vários momentos ela é vista como irresponsável tratando situações sérias na brincadeira.
Ao assistir “Frances Ha” (EUA, 2012) lembrei dos dois filmes, mas identifiquei mais em “Lola...”. Embora os nós narrativos e a argumentação diferissem, há contudo, muito que ver como liames entre os dois tipos. Veja-se que Frances Halladay (Greta Grewig) é uma jovem residente em Nova York que sonha com uma vida independente como bailarina. Enquanto espera uma chance de integrar a equipe de balé onde está agregada e aprendendo novas coreografias ela ensina dança para crianças e divide um pequeno apartamento com a amiga de infância Sophie (Mickey Sumner). Quando a amiga encontra um novo namorado e se muda, ela perambula por outros espaços, chega a voltar à casa paterna, passa uns dias em Paris, mas prossegue sonhando com o seu ideal mesmo que seja preciso trabalhar como garçonete para se manter sem precisar de voltar de vez para a família. Mas é nessa circulação entre o sonho de ser contratada para um trabalho estável e a de se manter numa parceria permanente numa determinada moradia, de preferencia com a amiga de infânacia é que reside a ansiedade da jovem, transposta para a maneira de ela ser vista com aquele temperamento sempre a procura de algo, sempre angustiada por conseguir manter a custa da amizade, a proximidade com a amiga de infância.
O titulo do filme deriva da dificuldade de Frances colocar todo o seu nome na portaria de seu prédio. Mas não é só isso: é o enquadramento de um temperamento imediatista que pretende viver a vida que escolheu para si sem esmorecer, sem retroagir e sem perder a esperança em buscar seus objetivos, sempre mantendo um temperamento alegre e em grande movimento, em velocidade que angustia o próprio espectador.
Com uma narrativa simples, criada por Noah Bumbach, diretor de “Lula e a Baleia”(2005) e “O Solteirão”(2010), títulos que chegaram por aqui embora só em vídeo, “Frances Ha” expressa um tempo de buscas de uma juventude que está às voltas com o provisório, mas ligadissima em afetos duradouros. O filme foi mencionado entre os melhores do ano pelo Casting Society of America e a atriz Greta Grewig ganhou elogios de toda a critica norte-americana (e europeia) sendo comparada, no tipo que representa, a uma figura criada por Woody Allen. Greta atuou em “Para Roma com Amor”(For Rome with Love, 2012) interpretando a personagem Sally.
O que interessou ao roteiro do diretor e da própria Greta foi a pintura da personagem principal, a “maluquinha” norte-americana que vive correndo pelas ruas acreditando que o seu ideal vai se concretizar contra todas as adversidades possíveis. E isso o filme consegue mostrar bem, usando o preto e branco e uma movimentação de câmera, seguindo-se a dinâmica de uma edição, e os desempenhos excelentes do elenco.
É interessante observar que os pais de Frances são interpretados pelos pais de Greta na vida real, assim como Mickey Sumner (que interpreta Sophie) é filha do cantor Sting, e que Chalotte d’Amboise (que interpreta a chefe da companhia de dança) é uma famosa dançarina da Broadway, filha de Jacques d’Amboise, que foi astro do New York City Ballet e um dos intérpretes do filme de Stanley Donen em Sete Noivas para Sete Irmãos (1954). O diretor é sobrinho de Barbara Turner e do falecido ator Vic Morrow. Esse elo familiar pode ser observado na felicidade com que se mostra o cenário. A Nova York do filme lembra um pouco a Manhattan de Woody Allen e a lembrança de Allen se faz sentir em todo o conjunto. Certamente porque os autores são muito ligados, ou melhor, sabem compreender a cidade. E ela serve muito bem à pintura do tipo principal, não esquecendo a sua posição numa geração da virada do milênio, só deixando pensar na facilidade com que a personagem se movimenta a ponto de viajar pela Europa por poucos dias e voltar ao seu país sem ter muito dinheiro em caixa. Mas até aí serve a “ginástica” de Frances, tentando realizar seu sonho com o pouco que recebe de uma devolução de imposto.

Um filme atraente, e que nos chega através de sala alternativa. Está em cartaz no Cine Libero Luxardo em horário regular dessa sala.

quarta-feira, 20 de novembro de 2013

CLÁSSICOS EM DESFILE

 Gene Tierney e Tyrone Power em "O Fio da Navalha" (1946). Em DVD.


Os colecionadores de filmes estão atentos. Surgem agora títulos que marcaram épocas e são reeditados, alguns do mesmo grupo. Entre estes se vê, por exemplo, “O Fio da Navalha”(The Razor’s Edge, EUA, 1946), a primeira versão sonora do livro de Somerset Maugham, tratado como autobiografia. Com direção de Edmond Goulding trata do romance entre uma socialite e um combatente, na I Guerra Mundial. Os atores Gene Tierney e Tyrone Power defendem os principais papéis ficando Herbert Marshall com a protagonização de Maugham. O livro foi refilmado em 1984 por John Byron com outros atores no elenco, como Bill Muray e Teresa Russel. A versão anterior é a mais palmeada pela critica e pelos historiadores de cinema.
Outro exemplar, “As Diabólicas” (Les Diaboliques, França, 1955), é um dos melhores filmes de Henri-George Clouzot. Quem interpreta um dos principais papéis é a brasileira Vera Amado Clouzot, então a esposa do cineasta. Sua personagem é a vitima do casal de amantes protagonizado por Simone Signoret e Paul Meurisse. Ainda hoje o filme provoca impacto em espectadores sensíveis. Uma refilmagem norte-americana foi logo esquecida e os críticos ainda hoje dizem, elogiando, que é o filme de suspense que Hitchcock não fez.
“Inverno de Sangue em Veneza”(D’ont Look Now, Inglaterra, 1973) está entre os melhores filmes de terror já realizados. Nicholas Roeg, diretor australiano, trata, de forma magistral, a odisseia do casal protagonizado pelos atores Donald Sutherland e Julie Christie, ele restaurador de ícones em antigos templos venezianos, que perde a única filha de 5 anos, afogada. O desespero toma conta da dupla e a memória da menina ganha um terreno místico ensejando um final impressionante. O roteiro baseia-se em um romance de Daphne Du Maurier. Um relançamento oportuno.
“O Circo” (El Circo, México, 1943) é o primeiro filme do comediante mexicano Mario Moreno Cantinflas que chega ao mercado de vídeo brasileiro desde que se exclua “Volta ao Mundo em 80 Dias”(Around the World, EUA, 1957), produção hollywoodana na qual esse comediante atuou. Apoiado na obra de Charles Chaplin, o filme focaliza um tipo conhecido como El Zapatero que se apaixona da bela estrela do picadeiro e que no final acaba perdendo este amor para um galã da trupe. O diretor do filme é Miguel M. Delgado que realizou quase todos os filmes com Cantinflas (e foram muitos).
Um dos meus filmes prediletos, “Amores de Apache” (Casque D’Or, França, 1952) também já está circulando. Trata-se do mais conhecido filme do diretor Jacques Becker e reúne os atores Simone Signoret e Serge Reggiani, ela desempenhando uma estrela de cabaré e ele um carpinteiro. A dança conhecida pelo nome de apache dá margem a um dos momentos marcantes do filme, que foi o vencedor do Bafta(o Oscar inglês) no ano de seu lançamento.
“A Cova das Serpentes” (The Snak Pit, EUA, 1948 ) trás, Olivia de Havilland num dos desempenhos mais marcantes que já interpretou em sua longa e elogiada carreira (ela ainda vive, aos 97 anos). É o filme dos mais aplaudidos da atriz. Candidata ao Oscar, Olivia protagoniza Virginia Cunningham, uma jovem internada num manicômio sem ser doente mental. O terror que ela passa nesse ambiente manicomial é contundente e muito bem retratado pelo diretor Anatole Litvak (responsável por outras obras marcantes como “Anastácia, a Princesa Esquecida”, 1956; “Vida por um Fio”, 1948; e “A Noite dos Generais”, 1967). O roteiro está baseado no livro de Mary Jane Ward.
“Sonho de um Sedutor”(Play it again, Sam, EUA, 1972) tem Woody Allen como ator e não como diretor. Baseado em sua peça encenada com sucesso na Broadway, Allen protagoniza o tímido Allan Felix, abandonado pela esposa e socorrido em sua solidão pelo casal amigo Linda (Diane Keaton) e Dick (Tony Roberts). Ele e Linda têm grande afinidade, mas Allan segue o seu ídolo Rick (Humprey Bogart de “Casablanca”). E como tal renuncia a um romance. A direção ficou com Hebert Ross.
Muitos desses filmes já foram exibidos em circuito de 35 mm, mas somente agora saem cópias em DVD. Muito bom revê-los.


HANAMI, CEREJEIRAS EM FLOR


Elmar Wepper em "Hanami, Cerejeiras em Flor"

A proximidade da morte de um ente querido para uma das personagens revela-se nas cenas iniciais de “Hanami, Cerejeiras em Flor”(Kirschblüten – Hanami, Almanha, 2009), filme da diretora Doris Dörrie (em cartaz no cinema Olympia). Depois de apresentar gravuras japonesas como “pista” de que a trama levará ao Japão, veem-se os exames feitos em Rudi (Elmar Wepper) que indicam uma doença terminal ainda assintomática. Os médicos informam à esposa Trudi (Hannelore Elsner) que o marido pode não estar sentindo nenhum indicio do mal que o acomete, mas tem os dias contados. Aconselha-a a priorizar um programa que há anos possam estar adiando realizar para que alivie a percepção dramática que se aproxima.
Trudi é apaixonada pela cultura japonesa e quer muito ir ao Japão, especialmente ver de perto o Monte Fuji. Mas o marido, um funcionário público da coleta de lixo, casmurro, não se interessa em sair da cidade. No final, aceita primeiramente ir à Berlim visitar um casal de filhos, um deles já com familia, e a jovem em relacionamento com uma jovem. À primeira vista sente-se uma recepção afetiva, aos pais, mas em todos os sentidos a presença deles se torna desarticuladora na base dos poucos espaços do apartamento e do próprio momento em que se acham, com atividades de trabalho sem tempo para cuidar deles. Vê-se, a partir daí, a distancia que existe entre eles, sempre em queixas secretas sobre o vínculo familiar originário e preocupados apenas com os dias que vivem.
Para cada momento do filme, mesmo na fase inicial, há uma espécie de marcação que enfatiza os caracteres das pessoas. Por exemplo: o olhar de Trudi para as moscas. Nada se percebe até o momento em que a nora mata o inseto que está no meio da mesa. Aquele ato é um choque para os filhos e o marido, pois eles sabem que a mãe preza aquele inseto, para ela, um símbolo de vida livre e, no caso, de uma vida efêmera (a mosca dura só um dia). Naquele momento liga-se ao que se passa com o marido e que só ela tem ciência.
Mas a todos os detalhes que dimensionam personagens (há três blocos definindo o grupo), o roteiro consegue se despreender do toque melodramático que parece fatal. O espectador se surpreende quando é Trudi quem morre primeiro. Fica o marido solitário, difícil de tratar posto que muito ligado à esposa em tudo o que fazia. Os filhos, seja a jovem que reside na capital alemã seja o caçula que mora em Tóquio e viaja para Berlim quando sabe da morte da mãe, veem um transtorno ter de cuidar do velho pai. E este, procurando reagir ao drama, segue para o Japão com um objetivo: realizar o sonho da amada que morreu, se achando causa do cerceamento da liberdade dela. Ali encontrará primeiramente o difícil e às vezes, rude relacionamento com o filho. O encontro com a cultura oriental embora lhe seja desconhecida tem uma objetividade ao conhecer uma garota de 18 anos que dança à beira de um lago, próximo do monte Fuji, e nessa dança evoca a sua própria mãe, recém-falecida, a quem ela representa fazer contato através de um telefone.
O monte Fuji é quase sempre coberto de neblina sendo por isso muito difícil aparecer como se vê nos cartões postais. Mas, depois de certo tempo, o espaço se abre para Rudi, satisfeito, enfim, por estar no cenário cultuado pela querida esposa.
Dentre muitos elementos usados para dimensionar poeticamente o drama de duas pessoas que se amam e que transitam para a morte, o filme utiliza em especial a flor da cerejeira. Esta beleza vegetal também dura pouco e simboliza muito bem o amor de Rudi e Trudi que nos momentos finais da narrativa chegam em belíssimas imagens sem que isso resvale para a simples exibição de cartão postal.
Como flores de cerejeira os personagens desaparecerão em pouco tempo. Mas a curta vida serve para uma reflexão, na bela amostragem de Doris Dörrie, sobre o relacionamento familiar, a distância da idade e as diferenças culturais.
Um belíssimo filme que não chegou aos nossos cinemas e só foi conhecido através de vídeo. É um raro titulo capaz de ficar na lembrança de quem assiste ao filme.


AMOR PLENO


Neil (Bem Affleck) e Marina (Olga Kurylenko) em "Amor Pleno".

O diretor Terrence Malick é um raro exemplo de autor de cinema dentro do esquema industrial de Hollywood. Em 45 anos realizou apenas 10 filmes (3 ainda em fase de edição). Arredio às homenagens que vem recebendo desde seu primeiro longa-metragem, ”Terra de Ninguém”(Badlands, 1973), ultimamente enveredou por uma linha de introspecção, procurando seguir o dificil caminho de traduzir em imagens os seus (ou de seus personagens) sentimentos. Assim criou, há dois anos, o excelente “A Árvore da Vida”(The Tree of Life, 2011) onde procurou dimensionar a vivência de suas personagens a partir da criação do universo. Agora, em “Amor Pleno”(To The Wonder, 2012), segue adiante e procura realizar um filme sobre o amor. Não um romance ou um enfoque científico sobre o relacionamento de duas pessoas. O que interessava era traduzir “amor” em imagens.
O argumento trata de Neil (Bem Affleck) e Marina (Olga Kurylenko), um casal que se apaixonou na França e se mudou para uma pequena cidade de Oklahoma (EUA), levando a filha dela. A paixão acaba se restringindo com o tempo e quando Marina é obrigada a retornar para a Europa depois de se extingir o visto de permanência na America, ele encontra uma antiga namorada com quem inicia um novo contato. Paralelo aos conflitos do casal, um padre passa por uma crise de fé, a filha de Marina repele o possível padrasto e prefere se mudar para a casa do pai biológico de quem a mãe estava separada há muitos anos. Observam-se, então, dois blocos expressivos sobre esse argumento. No primeiro, as sequencias do envolvimento emocional que leva às declarações de amor, pelo par, são marcadas por imagens da água corrente em todas as dimensões que esta possa ser mostrada brotando na natureza. No segundo, a decadência da relação de amor influenciada pelas mudanças do próprio ambiente com vistas ao recomeço a partir dessas mudanças, explora imagens percorrem terrenos áridos, matas, “em terra”. No ambiente da igreja vê-se um padre questionando a fé que está perdendo. Ou seja, esse subplano será tratado nesse segundo bloco.
Se a linguagem fosse linear, ou seja, se o relacionamento dos personagens fosse narrado de forma explicita, apresentando um começo, meio e fim, o filme seria mais um programa comercial na linha do melodrama que de alguma forma fez escola na indústria cinematográfica. Mas o que Malick pretendeu foi mostrar através da brilhante fotografia de Emanuel Lubeski (e da música incidental de Hanan Townshend) a imagem do amor. Seria, por exemplo, o enfoque da paisagem em meio ao envolvimento do casal em gestual de abraços ou correndo por um campo ou uma praia. Malick deve ter pensado que o que amantes guardam de seus melhores momentos de união passa pela comunhão com a natureza. Não à toa que os poetas buscam na paisagem os seus versos mais comunicativos.
Mostrar o “amor pleno” e daí partir para o esvaziamento desse amor é a tarefa básica do trabalho. Não satisfeito, o cineasta volta a um tema sempre presente em sua obra: a questão da fé. O padre católico Quintana (Javier Bardem) claudica em sua missão religiosa. Não consegue ver Deus na velha igreja onde trabalha. E ao acompanhar o que se passa com seus fiéis, no caso Neil e Marina, ele questiona mais alto o seu credo.
Evidentemente o filme mergulha numa dimensão desafiadora. Basta lembrar os títulos introspectivos de Antonioni ou Bergman. Mas estes autores não tentam “cinematizar” um sentimento, ou seja, mostrar o amor em imagens diretas, como Malick representa o ato de sentir. Um close de Liv Ullman ou um andar de Monica Vitti diz o que se passa com um amante. Mas o que é que elas sentiram? É como se você tentasse, a lembrar de uma comédia que asssisti há muitos anos, capturar o assovio (não o termo, mas o ato).

“Amor Pleno” é um raro exemplo de cinema criativo no ato de capturar novas representações. Vê-lo com paciência é engrandecer o espírito. Mas é preciso isso mesmo: paciência e o reconhecimento desse plano de profunda exposição da pulsão humana. Não é cinema digestivo. É uma peça de reflexão e arte.

sexta-feira, 15 de novembro de 2013

EXCELENTES EXTRAS NA PROGRAMAÇÃO



Cenas de "Cerejeiras em Flor" , em exibição no Olympia. Imperdível. 

O lançamento de filmes no circuito comercial tem, esta semana, apenas “Jogos Vorazes 2: Em Chamas”. Felizmente as salas alternativas programam filmes inéditos e marcantes como “Amor Pleno” de Terrence Malick, “Frances Ha” de Noah Baumbach e “Cerejeiras em Flor” de Doris Dörrie.
Deve continuar o excelente “Capitão Phillips”, mas o que espanta e causa repulsa aos espectadores locais é “Blue Jasmin”, o filme de Woody Allen que deve estar no próximo Oscar ser omitido da programação local embora esteja até mesmo numa sala do grupo Cinépolis em São Luís do Maranhão. Um absurdo que deve ser registrado para se ver como estamos sendo marginalizados em termos de bons filmes.
“Jogos Vorazes: Em Chamas”(The Hunger Games Carching Fire, EUA, 2013) prossegue a adaptação da obra literária de Suzanne Collins (são 3 volumes sendo que o terceiro já está sendo cogitado para filmagem) evidenciando uma porfia no futuro patrocinada pelo governo e com grande apelo de midia, onde quem perde o jogo morre no que se pode ver como uma verdadeira caça. Neste novo filme, a jovem Katniss (Jennifer Lawrence), vencedora do jogo anterior com o companheiro Peter MellarkJosh Hutcherson) volta à competição que se chama “Turnê da Vitória”. Mas, no momento, há uma revolta que se organiza para mudar o regime.
O filme é dirigido por Francis Lawrence de um roteiro assinado por Simon Beaufoy e Michael Debruyn. O lançamento será mundial reforçando a confiança da produção & distribuição com o filme.
“Amor Pleno”(To the Wonder, EUA,2012) é o novo trabalho do diretor bissexto e caracterizado por um cinema denso, Terrence Malick (de “Arvore da Vida”). Trata do romance de Neil e Marina, um casal que se apaixonou na França e se mudou para uma pacata cidade de Oklahoma, nos Estados Unidos, levando também a filha. A rotina e o  fim da paixão fazem com que os problemas apareçam. Quando o visto de turista expira, Marina retorna à Europa e Neil se reencontra com uma antiga paixão. Paralelo aos conflitos do casal, um padre passa por uma crise de fé ao ver uma igreja abandonada.
A fotografia premiada é de Emmanuel Labezki, a música de Hanan Townshend e no elenco estão Alec Baldwyn, Olga Karylenko, Rachel McAdams e Javier Bardem. Exibição no Cine Estação, desde 4ª feira.
“Frances Ha”(EUA, 2012) é uma produção independente que aborda a relação de uma jovem professora de dança  (Greta Gerwig) moradora de Nova York, e de sua amiga Sophie (Mickey Sumner), com quem se desentende. Frances sonha com uma realidade distante levando a vida com alegria. A direção é de Noah Bauchbach, candidato ao Oscar em 2005 por “O Esquilo e a Baleia”. Exibe-se no Cine Libero Luxardo, em sessões normais.
“Cerejeiras em Flor”(Hanam Bi, Alemanha, 2008) trata da odisséia da esposa de um funcionário público que está em fase terminal de cancer e a angústia dela em seguir o conselho da junta médica de sair com o marido para um tempo de aventuras. Sem dizer nada a ele, ela consegue seduzi-lo para uma visita aos filhos, e os dois viajam para Berlim onde moram dois deles. Não conseguem chegar a Tóquio por uma situação imprevisivel, mas um deles segue o já agendado. Esse drama da mulher que sofre a certeza do fim de quem ama é tratado com maestria pela diretora Doris Dörrie muitas vezes premiada e que no Brasil só teve mais um filme lançado: ”Homens” (Manner, 1985). No Olympia a partir de hoje, 15/11 em horário normal.


quarta-feira, 13 de novembro de 2013

ASSALTO EM ALTO MAR


Tom Hanks em "Capitão Phillips". 

De um roteiro escrito por Billy Ray baseado no livro, "A Captain's Duty: Somali Pirates, Navy SEALs, and Dangerous Days at Sea”, de Richard Phillips e Stephan Talty, o director Paul Greengrass realizou “Capitão Phillips”(Capitain Phillips, EUA, 2013). O filme foi lançado no Festival de Cinema de Nova York este ano. Um dos autores é o proprio personagem que em 8 de abril de 2009, comandando um navio carregado de contêineres, o Maersk Alabama, foi assaltado por piratas somalis e posto refém quando estes procuraram sair do navio com segurança exigindo dinheiro de resgate.
O comandante Phillips sentiu a morte de perto. E o roteiro do filme espelhou isso, mas naturalmente, precisava de apoio técnico para dar ao público a emoção da historia que o livro relatou em minucias. Para isso a Sony (companhia produtora) contratou o diretor inglês Paul Greengrass, conhecido pelo ritmo dado a filmes como “Supremacia Bourne”(2004), “Ultimato Burne”(2007) e, especialmente, “Vôo United 93”(2006) este com base no trajeto do terceiro avião sequestrado em 11/09/2001 e derrubado por ação dos próprios passageiros.
Na competência que já marcou outros textos, o diretor Grass imprimiu o seu estilo em duas horas e meia de projeção a ponto de o espectador manter-se concentrado durante esse tempo. E o filme tem várias vantagens na área do “thirller”: não evoca um sentido patriótico fatalmente xenófobo, não coloca o personagem como herói de quadrinhos lutando com os adversários, nem endeusa os marinheiros norte-americanos seja pela presteza de atendimento ao sequestro (o público se inquieta com o retardo desse atendimento), seja pelo papel diante dos piratas, sem a pintura simplória de bandidos sanguinários, embora esta marca se revele desde o começo quando os jovens somalis são atraídos pelos chefes em sua cidade.
Se o filme não procura se tornar panfletário, fica estabelecido, entretanto, um parâmetro entre a dimensão do império capitalista norte-americano onde a correção e a normatização de tudo é avaliada pelo Capitão Phillips (cf desde a despedida da esposa, a conversa com ela sobre os filhos e a sua chegada e inspeção ao navio) e o recrutamento dos jovens somalis para “ir em busca de dinheiro no mar”, por chefes armados do submundo do país, mostrando a miséria em que vivem, a estrutura física de cada um, o sentimento de presteza ao serviço. Creio que é essa contrariedade que não deixa o filme cair na lógica da propaganda xenófoba sempre ou quase sempre presente em filmes norte-americanos dessa natureza, mesmo com base no fato real.
O filme ganhou muito com os interpretes. Tom Hanks está em seus melhores dias e possivelmente um candidato e, quem sabe, vencedor de Oscar, a sua terceira estatueta. Mas expressivos são os somalianos Barkhad Abdi (como Abduwali Muse, o lider do grupo) ,Barkhad Abdirahman (Bilai), Faysal Ahmed (Nakeel) e Mahat Ali (Elmi). Esses jovens são atores amadores e foram contratados mediante seleção prévia na própria Somalia. Suas máscaras impressionam. Um close de Barkhad Abdi suado, confrontando Hanks, não só compara a desproporção física entre os dois, mas define um tipo de tortura empregada contra Phillips.
Os detalhes da vida das personagens, como referi acima, tem a ver com a desproporção entre os dois “times em campo”. Da assepsia familiar do Capitão Phillips cujo diálogo com a esposa reflete desânimo na educação de um dos filhos à varredura na área Somália onde garotos esperam algo olhando o mar, comendo capim, miseráveis, à espera de um “trabalho” que vem logo em seguida ao grito de outro capitão, armado, seguro do que quer: dinheiro. Tudo o que é focalizado prende-se à viagem pelo mar africano e o ataque em alto mar. Sabe-se também que os marinheiros, como o comandante, não portam armas. Ficam a mercê dos atacantes que falam arrastamente o inglês.
A limitação do campo de ação lembra o que Cuaròn aplicou em “Gravidade”. Nada além do que se encontra numa situação desesperadora. E Greengrass pinta de forma exemplar esta situação usando com propriedade a câmera manual e os closes. Além da fina crítica ao mundo capitalista. Um filme que prende a atenção e ganha elogios espontâneos. Imperdível.



SERRA PELADA


Juliano Cazarre e Julio Andrade em "Serra Pelada"

Quem esperava, como eu, melhor enfoque no novo filme do diretor Heitor Dhalia (do excelente “A Febre do Ralo”) fica decepcionada com o que vê em “Serra Pelada” (Brasil, 2013),  o novo filme do cineasta.
As tomadas iniciais prometem uma forte dimensão funcional e de conteúdo, com fotos e cenas de arquivo mostrando a “febre do ouro”, no final dos anos 1970, em território paraense. Mas ao serem apresentados os dois protagonistas da trama, Juliano (Juliano Cazarre) e Joaquim (Julio Andrade), paulistas que resolvem enriquecer com base nas noticias que chegam sobre a “mina” nortista, a expectativa começa a declinar. O primeiro é um professor e pai de família que tende a se esforçar por manter uma conduta moral isenta do jogo que opera naquelas circunstancias vivenciadas, enquanto o amigo Joaquim se adapta ao ambiente de camuflagens onde o maior dos pendores é “tirar as diferenças” com o revolver no coldre. As desavenças emergem e entre os dois se instala a desconfiança enquanto a antiga amizade declina.
Os atores não conseguem dar corpo aos tipos a que estão encarregados de viver. Um é o estereotipo do hesitante que ora se mostra valente, pensando na esposa grávida que deixou, em busca de dias melhores, mas quase sempre se mostrando indeciso nas fortes decisões tomadas pelo amigo. Este de uma violência bem característica de vilão de western italiano, embora, por suposto, tenha acumulado a ganância pela riqueza que vê, a cada hora, “bamburrar” diante de seus olhos.
Com personagens sem muita estrutura, o filme se apega em coadjuvantes como Matheus Nachtergaele e Wagner Moura (este último também produtor e usando maquilagem que o torna um outro tipo, pouco expressivo, a exemplo de outros personagens que já investiu em dezenas de filmes) e na direção de arte. Neste caso, suficientemente capaz de criar em S.Paulo o ambiente de casebres que seria o da locação (visto em poucos planos). Mas, se há um visual interessante, e eu lembrei mais uma vez dos faroestes “spaghetti” na amostragem de tipos sórdidos e sujos, a ideia de fazer aparência realista com a câmera na mão trepidando como se estivesse sendo feita uma telerreportagem em lugar de difícil acesso, destrói o teor dramático e ainda prejudica o olhar do espectador que fica atarantado de ver imagens, com estas passando rápido e sem definição.
 “Serra Pelada” poderia ser um bom filme mesmo com o argumento que deu margem ao trabalho de Dhalia. Mas se rende a esquema de bandidos e mocinhos e a uma tentativa desesperada de imprimir “cor local”. Nós, paraenses, esperávamos muito mais do que se alardeou como filmagem na terra, sabendo que uma equipe esteve aqui tratando da produção e consequente locação. A rigor, pouco aparece identificável a quem vive em Belem e sabe do que aconteceu próximo a Marabá. O filme poderia tomar outro sentido (é possivel que a longa narração também tenha prejudicado), pois, mostrou a falta de organização da área com riscos à saude de mais de 60 mil homens na escavação para a retirada de pepitas, enquanto os lucros ficavam para os donos das fazendas que procuravam associar-se a esses pobres homens que mesmo naquele mundo de trabalho só ficavam com poucas gramas de ouro. Estão presentes e fortemente enfocados comportamentos que evidenciam a hierarquia dos “senhores donos das lavras” submetendo os garimpeiros, além da baixa qualidade de vida destes.
Ao que eu sei o filme tem tido má receptividade local. Creio que só esteja sendo ainda exibido em salas de shoppings distantes do centro, e em poucas semanas de permanência nas salas dos lançamentos mais ambiciosos. Uma pena, e creio que num aspecto global, o filme não agradou a críticos e espectadores.

Mas o mercado exibidor local anda com mais razões que a razão desconhece. “Capitão Phillips”, um filme sucesso comercial que ainda ocupa lugar entre os “10 mais” da bilheteria norte-americana lançado em Belém em poucas salas e em poucas sessões, perde para “Thor 2” exibido em vários espaços, em copias dubladas e legendadas. Certo que a garotada é quem paga os custos, pois, ao ir ver seus “heróis” prediletos é acompanhada de pais ou responsáveis que pagam ingresso junto com ela. E “Thor” é outra mina de ouro da Marvel, hoje do grupo Disney. Quer dizer: cinema comércio, sem nada deixar ao espectador na saída.