quinta-feira, 28 de novembro de 2013

BLUE JASMINE




 Cate Blanchett em desempenho magistral. Sally Hawkins segue o ritmo excelente das atuações .

Jennifer teve o nome mudado por sua mãe adotiva para Jasmine (Cate Blanchet) porque esta achava mais condizente com o tipo físico da filha, na versão desta (e confirmação da irmã), com vistas a ostentar uma outra condição social. Pretendente ao casamento com o milionário Hal (Alec Baldwin) abandona o curso de antropologia que estava para completar e divide o tempo entre promoções sociais e o deleite em suas propriedades onde o tom elegante e clássico define o tipo de classe social dos moradores de uma parte de Manhattan. Quando esta figura grã-burguesa não tem como continuar imaginando que desconhece as traições do marido, ela que convive com a corrupção alimentada por ele em seus negócios vê-se de uma hora para outra perdida pelas contingências que o levam à prisão e o confisco dos bens do casal. Como último recurso só tem um caminho: solicitar hospedagem à irmã Ginger (Sally Hawkins) que mora modestamente em S. Francisco, separada do marido e com dois filhos para criar.
Este é o enredo, em síntese, de “Blue Jasmine” (EUA, 2013) o novo filme que Woody Allen escreveu e dirigiu sem atuar. E demonstra o quanto o veterano realizador mantém a criatividade e o apuro estético além do desempenho na direção (Allen fará 78 anos no próximo dia 1° de dezembro e já está na fase de pós-produção de seu 49° filme,”Magic in the Moonlight”). A narrativa começa com a viagem de Jasmine de Nova York para São Francisco, para a casa da irmã. Um plano de avião que denuncia miniatura passa para um close da principal personagem (Cate Blanchet) numa poltrona conversando com uma senhora que está ao lado. Depois, quando se focaliza o desembarque e a despedida das duas mulheres, um rápido dialogo da passageira idosa com o também idoso que lhe espera conta o que está acontecendo com Jasmine: “ela estava falando sozinha e eu perguntei o que era e ela começou a falar de sua vida sem parar...”
Na casa da irmã, Jasmine custa a se acomodar em um plano social diverso do que usufruiu (para ela um meio “miserável”) e a narrativa passa a abrir espaço para cenas do passado da personagem. Daí em diante vê-se uma invasão de “flashbacks” sem que se pontue as intercessões com as velhas cortinas escuras, desfoques ou mesmo seguindo a fala de alguém em off. O filme inteiro é pontuado por viagens no tempo, montando um quebra-cabeças que vai definindo não só Jasmine/Jennifer como a irmã e os homens que aparecem em suas vidas.
Embora se possa ler a narrativa de 98 minutos de um só fôlego, vê-se que Allen não explora uma pontuação linear visto as rupturas através dos flashbacks tornarem dinâmica essa configuração. Em cada momento é notório um fato novo despertando o espectador para a construção do tipo de Jasmine. Se em dado momento ela que está aprendendo a conviver com as regras de uma classe social inferior à sua assumindo um novo tipo de vida desmontando a sua filosofia de vida de prática de luxo e tendo que habituar-se ao comportamento prosaico da rotina da irmã, em outro momento se compraz em dar lições de coisas para esta & circunstantes extraídas de um tempo passado de riqueza e luxo. O contraditório aí é que nessa marcha há contramarchas impactantes. E nesse caso os níveis de insanidade parece tomar conta dela. Entre a força e a fragilidade há o ímpeto de viver.
O ponto alto da historia é dividido entre o reencontro de Jasmine com o enteado que abandonou o lar quando descobriu as tramoias paternas e o namoro com um jovem viúvo que pretende ingressar na política candidatando-se a deputado. No primeiro caso, o rapaz, já casado, nega-se a se entender com a madrasta, pedindo-lhe que se afaste da vida dele. É nesse momento que a síntese de toda a situação que gerou o colapso do esquema comandando pelo marido se torna evidente e mostra a face desconhecida que gerou o problema. Quanto ao pretendente ela escondeu dele a vida anterior de falcatruas do marido que vem à tona em uma nova incidência confrontando o seu silêncio e as aspirações políticas do noivo. Todos os meios de reconstituir de forma rápida a sua vida fogem do horizonte e resta à ex-milionária ficar num banco de praça falando sozinha sobre o que viveu e vive (um monólogo que enaltece de modo extraordinário o desempenho de Cate Blachett).

O filme é excelente e vou voltar a tratar dele. Estreia amanhã, 29, no circuito Cinépolis. Imperdível.

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