terça-feira, 12 de novembro de 2013

O APARTAMENTO, A GAROTA E O CONDE


Arnon Goldfinger, o diretor que descobriu segredo dos avós.

Um trabalho pessoal do cineasta Arnon Goldfinger sobre sua família, “O Apartamento”(Die Wohnung, Alemanha, 2009) é narrado em primeira pessoa. Sobre o roteiro que escreveu diz Arnon: “Meus avós viveram num apartamento no 3º andar de um edifício Bauhaus em Telaviv desde que imigraram para a Palestina nos anos 30. Se não fosse a vista das janelas, poder-se-ia pensar que este apartamento era em Berlim. Quando a minha avó morreu, aos 98 anos, fomos convocados para esvaziar o que ainda lá houvesse – objetos, fotografias, cartas e documentos esperavam por nós e revelavam as memórias de um passado perturbante e desconhecido. O filme, que começa com o esvaziar de um apartamento, deriva para uma fascinante aventura que junta interesses nacionais inesperados, uma amizade que atravessa as linhas inimigas e emoções familiares profundamente reprimidas”.
O que Arnon não esperava era a descoberta da amizade de seus avós com um elemento nazista responsável por tantas evidências anti-semitas. Sua câmera observa alguns detalhes que identificou em um relato de viagem dessa figura, documento de 1933, com quem os avós dele mantiveram contato até o final da guerra. Inacreditável uma proximidade entre o barão de Mildenstein, chefe do Departamento de Assuntos Judaicos da SS e um dos antecessores de Adolf Eichmann e os judeus obrigados a emigrar para fugir ao exterminio nazista. Esse é o leit-motiv para Arnon e sua mãe entrarem em ação em busca de identificar essa proximidade. Pelos alfarrábios dos familiares, além de entrevistas com historiadores e pesquisa em arquivos, o cineasta vai montando seu quebra-cabeça. O depoimento de uma neta do barão nazista será de grande ajuda para o desvendamento de uma parte do passado de seus avós.
É muito raro se ver no cinema um trabalho que aparentemente é “de família para a família”. Mas a narrativa procura abraçar um capitulo histórico e com isso faz pensar no cinema como trabalho de investigação com abrangência bem maior do que um retrato de família.
O filme ganhou 5 premios internacionais inclusive da Academia de Filmes Israelense 2011 – melhor documentário; no  Festival de Tribeca 2012 – melhor edição; e no Festival de Jerusalém 2011 – melhor diretor documentarista. O Instituto Goethe o colocou em sua biblioteca e é programa atual do cinema Olympia (em cartaz hoje, terça, e quinta feira).
Outra programação, nesta quarta, 13/11, no mesmo cinema será efetivada com exibição do classico de David Wark Griffith: “A Garota que Ficou em Casa”(The Girl who Stayed at Home, EUA, 1919) um filme silencioso que será acompanhado ao piano por Paulo José Campos de Melo, dentro da programação “Cinema e Música” realizada mensalmente com a colaboração da FUNBEL, do Instituto Carlos Gomes e apoio da ACCPA.
“A Garota...”é um dos menos conhecidos trabalhos do diretor de “Intolerância” e “Nascimento de uma Nação”, considerado um dos mais legítimos pioneiros da indústria e arte cinematográfica. Interpretado por Carol Dempster, Richard Barthelmesss e Adolph Lestina tem, como terceiro personagem, o paraense Syn de Conde (Synésio Mariano de Aguiar) que entre 1918 e 1920 interpretou 8 filmes, uma carreira que em si valia roteiro de cinema pois seu pai pensava que ele estava estudando na Suiça, tinha casado e em 1920 se divorciado, na verdade partilhando do mundo da indústria cinematográfica tendo sido amigo do ícone Rudolph Valentino e se tornado intérprete de um trabalho do famoso Griffith.
Syn de Conde está nesse filme protagonizando o Conde de Brissac, personagem que pontua a aventura de um jovem filho de combatente sulista na Guerra da Secessão e que se alista para lutar na I Guerra Mundial contra a vontade da familia.
Conhecer o conterrâneo que foi o primeiro brasileiro a filmar em Hollywood (antes de Raoul Roulien, o carioca Raul Pepe Acolti Gil que muitos afirmam ter sido o primeiro, mas na verdade este só seguiu para Hollywood na década de 1930) é muito interessante. O filme foi legendado em Belém por Horacio Higuchi para a então APCC. Uma relíquia histórica. A sessão de amanhã será às 18h30 com entrada gratuita.

REGISTRO


Impossivel deixar de registrar uma data importante para mim: no dia de hoje, 12/11, atinjo 41 anos de trabalho ininterrupto neste jornal, nesta mesma coluna Panorama, inclusive criada pelo dono do jornal, Sr. Rômulo Maiorana. Passar sem lembrar esta minha escola de vida profissional seria deixar o passado sem memória. Obrigada aos atuais familiares de Rômulo por me acolherem sempre. 

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