quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

HERZOG

  
Werner Herzog e Pedro Veriano no período em que esse diretor esteve em Belém. 
Werner Herzog, nascido Werner H. Stipetic é um cineasta alemão de 72 anos conhecido dos paraenses não só por seus filmes, descobertos em 1970 pela ação do Cine Clube APCC, em memoráveis sessões na sede da AABB e auditório da antiga Faculdade de Odontologia, filmes veiculados pelo Instituto Goethe. Ficou conhecido em Belém quando esteve em busca de locações e ajuda a produção do filme “Fitzcarraldo”(1982) no inicio dos anos 80 (embora nos créditos do filme naõ trate sequer de Manaus onde teve grande ajuda). Hoje os documentários desse diretor estão circulando nas capitais brasileiras através do mesmo instituto. No cinema Olympia pode-se assistir, a partir de amanhã (31/01) aos títulos: “Herzog, Retrato de um Diretor”(1986), “Balada de um Pequeno Soldado”(1984), ”Ecos de um Império Sombrio”(1990), “Lições da Escuridão”(1992), “Fata Morgana”(1971 ) e “O Pequeno Dieter Precisa Voar”(1997). Do grupo só “Fata Morgana” chegou a ser exibido em Belém.
Os documentários de Herzog são corajosos no modo como ele enfrenta dificuldades para realizá-los, adentrando por lugares de difícil acesso, a avaliar, por exemplo, a profusão de informações que consegue captar. Mas nada melhor do que ele mesmo para julgar seus trabalhos e isto se faz no primeiro filme do programa, uma espécie de confissão do realizador falando diretamente para a câmera (no caso, a plateia).
Mas Herzog é conhecido por aqui também por ter visitado a cidade. Primeiramente no perído em que planejava filmar “Fitzcarraldo”(1982), o seu trabalho mais dispendioso e ousado. O roteiro (sempre é ele quem escreve) trata da situação de um rico empreededor (Klaus Kinski vivendo o personagem) que resolveu montar um teatro na selva amazônica para trazer operas, começando por contratar o famoso tenor Enrico Caruso (1873-1921). Para a produção, o cineasta tentou encontrar, na capital paraense, quem doasse roupas de época (século XIX) para a sequência de estreia do teatro, escolhido para ser o nosso Da Paz. Não conseguiu seu intento apesar de tentar insistentemente através dos meios de comunicação e percorrendo entidades que poderiam ajudá-lo. Acabou se deslocando para Manaus onde, enfim, conseguiu o que queria, filmando no Teatro Amazonas.
O que impressionou em “Fitzcarraldo” – e que ele trata num dos documentários a ser exibido agora – é a sequencia em que era transportado um navio através da mata para alcançar o rio por onde iria navegar. Ao invés de apelar para efeitos especiais, Herzog contratou índios para puxarem o gigantesco barco pela selva adentro. Vê-se, no documentário, como os homens cortavam arvores e puxavam o navio com cordas. Uma loucura que dimensionou o sonho do promotor da opera na selva. Aliás, essas sequências foram questionadas após a exibição do filme no Brasil, considerando a utilização da mão de obra indígena (e ele não trata dessa presença, nos créditos do filme).
Um ponto que teve reprecussão no meio cinematográfico foi o relacionamento de Herzog com o ator Klaus Kinski (1926-1991). Kinski era conhecido por seu gênio irritadiço, considerado mesmo como um “lunático”. Em Belém chegou a depedrar seu apartamento no Hilton Hotel. E só Herzog conseguia tratá-lo a ponto de extrair excelentes desempenhos. No documentário “Meu Melhor Inimigo”(1999) o diretor lembrou o ator passando do tom critico ao nostálgico, afirmando uma amizade acima do que ele mesmo chegou a dizer “muitos de meus cabelos brancos se devem a Kinski”.
Herzog também andou pela nossa região ao realizar “A Cobra Verde”(1987). Atualmente ele mora nos EUA e já fez cinema comercial como “Vicio Frenético”(The bad Liitenant, 2009) roteiro de William Finkelstein com incursões de 4 outros cineastas inclusive Abel Ferrara. O filme interpretado por Nicolas Cage e Eva Mendes provou que Herzog sabe dominar qualquer tarefa sem cair nos estigmas. Embora não deixe de lado a sua paixão pelo documental ou pelo cinema de autor, afinal ele é um dos nomes da renovação estética do cinema alemão nos pós-guerra.
No momento esse diretor está em filmagens de “A Rainha do Deserto” (The Desert Queen) com James Franco, Nicole Kidman e Robert Pattinson. Certamente é cinema de Hollywood, com o seu toque inconfundível, diga-se. Mas aos que não conhecem Herzog devem criar sua agenda para assistir aos títulos da mostra ora em cartaz. Cada filme deve ficar no Olympia ao menos dois dias. Programem-se para avaliar uma parte da obra de um dos meus diretores preferidos.


quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

O LOBO DE WALL STREET


Leonardo DiCaprio, "O Lobo..." em grande desempenho. 
Indicado na categoria comédia na 71ª edição do Globo de Ouro da Hollywood Foreign Press Association, isto pode surpreender a quem não assistiu ao novo filme de Martin Scorsese, “O Lobo de Wall Street”(The Wolf of Wall Street, EUA, 2013). Mas o roteiro de Terence Winter com base no livro autobiográfico do ex-corretor da bolsa de valores de Nova York Jordan Belford, segue como uma farsa desde as primeiras cenas. Quando, por exemplo, o personagem que sempre está narrando em off diz que tem um carro branco, surge primeiro um vermelho, que rapidamente muda de cor. Este recurso tende a indicar que muito do que será visto não é real, ou não indica um caminho que denota veracidade. As aventuras de um jovem ambicioso, mas sem dinheiro que consegue emprego em Wall Street e se torna um ótimo vendedor de ações, ganha a feição de uma orgia a partir do que Tom Wolfe chamou de “Mestres do Universo”.
O mundo do dinheiro seduz Jordan Belfort (Leonardo DiCaprio) desde que chega ao pregão da bolsa mais respeitada do mundo. Conhecendo um veterano vendedor (curta aparição, mas extremamente expressivo, de Mathew McConaughey) aprende como se deve portar na profissão. O problema é que a época é a década de 80 quando uma depressão semelhante a de 1929 atinge o mercado. E o calouro aprendiz tem que mudar. Arranja emprego em uma agencia particular em Long Island e passa a vender muitas ações de firmas modestas, algumas formadas por parentes ou amigos de forma artesanal. Inicia uma empresa concorrente a Wall Street associado a Donnie (Jonah Hill) e a outros velhos amigos criando a Stratton Oakmont com muitos empregados e valendo-se de artimanhas ilegais. Casado há tempos, se divorcia quando encontra a sedutora Naomi (Margot Robie). A esta altura já é um bilionário esbanjador mostrando a cor do dinheiro nos vários bens que adquire.
O cenário do escritório criado por Martin Scorcese é de uma fantástica fábrica de dinheiro e onde circulam strippers, bichos  dançando ao som de fanfarras, mesclado de corpos nus nas poses mais sensuais possíveis criando-se cenas de bacanais que parecem não acabar nunca. Essas figuras que a cada bilhão ganho festejam as vitórias ao som de charangas parecem emblemáticas naquele local de negócios. Mas o que subjaz é a crítica à fugacidade daquele mundo marcado de mentiras, embora a realidade do dinheiro em cédulas figure nas caixas abarrotadas que não têm mais lugar aonde guardar.
É o formato especulativo de uma Wall Street com toda a vulnerabilidade mantida em tom de comédia testando a cada momento os limites da realidade daquele grupo que não tem descanso, mantido ao som do tilintar da campainha dos telefones para negociar e ou captar ações aos gritos e bordões aprendidos de seu “mestre” e que já se tornam parte de seu cotidiano. E/ou pelo filtro das drogas estimulantes que passam a gerir aquele mundo que criou. Um Deus como Belfort tem que ser seguido e imitado – como mostra Scorcese em cada momento em que a turba burocrática consegue ganhos do mercado e/ ou novos compradores sejam incluidos nos negócios. Das gravatas e smokings ao corpo nu naquele cenário ficcionado supostamente ficticio, mas necessitando ser visto como verossimil, tudo demonstra a força do dinheiro extraido de pequenos investidores que sequer sabem o que estão representando no ganhar/esbajar fortunas. A avidez é a arma que manipula o caráter daqueles homens que deixam de viver a vida do cotidiano (nem sabem por onde andam suas esposas e filhos ou se têm familia) para se tornarem adeptos de uma nova divindade – o dinheiro que entra em suas contas bancárias e/ou que se derrama sobre eles (há cenas que repercutem esse sentido).

A linguagem que Scorsese usa tem uma dinâmica assutadora. Enfatiza a eterna festa das figuras ligadas ao mundo ilícito de negócios, usando de todos os recursos para dimensionar a devassidão ambiente. É assim que se vê sequencias de tonalidades fortes (mais o vermelho), de planos próximos em montagem rápida, de tipos que ilustram a orgia, como prostitutas que servem aos corretores muitas vezes dentro do salão onde trabalham.
O filme é longo (3 horas), mas não gratuitamente. A ação é constante e seria impossível manter o clima sem o desempenho de Leonardo DiCaprio, presente em quase todos os planos. O ator nunca esteve melhor. Produz um esforço enorme no papel-titulo, ou seja, no de Jordan cognominado “O Lobo”.
Candidato a 5 Oscar (filme, diretor, ator, ator coadjuvante e roteiro adaptado) tem sua qualificação para tal premiação. Merece. Mas DiCaprio tem concorrentes sérios nesse evento, como Mathew McConaughey (em “Clube de Compra Dallas”) que merecia figurar como coadjuvante neste trabalho de Scorsese.


AJUSTE DE CONTAS



Robrt De Niro e Sylvester Stallone em "Ajuste de Contas". 
Salvo exceções, atuar/trabalhar em cinema é uma profissão cruel. Porque cruel? Na verdade tenho pensado nisso há algum tempo, desde que as barras da minha profissão encara com certos limites institucionais como a idade, que nos refere como “inativos”, mesmo que a produção acadêmica seja diferenciada daquela, ou seja, não exija o porte jovem para atuações em papéis geralmente de jovens. No caso da academia é o nome do docente que deixa de vigorar no sistema de ensino e outro professor seja indicado como responsável pelo colega que já alcançou a aposentadoria por idade ou a compulsória (chamada expulsória). No cinema é ficar de fora das produções.
Mas voltando ao cinema, creio que isso é “barra”. Ultimamente vê-se que alguns atores estão lutando para fugir da chamada “inatividade” a que estão reduzidos alguns deles. Ajuste de Contas(Grudge Match, EUA, 2013) está enquandrado nessa lista sendo  mais um filme com atores veteranos a provar que eles nao sairam de cena. Stallone, aliás, vem trazendo colegas de sua idade para filmes que produz ou influencia na produção (comoMercenários). Por outro lado, De Niro tambem está atuando com gente de seu tempo de mocinho e foi visto recentemente em Ultima Viagem a Las Vegase O Casamento do Ano. Junta-lo com Stallone em filme sobre boxe é ainda mais atraente se levar em conta que estão no ringue Rocky Balboa (Stallone) e Jack La Mota, o Touro Indomável(De Niro).
Assim, o enredo se evidencia da seguinte forma: Billy “The Kid” McDonnen (De Niro) e Henry “Razor” Sharp (Stallone) eram grandes rivais no ring até chegarem à idade de se aposentar. Mas sempre ficou a idéia de uma revanche pois haviam praticamente empatado em número de vitorias. E a oportunidade chega através de Dane Slater Jr (Kevin Hart) filho de um promotor de boxe que oferece boa soma em dinheiro para os veteranos lutadores. Afinal, eles deixaram nome e a velha geração certamente vai comprar ingresso para vê-los se defrontar como no passado. Mais do que isso é uma relação romântica com Sally (Kim Basinger) certamente mais um ítem no coquetel de nostalgia. E o interesse maior do roteiro de Tim Kelleher e Rodney Rothman de uma historia do primero cabe no resultado da luta. Quem vai ganhar? O suspense dura mais de cinco rounds
A produção é esperta e bem cuidada. O diretor Peter Segal é veterano de comedias, mas em seu currículo há productos descartáveis como Tratamento  de Choque”, ”Mong e Loide e O Professor Aloprado 2. Este filme de agora pode ser cotado como o seu melhor trabalho. A linguagem linear é suficientemente ágil para cobrir possíveis buracos e tudo se concentra na luta final quando os velhinhos vão expor sua forma física.
Apesar de ser um produto de venda fácil, Ajuste... passou correndo pelas telas dos cinemas de Belém, confinado em salas da periferia e dando enfase às cópias dubladas. Os admiradores dos dois atores devem esperar o DVD que não deve tardar. Interessante observar que Stallone ganhou o  Razzie(Framboeza) premio dado aos piores da indústria ano passado. O ator acumulou pelos filmes Alvo Duplo(Bullet to Head) e Plano de Fuga(Escape Plain). Por este ultimo filme é maldade dos críticos. O ator não esteve tão ruim... Como se vê, há política também na demonstração das opiniões críticas  aos filmes de veteranos que pouco atuarem em clássicos, como é o caso de Stallone, mesmo que hoje esteja com uma outra lógica de atuar.
O bom com a realização de Ajuste de Contas é o prosseguimento de contratos de atores veteranos em filmes classe A (não só em teleplays, onde geralmente eles se abrigam hoje). Há muitos outros títulos programados com “estrelas” que brilharam antigamente e o curioso é que a maioria pertence ao gênero comédia. Contam que Stallone sempre quis fazer comedia. Este novo trabalho pertence ao gênero. Tanto ele como De Niro parece se divertir nos papéis. Afinal, a maquilagem que os mostra maltratados não passa de trabalho dos especialistas criadores de máscaras bem especiais.
Nossos augurios é que voltem os ídolos de ontem. Pior é ficarem no cinema da saudade.

segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

ATÉ QUE A SORTE AFASTE O PÚBLICO




O cinema brasileiro está “bombando” de repetições de temas onde o filme que arrecadou boa quantia nas salas exibidoras terá versões para satisfazer os que se divertiram no primeiro exemplar e, quem sabe, atrair outras sendo este o caso de “Até que a Sorte nos Separe 2”(Brasil, 2013). No enredo, a situação se define assim: três anos depois de ter perdido uma fortuna ganha na loteria, Tino (Leandro Hassum) e Jane (Camila Morgado) estão reclamam as dificuldades financeiras. Mas as coisas mudam quando recebem a visita de um corretor avisando o falecimento de tio Olavinho, que deixou uma herança de R$ 100 milhões a ser dividida igualmente entre Jane e sua mãe, Estela (Arlete Salles). Como o último desejo, o tio pediu que suas cinzas sejam jogadas no Grand Canyon (EUA) e isso é motivo para o esbanjador Tino aproveitar para uma viagem a Las Vegas com a esposa e a filha (deixa o filho com a avó). Não é difícil imaginar que o dinheiro desapareça nas mesas de jogo de um grande cassino. A “novidade” será uma ultima aposta.
Como disse acima, o filme sofre do mal dos replays. Se a primeira comédia, explorando o que Leandro Hassum interpreta na TV rendeu mais de 3 milhões de espectadores, a segunda é uma consequência natural de um esquema de indústria. Afinal, os norte-americanos produzem franquias com base num primeiro sucesso. E até os japoneses fizeram isso. O problema é quando um novo roteiro se restringe a simples cópia do anterior. É o caso desta produção dirigida por Roberto Santucci de um roteiro de Paulo Cursino e Chico Soares, o primeiro autor do trabalho anterior.
O espectador médio só vai suportar o que vê se faz parte do grupo que acha graça do que já o fez rir. E é difícil uma pessoa conseguir bisar o riso de uma piada muitas vezes contada. Fora isso, Hassum tenta segurar o tipo do esbanjador com frases de gracejo inseridas a despropósito, como se estivesse em um tele show. Há situações extremamente forçadas, inclusive aproveitando diferença idiomática. Constrangedor. E assim se vê a “ponta” de Jerry Lewis, cobrando um troco do comediante brasileiro. A sequencia é falada em inglês (felizmente não dublaram Lewis). Vale pela presença do velho cômico na ativa com seus mais de 80 anos no costado. Mas colocar “Até que a Sorte nos Separe 2” no currículo desse grande ator é uma pilhéria marcada pela ousadia. Por certo só constará por aqui.
As novas comédias nacionais que se amparam na TV, ao que consta, caminham muito bem de público, mas ruins de ideias. Nem opino quando à criatividade formal. É uma enxurrada de roteiros que buscam situações pseudo-engraçadas, muitas deturpando fatos e personagens reais. Nessa evidencia sente-se saudades das velhas produções da Atlântida que nos anos 50 eram chamadas pelos críticos pejorativamente de chanchadas (coisas ruins)  e hoje se dá conta de um gênero que espelha nossa cultura em um tempo. O que se vê como neochanchada, atualmente, só é melhor do que a pornochanchada, um tipo de filme que se fazia, especialmente na Boca do Lixo (São Paulo) para desafiar a censura do governo militar. Nesse tempo, em que se colocavam bolinhas pretas no órgão sexuais de  personagens como o foi em “A Laranja Mecânica”, as peripécias de comediantes nacionais geravam dores de cabeça nos pudicos censores que em tudo viam subversão e sexo.
Hoje o cinema brasileiro cresce muito em quantidade e técnica. Mas o melhor luta para conseguir espaço nas salas de projeção. Sempre houve uma obrigatoriedade de exibição de filmes nacionais, mas o baixo nível supre o mando. A quantidade afoga a qualidade.



TÍTULOS IGUAIS, FILMES DIFERENTES



Michael Sheen e Maria Bello em "Tarde Demais" (2010)

O usuário de locadora de vídeo pode confundir certos filmes buscando-os pelos títulos dados no mercado nacional. Há, por exemplo, mais de um ”Veredito”, mais de um “A Trapaça” e, agora, um novo “Tarde Demais”. O interessante é que na maioria das vezes não há referência aos nomes originais em inglês. Sei que há uma norma impedindo o uso de títulos já usados, e que não se trate de reedições, pelo prazo de 7 anos. Mesmo assim, em DVD isso leva à confusão, pois, muitos filmes antigos estão em lançamento no setor.
É o caso de “Tarde Demais” (Beautiful Boy, EUA, 2010) que nada tem a ver com “The Heiress” (“A Herdeira”- título em Portugal)  filme baseado no romance Washington Square, de Henry James (publicado em 1880) que William Wyler realizou em 1949 com Olivia de Havilland e Montgomery Clift e que no Brasil recebeu o mesmo título. Avivando a memória do/a leitor/a trata-se do filme em que, numa prodigiosa sequencia final, o namorado de uma jovem rica fica batendo na porta da casa desta jovem que diz amar (a herdeira, do original) e ela não responde, apagando uma por uma as luzes da casa supondo ser ele um caça-dotes (nunca se sabe se ele é isso mesmo). O mesmo título foi dado no Brasil a “Beautiful Boy” e trata de um casal de classe média em vias de se divorciar, cujo único filho comete um assassinato em massa na sua escola, suicidando-se em seguida.
Bill (Michael Sheen) e Kate (Maria Bello) culpam-se da ação desesperada de Sammy (Kally Gallner). A atitude do jovem de 18 anos seria culpa da educação rígida imposta pela mãe ou pela ausência paterna em muitas horas? Como um garotinho alegre que se vê numa praia em vídeo de família pode ser um monstro ?
O primeiro filme do diretor Shawn Ku estuda esse quadro trágico de forma excelente, com uma fotografia que procura ressaltar a dor das personagens e uma narrativa coesa, sem desperdícios. O foco se dá à família desses jovens que praticam esse tipo de crime, mostrando os pais diante do ocorrido num relacionamento angustiado entre si e dependendo da proximidade com familiares e amigos, enquanto a dúvida os consome. Reflexão tardia e amparo entre eles para retornarem à vida que não será mais a mesma.
Outro bom filme lançado agora em DVD  é “Contagem Regressiva” (Hours, EUA, 2013) dirigido e escrito  por Eric Heisserer onde se acompanha a odisseia de um pai que tenta desesperadamente salvar a filha recém-nascida, confinada numa incubadora depois do parto que levou à morte sua mãe, na hora em que a cidade de Louisiania é alvo do furacão Katrina. Este pai tem que ficar atento movendo a entrada de oxigênio no pequeno leito quando falta energia e sucedem-se desabamentos.
O filme foi o ultimo que o ator Paul Walker concluiu. Depois ele começaria  mais um trabalho na franquia “Velozes e Furiosos” quando morreu em consequência de um desastre de carro. Por ironia, Paul celebrizou-se em papel de piloto de corridas.
O título desse filme leva a outro com o mesmo nome, mas baseado no best-seller de John Hagee destacando a realidade de um conflito inevitável entre Israel e o Islã. Dois outros filmes com esse titulo são de 1994 e 2002.
Esta semana assisti também “Atraiçoado”(Betrayed, EUA, 1954). O filme reúne nomes famosos da velha Hollywood numa historia implausível escrita por Ronald Millar e George Froeschel com direção de Gottfreid Reinhardt:  Clark Gable, Lana Turner, Victor Mature, O.E.Hasse, Louis Calhern, Wilfrid Hyde White e Ian Carmichael. Gable protagoniza um espião aliado durante a 2ª Guerra Mundial que é capturado e convidado a ser contraespião, ou seja, passa a trabalhar para os alemães. Ele consegue fugir graças a ação  de resistentes holandeses chefiados pelo líder Cachecol (Mature). Mas, investigações sobre espionagem levam-no a uma viúva (Turner) e, fatalmente, a um romance. Enredo absurdo que não traz chance ao elenco. E sabe-se que todos estavam em fim de carreira. Mesmo assim Clark Gable ainda atuaria em 9 filmes (faleceu em 1961), mas todos medíocres.


sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

FROZEN- UMA AVENTURA CONGELANTE


As personagens de "Frozen". 
 A nova animação dos estúdios Disney procura seguir a tradição dessa companhia baseia-se em um conto de fadas, “A Rainha da Neve”, escrito pelo dinamarques Hans Christian Andersen (1805-1875) a exemplo de outros já tratados pela empresa como Charles Perrault e os irmãos Grimm, entre outros autores, evidenciando princesa(s), príncipe, animais falantes alem de um ou mais malvados. Todos imbuídos de magia suficiente para mudar o cenário nos parâmetros entre o bem e o mal.
O novo filme, “Frozen, Uma Aventura Congelante”(Frozen, 2013), tem direção de Chris Buck e Jennifer Lee com roteiro da última. Seguindo a moda é produzido em 3D com a técnica de geração do traço por computadores. Essa é a primeira “vestimenta” que difere a produção das congêneres antigas como dos clássicos “Branca de Neve” e “Cinderela”. Outra vestimenta é a mudança muitas vezes radical da postura das personagens. Se existe uma rima entre o feitiço caído sobre uma princesa e o “tratamento” dado pelo beijo de amor de um príncipe, a fórmula é subvertida na acepção de que um beijo de amor não quer dizer obrigatoriamente entre gêneros. Também não se afirma que o galã seja sempre o nobre cavalheiro como o que dança com a Gata Borralheira até meia-noite. Saindo do original, ”Frozen” mostra que o amor não segue uma fórmula e o “herói” pode muito bem ser a fantasia de um vilão. Ainda mais: ele ratifica a amizade fraterna a ponto de uma irmã arriscar a vida por outra e nenhuma carregar a imagem de malévola sucumbindo a feitiços.
As qualidades expostas pela nova história ganham uma construção exemplar sob o ponto de vista técnico. Não é tanto o efeito tridimensional, e o filme pode muito bem ser visto em 2D sem perder seu encanto. O que salta adiante de exemplares atuais do gênero produzidos por diversas empresas (e hoje todos os estúdios de Hollywood possuem departamentos de animação) é a conjunção de elementos clássicos, da cenografia à cinegrafia, ou seja, da construção de interiores à iluminação que abrigam muito bem a trama e o que as personagens devam exprimir.
A tradição Disney é, contudo, cumprida na intercessão musical. Desde os primeiros exemplares da animação em longa-metragem, por interposição direta do fundador Walt Disney, os filmes assemelham-se às chamadas operetas, com muitas canções pontuando cenas. “Frozen” está repleto de músicas novas. Os personagens da fantasia – os Troll (pedras falantes) o boneco de neve  Olaf (que ama ser abraçado porque fica “quentinho” e Sven, o alce, harmonizam sequencias com a trilha de Christophe Beck. Há canções interessantes como "Quer brincar na neve?", "Vejo uma porta abrir", "Uma vez na eternidade" e "Livre estou" ("Let it go") que traduzida leva à canção conhecida : "É hora de experimentar / Os meus limites vou testar / A liberdade veio, enfim, para mim".
O problema, nas cópias dubladas, é que elas não só ganham reprodução não tão boas como as letras deixam longe a criatividade imposta por antigos colaboradores brasileiros no setor como Aloysio de Oliveira e Braguinha (as crianças de sessenta anos atrás sabiam de cor as letras das músicas cantadas pelas personagens como Branca de Neve, Cinderela e/ou coadjuvantes) como nas gravações deficientes as tornam inaudíveis. Lembro que o público deixava a sala de projeção onde era exibido um dos desenhos, cantando as canções que ouvia no filme. Presentemente não é possível repetir a façanha, e paradoxalmente com o maior apuro técnico que é usado.
O novo produto Disney é dos melhores dos últimos anos. Pena que a sala onde assisti quebrou a luminosidade do projetor. A dublagem também impõe outro resultado. Mas felizmente o filme consegue superá-las a ponto de poder ser apreciado.


terça-feira, 14 de janeiro de 2014

OS MELHORES FILMES DOS LEITORES 2013



"Amor", de Michael Haneke, foi o melhor filme do ano para os leitores de Panorama


         Os leitores d e Panorama (O Liberal) enviaram suas listas de filmes de 2013. Na contagem dos pontos, a relação final apresenta os 10 melhores que foram 11 porque houve empate entre "Os Miseráveis"  e "Moonrise Kingdom", de  Wes Anderson (19pts). 

Relação Geral

1. Amour, de Michael Haneke – 77 pts
2. Blue Jasmine, de Woody Allen – 45 pts
3. O Mestre, de Paul Thomas Anderson  - 37 pts.
4. Amor Pleno, de Terrence Malick – 33 pts
5. Gravidade, de Alfonso Cuarón – 31 pts
6. Ferrugem e Ossos , de Jacques Audiard  - 27 pts
7. Django Livre, de Quentim Tarantino – 26 pts
8. O Som Ao Redor , de Kleber Mendonça Filho – 24 pts.
9. Ana Karenina, de Joe Wright – 23 pts
10. Os Miseráveis, de Tom Hooper – 19 pts  e
          Moonrise Kingdom, de  Wes Anderson-  19pts.


Listas Individuais

ORLANDO SÉRGIO F. DE CAMPOS

1. Hanami: Cerejeiras em Flor;
2. Amor;
3. O Som ao Redor;
4. No;
5. Amor Pleno
6. A Hora Mais Escura
7. Tetro
8. Alem das Montanhas
10. Django Livre
9. Gravidade

WALESKA  FALCÃO

1 Os Miseráveis
2 Ferrugem e Osso
3 A Espuma dos Dias
4 Anna Karenina
5 Tropicália
6 O voo
7 Blue Jasmine
8  Amor Pleno
9  Depois de Maio
10  Elena

EDYR FALCÃO
1. Ferrugem e Osso
2. Os Miseráveis
3. Blue Jasmine
4. Amor
5. Anna Karenina
6. Gravidade
7. Elena
8. Depois de Maio
9. Amor Pleno
10. Django Livre

ALEX BARATA DA SILVA
1. Amor,
2. O Quadro,
3. Lincoln,
4° O mestre,
5. A Estrangeira,
6ºBlue Jasmine,
7ºFaroeste caboclo,
 8ªAna Karenina,
9. Elena,
10. Depois de maio

ALESSANDRO BAIA
1. Antes da MeiaNoite, de Richard Linklater
2. O Som ao Redor, de Kléber Mendonça Filho
3.  Amor, de Michael Haneke
4.  Gravidade, de Alfonso Cuarón
5.  Amor Pleno, de Terrence Malick
6.  Elena, de Pietra Costa
7.  Frances Ha, de Noah Baumbach
8.  Blue Jasmine, de Woody Allen
9.  Tabu, de Miguel Gomes
10.  O Mestre, de Paul Thomas Anderson

NELSON JOHNSTON
1.  O Mestre
 2.  Moonrise Kingdom
3 – Amor
 4.  Django Livre
5.  Blue Jasmine
6.  Capitão Phillips
7.  The Bling Ring.  A Gangue De Hollywood
8.  O Grande Gatsby
9.  Gravidade
10.  Frances Ha.

JEISON TEXICAN C. GUIMARÃES
1.  O Mestre
2.  Blue Jasmine
3.  Django Livre
4.  O Grande Gatsby
5.  Moonrise Kingdom
 6.  Gravidade
7.  The Bling Ring.  A Gangue De Hollywood
8.  O Hobbit.  A Desolação De Smaug
9.  Minha Mãe É Uma Peça
10.  Jogos Vorazes.  Em Chamas

PAULO PAMPLONA FRAZÃO

1- GRAVIDADE – CUÁRON
2- DJANGO LIVRE – TARANTINO
3 - AMOR PLENO T. MALICK
4- O SOM AO REDOR - K MENDONÇA FILHO
5- AMOR - M . HANEKE
6 - PIETÁ - KIM KI DUK
7- CAMILE CLAUDEL 1915 - B. DUMONT –
8. EM TRANSE – Danny Boyle
 9 - A CAÇA - VITENBERG
10 - BLUE JASMINE - W ALLEN

EDNA MARIA DO COUTO ASSIS

1.   Amor
2.   Blue Jasmine
3.   Os Suspeitos
4.   Ana Karenina
5.   O Quadro
6.   Nono Dia
7.   Album de Familia
8.   A Familia do Bagulho
9.   Lincoln
10.A Negociação

ARTHUR DOS REIS COSTA
1-Blue Jasmine
2-Amor
3-Amor Pleno
4-No
5-A Hora Mais Escura
6-O Vôo
7-Moonrise Kingdom
8- E Se Vivessemos Todos Juntos...
9- Depois de Lucia
10-Flores Raras

JOÃO HENRIQUE DA SILVA SOUZA
1-Amor
2-O  Mestre
3-Ferrugem e Osso
4-Os Suspeitos
5-Capitão Philips
6-O Apartamento
7-Hana Bi Cerejeiras em Flor
8-O Nono Dia
9-O Video de Benny
10-O Lado Bom da Vida