Meryl Streep em "Album de Familia". Desempenho magistral.
"August: Osage County" é uma darkly comedic ou dark
comedy (uma comédia que usa
humor negro) peça escrita em 2007 por Tracy Letts, 48, que recebeu o premio
Pulitzer, na categoria drama, em 2008. A peça foi transcriada para o cinema com
o título “Album de Família” (EUA, 2013), dirigida por John Wells. A
protagonização principal é de Violet (Meryl Streep) uma mulher portadora de
cancer na boa, em fase quase terminal, que faz quimioterapia e, no momento da
ação, ao tempo em que usa drogas analgésicas, sofre as alterações da medicação:
queda de cabelo e por isso usa peruca e alterações de humor. Na primeira
sequência vê-se seu marido (Sam Shepard) maldizendo-se da vida de casado,
anunciando que prefere morrer, apresenta, na ocasião, uma cuidadora que ficará
com a esposa. E logo chegam as filhas de Violet: Barbara (Julia Roberts), Ivy
(Juliane Nicholson) e Karen (Juliette Lewis). Começa um drama tenso onde/quando
essas pessoas ligadas por laços sanguíneos expõem suas mágoas e tensões a se
juntar ao comportamento da mãe e de seus próprios envolvimentos afetivos.
O roteiro da própria autora da peça não foge do original de
teatro. Mas não deixa que isso retire o cinema como resultado. Basta citar dois
detalhes: os closes que revelam os comportamentos acima das falas, como gestual
e máscaras, e os planos abertos da região onde se encontram as personagens. O
deserto visto quase sempre de dia, sublinhando a aridez dos sentimentos
focalizados através de imagens onde se vê belissimos recortes de um dia
esplendoroso e/ou fotos escuras onde o céu caminha para as chuvas e os
temporais – alusão ao íntimo dos tipos.
Meryl Streep já é uma espécie de logotipo do Oscar. Deve
estar disputando o prêmio outra vez, em fevereiro (já está no Globo de Ouro). E
Julia Roberts também exprime sua capacidade interpretativa (é candidata ao
Globo de coadjuvante). Curioso é que o filme está concorrendo em janeiro
(Globos de Ouro) como comédia. Tudo bem que as falas muitas vezes incitem o
riso. Mas não é um riso de satisfação: é nervoso, revelando as tensões até
então contidas numa familia que se apresenta em dada situação mórbida, mas a
emergência é para verdades secretas e/ou emoções presumidas de sentimentos
hostis, culpas, rancores. Aliás,
o texto lembra muito Tenessee Williams(e o nosso Nelson
Rodrigues). Chega a revelar, em meio aos desabafos, velhos problemas como a
infidelidade do chefe de família suicida e o fruto disso, entrando em cena como
um parente distante.
Embora o programa tenha uma longa duração (mais de 2 horas e
meia) não creio que isso vá retirar a emoção do enredo. O espectador recebe
muitas informações negativas dos tipos focalizados, podendo achar exagerado
todos serem do jeito que aparecem ou desabafem as características negativas em
um só momento. Há como uma apoteose de magoas, e isso deixa certa estranheza,
ou seja, o que mais dá ênfase ao original de teatro. Trata-se, contudo, da
síntese de cenas e queixas marcantes de toda uma vida dessa família que só
nesse momento se reúne e deixa emergir seus rancores. Por outro lado, os
enquadramentos ajudam a fortalecer a métrica de cinema, pois, no palco não é
possível definir – pela distancia que ficam os atores da platéia – certas
nuances de expressões.
Um elenco de gente capaz fortalece “Album de Familia”, um
título, alías, muito feliz dado ao filme aqui no Brasil (e isso é raro). É um
álbum que se difere radicalmente do exemplar que Violet abre em certo momento
para recordar seu casamento e amenizar as dores físicas e morais, mostra as
imagens vivas do tratamento que foi palmilhado pela mãe e filhas. Nesse ponto,
a peça/filme indica que as pessoas procuram se refugiar em lembranças quando a
realidade é demasiadamente cruel. Também se destaca a síntese de certas
situações como o barco sem passageiro no rio visto em penumbra.
Creio que se trata do último bom filme do ano de 2013. Nada
que pudesse ter mudado a minha relação de melhores, mas, certamente, um título
a figurar entre os raros programas interessantes exibidos comercialmente em
Belém no ano passado, segiundo-se ainda em cartaz este ano.
O desempenho de Meryl Streep é magistral, embora esse
protagonismo lhe deixe uma imagem de mulher cruel. Vejo um páreo intenso com a
figura de Cate Blanchett em “Blue Jasmine”.
Não vi, mas deve de fato ser um bom filme, a julgar por sua pertinente análise. De fato, sentimentos e emoções mal manejados em família têm consequências profundas. Gostei muito de ler essa crítica.
ResponderExcluirLuzia alguns amigos que viram o filme, compararam o filme as telenovelas do Manoel Carlos que tem nos dramas familiares um dos pilares de suas histórias
ResponderExcluir