quarta-feira, 8 de janeiro de 2014

WALTER MITY E AS 8 VIDAS


Ben Stiller é o homem de oito vidas como Walter Mitty

A historia de Walter Mitty, o jovem timido e sonhador, foi criada por James Thurber, em 1946. Em 1947 foi base de um filme interpretado pelo ator norte-americano Danny Kaye (1913-1987), cujo título no Brasil foi “O Homem de 8 Vidas”(o original sempre foi “The Private Life of Walter Mitty”). Produzido por Samuel Goldwin e dirigido por Norman Z.MacLeod, o longa metragem foi um sucesso a se filiar a outros em que o veterano Kaye atuou para esse produtor. Desde esse tempo, o personagem vem ativando a idéia de ser reaproveitado. Pensou-se em Owen Wilson, em Jim Carrey e outros tantos nomes ligados à comédia. Mas só agora, com Ben Stiller, o projeto vingou, com ele atuando e dirigindo um roteiro escrito por Steve Conrad.
‘”A Vida Secreta de Walter Mitty”(EUA, 2013) chega aos cinemas no final do ano com esperança de lucro à maneira dos blockbuster. O tipo é o mesmo, modesto, medroso, sonhador, que se refugia no que imagina, incorporando uma figura de herói. No enredo, ele é responsável pelo departamento de arquivo e revelação de fotografias da tradicional revista Life. Certo dia, no momento em que há mudanças em todas as sessões da revista, é encarregado de apresentar uma proposta de capa ao editor e ao receber um pacote com os negativos do importante fotógrafo Sean O'Connell (Sean Penn), percebe a ausencia da foto que deveria ser escolhida para essa última edição. Com o apoio de Cheryl (Kristen Wiig) a quem dedica uma grande afeição, entra em uma verdadeira aventura na busca da fotografia perdida. Lança-se então numa longa jornada até o Himalaia, viajando de helicóptero, avião, navio, fazendo escaladas, enfim vivendo uma aventura que desafiava a sua capacidade de imaginar em sonho. Esses recortes são evidenciados numa sequencia só, no filme, sem solução de continuidade, como se fosse uma ação muito natural. Além da peripécia há o romance a ser efetivado com a jovem viúva não enfrentando a situação por extrema timidez.
O filme, logicamente, não segue a narrativa da versão anterior que deu a Dany Kaye a possibilidade de usar sua maneira de protagonismo, com evidências de que na verdade se transformava em uma figura quase mágica circulando as sessões de aventuras mais na linha onírica. Na versão atual, a pontuação é desconexa porque há uma outra forma de explorar a figura de Mitty num ponto nodal da situação atual de mudanças no sistema econômico norte-americano. A valorização do lucro se descortina como um eixo objetivo da circulação de mercadorias e a revista Life, enquanto produto comercializável, devido a estar perdendo clientela terá que enfrentar as mudanças em todos os níveis quer de pessoal, de formato, de inserção de novas tecnologias para sobreviver. No filme são mostradas as grandes salas com um número significativo de funcionários que o novo proprietário terá que adequar ao pretendido lucro da empresa, “enxugando” o que puder desse pessoal. Essa visão de “descarte” é avaliada por Mitty quando ele demonstra o que reconhece da exclusão dos funcionários mais antigos e que fizeram a revista ser o que ela é naquele momento. Ben Stiller não é Dany Kaye e nem a situação que vivencia leva-o a esse patamar de expressão corporal. Usa uma “face de pedra” à maneira de Buster Keaton. Mas no seu caso, a inexpressividade faz parte da situação que está vivendo. Muitas pessoas e cinéfilos não gostam da atuação dele, mas na verdade ele se apresenta sempre como um suporte da comédia com essa máscara. E nesse filme, então, creio que se adequa ao papel.

O filme não empolgou quem esperava um Walter Mitty bem ligado ao que concebeu seu autor literário. O que poderia ser uma comédia domestica, com os desencontros de um personagem marcado por seu temperamento, se transforma em um complexo de aventura com direito aos efeitos digitais em moda. Mas na verdade, o “outro lado” da comédia que entoa a crítica ao atual sistema de exclusão dos trabalhadores do mercado supostamente “livre” se torna o leit motiv do desempenho de Stiller. É dificil um cinéfilo que tem uma visão diferente de uma nova versão de um personagem já conhecido aceitar o novo. No meu caso, não “morro de amores” por “O Homem de 8 Vidas” de Dany Kaye. Fico com a crítica social, embora o filme não seja “essas coisas”. 

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