Leonardo DiCaprio, "O Lobo..." em grande desempenho.
Indicado
na categoria comédia na 71ª edição do Globo de Ouro da Hollywood Foreign Press Association, isto
pode surpreender a quem não assistiu ao novo filme de Martin Scorsese, “O Lobo
de Wall Street”(The Wolf of Wall Street, EUA, 2013). Mas o roteiro de Terence
Winter com base no livro autobiográfico do ex-corretor da bolsa de valores de
Nova York Jordan Belford, segue como uma farsa desde as primeiras cenas.
Quando, por exemplo, o personagem que sempre está narrando em off diz que tem
um carro branco, surge primeiro um vermelho, que rapidamente muda de cor. Este
recurso tende a indicar que muito do que será visto não é real, ou não indica
um caminho que denota veracidade. As aventuras de um jovem ambicioso, mas sem
dinheiro que consegue emprego em Wall Street e se torna um ótimo vendedor de
ações, ganha a feição de uma orgia a partir do que Tom Wolfe chamou de “Mestres
do Universo”.
O
mundo do dinheiro seduz Jordan Belfort (Leonardo DiCaprio) desde que chega ao
pregão da bolsa mais respeitada do mundo. Conhecendo um veterano vendedor (curta
aparição, mas extremamente expressivo, de Mathew McConaughey) aprende como se
deve portar na profissão. O problema é que a época é a década de 80 quando uma
depressão semelhante a de 1929 atinge o mercado. E o calouro aprendiz tem que
mudar. Arranja emprego em uma agencia particular em Long Island e passa a
vender muitas ações de firmas modestas, algumas formadas por parentes ou amigos
de forma artesanal. Inicia uma empresa concorrente a Wall Street associado a
Donnie (Jonah Hill) e a outros velhos amigos criando a Stratton Oakmont com
muitos empregados e valendo-se de artimanhas ilegais. Casado há tempos, se divorcia
quando encontra a sedutora Naomi (Margot Robie). A esta altura já é um
bilionário esbanjador mostrando a cor do dinheiro nos vários bens que adquire.
O cenário do escritório
criado por Martin Scorcese é de uma fantástica fábrica de dinheiro e onde circulam
strippers, bichos dançando ao som de
fanfarras, mesclado de corpos nus nas poses mais sensuais possíveis criando-se cenas
de bacanais que parecem não acabar nunca. Essas figuras que a cada bilhão ganho
festejam as vitórias ao som de charangas parecem emblemáticas naquele local de
negócios. Mas o que subjaz é a crítica à fugacidade daquele mundo marcado de
mentiras, embora a realidade do dinheiro em cédulas figure nas caixas
abarrotadas que não têm mais lugar aonde guardar.
É o formato especulativo
de uma Wall Street com toda a vulnerabilidade mantida em tom de comédia
testando a cada momento os limites da realidade daquele grupo que não tem
descanso, mantido ao som do tilintar da campainha dos telefones para negociar e
ou captar ações aos gritos e bordões aprendidos de seu “mestre” e que já se
tornam parte de seu cotidiano. E/ou pelo filtro das drogas estimulantes que
passam a gerir aquele mundo que criou. Um Deus como Belfort tem que ser seguido
e imitado – como mostra Scorcese em cada momento em que a turba burocrática consegue
ganhos do mercado e/ ou novos compradores sejam incluidos nos negócios. Das
gravatas e smokings ao corpo nu naquele cenário ficcionado supostamente
ficticio, mas necessitando ser visto como verossimil, tudo demonstra a força do
dinheiro extraido de pequenos investidores que sequer sabem o que estão
representando no ganhar/esbajar fortunas. A avidez é a arma que manipula o
caráter daqueles homens que deixam de viver a vida do cotidiano (nem sabem por
onde andam suas esposas e filhos ou se têm familia) para se tornarem adeptos de
uma nova divindade – o dinheiro que entra em suas contas bancárias e/ou que se
derrama sobre eles (há cenas que repercutem esse sentido).
A
linguagem que Scorsese usa tem uma dinâmica assutadora. Enfatiza a eterna festa
das figuras ligadas ao mundo ilícito de negócios, usando de todos os recursos
para dimensionar a devassidão ambiente. É assim que se vê sequencias de
tonalidades fortes (mais o vermelho), de planos próximos em montagem rápida, de
tipos que ilustram a orgia, como prostitutas que servem aos corretores muitas
vezes dentro do salão onde trabalham.
O
filme é longo (3 horas), mas não gratuitamente. A ação é constante e seria
impossível manter o clima sem o desempenho de Leonardo DiCaprio, presente em
quase todos os planos. O ator nunca esteve melhor. Produz um esforço enorme no
papel-titulo, ou seja, no de Jordan cognominado “O Lobo”.
Candidato
a 5 Oscar (filme, diretor, ator, ator coadjuvante e roteiro adaptado) tem sua
qualificação para tal premiação. Merece. Mas DiCaprio tem concorrentes sérios nesse
evento, como Mathew McConaughey (em “Clube de Compra Dallas”) que merecia
figurar como coadjuvante neste trabalho de Scorsese.
excelente filme contem spolier: A trama d eum cara com grande capacidade de venda de qualquer produto mas que usa esse seu dom para agir de maneira escusa é muioto bem retratada ,a redenção do Jordan Belfort e a sua capacidade de se torna uma especie de personal que ensina tecnicas de venda é mostrada na cena final do filme, quando ele repete a frase dita no meio do filme " Me venda essa caneta", será que sabemos vender caneta?
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