Werner Herzog e Pedro Veriano no período em que esse diretor esteve em Belém.
Werner Herzog, nascido Werner H. Stipetic é um cineasta
alemão de 72 anos conhecido dos paraenses não só por seus filmes, descobertos
em 1970 pela ação do Cine Clube APCC, em memoráveis sessões na sede da AABB e
auditório da antiga Faculdade de Odontologia, filmes veiculados pelo Instituto
Goethe. Ficou conhecido em Belém quando esteve em busca de locações e ajuda a
produção do filme “Fitzcarraldo”(1982) no inicio dos anos 80 (embora nos
créditos do filme naõ trate sequer de Manaus onde teve grande ajuda). Hoje os
documentários desse diretor estão circulando nas capitais brasileiras através
do mesmo instituto. No cinema Olympia pode-se assistir, a partir de amanhã
(31/01) aos títulos: “Herzog, Retrato de um Diretor”(1986), “Balada de um
Pequeno Soldado”(1984), ”Ecos de um Império Sombrio”(1990), “Lições da
Escuridão”(1992), “Fata Morgana”(1971 ) e “O Pequeno Dieter Precisa
Voar”(1997). Do grupo só “Fata Morgana” chegou a ser exibido em Belém.
Os documentários de Herzog são corajosos no modo como ele
enfrenta dificuldades para realizá-los, adentrando por lugares de difícil
acesso, a avaliar, por exemplo, a profusão de informações que consegue captar.
Mas nada melhor do que ele mesmo para julgar seus trabalhos e isto se faz no
primeiro filme do programa, uma espécie de confissão do realizador falando
diretamente para a câmera (no caso, a plateia).
Mas Herzog é conhecido por aqui também por ter visitado a cidade.
Primeiramente no perído em que planejava filmar “Fitzcarraldo”(1982), o seu
trabalho mais dispendioso e ousado. O roteiro (sempre é ele quem escreve) trata
da situação de um rico empreededor (Klaus Kinski vivendo o personagem) que
resolveu montar um teatro na selva amazônica para trazer operas, começando por
contratar o famoso tenor Enrico Caruso (1873-1921). Para a produção, o cineasta
tentou encontrar, na capital paraense, quem doasse roupas de época (século XIX)
para a sequência de estreia do teatro, escolhido para ser o nosso Da Paz. Não
conseguiu seu intento apesar de tentar insistentemente através dos meios de
comunicação e percorrendo entidades que poderiam ajudá-lo. Acabou se deslocando
para Manaus onde, enfim, conseguiu o que queria, filmando no Teatro Amazonas.
O que impressionou em “Fitzcarraldo” – e que ele trata num
dos documentários a ser exibido agora – é a sequencia em que era transportado
um navio através da mata para alcançar o rio por onde iria navegar. Ao invés de
apelar para efeitos especiais, Herzog contratou índios para puxarem o
gigantesco barco pela selva adentro. Vê-se, no documentário, como os homens
cortavam arvores e puxavam o navio com cordas. Uma loucura que dimensionou o
sonho do promotor da opera na selva. Aliás, essas sequências foram questionadas
após a exibição do filme no Brasil, considerando a utilização da mão de obra
indígena (e ele não trata dessa presença, nos créditos do filme).
Um ponto que teve reprecussão no meio cinematográfico foi o
relacionamento de Herzog com o ator Klaus Kinski (1926-1991). Kinski era
conhecido por seu gênio irritadiço, considerado mesmo como um “lunático”. Em
Belém chegou a depedrar seu apartamento no Hilton Hotel. E só Herzog conseguia
tratá-lo a ponto de extrair excelentes desempenhos. No documentário “Meu Melhor
Inimigo”(1999) o diretor lembrou o ator passando do tom critico ao nostálgico,
afirmando uma amizade acima do que ele mesmo chegou a dizer “muitos de meus
cabelos brancos se devem a Kinski”.
Herzog também andou pela nossa região ao realizar “A Cobra
Verde”(1987). Atualmente ele mora nos EUA e já fez cinema comercial como “Vicio
Frenético”(The bad Liitenant, 2009) roteiro de William Finkelstein com
incursões de 4 outros cineastas inclusive Abel Ferrara. O filme interpretado
por Nicolas Cage e Eva Mendes provou que Herzog sabe dominar qualquer tarefa
sem cair nos estigmas. Embora não deixe de lado a sua paixão pelo documental ou
pelo cinema de autor, afinal ele é um dos nomes da renovação estética do cinema
alemão nos pós-guerra.
No momento esse diretor está em filmagens de “A Rainha do
Deserto” (The Desert Queen) com James Franco, Nicole Kidman e Robert Pattinson.
Certamente é cinema de Hollywood, com o seu toque inconfundível, diga-se. Mas
aos que não conhecem Herzog devem criar sua agenda para assistir aos títulos da
mostra ora em cartaz. Cada filme deve ficar no Olympia ao menos dois dias. Programem-se
para avaliar uma parte da obra de um dos meus diretores preferidos.
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