A estrutura narrativa de “Ninfomaníaca 1ª Parte”(Ninfomanic
I, Dinamarca, 2012) dá-se a partir de uma conversa de um homem solitário e
percebido como intelectual, Seligman (Stelllan Skarsgard), com Joe (Charlotte
Gaisnbourg) mulher que ele encontrou na rua, seriamente espancada. Ele se
parece a um psicólogo, ouvindo e opinando sobre o que ela fala. E passa-se a
acompanhar a odisseia de uma menina que desde cedo “descobriu o seu órgão
sexual” e que aos 15 anos já praticava sexo, a principio por desejar acabar com
a virgindade, depois, apostando com uma amiga de que consegue fazer sexo com o
maior numero de homens numa viagem de trem. O premio é um saquinho de
chocolate.
Joe se define uma ninfomaníaca. O seu ouvinte passa a
comparar suas proezas com coisas que parecem distante. Primeiro é com uma
pescaria usando de isca uma mosca. Mas, de todas as comparações, a que salta
para o terreno da poesia é uma composição de Bach. O ritmo da música entra na
porfia sexual de Joe e praticamente a define.
Ninfomania é um termo derivado das palavras gregas (nymphe/moça) e (mania) "loucura".
Na mitologia grega as ninfas e sátiros eram espíritos da natureza de sexualidade
exacerbada. Na area médica é considerado um vicio, ou um transtorno sexual que
se caracteriza pelo elevado nível de desejo e atividade sexual chegando a causar
prejuízos na vida pessoal.
O filme do cineasta dinamarquês Lars Von Trier (de “Melancolia”)
não é, como a publicidade faz ver, um desfile de coitos. Além de cenas
realmente de sexo, aparentemente explicito, há um quadro de solidão que
sistematiza a psicopatologia alertada pela própria “doente”.
Joe não teve uma boa infância, não teve quem a ajudasse na
adolescência e a quem realmente amasse. O sexo passou a ser uma ginástica sem
prazer. Poucas vezes ela afirmou que sentiu orgasmo. Na maior parte dos
relacionamentos é uma porfia que participa como um desafio orgânico.
Certa vez ela recebe o afeto de um homem casado e este
afirma que pretende deixar a esposa para viver a seu lado. Logo ele surge
afirmando que fez isso. E surge a esposa com 3 filhos dando margem à sequencia
marcante em que a mulher (Uma Thurman excelente) empurra os filhos para diante do
pai e depois os retira bruscamente. Não adianta Joe dizer que não ama o
personagem. E certamente não vai ficar com ele. Mas a mulher sai do quarto com
os meninos sem dar atenção.
O drama de Joe passa por um jogo e eu lembro a frase de
Alfred de Musset “on ne badine pás avec l’amour”(nao se deve brincar com o
amor). O filme define bem a diferença entre amor e sexo. Joe quer sempre ser
amada, mas não encontra essa correspondência nos homens com quem se deita. A
comparação com a música de Bach é um momento alto em termos de criatividade.
Prova de que Von Trier não quis (só) escandalizar. Há conteúdo no desfile de
posições de relacionamento físico.
Como feminista, não é possivel considerar que esse tipo
narrativo do diretor dinamarques não tenha seu acúmulo cultural em situações
que sistematicamente concentraram na mulher as linhas do “despudor” por
comportamentos que a retiram do quadro aceito socialmente de que é
“des-sexualizada”. Se o cinema já tratou tanto desse “estado doentio” da
mulher, de “sentir prazer no sexo”, não conheço filme que trate do outro gênero
sendo acusado de compulsão masculina doentia, a satiríase. Mas, o que emerge quando esse gênero
traduz a sua sexualidade exacerbada é que ele é “macho”, a virilidade esperada
do homem. Não se pode deixar de dizer que Trier assume no filme um estereótipo sobre as mulheres.
Trier é um cineasta irrequieto (para dizer o mínimo). Depois
de um ótimo filme de linguagem acadêmica como “Europa” enredou por experiências
formais que chamou de “Dogma”. Consistia em filmar sem cuidados técnicos, inclusive
com montagem direta. A câmera era geralmente manual e a direção de arte chegou
a escrever no chão (“Dogville”) as casas e ruas por onde se passa a historia.
Para o diretor, cinema deve ser diferente do usual. Longe
das “novas ondas” fazia a sua própria “maré” desimportando-se das plateias.
Isso se exauriu depois de trabalhos que também chegaram a colegas. Agora faz
cinema formalmente tradicional. Mas só na forma. “Ninfomanica” foi realizado
para incomodar e tem uma segunda parte a sair mês próximo por nossos cinemas.
O filme é excelente,, como bem disse um amigo meu, vai ale´m das já famosas cenas de sexo, percebi na personagem Joe, um certo complexo de Electra, ou seja ela nutri pelo pai um certa paixão desde de criança é sua relação com a mãe é conflituosa, dai pode ter surgido a compulsão sexual dela que da titulo ao filme, por não poder ou não querer realiza essa paixão que sente pelo pai, , procure em outros homens essa realização, e de certo modo encontra no Jerome. Outra coisa me chamou atençao a sessão quase lotada para o horário do filme 22;10 e para uma segunda-feira, percebi que muitos ali estavam mais interessados nas tão faladas cenas de sexo, mas isso por lado é bom pois atrai um publico não muito acostumado aos filmes do Lars von Trier e de outros cineastas tidos como diretores de filmes de arte.
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