domingo, 27 de janeiro de 2013

ENCONTRANDO O AMOR


Sam (Jared Gilman) e Suzy (Cara Hayward): em busca de afetos
“Moonrise Kingdom”(EUA, 2012) não mereceu no Brasil uma tradução para o título original. Seria “Mundo da Lua” se acompanharmos esse dito sobre o devaneio, o sonho irrealizável. E, segundo a história do cineasta Wes Anderson e de Roman Coppola (filho de Francis e irmão de Sofia, cineastas famosos), nos anos 60, um garoto escoteiro, Sam (Jared Gilman), foge do acampamento de sua classe na costa da nova Inglaterra e se encontra com Suzy (Cara Hayward) menina da sua idade (a quem conheceu em uma peça teatral) que se sente oprimida em casa e também opta por uma fuga. Os casal sonha o mesmo tema: fugir da opressão dos mais velhos. Ele é órfão, vive com pais adotivos, mas estes até gostam quando sabem de sua fuga. Ela tem irmãos menores, mas todos são controlados rigidamente por pai e mãe, sendo ela considerada “problemática”.
       O roteiro centraliza a ação na jornada do par por uma região bucólica cujo convívio se estrutura em forma de afeto e identificação que os leva a pensar em casamento. E em dado momento encontram quem os case. Se a cerimônia tem valor legal não se sabe ao certo, mas o que interessa é a escapada de um domínio que espelha o absoluto desconhecimento de que os menores pensam e agem, sentem e imaginam como qualquer pessoa.

O diretor Wes Anderson é conhecido pelo seu esmero formal. Seus filmes começam a ser reconhecidos pelo cuidado no enquadramento. Em“Moonrise...” ele exemplifica logo na primeira sequencia criando e evidenciando os elementos que compõem o mundo em que vive Suzy. Um médio plano centraliza os irmãos dela brincando no chão e pelos lados do quadro se vê a sala e a limpeza do ambiente. Depois há um travelling que mostra a casa toda. Vale dizer que não parece ambiente onde moram crianças. Tudo bem arrumado, tudo asséptico, até que a câmera capta a garota entrando na sala com um binóculo postando-se na janela e, através das lentes, vê-se o loval que ela explora ao longe: um acampamento de escoteiros onde deveria estar quem ela procura, Sam. Mas a essa altura ele não está mais na barraca individual que lhe cabe. O chefe do grupo abre a lona de entrada da barraca e vê que está vazia. Sam levou tudo o que precisa para atravessar a região: bússola, roupas para enfrentar o frio, alimentos, água, enfim, o que aprendeu sobre a sobrevivência no mato com os escoteiros.
          O filme é muito simples. Às vezes namora o melodrama como quando dá atenção ao guarda (Bruce Willis) que foi namorado da mãe de Suzy e que tenta compreender a fuga dos menores. Mas nada é desnecessário. Nesse tom de busca pelo garoto desaparecido, o telefonema ao paiadotivo vai criar o impacto sobre os sentimentos que movem os dois lados:enquanto o primeiro reage de forma hostil ao acontecimento, o coordenador dos escoteirose seus comandados têm, na “missão” apenas um fato administrativo. Sam não é amadopor ninguém. Esse o impacto de toda essa sequencia, muito rápida, mas bemconstruída. E que introduz o público à situação da fuga e dá o mote quando os dois adolescentes se encontram.

É interessante como Wes Anderson trabalha dentro da grande indústria cinematográfica sem perder as características de cineasta independente. Se em “Moonrise Kingdown” ele escapa do cerebralismo de obras como “Os Excentricos Tenebaum”(2001), neste aceno aos mais jovens afirma a sua opção por trabalhos como a animação “O Fantástico Sr. Raposo”(2009).
           “Moonrise...”é sempre agradável de ver e demonstra qualidades cinematográficas fáceis de serem percebidas. O enquadramento rigoroso só deixa folga nas sequencias próximo ao final quando cede lugar a um“suspense” pela fuga dos dois heróis durante uma tempestade e passando por telhados das casas. Até aí a aposta no juvenil que, afinal, é o filme no seu mundo da lua.
        
         Grandes nomes no elenco pontuam esse resultado de bons desempenhos como Frances McDormand (atriz de quase todos os filmes dos Irmãos Coen e esposa de Joel) como a mãe de Suzy. Bill Murray protagoniza o pai, e Edward Norton como o chefe do grupo de escoteiros. A presença de Bruce Willis num tipo que difere dos tantos que tem assumido no “faz de conta” policial dá o toque do reencontro de Sam com o afeto, sentimento que ele pouco conhece até encontrar Suzy. Filme imperdível.

 

OS HERÓIS NÃO SE APOSENTAM

Forest Whitaker e o xerife Ray Owens, Arnold Schwarzenegger: "O Último Desafio".
O ator Arnold Schwarzenegger elegeu-se em dois mandatos para o governo da California/EUA. Não prosseguiu carreira política, primeiro devido à limitação do tempo de mandato e também porque havia outro impedimento legal para um novo cargo: jamais seria presidente da república com a nacionalidade austríaca. O cargo para o qual foi eleito tirou-o das telas por cerca de oito anos. E ele era um ícone do filme de ação embora jamais fosse saudado como ator de talento. Certo critico chegou à ironia de que o melhor desempenho de Schwarzenegger teria sido o robô do primeiro “O Exterminador do Futuro”. Hoje, voltando ao trabalho adiante das câmeras, Arnold é o xerife Ray Owens de “O Último Desafio”(The Last Stand\EUA,2013, 107 min.), atuante no pacato município Sommerton JUnction próximo da fronteira dos EUA com o Mexico, onde os crimes são raros a ponto de um assistente dele se queixar de que até então seu serviço foi tirar um gato do muro de uma casa. Ray curte uma pré-aposentadoria quando a cidade passa a figurar na rota de fuga de um poderoso traficante que foge rumo ao território mexicano, quando estava sendo conduzido, pelos agentes do FBI, para o “corredor da morte”.

O filme dirigido pelo coreano Jee-woon Kin de um roteiro de Andrew Knauer, Jeffrey Nashmanov e George Nolfi com base numa história de Knauer praticamente se resume na fuga do vilão – ou na sua passagem pela cidade pacata que no momento em foco tem a população concentrada numa celebração cívica, em uma cidade próxima.
        Gabriel Cortez (Eduardo Noriega), o traficante, corta a região deserta num automóvel que desenvolve 300 km por hora. Fugindo sempre graças a um bem armado esquema de apoio, ele se dirige ao Méxicode forma a atravessar Sommerton. Os bandidos que o precedem já estão no lugar,começando um banho de sangue quando matam um fazendeiro (Harry Dean Stanton, numa ponta),que maneja um trator. A expectativa é a espera do fugitivo, e o xerife é alertado pelo FBI na pessoa do agente John Bannister (Forrest Whitaker) para quebloqueie o caminho do condenado. Uma tarefa difícil que envolve funcionáriosamigos e de inicio mata o mais novo deles, Jerry Bailey (Zach Gilford).
        
         Na cadeia da cidade está Frank Martino (Rodrigo Santoro) um desordeiro que no fim das contas é convocado para ajudar na luta contra o inimigo astuto e cruel. É um papel importante do atorbrasileiro – e pode-se dizer que o cumpre de forma aceitável dentro do que se pede no “script”.

Mas “O Último Desafio” está sendo visto como “a volta do veterano Schwarzenegger”. Em um momento, quando lhe perguntam como se sente depois de uma refrega ele diz:“velho”(old man). De fato, a fisionomia do interprete demonstra o tempo passado desde a sua fase áurea de mocinho invencível. As rugas denunciam o tempo, mas o enredo privilegia os anciões. Além da luta surrealista em que se mete o xerife,brigando com gente muito mais nova, com uma bala na perna, há um momento em queuma mulher muito idosa, dona de uma loja, pega um rifle e atira num capanga do grupo bandido. Este e outros momentos geram uma comicidade que tira o filme do modelo usado tantas vezes no gênero inclusive nos encenados por Arnold.
         Há uma idéia que emerge dessa trama: a diferença de ação entre os “engomadinhos” do FBI que planejam a recaptura do bandido nos escritórios refrigerados, e os guardas que estão na ativa e têm suas estratégias melhor posicionadas e chegam ao happy-end. Outra idéia é a orgia de armas que envolve (bem lembrado por Rubem Ewald Filho) com a resposta ao riso do público, num tempo em que os massacres são tão presentes nos EUA e o país se acha em campanhas pelo controle de armas.
       
        A direção do filme se mostra sempre atenta ao que é feito para vender o produto. Muitas corridas de carros, muito tiroteio, muitos confrontos diretos (socos e chutes), há o bastante para divertir. E é isso que o filme objetiva. Não se queira ver mais nada além. O antigo “exterminador” é o próprio xerife saindo da modorra com um aceno a seu passado de super-herói. Uma peça de nostalgia.

DJANGO DE TARANTINO


 


Christopher Waltz e Jamie Foxx em desempenho magistral: Django Livre.
 
Creio que poucos cinéfilos de hoje assistiram a “Django” (Itália, 1966) de Sergio Corbucci (1926-1990). Na época, o filme não foi bem recebido pela critica como, aliás, todos os faroestes europeus (realizados na Itália ou na Alemanha), exceção dos dirigidos por Sergio Leone – “Por um Punhado de Dolares”(1964), “Por Uns Dólares a Mais” (1965) – filmes que revelaram o talento de Clint Eastwood, ainda desconhecido em sua pátria. Hoje o leitor pode consultar o site imdb.us e acessar o link “external reviews” procurando “Rotten Tomatoes”, balanço da critica norte-americana e observar os elogios datados da década que atravessamos. A revelação de Corbucci passa pelo trabalho atual de Quentin Tarantino “Django Livre” (Django Unchaned/EUA, 2012) ora vencedor de 2 Globos de Ouro e candidato a 5 Oscar (mas este diretor diz ser fã, também, de Tonino Valerii, Sergio Sollima e Giuseppe Vari).

Os chamados pejorativamente “western spaghetti” caracterizavam-se pela busca de um realismo no cenário dos filmes de cowboys vendidos anos a fio por Hollywood. Surgiam personagens vestidos de capas escuras e longas, chapéus de abas largas, pouco afeitos à limpeza (ou glamour) e, no andar e fazer cercados de silencio, apenas cortados pela música geralmente composta pelo argentino Luis Bacalov (136 filmes no currículo). Essas características foram levadas por Tarantino a seu “Django Livre” como uma forma de homenagem ao subgênero que ele admirava desde jovem (assim como seu colega Sam Peckinpah (1925-1984).

O cineasta hoje cultuado pela juventude e critica mostra, neste seu 17º filme, um perfeito domínio da linguagem cinematográfica mais ousada, narrando de forma linear, mas objetiva e rica, o drama de um escravo, o Django do titulo (em excelene interpretação de Jamie Foxx) que busca a esposa, Broomhilda (Kerry Washington) na fazenda de um milionário, Calvin Candie (Leonardo di Caprio) onde sofre torturas por tentar fugir do cativeiro. A busca so acontece porque Django encontra apoio no alemão King Schulyz (Christopher Waltz, extraordinário) dentista que ora se limita a ser caçador de recompensas, matando bandidos que a policia persegue. King liberta o escravo Django e os dois saem à caça de diversos perseguidos aproveitando para justiçar os cruéis escravagistas.
     A violência que o diretor de “Cães de Aluguel” sempre gosta de exibir não falta no seu primeiro western. Mas como aconteceu em “Bastardos Inglórios”(2009), seu trabalho anterior, esta violência se transforma em ação de “vendetta”, um temaque Tarantino persegue por ser uma reação contra perversidades. Interessante o que ele diz sobre isso ao ser questionado em uma entrevista que deu à revista BRAVO!:“A vingança é a matéria-prima da narrativa de gênero – romances baratos, tragédias gregas, dramas shakespearianos... Ver um personagem superar seus opressores é uma das emoções mais profundas que se pode ter num cinema. Quem não quer ver um escravo vingando-se do senhor malvado ou do capataz? (...)”

No filme anterior ambientado na 2ª Guerra Mundial a revanche dos oprimidos pelo nazismo ganha até mesmo uma licença cômico-dramática quando se vê Hitler e seus assessores imediatos explodirem explicitamente dentro de um cinema que exibe um filme alemão. Voltado ao velho oeste norte-americano, o objetivo da vingança é contra a ação dos escravagistas que são impiedosos para com os negros comprados em mercados específicos. Nesse tempo e espaço (Texas pouco antes da Guerra Civil), observa-se, por exemplo, um negro ser dilacerado por cães a mando do seu dono. O bastante para que o público queira ver o castigo ao malvado. Mas o castigo maior espera-se contra um outro negro, um bajulador empregado da fazenda de Calvin, o veterano Stephen (Samuel L. Jackson) que delata o plano da dupla Django & King para libertar Broomhilda. A este se pede mais do que uma bala, e este pedido da plateia é satisfeito num final literalmente explosivo e bem colocado como uma superexposição da “mecânica”do western, ou seja, do mocinho derrubando o bandido.
       O tratamento ao tema da escravidão, nas mãos de Tarantino não está somente nessa ação de vingança pelo que se arvora chamar de violência. O ímpeto é mostrar de que forma os brancos norte-americanos impunham sua política racista e esta ideologia introjetava-se nos próprios negros. Esse é um dos trunfos do diretor, usando um gênero de cinema e inovando a dinâmica com sua maneira de narrar.
 
      Gostei muito do filme e é provável que volte a tratar dele. Há muito mais a dizer e eu nunca fui tiete de Tarantino. “Django” mudou a minha opinião.


segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

OS MELHORES FILMES DOS LEITORES


"A Invenção de Hugo Cabret" recebeu 100 pts. dos leitores da coluna. Foi o melhor.



Panorama publica hoje, a lista geral e a individual dos melhores filmes de 2012 enviada por alguns leitores da coluna, com as redes sociais popularizando a informação. Num tempo em que a internet se mostrou ao mesmo tempo um elo de aproximação com as pessoas, deixou a desejar uma prática interessante que eram as cartinhas que este espaço recebia de seus leitores e leitoras. Hoje, os “posts” das redes sociais resumem tanto a proximidade que dá para pensar no fenômeno mais afetivo das cartas. Mas o avanço é para ficar, não há retorno nessa emblemática modernidade que aproxima e algumas vezes desidentifica os que nos leem.
Este ano, 14 leitores, alguns já cativos deste espaço, enviaram suas listas. Na oportunidade, agradeço a persistência em manterem a tradição de Panorama que há mais de 30 anos está na midia e com esta promoção no O Liberal.

LISTA GERAL – MELHORES 2012

1. A Invenção de Hugo Cabret –          100 pts.
2. O Artista  -                                    72 pts
3. A Separação -                               53 pts.
4. 4º Precisamos falar sobre Kevin –  41 pts.
5. As Aventuras de Pi -                   33 pts.
6. O Impossível -                           29 pts.
7. Gonzaga, de Pai para Filho -       28 pts.
8. Shame -                                  27 pts.
9. Drive -                                   24 pts.
10. Violeta Vai para o Céu -          23 pts.

LISTAS INDIVIDUAIS

Alex Barata  Da Silva
1º O Artista
2º A Separação
3º As Aventuras de PI
4º Precisamos falar sobre Kevin
5ºParaiso Artificiais
6º Um conto Chinês
7º Rock Brasilia
8ºShame
9º O espião que sabia demais
10º Eu receberia as piores noticias de seus lindo lábios


Alessandro Baia
1 - A Invenção de Hugo Cabret
2 - Fausto
3 - Precisamos Falar Sobre Kevin
4 - Drive
5 - Intocáveis
6 - Procura-se Um Amigo Para o Fim do Mundo
7 - Pina
8 - Eu Receberia as Piores Notícias de Seus Lindos Lábios
9 - Shame
10 - Transeunte

Francisca Valeska Brito Falcão

1 – Violeta Vai para o Céu
2 - Millenium - Os Homens que não amavam as Mulheres
3 -Cosmópolis
4- Drive
5 - A Dama de Ferro
6 - A Invenção de Hugo Cabret
7 - Um Método Perigoso
8 - Tomboy
9 - Batman, O Cavaleiro das Trevas Ressurge
10 - Shame

Edyr Falcão
1- Cosmópolis
2- Violeta Vai para o Céu
3- Precisamos Falar Sobre Kevin
4- A Invenção de Hugo Cabret
5- Para Roma, com Amor
6- Um Método Perigoso
7- Drive
8- Millenium-Os Homens que não amavam as Mulheres
9- Tomboy
10 - Gonzaga, De Pai Pra Filho

Nelson Alexandre Johnston
1 - A Invenção De Hugo Cabret;
2 - Shame;
3 - Sete Dias Com Marilyn;
4 - As Aventuras De Pi;
5 - Drive;
6 - O Artista;
7 - Gonzaga - De Pai Pra Filho;
8 -O Impossível;
9 - Pina;
10 - Febre Do Rato.

Jeison Texican Castro Guimarães
1 - Batman, O Cavaleiro Das Trevas Ressurge;
2 - O Hobbit;
3 - O Impossível;
4 - A Invenção De Hugo Cabret;
5 - Gonzaga - De Pai Pra Filho;
6 - A Dama De Ferro;
7- Sete Dias Com Marilyn;
8 - Um Método Perigoso;
9 - 007 - Skyfall;
10 - Millenium, Os Homens Que Não Amavam As Mulheres;

Orlando Sérgio Falcão De Campos.

1. Um Conto Chinês
2. A Separação
3. O Garoto da Bicicleta
4. O Artista
5. Precisamos falar sobre Kevin
6. Intocáveis
7. A invenção de Hugo Cabret
8. J. Edgar
9. Shame
10. Para Roma, com Amor

Ricardo Secco

1. A separação
2. A invenção de Hugo Cabret
3. Pina
4. O artista
5. Xingu
6. A dama de ferro
7. Gonzaga, de pai para filho
8. Frankenweenie

Paulo Pamplona Frazão

1-Shame
2-A Separação
3- Deus Da Carnificina
4- O Impossível
5- *As Vantagens De Ser Invisível
6- As Aventuras De Pi
7- Os Vingadores
8-0 Hobbit
9-Batman Ressurge
10- Precisamos Falar Sobre Kevin

João Antonio Trindade

1-A Invenção De Hugo Cabret
2- O Artista
3-Looper, Assassino Do Futuro
4-A Separação
5-O Impossível
6-As Aventuras De Pi
7-Violeta Vai Para O Céu
8- Batman
9-Precisamos Falar Sobre Kevin
10- O garoto da Bicicleta

Affonso Marques

1-A Invenção De Hugo Cabret
2-Precisamos Falar Sobre Kevin
3-O Artista
4- O Garoto Da Bicicleta
5-Intocáveis
6-Jogos Vorazes
7-Tão Forte Tão Perto
8-J. Edgar
9-Pina
10-Cavalo De Ferro

Milena Ferreira Ortiz

1-O Artista
2-Hugo Cabret
3-As Aventuras de Pi
4-Fausto
5-Gonzaga, De Pai Para Filho
6-Xingu
7-Românticos Anonimos
8-À Beira Do Abismo
9-Os Descendentes
10-O Impossível

Carlos Paixão do Amorim

1- A Invenção de Hugo Cabret
2-A Separação
3-O Artista
4- Gonzaga, De Pai Para Filho
5-Para Roma Com Amor
6-Ted
7-O Ditador
8-O Impossível
9-Intocáveis
10-Argo

 Expedito Vieira da Silva
1- Argo
2- A Invenção de Hugo Cabret
3- O Artista
4- Corações Sujos
5- Um Método Perigoso
6- 360
7- A Perseguição
8- Looper, Assassinos Do Futuro
9- Xingu
10- O Impossível

quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

DETONANDO ESTEREÓTIPO


Ralph, o grandalhão e seus amigos "bad boys" dos jogos: vilões? Cumprindo funções no esquema. 

O desenho animado cinematográfico abordou recentemente em “Meu Malvado Favorito”(2010) e “Megamente” (2010), vilões desviados do velho estereotipo, disputando a simpatia das plateias com os seus antigos algozes. É o caso do tipo de Ralph, grandalhão de videogame encarregado de destruir um prédio onde os apostadores tentam resgatar os moradores, pretendendo deixar o posto e até ganhar uma medalha por bons serviços prestados.

A ideia original do filme “Detona Ralph”(Weck it Ralph, EUA,2012), dirigido por Rich Moore de uma história imaginada por ele, Phil Johnston e Jennifer Lee, mostra como o pretenso tipo mau se dedica a mudar de atitude e a trabalhar em diversos outros jogos desde que consiga obter uma medalha por bons serviços,mostrando seu outro lado de sentimentos, ele que passou os últimos 30 anos a quebrar um prédio para que Conserta Tudo Felix Jr., eficientemente reparasse os danos com seu martelo mágico.

Nessa luta para mudar o conceito de seu público Ralph ainda se afeiçoa de Vanellope, uma garotinha que de inicio rouba-lhe a ambicionada medalha, mas, ao conhecê-la melhor passa a protegê-la a ponto de torná-la uma campeã de automobilismo, correndo por diversos jogos e retornando à sua antiga posição na comunidade virtual.

Para a garotada que é doutora em videogame o filme é um verdadeiro presente de fim de ano. Para os pais que foram fãs do tipo de brinquedo quando mais novos, o roteiro da nova animação da Disney tem sabor de nostalgia. Mas para quem está mais atrás no tempo é um cenário estranho e causa admiração a nomenclatura utilizada entre bits e etc. e tal. Quando assisti ao filme tive a sorte de ter um neto (Francisco Guzzo Neto) ao meu lado explicando como é que se joga aquele brinquedo em que os pontos dos jogadores são ganhos na medida em que salvam pessoas do edifício detonado pelo grande Ralph. Aqui não interessa “mostrar sapiência” nessa nova mídia porque realmente não cheguei a altura dos expertises atuais.

Primoroso em técnica, usando bem o potencial da 3D, o novo filme acerta em cheio com o seu vilão simpático usando de todos os recursos para ser um verdadeiro guerreiro naquilo que busca: o reconhecimento de que ele não tem somente um lado de emoções, mas pode ser ou estar num outro feitio, bastando para isso mostrar seu talento. O tipo tende a estar na linha do ET de “Megamente” e não precisa fazer cara feia como o“Malvado Favorito”. A imagem é de um obeso bonachão, dono de um coração mole quando enfrenta a garotinha esperta que sabe o que quer e luta por isso.

O tema não escorre para a armadilha que será o malvado “virar” bonzinho e ganhar essa máscara pura e simplesmente. Ralph vai voltar a detonar prédio. É o seu oficio, e como profissional sabe que fazer as regras de um jogo não quer dizer que seja um bandido. Como “ator” ele sabe que pode ser guinado a qualquer papel. Basta consultar a historia do cinema e ver, por exemplo, Charles Laughton incorporar um dos bons personagens de Nero da tela como ser o terno Quasímodo, o corcunda que mora na igreja de Notre Dame. E até Boris Karloff, famoso pelos seus filmes de terror a começar com o clássico Frankenstein de James Whale, interpretando o defensor de uma plateia ameaçada por um adolescente que pretendia atirar em quem estivesse num cinema drive-in no muito bom “Na Mira da Morte”(Targets,1968) de Peter Bogdanovich.

“Detona Ralph” está entre os concorrentes de seu gênero no próximo Oscar. Não competiu no Globo de Ouro, mas o concorrente que o ameaça é o vencedor do premio conferido no ultimo domingo:“Valente” da PIXAR. Os dois enaltecem a animação moderna.

MELHORES DOS LEITORES

Na próxima segunda feira serão publicadas as listas dos leitores de Panorama que participaram desta edição dos melhores filmes do ano que há mais de 30 anos se realiza neste espaço. Se naquele tempo um dos participantes era um dos cinéfilos mais aficionados que conheço - o Eurico Guilherme Veras da Silva, além de outro que se tornou colega da então APCC, Raimundo Bezerra (já falecido), hoje temos no grupo fiel de leitores que envia sua lista e, ao menos um desse tempo– o Ricardo Secco (o Mauricio Borba deixou de mandar) – e outros mais novos como o Edyr Falcão e sua Waleska e o Alessandro Baia. Então, na segunda feira, 21, os vídeos vão dar lugar à lista de filmes dos leitores. 


quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

VIAGEM FORA DE ORDEM


O "mapa" das reencarnações" em "A Viagem".

Não tive acesso ainda ao livro “Could Atlas” (novela escrita em 2004 pelo inglês David Mitchell) que embasou o roteiro de Lana e Andy Wachowsky e Tom Twyker para o filme dirigido por eles, “A Viagem”(Cloud Atlas/EUA, 2012). Assistindo ao filme fiz um grande esforço para deter na memória os personagens de 6 historias que se vê de forma simultânea em diversos tempos e espaços.
A base pode ser qualificada de surrealista. Afinal, na última sequencia, um idoso mostra à neta o planeta Terra no céu estrelado. Obviamente eles estariam num outro mundo. Mas um mundo suficientemente próximo para se observar o nosso mundo como “uma estrela azul”. Não importa: em nenhum momento das histórias se exibe uma migração planetária. Sabe-se do diário escrito em 1849 em um veleiro navegando pelo Pacifico, das cartas de um compositor para seu amigo, de um assassino em uma usina nuclear, de um editor levado pelo irmão a um asilo (e que tenta de todas as maneiras fugir de lá), de um clone rebelde numa Coréia do futuro, e de uma tribo no Hawai depois do que seria o apocalipse. Essas situações em mescla geográfica e temporal (1849, 1936, 1973, 2012, 2144 e no 106 “pós-apocalipse”) querem dizer que o ser humano vive uma permanente busca de realização, podendo seguir caminhos do bem e do mal e repetindo posturas como reencarnados sucessivamente. Essa a versão que o próprio autor da história confirma: “Literalmente todos os personagens principais, exceto um, são reencarnações da mesma alma em corpos diferentes ao longo do romance identificados por uma marca de nascença ... isso é apenas um símbolo realmente da universalidade da natureza humana. O próprio título "Cloud Atlas", a nuvem refere-se às manifestações em constante mudança do Atlas, que é a natureza humana fixa que é sempre assim e sempre será”.
O texto narrativo é complexo e a colocação num produto de cinema comercial, onde se observam perseguições, explosões, tiroteio, o que possa “animar” uma plateia possivelmente entediada com alusões filosóficas, gera um hibrido importuno. Os Wachowsky tentaram superar o veio criador de sua trilogia “Matrix”. Quiseram ir além da especulação tecnológica e abraçar, como se costuma dizer, o mundo com novas  medidas. Sem dúvida os fãs de “Matrix” irão reconhecer a complexidade da trama.
Tom Twyker, cineasta de “Corra Lola, Corra”(1998) junta-se aos irmãos mas não parece à vontade nessa outra corrida. Nem os atores, alguns protagonizando tipos diversos nas histórias, sugerindo seu retorno após a morte para completar tarefas. Mas nada disso tem a ver explicitamente com o espiritismo, nem alude a religiões orientais que tratam de carma e de reavaliações de vidas sucessivas como forma de revisão moral do ser humano, embora se reconheça no final que essa é a medida. “A Viagem” é extremamente longo e vazado em tramas que inicialmente são confusas no modo como são vistas, seguindo uma narrativa do tipo recortado (short cuts) integrando-se aos poucos ao que pretende explorar como “mensagem”, ou seja, o reconhecimento de que as pessoas se encontram, se afastam e se renovam na medida em que reanimam suas próprias qualidades. É o caso, por exemplo, do velho editor de livros ameaçado e que tem sempre que fugir dessa ameaça. No final reconhece suas deficiências e segue novo comportamento.
Foi um esforço grande reconhecer que as mesclas se alinhavam uma às outras, com certa atenção para não perder o fio condutor do inicio ao fim. Mas o filme tem qualidade haja vista que anima o espectador a esperar o seguimento da emblemática viagem dos personagens que vão se constituindo em novas posturas que de fato sintetizem o que mostra de forma lenta e intervalar. Isso faz com que não se abandone a sessão pelo meio. Um projeto ambicioso que como disse o critico norte americano Roger Ebert necessita-se assistir o filme duas ou três vezes para o entendimento real do que expressa. Na verdade, é isso mesmo. Por mais que eu não tenha esse tempo todo para usar numa revisão do filme, um dia depois de assistí-lo tive dele outra impressão. E lembrei Terence Malick em “A Árvore da Vida” (2011).


terça-feira, 15 de janeiro de 2013

REVER FELLINI


Federico Fellini e os atores Alberto Sordi, Franco Interlenghi, Leopoldo Trieste, Franco Fabrizi, Eleonora Russo de "Os Boas-Vidas"(1953)

Federico Fellini (1920-1993) um dos mais inventivos cineastas do século passado (e um dos meus preferidos) ganha um programa esta semana no Cine Olympia centrado em seus melhores filmes (no olhar de quem fez a seleção). Aliás, do grupo escolhido acho que só faltam: “A Doce Vida” (1960) e “E La Nave Va”(1983). Os demais são, também, obras-primas à disposição dos cinéfilos a partir de hoje: “Os Boas Vidas”(I Vitelloni, 1953), “Oito e Meio”(Otto i Mezzo, 1963), “Roma de Fellini ”(1972), “A Estrada da Vida”(La Strada, 1954), “Noites de Cabiria”(Notti di Cabiria, 1957) e “Amarcord”(1973). As exibições iniciam hoje, terça, e seguem até domingo nessa ordem de exposição.
“Os Boas Vidas” explora os emblemas de “Amarcord”, haja vista que ambos tratam de situações viividas na juventude e mocidade do diretor. O contexto é a cidade de Rimini, ao sul da Itália, nos anos da 2ª Guerra Mundial. No primeiro filme não há um enfoque político evidente. O que se vê é a rotina de rapazes que o autor chamou de “vitelloni” e que realmente quer dizer “desocupados”. Fellini estaria representado pelo personagem Moraldo, interpretado pelo ator Franco Interlenghi (que ainda está no cinema e em 2010 participou do filme “La Bella Societá”, um drama de Gian Paolo Cugno). Em sua figura, Fellini centra algumas indagações das mudanças internas que está vivendo e, no final do filme, é quem parte para Roma. “Amarcord” pode ser Moraldo em Roma, mas como não foi a concretização do projeto chamado “Moraldo in Cittá” ficou uma crônica independente onde tipos pitorescos contam a história da Itália no período. A trilha sonora e canções de Nino Rota dão ênfase a esses tipos e ao quadro histórico brilhantemente reconstituído. É um tempo em que as descobertas adolescentes dos protagonistas se mesclam ao autoritarismo familiar e às idéias em escalada do fascismo.
“8 e Meio” é a síntese da obra felliniana. Acompanha um diretor de cinema que intenta fazer um filme de ficção-cientifica depois de trabalhar ideias que se esgotam. O intelectual em crise passa em revista a sua vida. Fellini pensou: assim como os compositores numeram suas obras ele, em cinema, numeraria a sua. É a sua sinfonia, o oitavo longa-meragem somado a um curta que realizou para compor uma coletânea.
“Roma de Fellini” traduz a versão sobre essa capital que o jovem de Rimini vê quando chega do interior para trabalhar como jornalista. Tipos e fatos em tempos díspares surgem em tom pitoresco, tentando não só um painel histórico, mas captar a alma do povo. Um depoimento sincero que o próprio Fellini mostra atuando.
E chega o meu segundo filme predileto: “La Strada”. Impossivel esquecer Gelsomina (GiuliettaMasina), esposa de Fellini, como a mocinha interiorana que é levada da família pelo saltimbanco Zampanô (Anthony Quinn, excelente) depois que a irmã dela , ajudante desse personagem, havia falecido. A ingenuidade de Gelsomina e a brutalidade de Zampanô entram em choque quando surge na vida deles “Il Matto”, um equilibrista que também se exibe nas ruas. Esse tipo é interpretado por outro grande ator: Richard Basehart(1914-1984). Há uma sequencia que me parece marcante: vendo Gelsomina triste, O Louco (Il Matto) diz à ela que tudo no mundo tem razão de ser que até uma pequena pedra se não existisse poderia gerar uma catástrofe. É uma forma de dar valor à pobre garota que sofre nas mãos de seu patrão, amante e tudo o mais. E Giulietta volta a um tipo semelhante, três anos depois, no também excelente “Noite de Cabiria”. Neste filme ela protagoniza uma prostituta ingênua que se ilude com as promessas de um pretenso namorado. A desilusão final onde a tristeza se dissemina no espírito da jovem é diluída quando um grupo de garotos passa por ela cantando. E ela sai atrás deles. A vida sempre continua.
E assim era Federico Fellini e seu cinema. Saído do movimento neorrealista, onde atuou em roteiros e chegou a estrear na direção ao lado de um dos nomes desse movimento, Alberto Lattuada, em “Mulheres e Luzes” (Lucci Del Varietá, 1950), o “vitelloni” de Rimini esmerou-se na criação de um cinema próprio, a mescla de cruel realidade e sentimentos que relevam os maiores problemas. Sua alma de interiorano de uma cidade italiana marcou o grande mote para uma obra imortal. 

A personagem Saraghina em "Amarcord" (1973). 

segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

VER E EVITAR NO CINEMA CASEIRO




"Xingú" é filme para ver e rever a odisseia dos irmãos Claudio, Orlando e Leonardo Villas-Boas protagonizados por  Felipe Camargo, Caio Blat e João Miguel.

Neste título refiro aos tantos vídeos que assisto, alguns com prazer pelas descobertas, outros pela obrigação da profissão e outros ainda para entender os achados do mercado em circular as cópias. Aprendi que as exclusões deixam as pessoas com certa dúvida sobre alguns programas. Então, por que não assistir o que “bate” na porta? Assim, o título do texto, por mais que possa ser visto como “autoritário” é uma espécie de alerta. Se quiserem  não levem em conta e sigam assistindo a suas próprias escolhas.
Ver certamente um dos bons filmes nacionais do ano passado: “Xingu” de Cao Hamburger. O filme trata da odisseia dos irmãos Claudio, Orlando e Leonardo Villas Boas no contato com índios do Brasil Central (e parte do norte) desde o final dos anos 1950. Filmado em locação exibe um cuidado de produção excelente e desempenhos exemplares de João Miguel (Claudio), Felipe Camargo (Orlando), e Caio Blat (Leonardo). É imperdoável o fato de o filme não ter feito sucesso nos cinemas brasileiros, mas é provável que a transmissão em episódios pela Rede Globo tenha despertado o interesse dos que alugam ou compram DVD. A cópia traz legendas em 3 idiomas.
Evitar “Querido Companheiro”(Darling Companion~EUA, 2012) apesar de ter como diretor Lawrence Kasdan (de “Corpos Ardentes”, “Silverado” e também roteirista) e ter no elenco nomes como Diane Keaton, Kevin Kline e Diane Weist. O roteiro do próprio diretor trata de um casal em fase de estremecimento quando o marido deixa fugir o cachorro que a esposa achou e ama. Ela ameaça só voltar para casa quando o parceiro encontrar o animal e por isso faz com que se organize uma cruzada atrás do cão.
O filme é tão bobo que os próprios fãs do gênero não devem gostar.

Mas para ver, indicam-se muitos clássicos que estão sendo lançados em Bluray. “O Grande Ditador”(1940) de Chaplin, “Ligações Perigosas” (1988) de Stephen Frears, “O Egipcio”(1944) de Michael Curtiz, “A Queda do Império Romano”(1964) e “El Cid” (1961) de Anthony Mann trazem bônus embora bem poucos. Mas a resolução de imagens é excelente, em especial no bom teatro filmado que é “Ligações Perigosas”, onde a direção de arte se esmera em apresentar uma Paris do imediato pré-revoluçao. A revisão deste filme evidencia a pergunta que ficou sempre presa na garganta: qual o motivo de Glenn Close, num desempenho magistral, ter perdido o Oscar para Jodie Foster em “Acusados” (1988). É incompreensível e basta o close final de Glenn tirando a maquilagem e chorando para derrubar concorrentes. Mas não se pode negar que Jonathan Kaplan deu um toque de mestre num assunto que aquela altura ainda não se constituia numa grande revolução social, o estupro de uma jovem, e Jodie Foster também salientou boa performance.
A temporada de DVD está apenas começando. Possivelmente alguns mostram-se com indicações para premiações como “Globo de Ouro” e o Oscar. E penso naqueles que podem sair vencedores entre estes últimos sabendo as celebrações do primeiro que são sempre antes e que nem sempre seguem até à Academia de Hollywood.
Da relação dos concorrentes nestes festivais já assisti “Argo”, de Bem Affllek, “Amor”, de Michale Haneke (DVD), “O Impossível”, ”As Aventuras de Pi”, de Ang Lee. Muito pouco. Neste final de semana o cinema comercial deve lançar um dos favoritos das indicações, “Lincoln” (12 indicações), de Steven Spielberg. Já posso apostar em certas categorias e acho que ninguém pode superar o desempenho da veterana Emanuelle Riva, a estrela de “Hiroshima meu amor” (1959), no excelente ”Amor”(Amour) do alemão Michael Haneke. Seu desempenho como uma mulher que sofre uma isquemia cerebral e vai se desintegrando fisicamente aos poucos ao lado do marido que a ama muito, interpretado por Jean-Louis Trintignan, é uma das mais expressivas representações de qualquer época.
Outra importante indicação desse próximo Oscar, na categoria de atriz, é Naomi Watts, pelo desempenho em “ O Impossível”(2012). Pedro Veriano que votou nela como melhor atriz na aferição da ACCPA dos melhores do ano está satisfeito. Mas reconhece que nada se compara ao trabalho de Emanuelle Riva.



quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

NEGOCIAÇÃO PRODIGIOSA


Richard Gere em "A Negociação".  

O cinema norte-americano divide-se entre as produções dos grandes estúdios e as independentes. Historicamente essas últimas são responsáveis por um grande numero de filmes criativos. E explica-se: os que trabalham com baixo orçamento geralmente apoiam-se em boas ideias e cineastas que desejam fazer carreira. É o caso do filme “A Negociação”(Arbitrage, EUA, 2012) exibido semana passada em Belém em apenas uma sala fora do centro (no Shopping Parque). O filme está candidatando o ator Richard Gere ao próximo Globo de Ouro, o que vale dizer um caminho para o Oscar e, quem sabe, sucesso de mercado.

Com roteiro e direção do estreante Nicholas Jarecki (cujo primeiro filme foi o documentário de 85 min. The Outsider, 2005) trata de um executivo de sucesso, Robert Miller(Gere), que está as vésperas de vender sua firma, mas secretamente mantém este sucesso na corrupção: adultera cifras de negócios de sua empresa e na vida privada visita assiduamente uma amante que sempre espera o seu divorcio da esposa Elen (Susan Sarandon).

A empresa de Robert tem uma estrutura familiar, com a filha Brit (Brooke Miller) sendo a segunda pessoa da administração dos negócios e o filho, um diretor sem grannde evidencia. No momento em que as transações estão sendo fechadas, a moça descobre um desvio volumoso de recursos. Paralelamente, a amante morre num desastre de carro quando viaja com Robert, que consegue sair ileso do acidente tenntando mascarar a cena e chamando um jovem a quem seu pais muito ajudou para que o tire das proximidades do local da tragédia. Esses eventos precisam de solução, ou seja, ele precisa de recursos para fantasiar as contas de sua firma para vendê-la a outrem e com isso eliminar o déficit repondo a quantia sem que isto venha à tona. Assim, ganhará mais saindo para outro quadro de negócios. Precisa também ocultar a sua participação na morte da companheira para não se preso como cúmplice.

O fecho da historia ironiza o preceito moral que se pedia na Hollywood da época do Código Hays, ou seja, da censura dos estúdios que não deixava transparecer um “bad end”. Esta ironia é muito bem arquitetada. Quem pensa no papel de Elen/Sarandon ganha o bastante para não pensar que a mulher enganada é figura passiva na trama. Há, também, o toque crítico sobre o sistema de formação/concentração do capital, subsumindo gestos morais em nome de falcatruas.

“Negociação” é, sobretudo, uma narrativa bem arquitetada, conseguindo bom rendimento de todo o elenco, especialmente de Richard Gere, ator que por muito tempo segurou o estereotipo de bom moço desde que surgiu em “Uma Linda Mulher”(exceção ao seu trabalho com Terrence Malick em “Cinzas do Paraiso”). Presente em quase todas as sequencias, o ator tem que exibir a máscara de “bom sujeito” além de honesto, aliada a do crápula. E consegue esse feito, ganhando agora merecida indicação para o Globo de Ouro.

O trabalho da câmera sabe ser consistente no modo como usa planos fixos a tomadas manuais desde que as opções se façam necessárias. Essa construção narrativa tem um dinamismo correto para que sejam acompanhados com interesse os acontecimentos, apoiando-se numa edição (montagem) extremamente funcional, dessas que fazem a historia correr solta sem que o espectador, “vidrado” na tela, reconheça liames técnicos.

No texto de ontem referi o lançamento que o filme recebeu em Belém muito aquém de seu potencial. Se fosse lançado também numa sala do centro teria mais público. Foi exibido durante duas semanas no Parque Shopping e, atualmente, só está levando em duas salas de S. Paulo. Dessa forma, o/a espectador/a que perdeu este que é o primeiro programa interessante de cinema deste ano no circuito comercial vai ter que esperar o DVD. Nos EUA já está à venda. Por aqui não deve demorar. Um pouco de paciência e por certo uma visão do filme antes do final do ano.

Mas o público que não assistiu aos filmes que foram escolhidos entre os melhores da ACCPA vai estar atento à programação do Cine Olympia que desde ontem exibe a MOSTRA DOS MELHORES DE 2012, indo até o próximo dia 13, no horário das 18h30. Vejam:

Dia 08 - A SEPARAÇÃO

Dia 09 – PINA

Dia 10 – FAUSTO

Dia 11 – SHAME

Dia 12 - PRECISAMOS FALAR SOBRE KEVIN

Dia 13 - O ARTISTA

Sessão Cinemateca Especial (MELHORES DO ANO)

Dia 13 - A INVENÇÃO DE HUGO CABRET