Sam (Jared Gilman) e Suzy (Cara Hayward): em busca de afetos
“Moonrise Kingdom”(EUA, 2012) não mereceu no Brasil uma tradução para o
título original. Seria “Mundo da Lua” se acompanharmos esse dito sobre o
devaneio, o sonho irrealizável. E, segundo a história do cineasta Wes Anderson
e de Roman Coppola (filho de Francis e irmão de Sofia, cineastas famosos), nos
anos 60, um garoto escoteiro, Sam (Jared Gilman), foge do acampamento de sua
classe na costa da nova Inglaterra e se encontra com Suzy (Cara Hayward) menina
da sua idade (a quem conheceu em uma peça teatral) que se sente oprimida em
casa e também opta por uma fuga. Os casal sonha o mesmo tema: fugir da opressão
dos mais velhos. Ele é órfão, vive com pais adotivos, mas estes até gostam
quando sabem de sua fuga. Ela tem irmãos menores, mas todos são controlados rigidamente
por pai e mãe, sendo ela considerada “problemática”.
O roteiro centraliza a ação na jornada do par por uma região bucólica
cujo convívio se estrutura em forma de afeto e identificação que os leva a
pensar em casamento. E em dado momento encontram quem os case. Se a cerimônia
tem valor legal não se sabe ao certo, mas o que interessa é a escapada de um
domínio que espelha o absoluto desconhecimento de que os menores pensam e agem,
sentem e imaginam como qualquer pessoa.
O diretor Wes Anderson é conhecido pelo seu esmero formal. Seus filmes
começam a ser reconhecidos pelo cuidado no enquadramento. Em“Moonrise...” ele
exemplifica logo na primeira sequencia criando e evidenciando os elementos que
compõem o mundo em que vive Suzy. Um médio plano centraliza os irmãos dela
brincando no chão e pelos lados do quadro se vê a sala e a limpeza do ambiente.
Depois há um travelling que mostra a casa toda. Vale dizer que não parece
ambiente onde moram crianças. Tudo bem arrumado, tudo asséptico, até que a
câmera capta a garota entrando na sala com um binóculo postando-se na janela e,
através das lentes, vê-se o loval que ela explora ao longe: um acampamento de
escoteiros onde deveria estar quem ela procura, Sam. Mas a essa altura ele não
está mais na barraca individual que lhe cabe. O chefe do grupo abre a lona de
entrada da barraca e vê que está vazia. Sam levou tudo o que precisa para
atravessar a região: bússola, roupas para enfrentar o frio, alimentos, água,
enfim, o que aprendeu sobre a sobrevivência no mato com os escoteiros.
O filme é muito simples. Às vezes namora o melodrama como quando dá
atenção ao guarda (Bruce Willis) que foi namorado da mãe de Suzy e que tenta
compreender a fuga dos menores. Mas nada é desnecessário. Nesse tom de busca
pelo garoto desaparecido, o telefonema ao paiadotivo vai criar o impacto sobre
os sentimentos que movem os dois lados:enquanto o primeiro reage de forma
hostil ao acontecimento, o coordenador dos escoteirose seus comandados têm, na
“missão” apenas um fato administrativo. Sam não é amadopor ninguém. Esse o
impacto de toda essa sequencia, muito rápida, mas bemconstruída. E que introduz
o público à situação da fuga e dá o mote quando os dois adolescentes se
encontram.
É interessante como Wes Anderson trabalha dentro da grande indústria
cinematográfica sem perder as características de cineasta independente. Se em
“Moonrise Kingdown” ele escapa do cerebralismo de obras como “Os Excentricos
Tenebaum”(2001), neste aceno aos mais jovens afirma a sua opção por trabalhos
como a animação “O Fantástico Sr. Raposo”(2009).
“Moonrise...”é sempre agradável de ver e demonstra qualidades
cinematográficas fáceis de serem percebidas. O enquadramento rigoroso só deixa
folga nas sequencias próximo ao final quando cede lugar a um“suspense” pela fuga
dos dois heróis durante uma tempestade e passando por telhados das casas. Até
aí a aposta no juvenil que, afinal, é o filme no seu mundo da lua.
Grandes nomes no elenco pontuam esse resultado de bons desempenhos como
Frances McDormand (atriz de quase todos os filmes dos Irmãos Coen e esposa de
Joel) como a mãe de Suzy. Bill Murray protagoniza o pai, e Edward Norton como o
chefe do grupo de escoteiros. A presença de Bruce Willis num tipo que difere
dos tantos que tem assumido no “faz de conta” policial dá o toque do reencontro
de Sam com o afeto, sentimento que ele pouco conhece até encontrar Suzy. Filme
imperdível.