quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

NEGOCIAÇÃO PRODIGIOSA


Richard Gere em "A Negociação".  

O cinema norte-americano divide-se entre as produções dos grandes estúdios e as independentes. Historicamente essas últimas são responsáveis por um grande numero de filmes criativos. E explica-se: os que trabalham com baixo orçamento geralmente apoiam-se em boas ideias e cineastas que desejam fazer carreira. É o caso do filme “A Negociação”(Arbitrage, EUA, 2012) exibido semana passada em Belém em apenas uma sala fora do centro (no Shopping Parque). O filme está candidatando o ator Richard Gere ao próximo Globo de Ouro, o que vale dizer um caminho para o Oscar e, quem sabe, sucesso de mercado.

Com roteiro e direção do estreante Nicholas Jarecki (cujo primeiro filme foi o documentário de 85 min. The Outsider, 2005) trata de um executivo de sucesso, Robert Miller(Gere), que está as vésperas de vender sua firma, mas secretamente mantém este sucesso na corrupção: adultera cifras de negócios de sua empresa e na vida privada visita assiduamente uma amante que sempre espera o seu divorcio da esposa Elen (Susan Sarandon).

A empresa de Robert tem uma estrutura familiar, com a filha Brit (Brooke Miller) sendo a segunda pessoa da administração dos negócios e o filho, um diretor sem grannde evidencia. No momento em que as transações estão sendo fechadas, a moça descobre um desvio volumoso de recursos. Paralelamente, a amante morre num desastre de carro quando viaja com Robert, que consegue sair ileso do acidente tenntando mascarar a cena e chamando um jovem a quem seu pais muito ajudou para que o tire das proximidades do local da tragédia. Esses eventos precisam de solução, ou seja, ele precisa de recursos para fantasiar as contas de sua firma para vendê-la a outrem e com isso eliminar o déficit repondo a quantia sem que isto venha à tona. Assim, ganhará mais saindo para outro quadro de negócios. Precisa também ocultar a sua participação na morte da companheira para não se preso como cúmplice.

O fecho da historia ironiza o preceito moral que se pedia na Hollywood da época do Código Hays, ou seja, da censura dos estúdios que não deixava transparecer um “bad end”. Esta ironia é muito bem arquitetada. Quem pensa no papel de Elen/Sarandon ganha o bastante para não pensar que a mulher enganada é figura passiva na trama. Há, também, o toque crítico sobre o sistema de formação/concentração do capital, subsumindo gestos morais em nome de falcatruas.

“Negociação” é, sobretudo, uma narrativa bem arquitetada, conseguindo bom rendimento de todo o elenco, especialmente de Richard Gere, ator que por muito tempo segurou o estereotipo de bom moço desde que surgiu em “Uma Linda Mulher”(exceção ao seu trabalho com Terrence Malick em “Cinzas do Paraiso”). Presente em quase todas as sequencias, o ator tem que exibir a máscara de “bom sujeito” além de honesto, aliada a do crápula. E consegue esse feito, ganhando agora merecida indicação para o Globo de Ouro.

O trabalho da câmera sabe ser consistente no modo como usa planos fixos a tomadas manuais desde que as opções se façam necessárias. Essa construção narrativa tem um dinamismo correto para que sejam acompanhados com interesse os acontecimentos, apoiando-se numa edição (montagem) extremamente funcional, dessas que fazem a historia correr solta sem que o espectador, “vidrado” na tela, reconheça liames técnicos.

No texto de ontem referi o lançamento que o filme recebeu em Belém muito aquém de seu potencial. Se fosse lançado também numa sala do centro teria mais público. Foi exibido durante duas semanas no Parque Shopping e, atualmente, só está levando em duas salas de S. Paulo. Dessa forma, o/a espectador/a que perdeu este que é o primeiro programa interessante de cinema deste ano no circuito comercial vai ter que esperar o DVD. Nos EUA já está à venda. Por aqui não deve demorar. Um pouco de paciência e por certo uma visão do filme antes do final do ano.

Mas o público que não assistiu aos filmes que foram escolhidos entre os melhores da ACCPA vai estar atento à programação do Cine Olympia que desde ontem exibe a MOSTRA DOS MELHORES DE 2012, indo até o próximo dia 13, no horário das 18h30. Vejam:

Dia 08 - A SEPARAÇÃO

Dia 09 – PINA

Dia 10 – FAUSTO

Dia 11 – SHAME

Dia 12 - PRECISAMOS FALAR SOBRE KEVIN

Dia 13 - O ARTISTA

Sessão Cinemateca Especial (MELHORES DO ANO)

Dia 13 - A INVENÇÃO DE HUGO CABRET

3 comentários:

  1. Oi, Luzia!
    Tenho que concordar com o mestre Pedro Veriano: Fausto é um filme chato, lento, contemplativo, e a meu ver, muito pretensioso, um típico produto para festivais. Uma obra de arte não precisa ser metida a difícil. Basta ver os excelentes "A separação", "Pina", "A invenção de Hugo Cabret" e aquele magnifico filme da Romênia "4 meses, 3 semanas e 2 dias".
    Um abraço,
    R.Secco

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  2. Oi Ricardo, cada cinéfilo tem sua versão sobre cinema e eu aceito. Mas, não gostar de "Fausto" é um pecado, pois a composição cinegráfica e a discussão temática destroem qualquer crítica. Desculpe, querido Ricardo Secco, mas penso assim. Vá mandando seus comentários e não esqueça a sua lista de melhores.

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    1. Oi, querida mestra!
      Vou dar uma espiadinha de novo no Fausto. Quem sabe eu redescubra o filme, legal? Se vc. aceitar, seguem alguns (poucos) filmes que gostei em 2012, ano em que fui raramente ao cinema, por conta de tantas atividades acadêmicas.
      Um abraço,
      R.Secco
      Filmes de destaque em 2012 (Ricardo Secco)

      1. A separação
      2. A invenção de Hugo Cabret
      3. Pina
      4. O artista
      5. Xingu
      6. A dama de ferro
      7. Gonzaga, rei do baião
      8. Frankenwie

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