O cinema norte-americano divide-se entre as
produções dos grandes estúdios e as independentes. Historicamente essas últimas
são responsáveis por um grande numero de filmes criativos. E explica-se: os que
trabalham com baixo orçamento geralmente apoiam-se em boas ideias e cineastas
que desejam fazer carreira. É o caso do filme “A Negociação”(Arbitrage, EUA,
2012) exibido semana passada em Belém em apenas uma sala fora do centro (no
Shopping Parque). O filme está candidatando o ator Richard Gere ao próximo
Globo de Ouro, o que vale dizer um caminho para o Oscar e, quem sabe, sucesso
de mercado.
Com roteiro e direção do estreante Nicholas Jarecki
(cujo primeiro filme foi o documentário de 85 min. The Outsider,
2005) trata de
um executivo de sucesso, Robert Miller(Gere), que está as vésperas de vender
sua firma, mas secretamente mantém este sucesso na corrupção: adultera cifras
de negócios de sua empresa e na vida privada visita assiduamente uma amante que
sempre espera o seu divorcio da esposa Elen (Susan Sarandon).
A empresa de Robert tem uma estrutura familiar, com
a filha Brit (Brooke Miller) sendo a segunda pessoa da administração dos
negócios e o filho, um diretor sem grannde evidencia. No momento em que as
transações estão sendo fechadas, a moça descobre um desvio volumoso de recursos.
Paralelamente, a amante morre num desastre de carro quando viaja com Robert,
que consegue sair ileso do acidente tenntando mascarar a cena e chamando um
jovem a quem seu pais muito ajudou para que o tire das proximidades do local da
tragédia. Esses eventos precisam de solução, ou seja, ele precisa de recursos
para fantasiar as contas de sua firma para vendê-la a outrem e com isso eliminar
o déficit repondo a quantia sem que isto venha à tona. Assim, ganhará mais saindo
para outro quadro de negócios. Precisa também ocultar a sua participação na
morte da companheira para não se preso como cúmplice.
O fecho da historia ironiza o preceito moral que se
pedia na Hollywood da época do Código Hays, ou seja, da censura dos estúdios
que não deixava transparecer um “bad end”. Esta ironia é muito bem arquitetada.
Quem pensa no papel de Elen/Sarandon ganha o bastante para não pensar que a
mulher enganada é figura passiva na trama. Há, também, o toque crítico sobre o
sistema de formação/concentração do capital, subsumindo gestos morais em nome
de falcatruas.
“Negociação” é, sobretudo, uma narrativa bem
arquitetada, conseguindo bom rendimento de todo o elenco, especialmente de
Richard Gere, ator que por muito tempo segurou o estereotipo de bom moço desde
que surgiu em “Uma Linda Mulher”(exceção ao seu trabalho com Terrence Malick em
“Cinzas do Paraiso”). Presente em quase todas as sequencias, o ator tem que
exibir a máscara de “bom sujeito” além de honesto, aliada a do crápula. E
consegue esse feito, ganhando agora merecida indicação para o Globo de Ouro.
O trabalho da câmera sabe ser consistente no modo
como usa planos fixos a tomadas manuais desde que as opções se façam
necessárias. Essa construção narrativa tem um dinamismo correto para que sejam
acompanhados com interesse os acontecimentos, apoiando-se numa edição (montagem)
extremamente funcional, dessas que fazem a historia correr solta sem que o
espectador, “vidrado” na tela, reconheça liames técnicos.
No texto de ontem referi o lançamento que o filme
recebeu em Belém muito aquém de seu potencial. Se fosse lançado também numa
sala do centro teria mais público. Foi exibido durante duas semanas no Parque Shopping
e, atualmente, só está levando em duas salas de S. Paulo. Dessa forma, o/a espectador/a
que perdeu este que é o primeiro programa interessante de cinema deste ano no
circuito comercial vai ter que esperar o DVD. Nos EUA já está à venda. Por aqui
não deve demorar. Um pouco de paciência e por certo uma visão do filme antes do
final do ano.
Mas o público que não assistiu aos filmes que foram
escolhidos entre os melhores da ACCPA vai estar atento à programação do Cine
Olympia que desde ontem exibe a MOSTRA DOS MELHORES DE 2012,
indo até o próximo dia 13, no horário das 18h30. Vejam:
Dia
08 - A SEPARAÇÃO
Dia
09 – PINA
Dia
10 – FAUSTO
Dia
11 – SHAME
Dia
12 - PRECISAMOS FALAR SOBRE KEVIN
Dia
13 - O ARTISTA
Sessão
Cinemateca Especial (MELHORES DO ANO)
Dia
13 - A INVENÇÃO DE HUGO CABRET
Oi, Luzia!
ResponderExcluirTenho que concordar com o mestre Pedro Veriano: Fausto é um filme chato, lento, contemplativo, e a meu ver, muito pretensioso, um típico produto para festivais. Uma obra de arte não precisa ser metida a difícil. Basta ver os excelentes "A separação", "Pina", "A invenção de Hugo Cabret" e aquele magnifico filme da Romênia "4 meses, 3 semanas e 2 dias".
Um abraço,
R.Secco
Oi Ricardo, cada cinéfilo tem sua versão sobre cinema e eu aceito. Mas, não gostar de "Fausto" é um pecado, pois a composição cinegráfica e a discussão temática destroem qualquer crítica. Desculpe, querido Ricardo Secco, mas penso assim. Vá mandando seus comentários e não esqueça a sua lista de melhores.
ResponderExcluirOi, querida mestra!
ExcluirVou dar uma espiadinha de novo no Fausto. Quem sabe eu redescubra o filme, legal? Se vc. aceitar, seguem alguns (poucos) filmes que gostei em 2012, ano em que fui raramente ao cinema, por conta de tantas atividades acadêmicas.
Um abraço,
R.Secco
Filmes de destaque em 2012 (Ricardo Secco)
1. A separação
2. A invenção de Hugo Cabret
3. Pina
4. O artista
5. Xingu
6. A dama de ferro
7. Gonzaga, rei do baião
8. Frankenwie