quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

HOBBIT E AS ANDANÇAS

O hobitt Bilbbo Baggins em ação no novo filme de Peter Jackson.
A jornada do hobitt Bilbbo Baggins atendendo ao mago Gandalf atrás da joia sequestrada por um dragão foi o primeiro texto de J.R.R. Tolkien escrito na década de 1930, com aproximadamente 330 páginas. Nessa historia de nome “Uma Jornada Inesperada”, o professor filólogo de Oxford contentava seus filhos. Daí é que ele passou para “O Senhor dos Anéis”. Pois o cineasta Peter Jackson resolveu “esticar” a trama para 3 filmes com duração média de 2h30 cada um. Para isso enxertou tipos de “...Os Anéis” e irritou os especialistas em Tolkien. Por outro lado, ele viu na chance de voltar à Terra Média – cenário das histórias que de alguma forma pediam a consideração de uma mitologia inglesa – um modo de se esmerar na técnica. Chegou até a filmar em 3D e 48 quadros por segundo (o normal é 32) para realçar as cenas de batalhas, um realismo que chocaria os membros do Código Hayes se existisse hoje aquela censura da indústria que modulou a produção de filmes de 1930, a, aproximadamente, 1956.
O filme “Hobbit, Uma Jornada Inesperada”(The Hobbit, an Unexpected Journey/Nova Zelândia, EUA, UK, 2012) é uma dose muito alta até para os adeptos da literatura de Tolkien. Eu, sinceramente, não me filio a esse grupo. Senti o peso de uma trama alongada onde o que se contar ganha pouquíssimo espaço. E desconhecendo o original literário não sei até que ponto o Hobbit é a cara e os gestos do ator Martin Freeman (42 anos). A mim pareceu um comediante convocado para uma aventura de capa e espada (aliás, de armadura, espada e lança) em que os efeitos especiais dizem o que se devem fazer (é comum, atualmente, atores diante de espaços verdes onde depois da atuação os cenaristas inserem imagens digitais).
O que sempre deixa um ar de seriedade no ambiente é a presença do ator Ian McKellen, o Gandalf. Inglês de Lancashire, hoje com 73 anos, protagonizou a figura de James Whale, diretor de “Frankenstein”, no excelente “Deuses e Monstros”(Gods and Monsters/1998) de Bill Condon. Percebe-se que ele atua em cinema para ganhar seu salário. Está na série “X-Men”como esteve em “O Senhor dos Anéis”e, numa carreira de mais de 90 títulos, pouca oportunidade teve de mostrar a amplitude de seu talento. Mas não se pode falar mal do elenco do filme. Nos papéis esquematizados por um roteiro de Fran Walsh, Philppa Boyens, Guillermo del Toro e do próprio diretor Peter Jackson, todos se portam como é pedido, ou seja, dentro de estereotipos. O que vale mais: as máscaras. Vistos em close passa, por exemplo, a mágoa de Thorin (RichardArmitage), uma das vitimas mais diretas do dragaõ. E os anões, de um modo geral, colaboram no clima fantástico pretendido. Aliás, Tolkien desejou construir uma mitologia inglesa ciente de que a cultura de seu país era pobre em deuses e heróis. Basta dizer que até o Rei Arthur foi imaginado por franceses. Nessa construção mítica valeu inserções culturais de outras nações, mas, segundo raros textos de ingleses do passado distante, descoberta do professor em pesquisas demoradas com base no estudo da língua.
O longo trabalho atual do neozelandês Jackson pode parecer oportunista. A indústria, ou melhor, a Warner através de sua subsidiária NewLand, aliada à Metro, aplicou aproximadamente 180 milhões de dólares na produção, mas só em 2 semanas de exibições mundiais o filme conseguiu capitalizar US$ 244.736.000. Isto quer dizer que os dois próximos filmes a chegar estão na faixa de lucro imediato. Quem recusaria tanto? Depois do decepcionante “Um Olhar do Paraíso” (The Lovely Bones/2009), com um prejuízo de 20 milhões, ele tinha de mostrar suas qualidades industriais aos donos das empresas. Tolkien talvez não gostasse, mas o filólogo faleceu em 1973. Jackson tem talento e esperteza para avançar na Terra Média e mais além. Com a palavra os analistas da obra.

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