segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

A MORTE E OS SÁBIOS – BENÉ NUNES



Nada que possa ser dito sobre o filósofo paraense Bendito José Viana Nunes em torno de suas obras, de seu conhecimento, de seu valor cultural subtraem sua imensurável simplicidade e sabedoria mostrando respeito pelo saber de outras pessoas.
Neste momento de seu falecimento quero registrar a sua presença efetiva nas atividades que Pedro Veriano e eu iniciávamos para criar e manter o então cine-clube da APCC com uma programação eficiente e diferente do que era exibido no circuito comercial. Junto com sua Maria Sylvia conseguiram a aproximação com a UFPA através do então Reitor José da Silveira Neto e não só foi criado o Centro de Estudos Cinematográficos, como este órgão associou-se ao CC-APCC nas sessões no Auditório do Teatro Martins Penna.

Mesmo sem uma sequencia de encontros presenciais, daí porque foi suspresa saber de sua morte, como filiados a uma rotina construída pelo bem do cinema alternativo paraense foi que mantivemos uma grande amizade.
Em dois momentos tivemos a certeza de seu respeito pelo que faziamos. Num, quando certo jornalista criticou a crítica do Pará, no caso, era só o Pedro Veriano em “A Província do Pará”. Sabendo que PV iria publicar uma resposta, Bené telefonou e aconselhou-o: “Não responda, é isso o que ele quer”. Fui à Província recolher o texto que já estava nas mãos do Wilson Corrêa e já diagramada.
Em outro momento, quando dois professores do NAEA não queriam receber um texto meu no qual eu procurava relacionar a linguagem do cinema às correntes teóricas positivista, estruturalista e dialética, então submeti à sua leitura, porque fiquei insegura. Ao ler o texto ele me aconselhou a manter meu trabalho e questionar a posição dos tais professores. Recebi a nota menor, mas mantive o trabalho acadêmico. Essa era a pessoa em quem eu confiava que me dizia não entender a postura da geração atual de universitários (quando dava aulas na graduação do IFCH/UFPA) que demonstrava não gostar de ler. Criticou também as políticas das agências acadêmicas que só priorizavam os professores com pós-graduação.

A alta competência do Bené deu-lhe uma pós-graduação maior ainda reconhecida mundialmente: a da sua experiência na criação de obras importantissimas da literatura, da filosofia, mostrando saber muito maior do que qualquer doutor oficialmente confirmado por essas agências.

Adeus Bené! Vá em paz!

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

AUSÊNCIA DE FILMES DO OSCAR



Os lançamentos do final de semana nas salas comerciais de Belém se eximem de exibir alguns filmes candidatos a Oscar que dessa forma perdem a oportunidade de atrair público. Exemplos: “Inverno da Alma”, “127 Horas”, “Reencontrando a Felicidade” e “Namorados Para Sempre” não estão programados, embora os dois primeiros já tenham ganho exibições em salas do sudeste e nordeste inclusive de um circuito que atende Belém como é o caso do Cinépolis.

As estréias desta 6ª feira (25/02) são: “Desconhecido”, atual primeiro lugar nas bilheterias norte-americanas, “Bruna Surfistinha”, nacional com Deborah Secco que espera entrar no rol dos êxitos de público; e o musical “Justin Bieber, Never Say Never”.

“Desconhecido”(Unknown/Canadá,2011) apresenta o ator Lian Neeson pprotagonizando um homem que sofre um acidente de transito, perde seus documentos, entra em coma, e quando se recupera não consegue provar quem é. Ninguém o conhece. Só tem por ele uma jovem que o auxilia na hora do desastre. O filme foi adaptado de um romance (“Out of my Head”) de Didier Cauwelaert com roteiro de Oliver Butcher e Stephen Cornwell. A direção é de Jaume Collet-Serra (de “A Orfã”). Muitos críticos consideraram-no semelhante a “Busca Implacável”, interpretado pelo mesmo ator.
“Bruna Surfistinha”(Brasil/2011) é a historia de uma garota de programa oriunda de boa família que assume a prostituição quando foge de casa. Deborah Secco interpreta o papel-título. E não se intimida com as seqüencias eróticas. Direção de Marcus Baldini.

Na área especial o Cine Líbero Luxardo está com um programa de filmes ganhadores de Oscar. Desta sexta (25) a domingo (27) serão exibidos “A Última Sessão de Cinema’, “Sindicato de Ladrões” e “A Malvada”. O primeiro foi premiado com Oscar de ator e atriz coadjuvantes.
Na Sessão Cult de sábado (26, às16h) exibe-se “Bravura Indômita”, versão de 1966, dirigida pelo veterano diretor Henry Hathaway, cujo elenco é encabeçado por John Wayne. Foi o filme que favoreceu ao ator ganhar o único Oscar de sua vida e, presentemente, está no circuito uma nova versão sob a direção dos irmãos Ethan e Joel Coen).
Na Sessão Fantasia do Olímpia estará, domingo (27),”A Bomba”, comédia com o Gordo(Laurell Hardy) e o Magro(Stan Laurell).

Para os apostadores no Oscar, ainda está em cartaz o favorito “Discurso do Rei” e mais, “Cisne Negro” e “Bravura Indômita”.

Façam suas escolhas e boa sorte!

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

O BESOURO VERDE



Filme originário de uma série de rádio e TV da Harvey Comic de 1941 a 1949. Só depois é que atingiu os quadrinhos (de 1966 a 1967). E a fama surgiu pela estréia de Bruce Lee como Kato, protagonizando o amigo do herói, o milionário Britt Reid. Mesmo assim, “Besouro Verde” não atingu uma segunda temporada televisiva. Isso prova ou a baixa receptividade do público ou falta de patrocínio por essa situação. Contudo, o alcance para o cinema de alto custo é uma aventura comercial do ator-roteirista e co-produtor Seth Rogen, canadense que já realizou comédias comercialmente bem sucedidas como “Ligeiramente Grávidos” e “Virgem aos 40”, e fez dublagem em muitas animações como “Kung Fu Panda”, “Shrek 3” e “Monstros Vs Aliens”- além da série “Os Simpsons” na TV.

Seth Rogen convidou para a direção do filme um cineasta com pouco trânsito no gênero: o francês Michel Gondry, de “Brilho Eterno de Uma Mente sem Lembranças”(EUA, 2004). Para este intelectual, o projeto foi um desafio. Naturalmente um desafio com boa possibilidade de lucro. Mas o roteiro de Seth e Evan Goldberg não ajudou muito. O que eles pretenderam fazer foi uma comédia de ação que divertisse a garotada vidrada em videogame e uma platéia mais exigente, esta ligada a leve critica ao mito do super-herói e derrubando clichês como o do herdeiro simplório que acaba tendo sucesso.

A trama pode ser contada em poucas linhas: a morte de um magnata da mídia, James Reid (Tom Wilkinson) dá acesso ao poder a seu herdeiro, o mimado Britt, rapaz sem experiência em coisa alguma. Felizmente para ele surge o funcionário do pai, o chinês Kato (Jay Chou) com algum recurso pessoal como saber fazer um bom café. Por isso, ganhou a amizade do novo patrão. Este personagem, além da qualidade na cozinha, é um ótimo motorista e os dois passam a “brincar” de mocinho x bandido, Britt vestindo meia-máscara verde e se chamando de Besouro Verde e Kato como seu parceiro (e às vezes melhor na briga). O primeiro vilão que enfrentam é justamente o responsável pela morte do pai, o magnata, Chudnovsky (Christoph Waltz, a revelação de “Bastardos Inglórios”e o Oscar de coadjuvante por este papel).

A meta do filme é sintetizada na sequência em que heróis e vilões se encontram no jornal que pertence à família Reid. Todo o prédio é literalmente destruído: o super-carro do Besouro invade a sala de máquinas e sobe até a redação. Um prodígio de CGI que se completa com as perseguições nas ruas e os carros que se quebram e incendeiam. Estas tomadas de ação, apesar dos efeitos digitais, tiveram custo alto, com o filme gastando cerca de US$ 120 milhões. Em sua estréia, garatiu nas bilheterias US$ 30 milhões a até 10 de fevereiro só conseguiu somar US$ 92,405 milhões. Claro que vai alcançar as cifras de custeio com as rendas ao redor do mundo, mas é difícil sair uma segunda aventura desse herói. O que falta em meio a um exército de técnicos e dublês é justamente um roteiro com originalidade.

Apesar de apelar para o humor, o filme não difere da média das produções de meio de ano objetivando atrair os espectadores com menos de 17 anos. A ingenuidade é flagrante e qualquer criança sabe como será o final da história. A torcida pelo herói, um tipo que nada tem de carismático é dificil. Na verdade, quem emerge nas cenas de ação é o ajudante Kato, um desempenho aceitável de Jay Chou, ator que veio de Tawain, onde mora. Pode-se até brincar ou jogar as palavras ao dizer que o “besouro” só conseguiu voar graças ao “empurrão” de uma vespa oriental.

Quanto ao diretor Gondri, respondendo às más criticas encenou uma defesa sobre ter aceitado o trabalho. Considerou também que um filme de baixo orçamento é até mais difícil de realizar, posto que é obrigado a compor o elenco com nomes famosos para obter financiamento bancário. Possivelmente suas razões são coerentes, mas a verdade é que depois desse “Besouro...” banal, o público que elegeu “Brilho Eterno...” como um dos melhores filmes da década fica na dúvida se o processo criativo foi dele ou de Charlie Kaufman, o roteirista que dividiu com ele a idéia original e, mais tarde, como diretor, realizou o excelente “Sinédoque Nova York”. Pelo menos até o momento Kaufman não auferiu “besouradas” da grande indústria.

AMOR E OUTRAS DROGAS




Resisti o que pude para assistir a “Amor e Outras Drogas” (Love and Others Drugs/EUA<2011) a quando de seu lançamento inicial. Minha suposição era de que o filme de Edward Zwick (de “O Último Samurai”e “Diamante de Sangue”) contribuisse para o “lugar comum”. Mas me surpreendi ao resolver assistí-lo. A comédia romântica moderna perdeu a inocência do que criava, por exemplo, um diretor da estirpe de Howard Hawks, montando ardilosas comédias para o desempenho de figuras do “star system” norteamericano como Cary Grant & Katherine Hepburn. Hoje, com a ausência da censura dos estúdios, existente na época citada (o chamado “Código Hayes”, da década de 1930 a 60) é possivel abordar esse gênero evidenciando maiores intimidades entre o par, optando por um conteúdo em meio a fórmula “boy meet girl”(rapaz encontra moça).

“Amor e Outras Drogas”, adaptação livre da obra “Hard Sell: The Evolution of a Viagra Salesman“, de Jamie Reidy, focaliza a atitude de amie(Jake Gyllenhaal) estudante de medicina que no final dos anos 1990 agrega emprego de vendedor com multiplas funções em uma loja, sempre “dando em cima” das garotas. Até indispor-se com seu chefe por assediar a esposa deste. Procurando novo emprego, encontra vaga como representate comercial de remédios na empresa farmaceutica Pfizer, dentro do esquema que essas companhias utilizam para ampliar seu comércio em confronto com as concorrentes. Certo dia, ele conhece Maggie Murdock (Anne Hathaway), garota de 26 anos, independente, que vive longe da família procurando manter-se às suas próprias custas, e dessa forma pagar a sua educação universitária.

Iniciando uma relação sem grande romantismo os dois prosseguem no convivio mais físico pela própria filosofia que comungam, ela, por um motivo especial e ele pela sua própria forma de convivência.

Usando truques para vender os produtos, Jamie consegue safar-se das suas incumbências, mas certo momento a Pfizer lança o Viagra, medicamento que tem um objetivo, daí subindo nas vendas e com isso promovendo seus funcionários. Mas, apesar do casal não ter problemas com o relacionamento sexual ela é portadora de Parkinson e, num congresso médico, ele tem ciência de como a doença evolui para uma completa dependência, chegando à necessidade de auxilio nas mínimas situações até chegar à morte. Isto faz com que Jamie se afaste de Maggie. Mas não tarda a perceber que entre males físicos e as conquistas farmacêuticas está, acima de tudo, o amor. E procura desesperadamente a sua parceira que já está em busca de um novo sócio para continuar, como ela diz, “vivendo o presente porque não se pode viver apenas em função do futuro”.

Com um argumento interessante a intérpretes carismáticos, o filme evolui acima da média das chamadas “comédias românticas”. Há, inclusive, bons momentos de linguagem, com enquadramentos que enriquem a forma de abordar o relacionamento do casal (há o plano em que as personagens se acham cada uma em uma extremidade do quadro discutindo suas situações como a dizer, “cada um na sua”). Mas o que salta para o público de forma impressiva é a entrega de atores famosos aos seus papéis. Anne aparece nua e simulando uma relação sexual, recurso impensado por atrizes do passado que em nome do realismo aceitavam dublês para o tipo de sequência. Isso diz da confiança que o diretor de 59 anos depositou na equipe, demonstrando a seriedade de seu propósito. E de fato o filme foge a muitos esquemas desse tipo de produção comercial. Fosse antes haveria um meio de melhorar ou curar a mocinha. Não se alerta a nenhum milagre médico. Chega-se a criticar atendimentos como ele buscando especialistas para a doença dela em outros estados e enfrentando filas sem sucesso.

O humor em “Amor e Outras Drogas” é o recurso para fugir do trágico – ou do melodrama. E só é atingido pela química dos intérpretes. Fator que afinal de contas move o filme, fazendo-o mais interessante do que a linguagem em si, apesar dos achados momentâneos mencionados, nunca acima da fórmula padrão que assedia a platéia.

Tanto Anne Hathaway como Jake Gyllenhaal foram candidatos ao Globo de Ouro de comédia &musical.

REGISTRO

Quinze anos é uma data marcante. E hoje, Ana Paula Álvares Costa entra nesse mundo mágico, ela que já cria as fantasias para se tornar uma futura escritora. Sem festas, mas comemoração familiar, ela ouvirá os parabéns de seus queridos e verdadeiros amigos. Beijo grande, Paulinha! E que Deus te abençôe.

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

DE VOLTA AO WESTERN

















O veterano ator norte americano já falecido, John Wayne, ganhou o seu único Oscar (fora candidato por “Iwo Jima, O Portal de Gloria” em 1949) protagonizando um delegado caolho na primeira versão de “Bravura Indômita”(True Grit/EUA,1969), dirigido por Henry Hathaway, extraido do livro de Charles Portis, escrito um ano antes das filmagens.

Hoje, Jeff Bridges é candidato pelo mesmo papel na nova versão da história e com o mesmo título, escrita para o cinema e dirigida pelos irmãos Joel e Ethan Coen. Comparar os dois filmes e as duas interpretações é fatal. Mas se a primeira seguia mais de perto o modelo antigo do western, privilegiando a postura do caubói destemido sem ligar para os estereótipos em volta, a segunda usa a mitologia criada pelo gênero como uma espécie de homenagem, até mesmo pela concepção nostálgica alicerçada pela fotografia (também candidata ao Oscar) que usa contraluz, névoa, mudança de estação (a chegada do inverno) e fusões como se via nos trabalhos do diretor George Stevens (“Shane” e “Giant”). O novo “Bravura Indômita” (True Grit/EUA, 2010) chega à poesia com um final que leva uma das personagens de volta ao cenário de sua aventura de anos distante, sendo vista em grande plano nebuloso, caminhando sem um braço após saber que os companheiros do passado não estão mais presentes.

Creio que os irmãos Coen, nesta investida em um gênero apagado depois da morte de John Wayne, tenha sido realmente de uma homenagem. Há exatos 31 anos o velho ator de muitos filmes de faroeste perdeu a batalha contra o câncer e há 41 que o livro original foi escrito e se tornou rapidamente best-seller. Por outro lado, os Coen ganharam o Oscar de 2007 com um filme que apresentava elementos do gênero western (na geografia e na constituição dos tipos): “Onde os Fracos Não Tem Vez”(No Country for Old Men). Motivos a mais para arriscar nos heróis e vilões que o cinema imortalizou desde que se entendeu como espetáculo popular (leia-se lucrativo).

Quem, como eu, cresceu assistindo aos filmes de caubói, percebe as incoerências, como o “mocinho” não perder briga, ter uma boa mira quando usa a pistola, não manchar a roupa nem mesmo deixá-la molhada por muito tempo após sair de um mergulho, ou mesmo deixar cair o chapéu quando briga. O que tentou mudar esse figurino foi o “westen spaghetti”, versão européia, mais intensa na Itália (daí o nome) que deu continuidade à mitologia norte-americana, mas apresentando heróis de capas largas, barbados, sujos, e, principalmente, violentos. Foi o tempo dos Ringo, Django etc, que tentavam dissipar a ingenuidade dos Hopalong Cassidy, Rocky Lane ou Roy Rogers. Pois os Coen preferiram ressuscitar os velhos modelos. Há alguma inserção mais violenta, como as mortes dos “bandidos” e a postura do mocinho (antes era difícil um herói matar um capanga de vilão logo num primeiro confronto). Mas não se fere o gênero na sua essência. O delegado Rooster Cogburn, interpretado por Jeff Bridges, resmunga como o modelo antigo e ajuda a mocinha (no caso uma adolescente) Mattie Ross (Hailee Steinfeld, atriz da idade da personagem, 14 anos,). E o “amigo do mocinho”, nem tanto estereotipado, LeBouef (Matt Dillon) também apresenta um comportamento aparentemente instável mas é o que dá força ao suspense pretendido pelo roteiro (como bom amigo é o que chega na hora de resolver as pendencias finais da história).

A narrativa dos Coen também não procura fugir do esquema original de western. Linear, aproveita o que pode dos elementos de linguagem, seja com brilhantes enquadramentos, mostrando o essencial no plano (até os grandes planos, como John Ford preferia, são colocados de forma a que se veja um ponto de interesse além da paisagem), seja na trilha sonora que usa um instrumental do folclore norte-americano sem que isso passe a um plano além do descritivo.

A trama pode ser contada em poucas linhas: uma adolescente pede a um delegado alcoólatra que lhe ajude a achar o assassino de seu pai, fugido para a região indígena. Ela acompanha o personagem expondo-se aos previsíveis perigos. E os tipos são convincentes. Além de Bridges e Dammon as máscaras de Josh Brolin (Chaney) e Barry Pepper (Lucky Ned Pepper) impressionam. Com uma vantagem: a violência não é mostrada de forma aterrorizante como nos “spaghetti” (mesmo os de Sergio Leone, o mestre do subgênero). Há certo humor no meio do caminho. Muito para fazer do filme um dos bons programas do ano, digno de estar competindo a prêmios (10 ao todo) no final do mês. Vejam.

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

FURACÃO" E MOSTRA DE CURTAS



Um filme que se pode dizer anômalo na carreira do mestre John Ford (1894-1973) é “Furacão”(The Hurricane/EUA, 1937). Realizado por solicitação do produtor Samuel Goldwyn aproveitou a fama de da veterana Dorothy Lamour (1914-1993) que teve sucesso com “A Princesa das Selvas”(The Jungle Princess/1936) protagonizando uma jovem nativa de uma ilha do sul do Pacifico. Nesse desempenho, Dorothy vestiu o traje que a imortalizou, o “sarong”, em uma adaptação de um romance de James Norman Hall onde o cenário semelhante ao do filme que lançou a estrela (Miss New Orleans em 1931) seria aproveitado com a adição de uma tempestade tropical arrasadora.

Ford trabalhou com outro cineasta, o então “calouro” Stuart Heisler (1896-1979), mais tarde diretor de pelo menos dois filmes famosos, “Lagrimas Amargas”(com Bette Davis) e “Dilema de uma Consciência”, e contou com a ajuda de quatro especialistas em efeitos especiais - James Besevi, Ray Binger, Rity Layton e Lee Zevitz. Esse grupo conseguiu impressionar com um trabalho que pouco fica a dever aos que hoje manejam CGI e fazem digitalmente os grandes desastres dos costumeiros blockbusters.

“Furacão” trata de um pescador, explorado pelo patrão, na Polinesia, que resolve abandonar o emprego e se dedicar à pesca particular vivendo em uma ilha com a jovem esposa. Mas um furacão desfaz o sonho já vivido. E todas as personagens que cercam a vida deste pescador são atingidas pela tormenta de forma radical. Há uma sequência em que os nativos se agrupam numa igreja, pedindo o milagre de escaparem com vida dos ventos que elevam as ondas. Impressiona ainda hoje .

Ao lado de Dorothy Lamour contracena Jon Hall, ator conhecido anos depois pela série de filmes sobre contos das mil e uma noites produzidos pela Universal com outra célebre veterana atriz Maria Montez e Sabu. Tambem comparecem atores que marcaram época como Mary Astor, Thomas Mitchell, C. Aubrey Smith, John Carradine,e Raymond Massey. Todos, como se vê da “velha guarda” de astros do “star system”.

A nova geração de cinéfilos terá a chance de conhecer esta produção de grande sucesso em seu período de estréia. É o cartaz da Sessão Aventura que a ACCPA promove no cinema Olympia, domingo, 20, às 16h.

Mas a programação extra está quase toda dedicada aos filmes de curta metragem em seus horários normais. No mesmo Cine Olympia já teve inicio a mostra de filmes do “videomaker” Carlos Nader, quase todos experimentais, numa linha que o canadense Norman McLaren inaugurou nos anos 1950. O programa da semana consta de “Pan Cinema Permanente” e de um documentário sobre o próprio diretor (“Carlos Nader”), uma apresentação desse artista paulista que figurou em diversos festivais internacionais. Na próxima semana terá mais filmes da mesma fonte.

E no Cine Libero Luxardo teve inicio ontem o programa da Sobretudo Produções, com um júri popular formado pelos próprios espectadores, convidados a eleger os melhores filmes, atores e técnicos da produção apresentada.

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

PARA VER SÓ EM DVD




Com a programação nos cinemas lançando poucos títulos ao longo da semana, os cinéfilos que têm interesse e a responsabilidade de assistir ao menos um título diariamente, terminam sua tarefa muito cedo e ficam a mercê de certos programas em DVD. Alguns são revistos, mas há sempre algum inédito para completar a meta semanal. Os que registro hoje figuram nessa categoria.


“Contra a Corrente”(Against the Current/EUA,2009) é o tipo do filme que jamais alcançaria o nosso publico se não fosse o DVD. Da porodução independente com direção de Peter Callahan (de “Last Ball”- sendo este o seu segundo filme) trata de um viúvo que deseja marcar o 5°aniversário de morte da esposa e da filha que ela iria ter, nadando pelo rio Hudson da nascente até Nova York. Com ele seguem em um barco, monitorando a trajetória, o amigo mais próximo e uma amiga de muitos anos. A porfia não é sem escalas e os três param em determinados pontos para freqüentarem restaurantes, casas de familiares, e conversarem sobre seus planos de vida. Mas nessas paradas que fica conhecido o problema de Paul, o nadador. Ele não se recuperou da perda dos dois entes mais queridos e quer ir atrás deles. Havia um trato com o amigo Jeff Kane de ajuda mutua quando um deles quizesse morrer. E agora Paul suplica que Jeff cumpra o acordo. Só quem não se conforma com isso é Katie, a amiga que acompanha os velhos colegas de escola. O ímpeto pela vida faz dela uma cultora das maravilhas naturais como um crepúsculo visto das margens do Huston, um dos exemplos para dizer que a vida é bela.


Quem assistiu a “30 Anos Esta Noite”, filme de Louis Malle que seguia Maurice Ronet no seu propósito suicida, vê certa analogia temática. De fato, “Contra a Corrente” pode ser chamado de “alguns dias em um tempo”. Com a diferença de que a narrativa é lenta, a observação psicológica se faz muito mais pela observação dos tipos do que pelo diálogo, a idéia do longo percurso a nado é uma clara metáfora do destino desejado pelo principal personagem.

Joseph Fiennes, Justin Kirk e Elizabeth Reaser protagonizam o trio de amigos. Um drama sem concessões ao cinema comercial. Ganhou prêmios como o anterior de Callahan. Vale a pena gravar o nome deste cineasta.


“O Refúgio”(Le Refuge/França,2009) é de autoria de François Ozon, o diretor de “Sob a Areia”. Aqui o enfoque é sobre a personagem Mausse, companheira de amor e de drogas de Louis, encontrado morto por overdose. Grávida, ela resolve ter o filho e conta com o apoio do irmão do namorado morto. Mas o seu temperamento instável leva a um final desconcertante.


Ressalta-se o desempenho de Isabelle Carré, compondo bem o tipo da jovem sem limites que se vê sozinha com uma criança preste a nascer. A atriz estava realmente gestante ao fazer o filme e a seqüência dela na praia lembra, na ousadia, a brasileira Leila Diniz.


Ozon é um diretor irregular que entre ótimos filmes realizou alguns títulos apenas razoáveis. Desta vez ele não decepciona. Apesar de bem realizado e de um tema cativante não sensibilizou os nossos exibidores para o cinema comercial. Vale a pena conhecer em DVD.


Outro inédito nos cinemas é “Adam, Memórias de uma Guerra” (Adan Ressurrected /EUA,2009) do prolífico e irregular Paul Schrader (“O Dono da Noite”,”Temporada de Caça”,”Vivendo na Corda Bamba”). Trata de um judeu que conseguiu sobreviver ao holocausto e nos anos 60 está internado em um hospital psiquiátrico onde ajuda os médicos e estes ajudam a sua saúde cheia de problemas. Talvez seja um dos papéis mais importantes na carreira do ator Jeff Goldblum (o melhor ainda é “A Mosca” de David Cronemberg). Ele protagoniza Adam, o estranho paciente que vive lembrando (cenas em preto e branco) o seu tempo de prisioneiro dos nazistas. Interessante embora o tema exigisse um trabalho mais consistente. Mesmo assim, não decepciona.


DVDS MAIS LOCADOS (FOXVIDEO)



  1. Nosso Lar

  2. As Múmias do Faraó

  3. Gente Grande

  4. Piranha

  5. Baaria - A Porta do Vento

  6. Meu Malvado Favorito

  7. Como Cães e Gatos 2

  8. Ondine

  9. Ela Dança,. Eu Danço 3

  10. O Bicho Vai Pegar 3

sábado, 12 de fevereiro de 2011

FAVORITOS DO OSCAR NO PROGRAMA DA SEMANA



“O Discurso do Rei”(The King’s Speech, UK,Austrália, 2010) é a estréia máxima do fim de semana. Candidato a 12 Oscar (o campeão de indicações) explora a luta do soberano inglês George VI para proferir o histórico discurso que relata a entrada de seu país na guerra contra a Alemanha, em 1940.

George VI, a contragosto assume o reino inglês quando Edward, seu irmão mais velho abdica do trono em 1936. O novo rei era gago e a causa, como quase sempre neste caso, derivava de problemas psicológicos da infância. Um terapeuta sem grau acadêmico assume o tratamento do soberano a pedido da rainha. É uma tarefa difícil, mas meritória. Na sua fala escorreita, o rei inglês conquistou a simpatia dos súditos e depois disso permaneceu no palácio durante os bombardeios nazistas. A hoje rainha Elizabeth II, sua filha é uma menina na época dos acontecimentos.

O ator Colin Firth apresenta um desempenho impecável no papel. O mesmo pode ser dito de Geofrey Rush como o terapeuta instintivo e de Guy Pearce como Edward. Tudo leva a crer na boa receptividade do filme na festa do próximo dia 17.

Outro lançamento importante é “Bravura Indômita”. Em 1969 a primeira versão de “True Grit”(aqui chamado "Bravura Indômita") deu a John Wayne (1907-1979) o seu único Oscar. No filme, dirigido por Henry Hathaway de um roteiro de Marguerite Roberts extraído de um livro de Charles Portis, Wayne protagonizava o policial alcoólatra, cego de um olho, que aceitava a tarefa da jovem Mattie (Kim Darby) em procurar o assassino do pai. O filme, um western de boa linha, é refilmado agora pelos irmãos Joel e Ethan Coen e traz o mesmo nome (tanto no original como na tradução para a exibição brasileira). No lugar de Wayne está Jeff Bridges. E no de Darby está Hailee Steinfeld, estreando no cinema aos 16 anos(antes só fez TV). O roteiro atual é assinado pelos diretores. Mas a base é a mesma. E o filme está candidato a 10 Oscar incluindo-se o de filme, ator (Jeff Bridges), diretor e roteiro adaptado. O segundo grande lançamento da semana nos cinemas comerciais da cidade.

E ainda estréia “Burlesque”(EUA 2010), musical de Steve Antin com Cher e Christina Aguillera. O filme foi o vencedor do Globo de Ouro de melhor canção e tenta mostrar o auge do gênero teatral em um tempo e com menos liberdade de censura (faltam os elementos desse tipo de show na sua origem, como strip-tease).

Dentre os filmes da programação extra destaque para “Trágica Obesessão”(Obsession), de Brian De Palma, sábado (12) às 16h na Sessão Cult da ACCPA no Cine Libero Luxardo. E “Em Cada Coração um Pecado”(King’s Row) na Sessão Nostalgia do Cine Olimpia, domingo 13, também às 16 h.

Clássicos imperdíveis.

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

TRAGÉDIA SUBMARINA



Derivando de uma história de Andrew Wright roteirizada por ele e John Garvin “Santuário”(Sanctum/EUA, 2010) é dirigido por Alister Grieson. O fato abordado teria sido real e naturalmente obteve a maquilagem do roteirista (que já esteve preso em caverna) para gerar um espetáculo cinematográfico rentável. Não à toa que um dos produtores é James Cameron, apaixonado por expedições submarinas desde que filmou “Titanic”.

O fato aconteceu em Papua, na Nova Guiné, quando exploradores de diversas nacionalidades resolvem explorar uma caverna pré-histórica sabendo que as águas do interior dessa caverna migram para o mar através de diversas fendas. Eles querem saber o roteiro desses emaranhados de vias submarinas, levando algum equipamento moderno, mas cientes de que não podem usar artefatos pesados e audaciosos quando sabem que a região é constantemente assolada por tempestades. E é isso que acontece: um ciclone inunda a caverna e o grupo formado por 7 pessoas refugia-se num bolsão de ar mas não sabe como fugir dali. E pelas mensagens da superfície (que deixam de ser transmitidas), percebem que vai ser difícil uma missão de socorro. Como diz um dos expedicionários: “- Virão só para recolher os mortos”.

O liame de enredo repousa no relacionamento do chefe da expedição, Frank (Richard Roxburgh) com seu filho Josh (Rhys Walkefield). O primeiro é veterano em tarefas semelhantes e o segundo é um calouro embora tenha fama de bom montanhista, ou seja, em escalar montanhas. Além deles há um casal de namorados (ou noivos), Carl (Iohan Grufudd) e Victoria (Alice Parkinson). Os demais coadjuvantes são citados na hora em que sofrem traumas, mas não ganham estrutura bastante para sensibilizar o espectador. Este “fio da meada” serve apenas para encaixar as cenas de acidentes subterrâneos (e submarinos) que a produção explora com a 3D. Além de belas paisagens africanas vistas no inicio em tomadas aéreas, as paredes da caverna focalizadas em travelling aproveitam bem a técnica para consubstanciar um espetáculo mais para atração de feira do que propriamente de cinema.

O suspense gerado pelas pessoas enterradas vivas e ainda mais sujeitas a morrer afogadas é suscitado de forma parcimoniosa, ligada sempre ao maravilhoso da cenografia natural (e o pouco que complementa esta cenografia em um “set” australiano). Mas o resultado está longe de empolgar como em clássicos do nível de “A Montanha dos 7 Abutres” (The Big Carnival) de Billy Wilder, ou no recente “172 Horas” (172 Hours) de Danny Boyle. Mesmo porque as figuras em foco são estereótipos e no modo como são exploradas não passam de elementos de uma espécie de jogo. O filme, aliás, pode ser definido como um vídeo-game em que somente o resultado é marcado. Ou como se diz, já está dado.

O termo “Santuário” vem da expressão que se dá a majestade da caverna. E constantemente Frank, o líder do grupo de exploradores, fala de uma lenda locada em Shangri-la com o Lama norteando um ritual. Realmente as imagens das galerias de pedras seculares, vistas com a dimensão que as aproxima do espectador, impressionam. É o tipo do programa exclusivo de tela grande e para ser visto com aqueles óculos que propiciam o relevo. Tirando isso, salta forte o melodrama, a narrativa acadêmica sem inspiração e alguns maus desempenhos. Pode-se mesmo dizer que James Cameron pouco atuou no trabalho do colega diretor. Confiou na sua paixão pelos abismos. Aliás, foi durante a filmagem de “Segredo do Abismo” que ele brigou com a então esposa Kathryn Bigelow, que seria a diretora do filme – no final dirigido por ele.

“Santuário” não é bem um naufrágio cinematográfico. Mesmo porque nunca se arvorou a ser uma obra de arte. É um show e como tal pode ser visto.

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

O VENCEDOR



De todos os esportes que geraram filmes, o boxe me parece o mais feliz. Somam-se obras meritórias como “Punhos de Campeão” (The Set-Up/1949), ”O Invencível”(The Champion/1949), ”Marcado Pela Sarjeta”(Somebody Up There Likes Me/1956), ”Réquiem Por um Lutador”(Requiem for a Heavyweight/1962), “O Touro Indomável”(Raging Bull/1980) e “Menina de Ouro”(Million Dolar Baby/2004). Isto sem falar em luta-livre como o caso do recente “O Lutador” (The Wrestler/2008). Agora é a vez de “O Vencedor”(The Fighter/2010) entrar nesse clube. O filme assinado por David O. Russel entra este ano no páreo do Oscar concorrendo em 7 categorias.

O roteiro de Scott Silver, Paul Tamasy e Eric Johnson baseia-se na vida do boxeador Micky Ward (no filme interpretado por Mark Wahlberg), treinado pelo irmão, Dicky Ecklund (Christian Bale), um ex- lutador de grande potencial que não soube aproveitar o talento metendo-se com drogas, capaz de ganhar lutas consideradas difíceis (como a que o incluiu entre os mitos de sua cidade) e chegar ao campeonato numa disputa acirrada.

Como nos outros exemplares do gênero, “O Vencedor” encaminha-se para uma luta apoteótica. Até chegar a isso, o trabalho do diretor David O. Russel é conseguir retratar o relacionamento entre familiares e todo o drama dos irmãos que se dedicaram ao boxe, especialmente Dicky, brilhantemente interpretado por Christian Bale (muito longe do Jamie Graham que ele encarnou quando tinha apenas 13 anos em “O Império do Sol”- Empire of the Sun/1987, de Steven Speilberg). O tipo físico apresenta-o emagrecido, tentando dissipar seus problemas com sorrisos forçados, visto muitas vezes em close. A insistência em focalizá-lo leva a se pensar que é o principal interprete e não Mark Wahlberg.

O relacionamento dos rapazes com os familiares, o papel da mãe principamente, é o enquadramento necessário para a humanização dos tipos. Alice (Melissa) protege Micky, procura esquecer Dicky e alimenta a vaidade de chegar a ser mãe de um campeão. Mas quem alija Dicky como treinador do irmão (“porque falta muito ao trabalho”) é o pai, George (Jack McGee), ele próprio treinador e que acaba aceitando a opinião do outro filho quando o estilo de luta de Micky, atacando o adversário só depois de vários rounds, precisa do impulso do irmão, que numa seqüência, visto na cadeia pelo uso de drogas, mostra-o incentivando o irmão a aceitar seu aconselhamento por uma mudança no plano de luta do então treinador. Dicky acompanha pelo telefone a luta do irmão e se sente desesperado ao saber das etapas perdidas pelo “garoto”que ele ajudou a ser um bom “boxeur”. No último momento este se revela incondicional ao conselho do irmão e no ataque ao adversário vence a luta.

Basicamente o roteiro não traz novidades. Quem conhece os acontecimentos que nortearam a carreira de Micky Ward não vê muita diferença do que está na tela, achando que o lutador foi mesmo manuseado pela família, especialmente pela mãe, que se fazia de gerente de sua carreira. Ele aceita as mudanças ou a independência dos familiares sendo capaz de sai vencedor no ring internacional, não só pela ação do irmão enjeitado como pela paixão que passou a nutrir pela jovem vizinha Charlene (Amy Adams). No caso, o filme consegue dimensionar as personagens graças ao bom rendimento do elenco. Realmente todos estão afinados, mas a luta final, que nos outros exemplares desse tipo de enredo é um prodígio de edição, ganhando o ritmo que transporta o espectador do cinema para o estádio onde se dá a contenda, não é tão prodigiosa a julgar em uma comparação. Bem feita, como de resto a narrativa acadêmica se porta, ninguém pensa na platéia, que o “happy end” vá fugir. E nem é preciso saber que Micky Ward foi campeão mundial em sua categoria. O cinema de rotina diz a que veio.

Inegável o protagonismo de Melissa Leo como a mãe autoritária, desempenho que a candidatou ao Oscar 2011. Espero lhe dê mais sorte do que na época concorreu pelo excelente “Rio Congelado”(Frozen River/2008).

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

CISNES NEGRO E BRANCO



Quando o compositor Piotr Ilych Tchaikovsky (1840-1893) teve a idéia do seu ballet “O Lago dos Cisnes”, estava passando o verão na casa da irmã, em 1871. Escreveu como brincadeira aos sobrinhos, tendo como inspiração um conto do alemão Johann Karl August Musäus. Mas a peça tomou outro rumo, sendo apresentado ao dramaturgo Vladimir Begitchev, diretor dos Teatros Imperiais de Moscou, que se entusiasmou e adquiriu-o por 800 rublos(quantia muito baixa). Apresentou-o pela primeira vez em Moscou em março de 1877 (alguns dizem que foi em fevereiro) com o Bolshoi, mas sofreu a amarga recepção devido a diversos fatores como a sofrivel interpretação da orquestra, do corpo de balé, em termos de coreografia e cenografia. Mas o tempo consagrou a obra que teve outras mexidas, sendo a mais importante a do coreografo francês Marius Petipa, em St. Petersburgo, com reestreia em janeiro de 1895, dois anos após o falecimento de Tchaikovsky.
Os 4 atos contavam a história do príncipe Sigfried e sua paixão por um cisne branco, na verdade, uma princesa chamada Odete encantada em ave pelo bruxo Rothbart. Esta princesa, à maneira do nosso boto, só se transformava em mulher durante a noite, voltando ao lago quando amanhecia. Como em outros contos de fadas, a princesa só será liberta quando encontrar o amor. Siefried, por sua vez, sabe do encanto, salva Odete, mas Rothbart substitui este por sua filha Odile agora um cisne negro. Sabendo-se enganado, o príncipe procura Odete, mas o mago, por vingança, imunda as margens do rio e a princesa volta a se tornar o cisne branco. Desesperado ao ver que perdia a sua amada, Siegfried se joga nas águas do lago e ambos morrem afogados.
O tema é explorado no filme em cartaz “O Cisne Negro” (The Black Swan/EUA,2010) com interessante conotação freudiana. A jovem bailarina Nina Sayers(Natalie Portman), filha de Erica Sayers(Barbara Hershey, uma profissional da dança em outros tempos), anseia pelo papel de Odete, o Cisne Branco, na versão de “O Lago dos Cisnes”. Mas tem pela frente Lily (Mila Kunis), a substituta eventual de acordo com o diretor Thomas Leroy (Vincent Cassel). Quando ela sabe que Lily pode ficar com o papel de Cisne Negro, reluta em aceitar essa possibilidade, pois ambiciona as duas personagens (e na realidade teme que a outra a ofusque na dança). O seu comportamento engloba a atração sexual que parece exercer sobre Thomas e a repressão materna que se corporifica no comportamento da rival com o diretor. A presença da Odile, da história, acaba representando a outra personalidade de Nina, os recalques que ela precisa eliminar, nem que isso cause a sua própria morte.
O tratamento do diretor Darren Aronofsky (de “O Lutador”) usa o ballet como o fizeram Michael Powell e Emeric Pressburger com a dança que extraíram da música de Brian Easdale para o conto de Andersenem (
Sapatinhos Vermelhos, The Red Shoes, 1948). Aqui é o mesmo quadro de paixão que envolvia a bailarina e o diretor do espetáculo. Só que a tragédia se faz mais apegada a Tchaikovsky, com a bailarina sucumbindo na execução de seu papel. Nesse ponto pode ser vista a correlação entre atriz e personagem, tema que no cinema já deu filmes como “Fatalidade” (A Double Face) de George Cukor (o interprete de “Othelo” incorporava o personagem a ponto de matar a atriz que protagonizava Desdemona).
Em “Cisne Negro” é a fusão de fantasia & ambição & repressão, temas bem expressos em várias seqüências e como síntese, a que mostra Nina assassinando a rival sem que isso referencie uma cena sangrenta na realidade.
Música e dança servem ao drama e, curiosamente, levam a premios. Veja-se, por exemplo, “Sapatinhos Vermelhos” premiado com o Oscar de melhor direção de arte e música; ou ”Fatalidade”(A Double Life, 1947) que vitoriou o ator principal Ronald Colman e, agora, “Cisne Negro” candidata-se a categorias como filme, atriz, diretor, montagem (edição) e fotografia. A atriz Natalie Portman é a favorita em meio às indicadas. Procede a expectativa em torno disso.
O filme tem muito mais assunto para tratar em termos do conteudo explorado como desejo e sentimentos do ser humano. Volto a ele proximamente.

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

FILMES INÉDITOS PREMIADOS - EM DVD

O mercado brasileiro de DVD esté recebendo alguns títulos de filmes premiados em diversas mostras e muitos inéditos em cidades como Belém. É o caso da produção israelense “Pecado da Carne” (Einayim Petuhotht/2009) dirigida por Haim Tabakman e participante de seleções oficiais em Estocolmo, Palm Spring, Tel-Aviv e inclusive no Brasil. O roteiro trata de Zohar, açougueiro pai de família, que abriga em sua casa comercial como empregado o jovem Ran Danker, vindo de outra cidade atrás de emprego. O que inicia com uma relação estritamente comercial envereda por uma relação mais forte entre os dois homens, ambos judeus convictos, sendo Zohar amigo do rabino local e praticante radical dos rituais de sua religião. O caso provoca um escândalo na pequena comunidade e Daker é forçado a sair do lugar, deixando o amigo que encerra o relato mergulhando no rio onde antes os dois se banharam como meio de limpeza espiritual, marcando o inicio do relacionamento.


Muitas alusões à religião judaica acompanham a vida dos personagens no seu constante estudo da fé, situando a ação na polêmica entre o amor, o desejo, as relações de gênero na submissão feminina, no caso homossexual, com a desobediência a Deus, segundo o credo que professam.


A narrativa é lenta e aproveita detalhes para consubstanciar o drama. Excelente condução de elenco. Excelente realização.


Outro filme premiado que não chegou às telas grandes locais é o australiano “Em Busca da Redenção”(Last Ride/2009), primeiro longa-metragem de Glendyn Ivin diretor de curtos premiados. Em foco um pai, Kev (Hugo Weaving), que corta estrada com o filho menor Chook (Tom Russel) depois de atritos familiares que lhe deixou sem mulher e amigos próximos.Eles fazem uma escala na casa de uma ex-namorada de Kev, mas gradativamente a viagem vai ganhando contornos criminais, com roubo de carro, estacionamento em parque ecológico, e muita exibição de violência do homem desempregado e cada mais angustiado.


O relacionamento pai-e-filho é mostrado de forma excelente graças aos bons desempenhos do veterano Weaving e do garoto Russel, um dos melhores trabalhos infantis dos últimos anos.

O filme não “fecha” como, aliás, acontece com “Pecado da Carne”. Essas obras de diretores-autores apostam na inteligência e na sensibilidade do espectador. São grandes filmes para serem descobertos pelos cinéfilos que buscam as locadoras.

E na série de filmes de gangster franceses chega “O Circulo Vermelho” (Le Cercle Rouge/1970) de Jean Pierre Melville, com Alain Delon, Yves Montand e Gian Maria Volonté e André Bourvil. Desta vez, Delon, como ladrão, não escapa incólume da ação policial. No inicio do filme ele está na cadeia, preste a sair, e um carcereiro oferece-lhe um “trabalho” alertando que de outra forma não vai arranjar meio de subsistência. Paralelamente vê-se um prisioneiro (Volonté) conduzido algemado por um policial (Bourvil) num trem. Ele consegue se desvencilhar das algemas e fugir. A ação a partir de então se processa como se cada um deles desconhecesse o trajeto que tomam numa empreitada que será o centro de união entre eles, aliados a um ex-delegado (Montand) no roubo a uma joalheria muito bem guardada. A estratégia para o alcance da realização da ação lembra o clássico “Rififi” de Jules Dassin, por sua vez já copiado pelo mesmo diretor, “Tokaki”. São mais de 15 minutos sem ruídos, com os ladrões executando uma operação digna de ficção-cientifica. Um deslise leva-os às garras do inspetor que deixara fugir o preso algum tempo antes.


Melville era um cineasta meticuloso embora professasse a linguagem acadêmica avessa aos moldes da contemporânea “nouvelle vague”. Este é um de seus últimos trabalhos. Vale a pena conhecer.




DVDS MAIS LOCADOS (FOXVIDEO)
1. As Múmias do Faraó
2. Nosso Lar
3. Piranha
4. Como Cães e Gatos 2
5. Meu Malvado Favorito
6. Baaria - A Porta do Vento
7. O Bicho Vai Pegar 3
8. Ondine
9. Amor à Distância
10. Ela Dança, Eu Danço 3

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

TEMPO DE OSCAR



Apesar das críticas que são feitas à premiação do Oscar – e não faltam argumentos para isso a partir de quantos bons filmes são marginalizados e quantos premiados – a festa da Academia de Hollywood influi consideravelmente na programação de cinemas. Isto é salutar quando o habitual, em uma cidade como Belém, a dieta de produções caras e medíocres é feitas com títulos lançados exclusivamente para divertir (se é que conseguem tanto).

Este ano, ao que consta, todos os principais concorrentes aos prêmios & categorias a serem conferidos no final do mês estão previstos chegar às nossas telas. Esta semana está programado o “Cisne Negro”, ”O Vencedor” e, em pré-estréia (entra em cartaz na próxima 6ª.Feira), “O Discurso do Rei”. A esses filmes soma-se “Minhas Mães e Meu Pai”, já em cartaz (inexplicavelmente só em sessão noturna de um dos Cine Moviecom Pátio).
Estréia ainda “Santuário”, uma aventura em 3D que James Cameron, o ambicioso e bem sucedido comercialmente cineasta de “Avatar” e “Titanic” fez para Alister Grierson dirigir.

No plano extra, já está em cartaz no Cine Libero Luxardo o nacional “Cabeça a Prêmio”, de Marco Ricca. No Cine Olympia prosseguem “Matinta” e “Iracema”, dois filmes que focalizam esferas da cultura do nosso Estado. Na Sessão Cinemateca do Olympia, domingo às 16 h, será exibido o clássico “A Vida por um Fio” de Anatole Litvak, com Barbara Stanwyck e Burt Lancaster.

“Cisne Negro”(Black Swan/EUA,2010) traz a mais forte candidata ao Oscar de atriz ( já vencedora do Globo de Ouro na categoria drama): Natalie Portman. Essa atriz protagoniza a ambiciosa Nina Sayers, bailarina candidata a desempenhar o papel da Princesa Odete (Cisne Branco), na apresentação do ballet “O Lago dos Cisnes”. Sua intenção é também incorporar a figura da rival e vilã do Cisne Negro, mas enfrenta uma concorrência que a leva a delírios. Com direção de Darren Aronofsky, o filme concorre em várias categorias de premiação este ano. Não é obra-prima, mas se trata de um bom programa e Natalie impressiona em sua performance.

“O Vencedor”(The Fighter/EUA, 2010) concorre ao Oscar como filme, atrizes coadjuvantes(Amy Adams e Melissa Leo), ator coadjuvante (o favorito, Christian Bale), diretor(David Russel), edição e roteiro original. É mais um exemplar a tratar de boxe e no caso, de um jovem que tenta seguir e superar a carreira do irmão.

“Santuário”(Sanctur/EUA, 2010) evidencia o tema sobre uma caverna submarina a ser explorada por audazes mergulhadores que acabam presos ao tentar a façanha. Direção de Alister Grierson, com James Cameron na produção. Em 3D nas salas dos 2 Shopping, em cópias dubladas e legendadas.

“O Discurso do Rei” (The King Speech/UK,2010) é o grande favorito da premiação da Academia de Hollywood, concorrendo em 12 categorias. Trata do problema de fala que enfrentava o Rei George, da Inglaterra (pai da atual rainha Elizabeth), substituto do irmão Edward que abdicou por amor a uma plebéia. O rei sofria de disfemia, ou seja, era gago e passou a tratar-se com um terapeuta pouco ortodoxo. Segundo O Instituto Brasileiro de Fluência “O filme oferece, pela primeira vez, a oportunidade de realmente ter empatia e entender o que se passa com uma pessoa que tem gagueira”. É o tipo do programa imperdível que esta semana só pode ser visto por quem vai ao cinema tarde da noite e que na próxima estará ao alcance de todos.

“Cabeça a Premio”(Brasil/2010) é o primeiro filme dirigido pelo ator Marco Ricca. Trata de irmãos pecuaristas bem sucedidos. Quando a filha de um deles inicia romance com um piloto, o tio reclama a tem inicio um conflito familiar. A atriz brasileira Alice Braga foi premiada por seu papel no Festival de Goiania e outro ator do elendo, Fulvio Stefanni, que protagoniza um dos irmãos pecuaristas, mereceu menção honrosa no Festival do Rio.

As/os leitores, por certo, estarão mais interessados nos filmes do Oscar, contudo não deixem de assistir à programação extra. Sempre um bom título escolhido pelos membros da ACCPA. Boa sorte!

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

A FÓRMULA DO SUSPENSE





É costume dizer que o veterano diretor Alfred Hitchcock(1889-1980) foi o mestre do suspense. E o que seria isso? Em filmes desse cineasta inglês que ilustram o adjetivo são, posso exemplificar, entre outros: “Pacto Sinistro”(Stranger in a Train), “O Homem Errado”(The Wrong Man), “Um Corpo que Cai”(Vertigo), e, como o mais citado, “Piscose”(Psycho). A fórmula usa de estratagemas que coloquem o principal personagem em perigo e faça com que o espectador comungue com ele do pavor gerado pela situação perigosa.
Tomo o tema emprestado, hoje, a propósito da exibição no próximo domingo (6), na Sessão Cinemateca da ACCPA, no cinema Olympia (16 h), do filme “A Vida Por um Fio”(Sorry, Wrong Number/EUA,1948) do diretor ucraniano Anatole Litvak, com roteiro de Lucille Fletcher, baseado em uma radio novela de sua autoria.
No filme de Litvak o enredo trata de uma milionária paraplégica (Barbara Stanwyck) que ao procurar o marido (Burt Lancaster) pelo telefone e, graças à linha trançada, ouve uma conversa de pessoas que pretendem matar alguém. Continuando a ouvir ela percebe que este alguém é ela própria. E como os futuros assassinos falam da hora do crime, ela intensifica a busca pelo marido, mas sempre de forma infrutífera. O espectador sabe que a personagem está em perigo e o relógio constantemente focalizado avisa que este perigo está cada vez mais próximo. Está gerado o suspense. Cabe aos atores, especialmente a Barbara Stanwick, estruturar a emoção.
Graças à TV por assinatura assisti recentemente um filme que me parece ter sido feito para a TV, de título “Sem Vestigio”(Ultraceable/EUA,2008). A situação explorada é sobre um assassino serial que ataca pela internet, armando os crimes de forma a que o navegador acione as armas assassinas de seu próprio micro. Lembra a série “Jogo de Matar”, mas o sadismo não ganha um objetivo como nessas produções de baixo nível. Neste exemplar é o uso da tecnologia como arma de ataque e também de defesa, pois a protagonista da historia tem de usar de meios para alcançar o sítio de onde chegam as mensagens do criminoso antes que os que acessam a rede acabem, pelo numero de mensagens enviadas, acionando os engenhos matadores. Trama vinda de um roteiro de Robert Fyolent, Mark Brinker e Alison Brinker com direção de Gregory Hobit.
Dentre os mais novos exemplares do gênero o que me parece mais feliz no modo como atinge o objetivo de levar o espectador para a cumplicidade com a “hora trágica” é “Celullar”(EUA, 2005), de David Lewis, com roteiro de Larry Cohen. Neste caso, a figura central é a mãe de um menino de 11 anos que é seqüestrada para contar segredos que o marido guarda em um cofre. Ela consegue armar um aparelho telefônico fragmentado que está no alojamento onde é aprisionada e liga aleatoriamente chegando ao celular de um rapaz que havia deixado amigos e namorada numa praia. Ao suplicar desesperadamente para ele contatar a policia, o interlocutor atende, e, com isso, dá inicio a uma cruzada de perigos que se avolumam quando se sabe que um dos vilões é policial.
O filme é um prodígio de edição e rendimento de atores. Pode-se aformar que a montagem é a grande ferramenta do suspense. Cortar e colar planos para com isso ganhar ritmo é indispensável na realização de um filme com a finalidade de empolgar o espectador. Não à toa que o “pai” da técnica, o russo Sergei Eisenstein, conseguiu sensibilizar o mundo com as seqüências do massacre na escadaria de Odessa em “O Encouraçado Potemim”.
Suspense é edição e edição de imagens é privilégio do cinema.
Em “A Vida Por um Fio” o cinéfilo encontrará todas as artimanhas para sentir o friozinho na espinha quando o elan do suspense tornar-se a medida de sua emoção. Não perca a sessão de domingo.

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

MINHAS MÃES E MEU PAI



















Há algum tempo as mudanças no paradígma das ciências sociais trouxeram, entre outras, a do tipo de familia existente na sociedade. A composição do casamento clássico impunha a representação legal das relações entre um homem, uma mulher e filhos/as. A familia ampliada ou (além do casal e filhos, havia também a presença de parentes colaterais) foi dando lugar à familia nuclear (pai, mãe e filhos/as), mas sempre com a concepção que se tinha a partir do casamento hetero clássico. Hoje, a dimensão das mudanças abrange novos atores e nova conformação social. A inserção de um casal necessariamente não é prescrita pelo condicionante da heterossexualidade, mas o formato familiar pode ser de várias maneiras. Os/as avós e os netos, a tia e os sobrinhos, a mãe e os filhos são considerados hoje um grupo familiar. A nova orientação sexual também reproduz um movimento de mudança. Duas mulheres ou dois homens que se amam e resolvem viver juntos adotando ou procriando filhos/as se tornou um novo tipo de familia.

Nesse novo olhar, é respaldado o filme “Minhas Mães E Meu Pai” (The Kids Are All Right, EUA, 2010, 101 min.) apresentando uma família composta por Nic (Anette Benning), Jules (Julianne Moore), Joni (Mia Wasikowska) e Laser(Josh Hutcherson). As duas primeiras são mães dos dois últimos. E explica-se: juntas há muitos anos e desejosas de ter filhos, submetem-se à inseminação artificial, cada uma tendo uma criança e ambas do mesmo pai, ou seja, do esperma conseguido em banco especifico. Quando Joni está para entrar na universidade, ela e o irmão decidem procurar o pai biológico. Descobrem a identidade do doador através do banco que forneceu o sêmen e este aceita o encontro. Paul (Mark Ruffalo) se enternece em saber dos filhos. Ao tempo em que se fazem conhecidos dele, aproximam a família e desse contato associam o pai a uma das mães que trabalha com paisagismo. Isto acarreta um estremecimento na amizade das duas mulheres. O novo relacionamento chega a abalar a estável união das duas mulheres, mas a renúncia se dá em nome de uma estabilidade afetiva.

O argumento trata o homossexualismo com uma sensibilidade incomum. Nada é caricato ou tenta enaltecer padrões. O que importa é como os filhos vêem, ou passam a ver seus genitores (não só as mães).

A narrativa não alça vôo além de uma concepção acadêmica que facilita a abordagem da história por qualquer tipo de platéia. A diretora se esmera na construção dos tipos e no desempenho dos intérpretes. Annette Benning está em seu melhor momento no cinema, sem desmerecer o esforço de Juliane Moore. Mark Ruffalo sempre colocado em papéis secundários, vem promovendo sua versatilidade em bons desempenhos em comédias românticas, em dramas e/ ou aventuras. A direção é de Lisa Cholotenko, também autora do roteiro.

Como se vê a partir do prólogo deste texto, a relação intrafamiliar expressa no filme revela-se diferenciada da tradicional. O filme ganha uma ótica em que se vislumbra primeiro o completo entrosamento de mães-pais e filhos, sendo possivel, de inicio, avaliar uma situação de comando de uma delas sobre os demais. Em seguida, vê-se a emoção de um encontro (saber quem e como é o pai), depois a noção de que isso gera um incômodo, ou uma quebra da estabilidade no lar. E a abordagem segue caminhos delicados como a sexualidade dos jovens. Joni querer saber se é hetero e não homo como a mãe (ilustrativo o momento em que beija um colega numa festa de escola sem nenhuma conversa prévia). E o caçula Laser também às voltas com as amizades de seu tempo, um dos amigos remexendo as gavetas das mães e encontrando um vídeo erótico de figuras masculinas, além de experimentar o uso de drogas. Esses comportamentos levam as duas mulheres a questionarem as suas posições como educadoras da prole. E consideram principalmente a união entre eles.

Impossivel deixar de analisar a atitude das personagens femininas onde está definida a caracteristica da chefia e da submissão, papéis tradicionais que marcam as normas sociais de casamentos heteros. O “esperma” terá que ser banido sob pena de a “nova familia” desaparecer. Autoritarismos, visão estreita e ausência da idéia de diversidade se mesclam e transformam a relação em imposição e perdas. E assim o filme fica exposto a uma interessantissima reflexão sobre os relacionamentos humanos e à diversidade sexual.

Lisa Cholodenko roteirista e diretora estudou cinema na Universidade de Columbia apresentando um curta-metragem premiado no fim do curso: “Dinner Party”(1997). O curta ”High Art”(1998) ganhou prêmio no Festival de Sundance, sendo ambos exibidos em Cannes. A diretora, de 46 anos, também possui no currículo vários episódios de séries de TV. É um nome a observar. E agora, com a indicação de um seu filme a 4 Oscars (filme, atriz, ator coadjuvante e roteiro original), certamente vai ser notada pelos produtores da grande indústria.

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

CAÇA ÀS BRUXAS










“Malleus Maleficarum” ou “O Martelo das Feiticeiras” livro compilado, escrito e publicado em 1487 por dois inquisidores da ordem dos dominicanos (Heinrich Kraemer e James Sprenger) tendo como fundamento a bula “Summis desiderantes” emitida pelo Papa Inocêncio VIII em 1484. Trata-se de um manual sobre a caça às bruxas usado no início do século XVI a meados do século XVII, de maior expressão desse incidente religioso para diagnosticar a prática da bruxaria. Divide-se em três partes: ensina aos juizes a reconhecerem as múltiplas facetas da suposta bruxaria; explora, classifica e explica os vários tipos de maleficios; e constroi as regras formais para a aplicação de inquirições às bruxas e a sua condenação. Diz-se que a Igreja católica colocou o livro no Index Librorum Prihibitorum, mas mesmo assim ele recebeu, até 1669 16 novas reimpressões (tenho um exemplar do livro, da Editora Rosa dos Tempos, 1976).

Este prólogo apresenta, inicialmente, uma argumentação secular sobre a caça às bruxas, num livro que tem sido explorado nos vários estudos sobre esse fenômeno que condenou centenas de mulheres no mundo. Mas não que dizer que ele foi base do roteiro do filme que ora está em exibição, “Caça às Bruxas” (“Season of the Witch”, EUA, 2010, 95 min.). No enredo do filme, Behmen (Nicolas Cage) e Felson (Ron Perlman) desertam das cruzadas depois de verem tantas mortes de mulheres e crianças. Mas esta deserção leva-os à cadeia. E só se livrarão se encontrarem uma jovem suspeita de bruxaria que deverá ser julgada pelos membros da Santa Inquisição. A mulher seria a responsável pela peste que dizimava a população local. O roteiro de Bragi F. Schut é ambientado na Idade Média com todos os clichês do gênero “terror”, incluindo os acordes em seqüências que se mostra como assustadoras e monstros alados fazendo a vez de demônios . Quem conta a história é a garota-bruxa. Mas essa narrativa oral não sustenta o filme todo. É percebida nos últimos planos, como uma “explicação” para o que foi explorado.

O filme inicia com rápidas tomadas de ataques de soldados cristãos às pessoas do povo suspeitas de magia ou outros credos que não o católico. Há quem chore desesperadamente alegando que fez pacto com o diabo, mas se sente ludibriado implorando perdão. Vê-se o castigo além da fogueira: a pessoa é amarrada pelos pés e atirada num poço cheio d’agua. “Se não morrer afogada é porque não pertence a satanás”, diz um padre. Em seguida surgem “flashes” das batalhas. Os massacres se sucedem e endossam a opção dos amigos Behmen e Felson em largar tudo e partir para outro modo de vida.

A fotografia é interessante, usando o escuro como predominância na acepção de que as personagens cruzam espaços tidos como diabólicos. Seria uma “jornada pelas trevas” ou mais um apelo ao aspecto “dark”, hoje muito procurado pela cinematografia. Algumas falas criticam o comportamento da igreja. Termina essa abordagem nos planos em que se vê um cardeal morrendo (Christopher Lee irreconhecível com as “marcas da peste”) e pedindo aos ex-cruzados que capturem a bruxa causadora da doença de que é vitima.

A jornada atrás da bruxa utiliza a maior parte da narrativa. Há momentos de apelo ao suspense, mesmo com tipos pouco edificados, como quando os captores e sua presa seguem através de uma ponte de madeira em ruínas e há perigo de caírem num abismo. Evidente que os espectadores das sessões da tarde já viram ações idênticas. O que o roteiro quer dizer de novo é que a bruxa, mesmo sendo vista como tal, não é má pessoa. Chega a ser angelical se comparada com os membros do clero que não hesitam em matar os que julgam heréticos. Essa mudança que se opera no tratamento da jovem como vilã, seguindo a moda atual que relativiza o conceito de bem e de mal, não ganha maiores alturas posto que as cenas de ação servem à preferência e no fim das contas pouco se sabe quem é quem – ou deva fazer o quê.

“Caça às Bruxas” não precisa de muita análise critica para ser coroado como um dos primeiros “abacaxis” de luxo exibidos no ano. Um crítico norte-americano questionou o fato de Nicolas Cage não escolher bons papéis para interpretar, mesmo sendo sobrinho de Francis Coppola e ator premiado com o Oscar. “Vicio Frenético” (2009) de Werber Herzog é uma minúscula exceção entre outros filmes que protagonizou.