terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

CAÇA ÀS BRUXAS










“Malleus Maleficarum” ou “O Martelo das Feiticeiras” livro compilado, escrito e publicado em 1487 por dois inquisidores da ordem dos dominicanos (Heinrich Kraemer e James Sprenger) tendo como fundamento a bula “Summis desiderantes” emitida pelo Papa Inocêncio VIII em 1484. Trata-se de um manual sobre a caça às bruxas usado no início do século XVI a meados do século XVII, de maior expressão desse incidente religioso para diagnosticar a prática da bruxaria. Divide-se em três partes: ensina aos juizes a reconhecerem as múltiplas facetas da suposta bruxaria; explora, classifica e explica os vários tipos de maleficios; e constroi as regras formais para a aplicação de inquirições às bruxas e a sua condenação. Diz-se que a Igreja católica colocou o livro no Index Librorum Prihibitorum, mas mesmo assim ele recebeu, até 1669 16 novas reimpressões (tenho um exemplar do livro, da Editora Rosa dos Tempos, 1976).

Este prólogo apresenta, inicialmente, uma argumentação secular sobre a caça às bruxas, num livro que tem sido explorado nos vários estudos sobre esse fenômeno que condenou centenas de mulheres no mundo. Mas não que dizer que ele foi base do roteiro do filme que ora está em exibição, “Caça às Bruxas” (“Season of the Witch”, EUA, 2010, 95 min.). No enredo do filme, Behmen (Nicolas Cage) e Felson (Ron Perlman) desertam das cruzadas depois de verem tantas mortes de mulheres e crianças. Mas esta deserção leva-os à cadeia. E só se livrarão se encontrarem uma jovem suspeita de bruxaria que deverá ser julgada pelos membros da Santa Inquisição. A mulher seria a responsável pela peste que dizimava a população local. O roteiro de Bragi F. Schut é ambientado na Idade Média com todos os clichês do gênero “terror”, incluindo os acordes em seqüências que se mostra como assustadoras e monstros alados fazendo a vez de demônios . Quem conta a história é a garota-bruxa. Mas essa narrativa oral não sustenta o filme todo. É percebida nos últimos planos, como uma “explicação” para o que foi explorado.

O filme inicia com rápidas tomadas de ataques de soldados cristãos às pessoas do povo suspeitas de magia ou outros credos que não o católico. Há quem chore desesperadamente alegando que fez pacto com o diabo, mas se sente ludibriado implorando perdão. Vê-se o castigo além da fogueira: a pessoa é amarrada pelos pés e atirada num poço cheio d’agua. “Se não morrer afogada é porque não pertence a satanás”, diz um padre. Em seguida surgem “flashes” das batalhas. Os massacres se sucedem e endossam a opção dos amigos Behmen e Felson em largar tudo e partir para outro modo de vida.

A fotografia é interessante, usando o escuro como predominância na acepção de que as personagens cruzam espaços tidos como diabólicos. Seria uma “jornada pelas trevas” ou mais um apelo ao aspecto “dark”, hoje muito procurado pela cinematografia. Algumas falas criticam o comportamento da igreja. Termina essa abordagem nos planos em que se vê um cardeal morrendo (Christopher Lee irreconhecível com as “marcas da peste”) e pedindo aos ex-cruzados que capturem a bruxa causadora da doença de que é vitima.

A jornada atrás da bruxa utiliza a maior parte da narrativa. Há momentos de apelo ao suspense, mesmo com tipos pouco edificados, como quando os captores e sua presa seguem através de uma ponte de madeira em ruínas e há perigo de caírem num abismo. Evidente que os espectadores das sessões da tarde já viram ações idênticas. O que o roteiro quer dizer de novo é que a bruxa, mesmo sendo vista como tal, não é má pessoa. Chega a ser angelical se comparada com os membros do clero que não hesitam em matar os que julgam heréticos. Essa mudança que se opera no tratamento da jovem como vilã, seguindo a moda atual que relativiza o conceito de bem e de mal, não ganha maiores alturas posto que as cenas de ação servem à preferência e no fim das contas pouco se sabe quem é quem – ou deva fazer o quê.

“Caça às Bruxas” não precisa de muita análise critica para ser coroado como um dos primeiros “abacaxis” de luxo exibidos no ano. Um crítico norte-americano questionou o fato de Nicolas Cage não escolher bons papéis para interpretar, mesmo sendo sobrinho de Francis Coppola e ator premiado com o Oscar. “Vicio Frenético” (2009) de Werber Herzog é uma minúscula exceção entre outros filmes que protagonizou.

Um comentário:

  1. Saudações,

    respeitosamente gostaria de convidar-lhes para conhecer o Conselho de Bruxaria Tradicional no Brasil.

    Acesso os links:
    www.bruxariatradicional.com.br

    Veja nossas publicações:
    http://bruxaria-tradicional.blogspot.com/2011/04/legalize-ja-contra-marginalizacao-da.html

    Abraços Fraternos,
    Dannyela

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