segunda-feira, 29 de março de 2010

II FESTIVAL DE CURTAS-METRAGENS “CURTA CASTANHAL”

PREFEITURA DE CASTANHAL
FUNDAÇÃO CULTURAL DE CASTANHAL
II FESTIVAL DE CURTAS-METRAGENS “CURTA CASTANHAL”



FUNCAST divulga vencedores do II FESTIVAL DE CURTAS-METRAGENS de Castanhal.

A FUNCAST – Fundação Cultural de Castanhal está divulgando o resultado final do II FESTIVAL DE CURTAS-METRAGEMS “CURTA CASTANHAL”, versão 2010.

1º Lugar: “Vila Castanhalense” – Direção: Jhamerson Wandrew.
2º Lugar: “Celas” – Direção: Anselmo Gomes.
3º Lugar: “O tempo que virou lembrança” – Direção: Masaru Takano, Elison Azimbauê e Monik Àguila.
Melhor Filme por Aclamação Popular: “Um $ Real”.
PREMIAÇÃO: 1º Lugar: R$ 3.000,00; 2º Lugar: R$ 2.500,00; 3º Lugar: R$ 2.000,00; Aclamação Popular: R$ 1.000,00.

Os vencedores serão premiados no dia 13 de abril. A solenidade acontecerá no Auditório da FUNCAST, a partir das 19h00min.

FUNCAST oferece oficinas de Pintura em Tela e Cartum.

A FUNCAST – Fundação Cultural de Castanhal iniciou as oficinas de Pintura em Tela e Cartum. As oficinas aconteceram no período de 22 a 26 de março. O curso de pintura em tela foi ministrado pelo artista plástico Emílio Potiguara e a de Cartum por Biratan Porto, nos horários da manhã e tarde.

FUNCAST REALIZOU LANÇAMENTO DO FILME BALSA BOIEIRA DO CINEASTA CHICO CARNEIRO.

O lançamento do filme Balsa Boieira, do cineasta e fotógrafo Chico Carneiro aconteceu na sexta-feira, 26, na Praça do Estrela, as 19h00min.
As balsas boieiras fazem o transporte de gado pelos rios da Amazônia. A balsa, objeto deste documentário, parte de Belém com mercadoria seca, sobe os rios Amazonas e Xingu, até Belo Monte, na Transamazônica, de onde retorna com 300 bois para abate.
O filme documenta os nove dias dessa viagem: o cotidiano de sua tripulação, problemas da população ribeirinha, o sofrimento dos animais, a paisagem e a imparável destruição da Floresta Amazônica.

ELIENE SOUZA
Assessora de Imprensa
FUNCAST – Fundação Cultural de Castanhal

AS ESTRÉIAS DA SEMANA E OS EXTRAS




É de autoria de Richard Matheson, o escritor criativo do gênero ficção-cientifica, o roteiro de “A Caixa” uma das estréias da semana nos cinemas Moviecom. Também estréia a animação da DreamWorks “Como Treinar seu Dragão”.
No plano extra, na Sessão Aventura de domingo, 28, no Olympia foi exibido o clássico “Vampiro de Almas” de Don Siegel acompanhado da 3ª. Série do seriado “Flash Gordon”. No Cine Clube Alexandrino Moreira (IAP) a exibição, nesta 2ª Feira é com “O Enigma de Kaspar Hauser” de Werner Herzog. E no Cine Clube Pedro Veriano, na 3ª. Feira, foi programado pela ACCPA o filme de François Truffaut, “A Noite Americana”

“A Caixa” (The Box/EUA,2009) é dirigido por Richard Kelly, extraído de uma história e roteiro de Richard Matheson (autor de “O Incrível Homem que Encolheu”, “Eu sou a Lenda” e de muitos episódios da série de TV “Além da Imaginação”). O enfoque trata do casal Norma Lewis (Cameron Diaz) e Arthur (James Marsden), ela professora e ele engenheiro da NASA, que recebe de um estranho uma caixa em que o simples apertar de botão pode gerar a sorte como a desgraça. Sorte para quem tenta entrar no mistério dessa caixa, podendo enriquecer com isso. Desgraça por saber que a atitude implica na morte de uma pessoa querida.
Matheson tem 84 anos e escreveu a trama como um conto chamado “Button Button”. O adaptador (e roteirista oficial) foi o diretor Richard Kelly notabilizado com o filme “Donnie Darko” em 2001 (só chegou por aqui em DVD). A critica norte-americana dividiu-se: houve quem se confessasse “ligado ao que viu” como quem achasse uma forte marcha à ré com relação ao filme anterior do cineasta. Pouco se escreveu sobre o conto original, mas em se tratando de um autor muito imaginoso é de se esperar um filme diferente. É o tipo do programa que incita o cinéfilo e fã do gênero “sci-fi” e fantasia.

“Como Treinar seu Dragão”(How to Train Your Dragon/EUA,2010) é uma animação dos estúdios Dream Works realizada para ser exibida em 3D. Por aqui as cópias são mesmo em 2D e dubladas. O roteiro trata de um adolescente viking, por índole e herança um caçador de dragões. Mas as coisas mudam quando ele encontra um dragão chamado Banguela. O roteiro foi extraído do livro infantil homônimo escrito por Cressida Cowell. As vozes originais são de Gerard Butler, Jonah Hill, Jay Baruchel e América Ferrera, mas elas não serão ouvidas nos cinemas locais, trocadas por especialistas brasileiros.

“Vampiros de Almas”(Invasion of Body Snatchers/EUA,1956) é uma ficção-cientifica que logo se transformou em clássico do cinema. Dirigida por Don Siegel, o incentivador de Clint Eastwood (e professor dele), conta a intrigante história de favas de vagens vindas do espaço que uma vez na Terra moldam, ao anoitecer, cópias das pessoas próximas. Na madrugada elas tomam os corpos dessas pessoas, mostrando apenas uma diferença percebida: são seres destituídos de emoções. Com isso, o mundo tende a ser habitado por uma sociedade homogênea, mas cruel. Interpretação que gerou polêmica na estréia do filme, pelas versões suscitadas: alguns dizendo que se tratava de uma apologia ao “maccarthismo” ou critica implacável ao comunismo, outros, ao contrário, dizendo que a sociedade igualitária seria uma fantasia e como tal não se sustentaria diante da personalidade humana. Roteiro de Daniel Mainwaring e interpretações de Kevin McCarthy r Dana Wynter.

“O Enigma de Kaspar Hauser”(Kaspar Hauser/Alemanha, 1974) é um dos mais famosos filmes de Werner Herzog e se baseia no caso real de um jovem criado numa estrebaria sem contato com seres humanos. Quando em liberdade, ele demonstra uma prodigiosa inteligência. O ator Bruno S, que protagonizou mais 3 filmes (o último em 2004) encarnou o tipo com maestria e assemelhou-se, segundo o diretor, com o personagem que interpreta.

“A Noite Americana”(La Nuit Americaine/ França, 1973)é um dos filmes mais pessoais de François Truffaut.A abordagem é da criação no cinema, detalhando o processo de filmagem e produção. O ator é o mesmo Jean-Pierre Léaud da sua série começada com “Os Incompreendidos” sobre um anti-herói. No elenco, ainda, Jacqueline Bisset , Jean-Pierre Aumont e Valentina Cortese.
A exibição faz parte do programa “Cinema Sobre Cinema” que a ACCPA promove no Cine Clube Pedro Veriano (Casa da Linguagem), nesta terça feira, 30/03.

sexta-feira, 26 de março de 2010

O FANTÁSTICO MR. FOX




As fábulas sempre encerram com um preceito moral. Até porque elas guardam a dicotomia Bem e Mal com a vitória sempre e sempre do Bem. O filme “O Fantástico Sr. Raposo” (The Fantastic Mr Fox/EUA,2009), animação quadro a quadro(stop motion) de Wes Anderson, com base no livro homônimo de Roald Dahl, foge à regra. Não sei se somente no cinema, pois desconheço o livro. Mas em se tratando do diretor de “Os Excêntricos Tenenbaums” isto é possível.
Anderson é um dos diretores modernos adorados pela critica contemporânea. Razões não faltam para isso. O seu cinema prima pelo inconformismo. Os tipos não são moldados nos padrões de herói e heroína. São figuras que o tradutor brasileiro de seu titulo mais conhecido chamou de “excêntricos”. Dessa forma, nada de espantar ver uma raposa jornalista, conhecedora do que é certo e do que é errado (ou o que seja politicamente correto e incorreto), tentar viver numa toca “de luxo”, como bom burguês, e, mesmo assim, continuar caçando galinhas, perus e patos. Vale relembrar a história contada por Orson Welles do escorpião que pediu carona para um sapo ao atravessar um rio. No meio do caminho, apesar de ter prometido se comportar, o escorpião pica o sapo. Este reclama de um contrato feito antes, mas o escorpião diz que não pode ir contra a sua natureza. É assim que o Sr. Raposo (no original a voz de George Clooney), apesar de prometer à companheira que irá deixar em paz a criação dos fazendeiros, reincide na caça às aves. E nessa operação leva os parentes, incluindo um filho único, mudança que Andersen fez no livro original que cita uma ninhada.
Os nomes dos fazendeiros atacados por Raposo são Boque, Bunco e Bino. No original eles geram versinhos cômicos. Todos são vistos como homens e os tipos moldados no arquétipo do patrão despótico (baixo, gordo, mal humorado). Eles engendram diversas armadilhas para as raposas. Mas a esperteza dos animais é desafiadora e nisso resta uma das características primordiais da obra: não há mocinhos perfeitos. O Sr. Raposo é ladrão de galinha. O filho e sobrinho também são ladrões de galinha. Só a senhora Raposo é vista como uma dama bem comportada, preferindo que o marido deixe a vida de caçador em galinheiro e se torne apenas o colunista do jornal dos bichos, além, é óbvio, de um comportado pai de família (no fim do filme ela está esperando outro animalzinho).
A ironia que preside o roteiro do próprio diretor associado à Noah Baumbach, está presente na própria condução muito simples da história, como se o cinema estivesse contando uma fabula. Mas a malicia agarra o interesse e a família Raposo passa a ser alvo da simpatia do espectador que se estivesse na pele dos donos das aves estaria caçando esses bichos.
A animação “stop-motion” é muito antiga, tendo servido à primeira versão de “King Kong” (1933) pela mãos do mestre Willis O’Brien. São bonecos de massa fotografados quadro a quadro. Hoje, quando se faz o gênero digitalmente, é uma ousadia que se prende à criatividade do autor ou autores. E se vê na obra de Wes Anderson que a fauna de figuras “diferentes” persiste num gênero antes afeito apenas ao público infantil. Passar desses tipos para a animação é uma criatividade intelectual ousada. E valeu. O filme é muito interessante a agrada a crianças e adultos, os primeiros deixando-se levar pelas personagens e situações, enquanto os segundos pela originalidade com que eles são apresentados.
Cotação: *** (Bom)

quinta-feira, 25 de março de 2010

O LIVRO DE ELI














Algo mais do que um novo “blockbuster” de Hollywood, “O Livro de Eli” (The Book of Eli/EUA, 2010) destaca a última edição da Bíblia, ou “A Biblia do Rei George”, com base em uma série de metáforas. Focaliza um andarilho a percorrer uma terra devastada por uma guerra cujo inicio é desconhecido, assim como os combatentes e a ocorrência. Este homem de passos calmos, levando consigo uma mochila onde se encontram um pouco de água, carne de caça, e um livro encadernado, diz que seu objetivo é o oeste. Pelo caminho vê carros quebrados, um grande deserto e alguns núcleos populacionais onde se encontram pessoas rudes que se aproveitam do que restou de uma frota automobilística e de armas de fogo. Essas pessoas lutam entre si pela sobrevivência. Numa das povoações encontra-se um líder que se pode ver como o arquétipo do ditador, objetivando cada vez mais poder e sabedor de que um livro é o que falta para conseguir esse poder supremo. Justamente o livro que Eli (Denzel Washington), o andarilho, leva consigo.
O roteiro de Gary Whitta, um estreante na profissão, marca a volta dos irmãos Albert e Allen Hughes como diretores, ausentes da tela grande desde 2001, após a realização de “Do Inferno” (From Hell), uma visão plasticamente interessante da história de Jack o Estripador (deles também a série “Touching Evil” para TV).
Para colocar em cena todas as insinuações simbólicas da trama, inicialmente os Hughes usaram uma esmerada cenografia e, das imagens sombrias de Don Burgess, conseguiram não só o clima solene da história como a perfeita adequação do que é narrado sobre os acontecimentos. Valeram-se do trabalho dos cenógrafos Chris Buman-Mohr e Patrick Cassidy, criadores da terra pós-apocaliptica, a lembrar em superlativo o que se viu nos três filmes australianos de George Miller “Mad Max”. Procuraram colocar a narrativa como se fosse, realmente, um novo livro bíblico. Não à toa, portanto, o duplo sentido de O Livro de Eli.
O títere Carnegie (Gary Oldman) luta com o seu grupo pela posse do tal livro e ao obtê-lo depara-se com um fecho de metal que veda a escritura e, ao insistir, descobre-o escrito em braile (própria para os cegos). Como a companheira Claudia (Jennifer Beals) submetida à escrava é cega, ele pede que ela traduza o que está impresso. Esta se nega afirmando não reconhecer mais a escrita devido o tempo que foi tiranizada por Carnegie juntamente com a filha Solara (Mila Kunis), a seguidora de Eli quando este passa pelo povoado, primeiramente para seduzi-lo e mais tarde, tornando-se parceira na peregrinação pelo deserto.
O que emerge da narrativa passa pela ambição do poder, pela religiosidade com alusão a episódios do Velho Testamento e também do Novo (ao citar o Apocalipse de S. João) e pela necessidade da fé, além de uma postura de samurai que o personagem adota o tempo todo (o guerreiro japonês está a serviço de seu senhor, e Eli, a serviço de Deus).
O final do filme, com o personagem ditando o texto que decorou a um editor encontrado nas ruínas de uma grande cidade, marca, obviamente, a volta da civilização. Mas há uma nova postura. É uma mulher quem vai sair pelo mundo propagando a Fé. Ela usa um I-Pod, um rifle, e no último plano, está em posição acima da visão panorâmica da metrópole devastada. No caso, a nova Eva não levaria a maldição que resultou na sua expulsão do Éden. À Solara caberia o que coube a Noé depois de a arca ter aportado no fim do dilúvio.
Muito a ver em seqüências tão interessante no aspecto plástico quanto a que os Hughes mostraram na sua Londres de “Do Inferno”. Esses diretores começaram modestamente em “Perigo Para a Sociedade” (Manace II Society/1993) ganhando a confiança da critica. Bissextos por convicção conseguem realizar na era em que a grande estrela é o efeito especial, um filme como “O Livro de Eli” onde pouco se usa essa arma da cinestética. Não é um filme caro para os padrões norte-americanos e nem aposta no gosto fácil das platéias. Surpreende até quando mostra cenas de ação em planos abertos ou silhuetas. E sem perder a hegemonia do ritmo, a cadência do andarilho heróico.
Cotação: *** (Bom).

terça-feira, 23 de março de 2010

UM SONHO POSSÍVEL





Michael Oher, craque do futebol norte-americano ganhou uma cinebiografia a partir do livro de Michael Lewis e do roteiro do diretor John Lee Hancock. Resultou no filme “The Blind Side”, que poderia ser traduzido como “O Lado Escondido”, mas por força da perspectiva comercial foi escolhido, pela produtora Warner, um título mais sedutor: “Um Sonho Possível”.
Oher (Quinton Aaron) era pobre e de etnia negra (na época de muito preconceito). Sua mãe era dependente de drogas e seu pai ausente. Em nove anos freqüentou onze escolas diferentes, passou por lares adotivos até os 17 anos. Certo dia, mal agasalhado para o frio congelante, ao circular pelas ruas de Memphis foi visto pela decoradora Leigh Anne Tuohy (Sandra Bullock) que sensibilizada levou-o para a sua casa. Fortes laços afetivos são criados entre eles e como o jovem tinha tino para o futebol isto chamou a atenção de Leigh, comungando com o marido e os filhos o bem tratar o jogador.
Não conheço o livro de Michael Lewis que subsidiou o filme, mas a realização não procura fugir aos estereótipos comuns em melodramas vulgares, jamais aprofundando na psicologia dos personagens e jamais tentando esclarecer motivos de certas ações. Em duas horas de projeção o espectador é convidado a suportar chavões diversos, muitas cenas de um jogo que é variação do rúgbi, chamado football. Aliás, para se ter idéia da diferença do nosso esporte conhecido por lá como soccer, o futebol americano recompensa a velocidade e a capacidade tática dos jogadores, além da força bruta onde se vê, no meio de campo, empurrões, bloqueios e perseguição entre as equipes, com o objetivo de fazer avançar a bola para o território inimigo em uma hora de jogo transformada em três ou quatro do tempo real. É nesse entorno que é colocado Oher sem explorar, por exemplo, que esse esporte é uma metáfora para a guerra, daí a violência pessoal que emana dentro de campo, o que não foi visto pela direção do filme. Fazer as analogias entre o primeiro tempo da vida do jogador e o atual ao ser adotado pela “família branca” não deixou de ser uma peleja, mas ainda assim, deu respaldo a que houvesse um rasgo de valorização de uma etnia pela outra.
Realmente é quase impossível suportar o filme de Hancock. Tudo o que vai acontecer é previsto, o rapaz enjeitado passa a ser o queridinho da casa, a madame que trabalha pintando tapetes com elogios das compradoras passa a entender de esporte por conta de sua propensão samaritana, e naturalmente tudo acaba muito bem.
O filme talvez nem chegasse aos cinemas brasileiros se não fosse o Oscar de melhor atriz à Sandra. Indevido, diga-se, pois seu desempenho está muito abaixo da comédia anterior exibida por aqui, “A Proposta”.
Sem culpar o esporte pouco popular nesta parte da América como um fator que podia levar “Um Sonho Possível” ao limbo de tantos filmes considerados pouco ou nada comerciais por seus temas, convém lembrar o recente “Invictus”, filme sobre um esporte pouco conhecido em território brasileiro, que conseguiu utilizar as metáforas como pedras de xadrez nas evidências da luta política empreendida por Nelson Mandela para a unificação de seu povo. Clint Eastwood na direção favoreceu o enfoque da batalha de uma pessoa no poder sobre a história secular do apartheid. Se Hancock exigiu uma “lição de beneficência” para explorar seu football, Eastwood demandou mais do que um campeonato de rugby focado, mas o papel do líder Nelson Mandela na política de seu país quando saiu da prisão e galgou o posto de presidente da república. O fato de formar um time com brancos ingleses extrapolou a questão do tipo de esporte. Ficou em primeiro plano a tolerância, a habilidade e, principalmente, a noção de que a África do Sul precisava de capital estrangeiro para se erguer de uma fase econômica difícil. Em “Um Sonho...”, o caso do enjeitado que se destaca por saber jogar foge de qualquer outra interpretação. É o que se vê. E o que se vê não diz quase nada.
Cotação: Fraco(*)

sexta-feira, 19 de março de 2010

IDAS E VINDAS DO AMOR




Se alguma coisa se aproveita em “Idas e Vindas do Amor” (Valentine’s Day/EUA,2010) isto pode ser a estatística que não disfarça certo moralismo em torno da liberdade sexual. Os casais focalizados pela primeira vez nos esquetes engendrados pelo roteiro são vistos na cama. E não são casados, ou melhor, um parceiro pode até ser casado, mas com outra pessoa (o caso do médico que tem mulher e filhos e engana uma professora).
O filme dirigido pelo veterano Garry Marshall (“Uma Linda Mulher”) com roteiro assinado pela autora do argumento, Katherine Fugate, associada a Abby Kohn e Marc Silverstein, passa-se em um só dia, no caso, o Dia dos Namorados da cultura norte-americana, e aborda muitas personagens que de alguma forma participam dos festejos correspondentes à data. O eixo desse macrocosmo é o dono de uma loja que vende flores (Ashton Kutcher). Na primeira cena ele supõe que a namorada, com quem passou a noite, aceita um pedido de casamento. Como ela diz que sim ele sai festejando pela rua, contando aos amigos de sua alegria e passando a ver com os melhores olhos as encomendas de flores, afinal o que mais os amantes compram para seus/suas eleitos/as nesse dia. Daí em diante surgem tipos & casos. Alguns são vistos de forma tão breve não dando para acompanhar um drama ou uma comédia em particular. Evidencia-se o caso da simpática professora, a quem o florista procura quando descobre que o namorado dela (Patrick Dempsey) é casado. Desiludido, com esse fato, visita a então noiva e dela recebe uma contra-resposta que diz preferir a carreira de atriz ao casamento com ele.
Há outros enfoques isolados: o garoto que diz aos avós estar namorando e por isso comprando flores para a colega de escola; o atleta que mora sozinho; a capitã que retorna do Oriente Médio e no avião encontra um personagem que lhe parece simpático. Ficam reticentes histórias como a da atendente de tele-sexo, seguindo uma plêiade de tipos & situações apegadas à clicheria das chamadas comédias românticas.
Poucos cineastas souberam, como Robert Altman, realizar filmes de muitas tramas, como uma colcha de retalhos, agregando essas tramas no correr de duas ou mais horas de projeção. Há sete anos os ingleses produziram um filme semelhante e aceito por críticos e público: “Simplesmente Amor” (Love Actually), de Richard Curtis. Havia inventividade, poder de síntese e personagens carismáticos. Em “Valentine’s Day” ainda se percebe insinuações com base no citado filme a exemplo do garoto apaixonado. O que poderia ser um painel sobre como o norte-americano médio vê o relacionamento a dois transformou-se num tedioso espetáculo em que desfilam artistas famosos como Julia Roberts, o citado Ashton Kutcher, Jessica Alba, Anne Hathaway, Queen Latifah, Kathy Bates, Bradley Cooper, Patrick Dempsey, Jennifer Garner, Jamie Foxx, Taylor Lautner e Shirley MacLaine. Sinceramente há muito tempo eu não assistia a um filme tão desprovido de interesse. Não há um mínimo de imaginação nas idéias e na narrativa, não há tipos carismáticos ou encadeamento de situações que justifiquem um painel sobre o namoro numa grande cidade (no caso Los Angeles). Pode ser que no seu ponto de origem essa produção tenha funcionado, e a bilheteria se torna um argumento embora pese muito o elenco “all star”. Mas quem está de longe, como nós, vê-se forçado a suportar piadas insossas e uma longa metragem que parece bem mais longa devido a sua absoluta falta de originalidade.
Um insight me ocorreu ao verificar que “Idas e Vindas do Amor” entrava na 3ª. Semana em cartaz nos horários de estréia, o que vale dizer, uma boa bilheteria local, o que me levou a ir ao cinema para extrair matéria para comentário. Creiam, foi um sacrifício. É o caso de se pedir ao florista uma coroa para o réquiem de um gênero de filme que tem bons exemplos na história da cinematografia especifica, ou seja, da mesma origem. Não vamos longe: quem riu de “Se Beber, Não Case” percebe a que ponto a imaginação pode colaborar com um tipo de filme aparentemente gasto pelo uso. Mas imaginação foi a primeira ausência nas “idas e vindas”. É o caso de dizer: “a volta dos que não foram”.
Cotação: Péssimo (.).

quarta-feira, 17 de março de 2010

PERCY JACKSON E O LADRÃO DE RAIOS






A minha geração aprendeu muito de mitologia grega com a série de Monteiro Lobato “Os 12 Trabalhos de Hercules”. A escola tinha também o seu papel. Hoje, os filhos/as e netos/as ganham muitas fontes pitorescas para acessar o Olimpo com seus deuses e heróis. A mais nova fonte é o livro de Ruck Riodan de onde saiu este “Percy Jackson e o Ladrão de Raios (Percy Jackson & the Olympians: Lighting Thief/EUA/ 2010).
O que poderá ser mais uma franquia da indústria cinematográfica norte-americana é espertamente acessada quando se sabe que a de Harry Potter, de J. K. Rowlins, já está no último volume, “Harry Potter and the Deathly Hallows”, lançado em 2007, e em fase de adaptação para o cinema, a ser apresentado em dois filmes, um a estrear este ano, outro em 2011.
Há uma sede de fantasia em toda juventude (seja a passada, seja a atual). A prova disso está, igualmente, na trilogia “O Senhor dos Anéis” e em “As Crônicas de Narnia” do irlandês C. S. Lewis. E em paralelo, pode-se contabilizar o fenômeno de “Twilight” (Crepúsculo), alusão aos mitos de vampiro e lobisomem com a licença do efeito mimético (jovens se vêem como os protagonistas, e isto gera a fama de atores como Robert Pattinson agora estimado como “o novo James Dean”).
“Percy Jackson” trata da aventura de um adolescente da Nova York contemporânea que descobre ser filho do deus Poseidon ( a divindade do mar) e é perseguido por estar sendo incriminado como o ladrão de um raio pertencente ao todo poderoso Zeus. Para mostrar que nada tem a ver com isso, e para seguir a mãe que é raptada pelo enviado do monte Olimpo, ele viaja atrás do verdadeiro ladrão do raio. Nessa viagem encontra diversas figuras mitológicas. Mais do que nos trabalhos de Hercules que Monteiro Lobato sintetizou para a garotada brasileira de 50/60 anos atrás, vê-se o jovem às voltas com Hades, o deus do inferno, a Medusa e seus cabelos de cobra (com o feitiço de transformar em pedra quem a vê), o herói Perseu, um filho de Hercules, enfim, os atores de um mundo maravilhoso que os gregos edificaram no berço da civilização ocidental.
O diretor Chris Columbus é um veterano que realizou, inclusive, dois filmes de Harry Potter. Em “Percy Jackson...” ele se mostra contido na trama, deixando fluir os efeitos especiais que a rigor não dizem nada de novo mas que mapeiam a história (sem esses efeitos era impossível ver as transformações das figuras divinas ou heróicas). Mas o diretor não esquece de promover, diante da juventude, os seus mocinhos: Logan Lerman como Percy, Brandon T. Jackson como Grover e Alexandra Daddario como Annabeth. Nesse grupo, a mulher mostra-se tão ou mais valente que os homens. Muito mais do que na época do Hercules de Lobato. Também se minimiza certos personagens, a observar o cão Cérbero, que na mitologia é o guardião do inferno, como um cão entre os tantos monstros que surgem para cortar o caminho de Percy.
Não li o livro original, mas as liberdades com o tesouro que é a mitologia grega são significativas e objetivam torná-la mais atraente aos olhos modernos. Não se evidencia nem mesmo as qualidades do pai do pequeno herói, e ele chega a substituir Perseu na degola da Medusa, carregando a cabeça junto com o amigo Grover, um sátiro (mostra seus pés de cabra). E afinal a Medusa é uma das atrações do filme, interpretada por Uma Thurman. Também se vê o ex-James Bond, Pierce Brosnan, como um centauro, que pode se metamorfosear e passar como professor de Percy na escola norte-americana (uma aproximação que os autores acham mais simpática aos olhos da garotada que vai assistir ao filme).
O sucesso comercial não foi o de um “blockbuster” de inverno (nos EUA) mas rendeu o suficiente para uma segunda etapa. E é possível extrair várias. A concorrência atual paira nos livros de Stephenie Meyer (de “Crepúsculo”). A não ser que outra autora surja atiçando mais velhos mitos. Ou crie novos inspirados numa farta literatura de ficção. Nesse caso, há de se perguntar por que nós, brasileiros, não entramos nessa seara? Temos tantas lendas e mitos que daria bastante cinema-espetáculo.

segunda-feira, 15 de março de 2010

CLÁSSICOS ITALIANOS EM DVD















A crítica do inicio dos anos 50, não recebeu muito bem os filmes que Roberto Rosselini (1906-1977) fez com sua então esposa, a atriz Ingrid Bergman (1915-1982). Após o advento da “nouvelle vague” cineastas (e críticos) como Jean Luc Godard e François Truffaut escreveram que “Stromboli” (1949), “Europa 51”(1952) e “Viva a Itália”(1954) eram obras-primas. Essa referencia foi significativa para que outros colegas, mais novos, endossassem a opinião. Hoje, com o advento do DVD, esses filmes estão sendo saudados por diversos fatores, inclusive pela originalidade com que tratavam temas até então tabus.
“Europa 51” está circulando agora no mercado brasileiro. O roteiro é de Sandro de Feo, Maria Pannunzio, Ivo Perilli, Brunello Rondi, Diego Fabri, Antonio Pietrangeli e do próprio Rosselini. Desse grupo, Rondi e Pietrangeli se revelariam como diretores, o primeiro realizando, entre outros títulos, o impressionante “O Demônio” (Il Demônio/1963), exibido no então Cine Clube APCC, nos anos 70; e o segundo, “Adua e Suas Companheiras” (Adua e le Compagne/1960) e o hoje esquecido, mas muito bom “Fantasmas em Roma” (Fantasmi a Roma/1961).
O filme, que nos EUA recebeu o título de “O Maior Amor”(The Greatest Love) trata de Irene Girard (Ingrid Bergman), uma socialite, ex-jornalista, que na sua lida entre reuniões & festas esquece o filho Michele (Sandro Franchini), um quase adolescente que reclama a solidão em que vive. Quando o menino se atira do alto da escada de sua casa ela e o marido (Alexander Knox) passam a observá-lo. Mas já é tarde. Ele não morre na ocasião, mas pouco depois, já em casa, ao retornar do hospital. Desnorteada, Irene resolve conhecer e ajudar pessoas que tenham dramas semelhantes. Mergulha fundo no subúrbio, chega a trabalhar numa fabrica para uma das novas amigas não perder um emprego e, de uma feita, ajuda também um jovem assaltante, deixando-o fugir com a promessa de que ele se entregaria depois à policia. Esta atitude, no entanto, leva-a a um tribunal, já está separada do marido e é internada numa clinica psiquiátrica.
O argumento parece evidenciar a idéia de que o verdadeiro cristão (ou o próprio Cristo) pode ser visto aos olhos da sociedade de pós-guerra como um insano. Por querer fazer o bem ao próximo, a heroína de “Europa 51” fica olhando as pessoas que lhe querem bem do alto da janela gradeada de seu quarto hospitalar. Um fecho dramático que está entre os melhores momentos da obra do pioneiro da escola neo-realista.
Outro filme italiano antigo também foi lançamento nas locadoras de DVD: “O Médico e o Charlatão”(Il Medico e Lostregone/1957) de Mario Monicelli com roteiro de Otello Colangeli, musica de Nino Rota e argumento de Luciano Trasatti. O enfoque é sobre uma pequena comunidade e como os habitantes recebem a visita de um médico, sabendo-se que todos se consultam com um curandeiro.A luta não é só entre os personagens, mas entre a superstição e uma realidade que começa quando o médico quer vacinar a todo mundo contra o tifo e ninguém aceita. Marcello Mastroianni protagoniza o doutor Francesco e Vittorio De Sica o curandeiro espertalhão Antonio Locoratoro. O filme não é dos mais inspirados do diretor, mas ainda assim é divertido. Melhor do que ele é outra comédia da mesma procedência que também chegou agora ao DVD: “Coisas da Cosa Nostra” (Cose di Cosa Nostra/ 1971). A direção é de Steno que por muitos anos foi parceiro de Mario Monicelli em comédias. Carlo Giuffré interpreta um frentista italiano que mora com a família em Nova York e é assediado pela máfia para retornar ao seu país com o objetivo de matar um chefão de lá. Caso ele recuse, a família está em perigo. E a esposa (Pamela Tiffin) está louca para rever a Itália.
O roteiro de Roberto Amoroso e Aldo Fabrizzi joga com situações hilárias, com o próprio Fabrizzi interpretando um policial que confunde as coisas e presta contas ao mafioso que está marcado para morrer. No elenco, ainda, Jean-Claude Brialy e, numa ponta, Vittorio De Sica.

DVDs MAIS LOCADOS (FOXVIDEO)
1. Maluca Paixão
2. Código de Conduta
3. O Desinformante
4. (500) Dias com Ela
5. Bastardos Inglórios
6. Recém-Formada
7. Distrito 9
8. Um Namorado para Minha Esposa
9. Te Amarei para Sempre
10. Aconteceu em Woodstok

quinta-feira, 11 de março de 2010

CONTATOS DO 4° GRAU





















Uma definição de cinema é de que se trata “da verdade 24 vezes por segundo” (o tempo de rotação do filme no projetor). Mas logo foi desmentida e se passou a dizer que cinema “é a mentira”. Mesmo quando se diz “cinema-verdade” (e os franceses criaram o “cinema verité” com Jean Rouch e Edgar Morin), há de se convir que o que se passa na tela é o que o vê o olho que está colado na câmera. Mesmo assim, e por usar imagens que foram criadas a partir do real, o cinema tenta iludir, ou melhor, fazer passar a idéia de que está exibindo os fatos que estão acontecendo. Tudo bem numa tele-reportagem. Mas o que se focaliza é sempre o que o “cameraman” escolhe para registrar (ou pode registrar).
“Contatos do 4° Grau”(The Fourth Kind/ EUA, 2009) é um exemplo muito interessante de “falsa verdade”. Hoje se chama “docudrama” ou docuficção (situa-se entre o documentário e a ficção). No caso, um exemplo inaugurou um tipo de filme em que o docudrama se veste de elementos capazes de gerar medo no espectador comum: “A Bruxa de Blair”. Bastou a idéia de jovens cineastas que forjaram o encontro de película gravada por colegas que sumiram numa floresta no encalço de uma figura folclórica para se ver, nesse recurso, um modo de faturar bem alto com baixo custo de produção.
Depois de “A Bruxa...” já surgiram “Atividades Paranormais”, “Cloverfield O Monstro”, e “Rec”(em suas versões hispana e norte-americana) . A fórmula pouco varia: pessoas usam pequenas filmadoras para registrar fatos amedrontadores. No caso de “Atividades Paranormais”, um casal resolve filmar os fantasmas de uma casa onde vai residir. A derivação em “Rec” é de uma reportagem que uma jovem vai fazer para a televisão. Monstros e amedrontados são os objetivos do enfoque.
Agora é o que aconteceu em Nome, pequena cidade do Alaska. Ali muitas pessoas desapareceram e outras tantas relataram casos de abdução por seres alienígenas. Os ufólogos sabem desses casos espalhados pelo mundo. Mas o tratamento que deu a um lugar-comum pelo jovem diretor (e roteirista) Otatunde Osumani é que parece inovador. Logo na primeira cena a atriz Milla Javovich caminha em direção à objetiva (ela vem de um plano desfocado) e se apresenta assim: “-Eu sou Milla Javovich, atriz, e faço o papel da psicóloga Abbey Tyler...” Daí em diante outros atores surgem, ou dizendo que estão representando alguém ou simplesmente deixando em suas imagens legendas que colocam as personagens interpretadas no tempo e no espaço. Quer dizer: o filme assume a qualidade de recriador de um caso real. Muitas legendas posteriores indicam que as personagens focalizadas foram realmente vitimas de fenômenos inexplicados que aconteceram nessa região gelada por volta de 2005. Há até mesmo uma seqüência em que Milla conversa com a “verdadeira Abbey”. Quem dirá que é tudo forjado? Um crítico norte-americano perguntou: “-Se as cenas de angústia em sessões de psicanálise são verdadeiras, quem está filmando se nesse tipo de sessão só devem estar presente a paciente e a médica?”
O cineasta Osumani não vai fundo na concepção do que seja verdade ou ficção. Ele explora como verdadeiros os depoimentos e conseqüências desses depoimentos. No final do filme exibe um glossário de casos de abdução, atendendo ao que uma personagem explica sobre “contato do 4° grau”: o primeiro é ver um óvni, o segundo é provar a evidência desse objeto, o terceiro é encontrar um alienígena e o quarto é justamente ser abduzido por este alienígena. As pessoas de Nome teriam sido vitimas dos visitantes do espaço e nesse relato entram agentes do FBI que teriam ido ao local e testemunhado os acontecimentos sem que deles trouxesse (ou publicasse) alguma explicação em desmentido.
Como o caso da bruxa e seguidores o desejado é, realmente, meter medo. “Contatos do 4° Grau” é, sobretudo um “terror” de baixo custo. Mas é inegável que um roteiro inteligente e uma direção criativa conseguem amedrontar espectadores sem que seja preciso ir muito longe nas provas de que aconteceu ou está acontecendo.
Um filme assustador, sem dúvida. Mesmo que seja um logro, mas até aí cabe a sagacidade da produção.
Cotação: *** (Bom)

quarta-feira, 10 de março de 2010

INVICTUS



















O filme de Clint Eastwood, “Invictus” (EUA, 2009) foi vencido no páreo do Oscar. Apostava em Morgan Freeman, o ator principal que já fora premiado como melhor coadjuvante em “Menina de Ouro”, e que também solicitara a Clint para filmar o livro escrito por John Carlin sobre o desempenho político do então presidente Nelson Mandela no campeonato de rúgbi em 1995, em Capetown (África do Sul).
O filme é muito bom. Eastwood, como os grandes cineastas de sua geração (já fez 80 anos) tem o domínio no relato de uma história em linguagem de cinema. E sabe discutir o que tem a contar. No caso em pauta, a base não é só um esporte e uma autoridade que gosta de esporte. É uma observação sobre como se faz política de reconciliação com vias a se estruturar um governo que assumiu um país em péssimas condições financeiras e com certas reservas dos antigos inimigos.
Nelson Mandela passou 30 anos preso pelos ingleses que colonizaram a sua terra, tudo por ser contra o “appartheid”, ou seja, a divisão étnica que alijava o negro do poder. Perdoado depois de reclamos internacionais, foi não só liberto como se tornou candidato e saiu vencedor à presidência da república. Nessa nova condição, ele percebeu que a África do Sul não tinha como alimentar uma revanche ou um “appartheid” reverso. Na qualidade de patrocinador da copa mundial de rúgbi, um esporte inglês na gênese, levou um assistente a comentar que se espantava com um homem que passou tanto tempo preso e que ao sair da cadeia perdoou os seus carcereiros. E mais: como no país não existisse uma tradição no tipo de esporte, investiu na seleção existente formada por atletas brancos (e ingleses) no time. Deu uma aula de convivência pacifica quando, na estréia do campeonato, apertou a mão de um por um dos jogadores chamando-os pelo nome.
O filme centraliza a sua ação nos jogos, mostrando as intercorrências políticas entre a equipe do novo governo e a ação do presidente, daí porque não se torna um enfado a quem não entende as regras desse esporte mas reconhece a política. Particularmente nada sei de rúgbi, mas o que se constituía na emoção era registrar a relação que Eastwood criou entre os dois eixos do “jogo” com ênfase nas artimanhas do presidente Mandela tentar sensibilizar seu povo sofrido com a vingança na alma da necessidade de mostrar que eles vieram para apaziguar. É agressivo ver os atletas se defrontarem com brutalidade para levar uma bola oval ao gol. Mas até aí parece um achado para a temática do filme. O apoio aos brancos após uma vitória negra evidenciava Mandela submetido a demonstrar que “os brutos também amam”. E chegou a mostrar um pouco como os ingleses que ficaram em Capetown viam a ascensão negra ao poder. Os pais do capitão do time (interpretado por Matt Dammon) chegam a dizer a ele que “tome cuidado com o novo regime”. Pensavam em revanchismo. Havia motivo, mas não houve ação neste sentido.
Morgan Freeman assemelha-se fisicamente com o presidente sul-africano e mostra-se extremamente discreto no papel. Podia ganhar o seu Oscar de ator principal, mas ainda perdendo, ganhou elogios internacionais e a consciência de que está apto a fazer filmes importantes com ou sem o seu amigo Clint.
É interessante observar dois fatos: primeiro a oportunidade de o filme ser exibido às vésperas da Copa do Mundo de futebol. Mandela já disse que deseja assistir a partida inaugural. Depois, a posição do roteiro na obra de Eastwood. Continuam presente os personagens que passaram por momentos dramáticos (como o ex-combatente no Vietnam em “Gran Torino”, o ex-boxeur em “Menina de Ouro”, o oficial japonês em “Cartas de Iwo Jima” e assim por diante).
Como o ritmo se faz em função do jogo por uma questão da narrativa é possível que o filme seja visto de forma muito simplista em lugares onde o rúgbi não seja conhecido e Mandela também não tenha a sua biografia ao alcance de espectadores (já houve pelo menos 3 biografias do líder sul-africano em cinema, destacando-se a de Bille August exibida por aqui ano passado). O exagero para atingir o suspense nesse tom revela-se a credibilidade do diretor no que está criando: um filme sobre o jogo político.
“Invictus” deve ser visto. Principalmente pelos que desconhecem essa parte da história e a tendência de “jogador” de um político como Mandela.
Cotação: Muito Bom

segunda-feira, 8 de março de 2010

A GUERRA DO OSCAR


















Muita gente perdeu o “bolão” do Oscar apostando em “Avatar”. O filme de James Cameron, novo campeão mundial de bilheteria, havia sido indicado em 9 categorias assim como “Guerra ao Terror”, da sua ex-mulher mulher Katherine Bigelow que recebeu seis prêmios e “Avatar” somente três. E o mais evidente: “Guerra...” ganhou as categorias básicas (filme, diretor, roteiro adaptado) e entrou para a história da Academia de Hollywood por ter sido o primeiro filme a dar um Oscar a uma mulher.
De um modo geral, a festa deste ano deixou muito a desejar. Começando com os apresentadores, Steve Martin e Alec Baldwin, a dupla que concorre para ganhar o coração de Meryl Streep em “Simplesmente Complicado” (em cartaz) primaram pela falta de graça. Tudo bem que há piadas que só norte-americano entende (por isso a platéia ria), mas cinema é imagem, e no ano passado, por exemplo, o australiano Hugh Jackman impressionou não só pela fala mas ao tirar uma atriz da platéia para dançar com ele no palco. Depois, os velhos números musicais, encenados com um garbo digno dos filmes da antiga MGM, ficaram restritos à uma exibição do grupo Dançarinos Extraordinários, sem qualquer esmero cênico. Até mesmo a seqüência de homenagem aos artistas mortos no ano foi aquém do que se viu no passado, com uma canção cantada e tocada em violão e apenas fotos dessas figuras. Antes projetavam clipes dos filmes mais significativos em que elas atuaram.
Surpresas todos os anos acontecem. A péssima deste ano foi a premiação de Sandra Bullock por “Um Sonho Possível”. Ela protagoniza uma empresária de um time de beisebol que protege um tímido jogador negro. Nada que evidencie um grande trabalho. Sandra, a meu ver, esteve bem melhor na comédia “A Proposta” onde interpretava uma executiva às voltas com o “green card”, casando-se com um funcionário de sua firma para não ser banida dos EUA.
Jeff Bridges sempre foi um bom ator e chegou a ser candidato 4 vezes ao Oscar. Ganhou agora pelo desempenho como um cantor de música “country” em “Coração Louco”(ainda inédito por aqui). Foi o agradecimento mais demorado da noite. Quem não falou tanto, mas recebeu muitos aplausos foi a apresentadora Mon’ique premiada pela sua interpretação como a mãe da obesa mórbida e violentada pelo pai em “Preciosa”. Ela foi escolhida a melhor atriz coadjuvante. Este filme ganhou também o prêmio de melhor roteiro adaptado. Perdeu, e esta perda foi sentida, a intérprete principal, Gabourey Sidibe. Mas é preciso considerar que a jovem não era atriz e fez este primeiro filme com muita intuição e ajuda. Talvez o pessoal do sindicato dos atores, que é quem vota na categoria, tenha levado em conta isso.
Christoph Waltz, o ator austríaco que protagonizou o nazista sanguinário de “Bastardos Inglórios”, era o favorito como ator coadjuvante e não decepcionou. Mas o filme de Quentin Tarantino ficou por aí. Era candidato a mais 7 categorias. A parte de cinegrafia deste filme, por sinal, teve, entre os técnicos Celso Castro, filho da amiga Clemilde Correa Pinto Castro.
“Up” confirmou também a expectativa. Foi a melhor animação e a melhor música. Mais um tento da PIXAR, a firma hoje agregada a Disney que a cada ano apresenta um desenho criativo e sensível. Por sinal que também foi candidato a melhor filme e para a nossa critica ele figurou entre os 10 títulos mais expressivos do ano passado.
Em termos de homenagem, a que foi feita ao filme de terror foi por conta do sucesso da franquia iniciada com “Crepúsculo”. Não me pareceu uma lembrança oportuna. Melhor foi a homenagem a velhos ídolos e na platéia estavam dois: o diretor Roger Corman, talvez o campeão em numero de títulos dirigidos, e a atriz Lauren Bacall. Foram aplaudidos de pé, mas não subiram ao palco. Não se explicou o motivo.
Também se fez uma homenagem ao cineasta John Hughes, à frente um ator de seus filmes mais festejados, Matthew Broderick (basta lembrar “Curtindo a Vida Adoidado”)., Entre os que estavam prestando tributo a esse diretor & produtor morto ano passado estava Macaulay Culkin, seu ator em “Esqueceram de Mim”.
E voltando a “Guerra ao Terror”, filme comentado aqui na coluna, se trata de um trabalho bem feito. O problema é a condução do tema. Não se condena a guerra: se contemporiza através do trabalho do soldado. Parece que é o mínimo que se pede para que o norte-americano ature a morte de tantos filhos numa campanha que se discute.

quinta-feira, 4 de março de 2010

PARA VER ANTES DO OSCAR

















Em um dos cinemas Moviecom Castanheira será exibido “Invictus” (EUA/2009) o filme de Clint Eastwood com Morgan Freeman protagonizando Nelson Mandela, o ex-presidente da África do Sul. Esse trabalho do consagrado diretor & ator é candidato a dois Oscar: o de ator principal (Freeman) e de ator coadjuvante (Matt Dammon). A outra estréia é “Ninja Assassina” (Ninja Assassin/EUA,2009).
Às vésperas da entrega dos prêmios da Academia de Hollywood ainda podem ser vistos nas salas comerciais de Belém: “Preciosa” (candidato a filme, diretor, atriz e atriz coadjuvante), “Amor sem Escalas” (candidato a filme, diretor, roteiro adaptado e ator) e “Avatar” (um dos favoritos na categoria principal, ou seja, filme – além de mais oito indicações).
No setor extra há o Festival do Oscar no Olympia, a Mostra Glauber Rocha no Cineclube Pedro Veriano (Casa da Linguagem) e o excelente desenho japonês “O Túmulo dos Vagalumes”, obra-prima de Isao Takahata (Sessão Cinemateca, domingo no Olympia).
“Invictus” conta a participação entusiasmada do presidente da África do Sul, Nelson Mandela, pouco tempo depois de ele ter saído da prisão onde passou 30 anos de sua vida, na realização do campeonato mundial de rugby, um esporte violento muito popular especialmente na Inglaterra e EUA, no caso, por anglo-saxões, os algozes do então chefe de estado e combatente contra o “appartheid”. A direção é de Clint Eastwood com a competência que caracteriza a sua obra, em especial, os seus últimos trabalhos: “Menina de Ouro”, “Cartas de Iwo Jima”, “A Troca” e “Gran Torino”.
Morgan Freeman desempenha o papel de Nelson Mandela e foi elogiado pelo próprio personagem (a semelhança física é notável). Um grande trabalho de um ator que pelas mãos de Eastwood ganhou o Oscar de melhor coadjuvante por “Menina de Ouro”.
O filme está sendo lançado na época em que a África do Sul é a sede da Copa do Mundo de futebol. Mandela tem dito que estará presente no estádio, no primeiro jogo. A sua popularidade internacional, a sua postura firme com mais de 90 anos de idade, acelera de alguma forma o interesse pelo filme que passou a ser exibido internacionalmente no inicio deste ano.
É um grande lançamento. Mesmo quem não entende as regras do rugby vai avaliar o lance político da valorização desse esporte numa época de grande tensão entre brancos e negros. O ator Matt Dammon interpreta o capitão do time sul-africano, assombrando a todos por ser um branco e inglês.
Moviecom Castanheira a partir de hoje.
“Ninja Assassina” ((Ninja Assassin/EUA 2009) trata de Raizo, um jovem que treina para ser um expertise em assassinatos, sendo perseguido pelo clã Ozunu causando vitimas entre as quais seu melhor amigo. A base é a vingança desse (anti)herói. Direção de James McTeigue. Quem se interessa pela exibição de artes marciais pode apreciar o filme, considerado violento para a critica internacional.
“Paisagem na Neblina”(Topio Stin Omichi/Grécia,1988) estava com exibição prevista pelo Cine Clube Alexandrino Moreira para esta segunda feira, 8/03, no IAP, mas foi adiada para o próximo dia 15. Trata-se de um dos filmes mais aplaudidos do diretor grego Theo Angelopoulos. O roteiro acompanha duas crianças em busca do pai numa longa viagem pelo território grego em período conturbado de sua história.
O Cine Clube Pedro Veriano (Casa da Linguagem) programou o Festival Glauber Rocha exibindo todas as terças feiras até o dia 25/03, filmes realizados pelo cineasta, a propósito do aniversário desse diretor brasileiro. “Deus e o Diabo na Terra do Sol” será o programa desta terça, em sessão às 18h30.
“O Tumulo dos Vagalumes”(Hotaru no Haka/Japão, 1988) mostra o Japão durante a 2ª.Guerra através de uma família composta da mãe e dois filhos menores. O menino, um adolescente, protege a irmã caçula quando um bombardeio mata a mãe e o pai está na frente de batalha. As duas crianças lutam para sobreviver no meio hostil. O filme, premiado internacionalmente, é uma animação de Isao Takahata um dos criadores do Estúdio Ghibi com Hayao Miyazaki(de “As Viagens de Chichiro”). Um critico norte-americano escreveu que não é só uma obra-prima do desenho animado em 2D mas um dos maiores filmes de guerra de todos os tempos. (Sessão Cinemateca, domingo às 16 h no Olympia).
Mostra do Oscar- No Olympia, em promoção da ACCPA, filmes que receberam o Oscar da principal categoria. Hoje “Como Era Verde o Meu Vale” de John Ford(1941): amanhã e domingo “Farrapo Humano” de Billy Wilder (1945), 3ª e 4ª.Feiras “Sindicato de Ladrões”de Elia Kazan(1954).

quarta-feira, 3 de março de 2010

SEMANA PRÉ OSCAR

















No próximo dia 7 acontecerá a entrega do Oscar da Academia de Artes e Ciências de Hollywood a várias categorias. Não há prêmio de cinema mais criticado como também uma láurea tão esperada e comentada. Em tantos anos contabilizam-se injustiças na lista de grandes esquecidos e/ou de premiados sem lastro para tanto. Mas a cada ano as pessoas que gostam de cinema costumam fazer “bolões” para ver quem ganha esta loteria de imagens.
O grande problema de uma cidade como Belém é que a maior parte dos concorrentes não chega a ser visto pelos apostadores, ou fãs. Agora, com a Internet, há mais quem procure “baixar” alguns títulos, perseguindo cópias endereçadas aos votantes da Academia. Neste caso, cabe a pergunta: se as imagens endereçadas aos eleitores são sigilosas como é que as mesmas são colocadas na rede de computadores? E mais curioso ainda: como é que se deixa fixar legendas em diversos idiomas?
Bem, este ano há uma possível surpresa, ou uma inversão de ganhadores caso possa valer uma comparação com a premiação do Globo de Ouro, que antes era considerado a “sala de espera” do Oscar. Agora mesmo “Guerra ao Terror”, de Katherine Bigelow, ganhou os principais Bafta, o maior prêmio do cinema inglês. No Globo de Ouro essa diretora assistiu a seu filme perder para o do ex-marido James Cameron, “Avatar”. Mas as notícias vindas dos EUA dão conta de que o sindicato de diretores está apostando nela. E é muito difícil ganhar um filme e seu diretor ficar de fora ou vice-versa. Segundo a jornalista Ana Maria Bahiana, há forte tendência para a contenda ser vencida por Bigelow. Agora surgiu um militar que está processando os produtores do filme porque considera o enredo filmado a sua história pessoal, sendo contestado pelo roteirista, um jornalista correspondente de guerra.
Entre os dez filmes nominados ao Oscar, o espectador belenense assistiu nos cinemas somente seis: “Avatar”, “Gloriosos Bastardos”, “Up” , “Distrito 9”, “Amor sem Escalas” e agora “Preciosa“. Em DVD houve quem assistisse “Guerra ao Terror”. Na faixa de atores, só George Clooney por “Amor sem Escalas” e Jeremy Renner por “Guerra ao Terror”. Quem teve acesso a uma cópia via “download” da internet pôde ver o desempenho de Morgan Freeman em “Invictus”. Mas o filme terá lançamento amanhã, num dos Moviecom. O favorito é Jeff Bridge por “Coração Louco”, já detentor do Globo de Ouro dessa categoria. Na área de melhor atriz, nos cinemas locais só esteve (ou está, pois o filme é cartaz da semana nos Moviecom) a estreante Gabourey Sibide (por “Preciosa”). Mas algumas pessoas chegaram a conhecer o desempenho de Meryl Streep em “Julie e Julia”, de Sandra Bullock em “O Lado Cego”. Sem sombra de dúvida, Sibide é a favorita. Não sei para os técnicos votantes, mas a meu ver, tanto Sandra como Meryl estiveram péssimas nas representações selecionadas.
Para roteiro original, o que se viu aqui e que vem ganhando pontos e prêmios lá fora é o de “Amor sem Escalas”. Quanto a música os votos vão para “Up”, assim como a animação. E o ator coadjuvante, Christoph Waltz, vem arrasando (ganhou o Globo de Ouro, o Bafta e outros prêmios) pelo seu desempenho como o carrasco nazista de “Bastardos Inglórios”.
Na categoria de filme estrangeiro, o alemão “Fita Branca” deve ganhar. É um excelente filme de Michael Haneke o diretor de “Cachê”. O concorrente “Un Prophete” abusa da condição de hiper-realista.
Prêmios técnicos ficam com “Avatar” e pelo menos um documentário chegou particularmente aos cinéfilos locais, “The Cove”, uma comovente abordagem sobre a caça indiscriminada a baleias e golfinhos.
Mas a Oscar traz sempre surpresas. É a arma com que a Academia de Hollywood impulsiona o seu trabalho. É interessante que no mundo inteiro se faça “bolões” em torno do assunto, mesmo entre os que são veementes críticos dos prêmios. “Barbadas” este ano são poucas, como os efeitos especiais para “Avatar” ou a animação para “Up”.
Dentro do tema, a ACPPA está exibindo no cine Olympia um festival de filmes ganhadores do Oscar. Hoje exibe “Como Era Verde o Meu Vale”. Segue-se “Farrapo Humano”, “Sindicato de Ladrões”, “Marty” e “Kramer Vs. Kramer”. Cada filme ficará dois dias em cartaz na sessão de 18h30.
Agora é esperar e fazer “serão” no domingo. Fã de cinema dorme pouco nesse dia.

terça-feira, 2 de março de 2010

PRECIOSA- UMA HISTÓRIA DE ESPERANÇA























As lições do neo-realismo ainda podem contemplar narrativas do cinema contemporâneo. “Preciosa - Uma História De Esperança”(Precious/EUA,2009) enquadra-se na escola italiana dos anos de pós-guerra ao descobrir e lançar ao mundo as representações de tipos de anti-heróis num quadro deixado pela violência. Não à toa, portanto, que se vê nesse filme do diretor Lee Daniels uma seqüência de “Duas Mulheres” (La Cicciara/Itália, 1952) de Vittorio De Sica, sendo exibido na televisão. O currículo de iniciante aponta-o para o sofrível “Shadowboxer”, na direção, e o premiado “A Última Ceia”, como produtor.
O roteiro de “Preciosa”, foi extraído do romance “Push” (1956), de autoria da poeta Sapphires. O tema central aborda o dia-a-dia da adolescente Clairece Precious Jones, de 16 anos, com obesidade mórbida, maltratada pela mãe, violentada pelo pai. Desses episódios nasceu-lhe uma filha que ela chama de Mongo (devido a Síndrome de Down que a criança demonstra) e, no momento em que novos fatos sao evidenciados, se acha grávida de outro bebê.
A escola que freqüenta cujos padrões tradicionais revelam expertises variadas não valoriza o que a adolescente tem de melhor, assim, ela vai mal nos estudos, tanto por suas condições familiares como as de cunho social péssimas refletindo as atribulações de moradora de subúrbio sem infra-estrutura, com uma vizinhança marcante na desvalorização de seus atributos. Em casa, recebe diariamente demonstração de violência materna, e acha que a saída de seu drama, seguindo aconselhamento de uma assistente social da escola de onde foi expulsa, é matricular-se numa unidade de ensino alternativo, com valorização da arte dramática para o aprendizado que poderá afastá-la da solidão depressiva que vive. Mas há oposição em casa e nessa fase da vida conturbada de Claireece observa-se o “pomo da discórdia”: a possível perda dos recursos do governo que a mãe recebe para o sustento do neto especial. Consciente de sua situação, após o aconchego com a escola alternativa, dirigida por uma professora que acredita no seu talento, percebe que pode enfrentar os ditames maternos e seguir em frente junto às pessoas que a amam e não aquelas que só querem receber os recursos garantidos pela situação de miséria. Outros dramas emergem, mas a atitude da jovem, já com o segundo filho nos braços, demonstra que ela começou a adquirir capacidade de decidir seu destino.
Não conheço o texto original, mas é significativa a força do roteiro de Geoffrey Fletcher ao conseguir sobrepor a trama às armadilhas melodramáticas que sempre se aproximam. E deve-se muito aos intérpretes. Gabourey Sidibe (candidata ao Oscar de atriz e já premiada com o Globo de Ouro de filme dramático) que interpreta a personagem principal. Sem experiência em arte dramática, aluna de psicologia do Mercury College (NY) e com atividades em uma empresa telefônica, foi convidada para um teste visando o papel de “Preciosa”, ganhando fácil as demais concorrentes. Poucas vezes se vê um entrosamento tão grande de personagem com atriz. E vai ser difícil daqui por diante a jovem conseguir, em outro filme, dissipar a imagem da sofrida Claireece. O Oscar, no caso, será muito importante em sua carreira. E ela é a favorita.
O filme de baixo custo (produção independente, selecionada para a Mostra de Sundance), foi realizado quase todo nas ruas e num pequeno aposento de aspecto humilde. A linguagem não ousa sair de uma descrição do que acontece aos tipos. O “décor” endossa a condição desses tipos. São pessoas de cor, miseráveis, cada uma com uma história dramática guardada no intimo (e uma delas, a mãe de Precious, a também candidata ao Oscar Mo’Nique). Com uma fotografia poucas vezes clara, tentando na penumbra dimensionar o drama, os cortes obedecem a um esquema tradicional, os planos são dosados para não fugir de uma linha “documental”, e é assim que o diretor Lee Daniels , cuja experiência maior é a de ter produzido o premiado “A Última Ceia”(filme que deu o Oscar a Halle Berry), consegue transmitir o confronto existencial de pelo menos duas mulheres (mãe e filha) sem cair na pieguice. É um exemplo de cinema de baixo custo, realizado por minorias, que se eleva por sua qualidade intrínseca, sem liame com a grande indústria. E por garantir um desfecho de esperança.
Se Gabourey Sidibe ganhar o Oscar é de se saudar a Academia de Hollywood. Ela seria mais uma atriz negra a ter em mãos a estatueta dourada. E sem o glamour de quem saiu na frente (como Halle Berry). Minha atriz predileta nessa festa.
Cotação: Excelente (****)