sexta-feira, 19 de março de 2010

IDAS E VINDAS DO AMOR




Se alguma coisa se aproveita em “Idas e Vindas do Amor” (Valentine’s Day/EUA,2010) isto pode ser a estatística que não disfarça certo moralismo em torno da liberdade sexual. Os casais focalizados pela primeira vez nos esquetes engendrados pelo roteiro são vistos na cama. E não são casados, ou melhor, um parceiro pode até ser casado, mas com outra pessoa (o caso do médico que tem mulher e filhos e engana uma professora).
O filme dirigido pelo veterano Garry Marshall (“Uma Linda Mulher”) com roteiro assinado pela autora do argumento, Katherine Fugate, associada a Abby Kohn e Marc Silverstein, passa-se em um só dia, no caso, o Dia dos Namorados da cultura norte-americana, e aborda muitas personagens que de alguma forma participam dos festejos correspondentes à data. O eixo desse macrocosmo é o dono de uma loja que vende flores (Ashton Kutcher). Na primeira cena ele supõe que a namorada, com quem passou a noite, aceita um pedido de casamento. Como ela diz que sim ele sai festejando pela rua, contando aos amigos de sua alegria e passando a ver com os melhores olhos as encomendas de flores, afinal o que mais os amantes compram para seus/suas eleitos/as nesse dia. Daí em diante surgem tipos & casos. Alguns são vistos de forma tão breve não dando para acompanhar um drama ou uma comédia em particular. Evidencia-se o caso da simpática professora, a quem o florista procura quando descobre que o namorado dela (Patrick Dempsey) é casado. Desiludido, com esse fato, visita a então noiva e dela recebe uma contra-resposta que diz preferir a carreira de atriz ao casamento com ele.
Há outros enfoques isolados: o garoto que diz aos avós estar namorando e por isso comprando flores para a colega de escola; o atleta que mora sozinho; a capitã que retorna do Oriente Médio e no avião encontra um personagem que lhe parece simpático. Ficam reticentes histórias como a da atendente de tele-sexo, seguindo uma plêiade de tipos & situações apegadas à clicheria das chamadas comédias românticas.
Poucos cineastas souberam, como Robert Altman, realizar filmes de muitas tramas, como uma colcha de retalhos, agregando essas tramas no correr de duas ou mais horas de projeção. Há sete anos os ingleses produziram um filme semelhante e aceito por críticos e público: “Simplesmente Amor” (Love Actually), de Richard Curtis. Havia inventividade, poder de síntese e personagens carismáticos. Em “Valentine’s Day” ainda se percebe insinuações com base no citado filme a exemplo do garoto apaixonado. O que poderia ser um painel sobre como o norte-americano médio vê o relacionamento a dois transformou-se num tedioso espetáculo em que desfilam artistas famosos como Julia Roberts, o citado Ashton Kutcher, Jessica Alba, Anne Hathaway, Queen Latifah, Kathy Bates, Bradley Cooper, Patrick Dempsey, Jennifer Garner, Jamie Foxx, Taylor Lautner e Shirley MacLaine. Sinceramente há muito tempo eu não assistia a um filme tão desprovido de interesse. Não há um mínimo de imaginação nas idéias e na narrativa, não há tipos carismáticos ou encadeamento de situações que justifiquem um painel sobre o namoro numa grande cidade (no caso Los Angeles). Pode ser que no seu ponto de origem essa produção tenha funcionado, e a bilheteria se torna um argumento embora pese muito o elenco “all star”. Mas quem está de longe, como nós, vê-se forçado a suportar piadas insossas e uma longa metragem que parece bem mais longa devido a sua absoluta falta de originalidade.
Um insight me ocorreu ao verificar que “Idas e Vindas do Amor” entrava na 3ª. Semana em cartaz nos horários de estréia, o que vale dizer, uma boa bilheteria local, o que me levou a ir ao cinema para extrair matéria para comentário. Creiam, foi um sacrifício. É o caso de se pedir ao florista uma coroa para o réquiem de um gênero de filme que tem bons exemplos na história da cinematografia especifica, ou seja, da mesma origem. Não vamos longe: quem riu de “Se Beber, Não Case” percebe a que ponto a imaginação pode colaborar com um tipo de filme aparentemente gasto pelo uso. Mas imaginação foi a primeira ausência nas “idas e vindas”. É o caso de dizer: “a volta dos que não foram”.
Cotação: Péssimo (.).

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