terça-feira, 18 de junho de 2019


O PARAENSE É UFANISTA?
Francisco Guzzo Junior
(médico)
Diria sem pestanejar ... na imensa maioria, com certeza, sim. Outros diriam: -Égua! Será?
Há histórias hilárias contadas e recontadas, que insistem em dizer que sim. Para ficar só numa, lembro daquela que ensina como identificar, na chegada de um voo, se há ou não os “papa chibés”. E a resposta é que nem o crediário daquela loja... fácil, fácil: você olha a esteira de bagagens e a densidade paroara está diretamente proporcional ao número de geladeiras de isopor desembarcadas. Afinal, temos sempre que levar, independente para onde se vai: açaí, filhote, tapioca, farinha, cupuaçu, tucupi... Esse orgulho de nossas riquezas e a necessidade de demonstrar esse amor é muito bonito de se ver.
Caso você seja mais um, que se enquadre nesta legião dos tomadores de açaí e dançadores de carimbó, e que faz questão de dizer a plenos pulmões que é de um país que se chama Pará, como disse o poeta, tenho que lhe passar um convite e uma obrigação.
Vamos começar pelo começo, para deixar tudo bem explicado:
Por ocasião do último festival Pan- Amazônico de Cinema – Amazônia Doc 5 - fui ao encerramento, no Teatro Maria Sílvia Nunes, confesso, que apenas motivado, por ser a titular deste espaço, D. Luzia Álvares, a principal homenageada da noite. Preciso esclarecer, que inegavelmente ela é possuidora de diversas virtudes, todas muito significativas e merecedoras de todas as homenagens. Dentre elas, grande professora universitária, exímia pesquisadora na área política e da defesa das mulheres, com diversos livros publicados, ativista das causas sociais, crítica e apaixonada pela Sétima Arte. Tudo feito com uma paixão incomum e uma doação pessoal irretocável. Como não fosse suficiente tamanho cabedal, ela ainda produziu, junto com Pedro Veriano, uma obra prima, no caso, minha querida Ana Cristina.
Dito isto, retornemos ao assunto inicial, para quem declaradamente, fez-se presente no Cine Maria Sylvia Nunes, na Estação das Docas, para acompanhar a homenagem justíssima à sua sogra, situação que por si só, já foi motivo de grande regozijo. Fui brindado com duas outras fantásticas emoções, comprovando que nada acontece por acaso e tornando esta noite inesquecível. A primeira, foi conhecer um projeto de inclusão social de adolescentes, através do cinema, desenvolvido pela professora Lília de Melo de um colégio da Terra Firme. Absolutamente fantástico! E a segunda emoção, é o real motivo de minha manifestação: ao final do evento, ocorreu a exibição do documentário paraense/carioca AMAZÔNIA GROOVE (Brasil, 1h25), direção de Bruno Murtinho e roteiro de Leonardo Gudel e co-produzido por Marco André Oliveira.
Amigos conterrâneos, poucas vezes tive tamanho orgulho de ter nascido nesta terra. O documentário é um primor! Ele testa com extrema maestria, cada um de nossos sentimentos mais profundos, consegue, ao sabor da maré, levar-nos em segundos, da risada escrachada a mais singela lágrima. E tudo isto, que me perdoem a ousadia de um mero espectador de filmes, com uma técnica esmerada, de direção, roteiro, som e fotografia.
Sem querer ser aquele chato e contar todo o filme (aliás, defeito que adoram me imputar e que confesso concordar), mas com os dedos coçando, não consigo me deter e descrever pequenos detalhes maravilhosos, que ficarão para sempre gravados na retina e no coração, dos privilegiados telespectadores dessa película ímpar. Claro que sem desvendar tudo, mas com o intuito de despertar no leitor, a sublime curiosidade, o filme já inicia com uma sequência antológica, gravada sem cortes, acredito que por um drone, que percorre um dos nossos inconfundíveis igarapés. A câmera como um olho maravilhado, pela exuberância de nossa floresta, segue delicadamente o curso d’agua observando cada detalhe, vai se aprofundando mata a dentro, sem ser lento, e passando a sensação que a qualquer momento teremos um êxtase. Em off, inicialmente uma locução geograficamente esclarecedora, que finaliza desvendando o grande argumento do documentário “quantas músicas cabem no nosso Rio”? Ainda sem cortes, na próxima curva do rio, surge a bela e grande surpresa, impensada e culturalmente vigorosa e significativa para nós. E se não bastasse, ainda guarda a última imagem da sequência. Sem palavras!
Deste início que classifico orgásmico, segue a apresentação sequencial de nove ilustres protagonistas da vida cultural paraense. Não irei enumerá-los para que continuem a ter a experiência que tive, que seja, a cada fechamento do ciclo de um dos personagens, por alguns maravilhosos segundos, ter a sensação, que é misto de adivinhação e surpresa, até desvendar quem será o próximo homenageado.  E assim, diante de olhos vidrados, somos convidados a mergulhar em nove universos infinitos. Cada um com um estilo próprio, apresenta-se através de um flash de sua história de vida muito particular e emocionante, em alguns casos pitoresca, guardando relação “sui generis” com encantamentos próprios de nossa região, vitórias pessoais improváveis, consagrações internacionais, entre outras. Mostram como e de quem receberam influências de diversos estilos que o encaminharam para aquele espectro musical, e assim, vem o brega, o bolero, o clássico, a guitarrada... toda essa efervescência musical que tanto nos particulariza e enriquece, como retalhos de uma colcha cultural, que se estende sobre nossas cabeças desde a nossa mais tenra idade e que aprendemos a nos acostumar quase que instintivamente. Para cada um, foi escolhido a dedo, o cenário adequado e coerente, portanto, temos o privilégio de visualizar pelos planos mais belos e inusitados, alguns pontos turísticos de nossa terra. Tudo contado com um zelo nos mínimos detalhes, com um tempero sofisticado e na dose absolutamente certa, fazendo o milagre de agradar para quem gosta do tucupi doce ou ácido, que me perdoe o anjo maldito, mas essa unanimidade é muito inteligente. Em uma palavra, irretocável!
E assim, finalizo fazendo o convite para que todos se deem o desfrute de assistir a um trabalho muito bonito e que enaltece a cultura de nossa gente. E a obrigação de divulgar para enchermos as salas que estão exibindo, nos shoppings: Cinépolis e no Parque Shopping Belém.
Parabéns efusivos a toda a equipe do documentário, em especial ao Marco André Oliveira, que não o conheço pessoalmente, mas antes do início do filme, falou que fez outro documentário sensacional, sobre o centenário do Paysandu. Ele só escolhe temas vitoriosos ....