sexta-feira, 19 de julho de 2013

TEATRO NA TELA


 Paulo Gustavo em "Minha Mãe é uma Peça"
Paulo Gustavo Barros ou Paulo Gustavo é o responsável pela criação da personagem Dona Hermínia nascida para o teatro e com passagem na televisão. Sua chegada ao cinema seria uma consequência natural da onda de comédias que estão alimentando o cinema brasileiro de hoje, se considerarmos a bilheteria.
      “Minha Mãe é uma Peça”(Brasil, 2010), inspirado na peça homônima de muito sucesso trata da citada Hermínia, dona de casa (o próprio Paulo Gustavo de travesti) separada do marido (no filme Herson Capri), mãe de 3 filhos, o mais velho (Garib, Bruno Babiano) adulto estabilizado e morando longe, os mais novos chamando a atenção pela homossexualidade do rapaz(Juliano, Rodrigo Pandolfo) que procura esconder sua tendência, e pela menina obesa e desastrada (Marcelina, Mariana Xavier). Alia-se à tia  Zélia (Suely Franco) com quem passa um tempo de suposto “desamor” dos filhos por ela. A rotina desses tipos é tratada de forma a fazer gags. E para isso reforçam-se os estereótipos e as situações. Como o original é de teatro, o maior trabalho do roteiro de Gustavo e Felipe Braz é tirar essa impressão e o que se vê é uma saraivada de mini sequências ou esquetes que tentam um ritmo cinematográfico no processo narrativo. Isso não quer dizer que a leitura da historia sofra mudança radical. Pelo exagero das figuras em cena (ou em planos) é puro “teatro de variedades”. E não sei, pois não vi, se no palco a peça funciona melhor.
        O sucesso popular que está obtendo o filme, dirigido por André Pellenz, tem sua raiz nos programas humorísticos de TV e no próprio palco de onde veio. Mãe despótica, marido volúvel que já anda com mulher jovem a tiracolo, filho adulto, filho gay, filha gordinha e potencialmente engraçada (até por isso) seguem um esquema que não esconde preconceitos, pois sabe que o publico ri de um tipo de caricatura do “politicamente incorreto”. Nada no enredo ganha foro da realidade social brasileira sem a maquilagem de um show humorístico. É como a escolhinha do Chico Anysio ou o cenário da Zorra Total ou A Praça é Nossa. Se há público para esses shows em horários nobres naturalmente esse público se desloca para o cinema, pois sabe, de antemão, que vai se divertir.
           É preciso considerar que não é só o cinema nacional de hoje que se alimenta de comédias como forma de atrair platéia. Ontem era assim, e a diferença é que introduzia números musicais, pois, na época, não havia televisão e os cantores de rádio só eram conhecidos dos fãs, além de seus portos de origem, através das vozes. Foi o tempo das chanchadas. E quando chegaram os chamados “anos de chumbo”, a inocência do tipo de filme começou a ser diluída, com o advento do chamado “cinema novo”, passando ao apelo ao erótico na fórmula. E driblando uma censura que privilegiava o tema político via-se o que foi chamado de pornochanchada. Hoje, a liberdade de expressão deixa que dona Hermínia pronuncie “palavrões” e, com isso, provoque o riso de alguns (na minha sessão a plateia ria de cada termo disparado pela personagem). A vantagem, se é que se pode dizer assim, com outros exemplares do gênero, é que se limita a vulgarização do erótico. Com isso, o filme é aceito pelas famílias tradicionais que ainda vestem um comportamento hipócrita. O que não se diz é que se arma de preconceitos hoje considerados proibitivos. Mas vale tudo no afã de comercializar o produto. Cinema sério passa longe. E mesmo a diversão simples, mas inteligente, segue o caminho das férias.

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