quinta-feira, 27 de maio de 2010

FÚRIA DE TITÃS




























A mitologia grega, no cinema, ganha versões que as refazem ao gosto dos produtores de filmes. A minha geração deve lembrar a figura mítica de Hércules, explorada em uma série, pelo cinema italiano, destacando-se o então atleta Steve Reeves que passou a personificar esses tipos. Os roteiros eram tão livres que o aprendizado na escola sobre o mito grego, ou a leitura dos livros “Os 12 Trabalhos de Hercules” de Monteiro Lobato, não se coadunavam com as abordagens cinematográficas exploradas.
Em 1981, Hollywood apresentou uma versão da lenda grega, que intitulou “Fúria de Titãs”(Clash if Titans), despontando um elenco de figuras notáveis como Laurence Olivier (Zeus), Claire Bloom (Hera), Maggie Smith (Thetis), Ursula Andress (Afrodite), Burgess Meredith (Ammon) e Flora Robson (a bruxa Stygian). Os monstros foram produzidos em “stop-motion” pelo mestre na técnica, Ray Harryhauser, responsável por “Invasão dos Discos Voadores”, “Monstro do Mar Revolto”, “Jasão e o Velo de Ouro”. O roteiro, de Beverly Cross, brincou moderadamente com os personagens. O filme focalizava a figura de Perseu, famoso por matar a Gorgona, ou Medusa, mulher de cabelos de cobra que ao se deixar ver por uma pessoa transformava esta pessoa em pedra.
Agora, no bojo da tecnologia digital e na moda da 3D, surge uma nova versão de “Fúria de Titãs”, dirigida pelo francês Louis Leterrier (“Hulk”) com o ator Sam Worthington encarnando Perseu e mais: Liam Neeson (Zeus), Ralph Fiennes (Hades), Alexa Davalos (Andrômeda) Izabella Miko (Atenas) e muitos outros atores pouco conhecidos.

As inovações se cruzam desde o inicio. No que se sabe da mitologia, Perseu, filho de Zeus com a mortal Dânae foram banidos pelo avô Acrisio para que não se concretizasse a profecia de seu assassinato pelo neto. Os dois foram lançados ao mar num caixão e resgatados por pescadores tendo a frente Dictis, irmão do rei Serifo. Nesta versão, não há alusão a que a salvação de Perseu se deu por interferência de Zeus. Mostra o assassinato da família adotiva do herói por conta dos deuses (não cita o relacionamento do rei Polidectes com Dânae) e a missão de vingança por parte do semi-deus. É com este pensamento que Perseu enfrenta não só a Medusa, mas diversos monstros, o que possa dar margem a demonstração de efeitos especiais modernos.
Segundo o noticiário, Leterrier, grande admirador de Ray Harryhouse, teria realizado o filme em 2D, apoiando a ação nos prodígios digitais. Contudo, a produtora (Legendary Pictures/Warner) achou que “Fúria...” teria que ser no processo 3D para atrair mais público. Houve então uma rápida adaptação para que os efeitos tridimensionais ganhassem campo. E comercialmente deu certo, pois a estréia nos cinemas norte-americanos ultrapassou 70 milhões de dólares.

O que dizer do que está nas telas? Figuras monstruosas emitem urros intensos, tomando todo o retângulo da projeção em luta aparentemente desigual com Perseu. Na guerra contra a Medusa, carecem os recursos vindos do Olimpo que a lenda conta, a começar com um espelho feito escudo, o modo de proteger a figura que encanta com um simples olhar, presente da deusa Atena. Outros presentes ofertados pelos deuses também não contam como: um capacete que tornaria o herói invisível, dado pelo próprio Hades, o irmão de Zeus e vilão da história, e, ainda, as sandálias aladas doadas por Hermes. Pouco se fala dessas figuras divinas e mesmo Hades é visto apenas como o descontente deus das trevas que desafia o irmão todo-poderoso pelo que se considera detratado.

Não se deve esperar uma aula de mitologia grega dada por Hollywood. “Fúria de Titãs 2010” é ação pura e simples, exibindo figuras moldadas em computadores, com os intérpretes procurando dar alguma verossimilhança em contracenar com placas verdes que só ganharão figuras em edição posterior. Naturalmente implica em um exercício árduo do elenco, mas o profissionalismo exige-lhes seriedade, o que devem ter nessas horas. Mas, a julgar pelas matérias publicadas sobre o filme em diversas revistas e sites, o pessoal do set se divertiu bastante durante as filmagens. Talvez seja o caso de dizer que o trabalho foi prazeroso, até mais do que para alguns espectadores, obrigados a assistir o que eles fizeram.

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