sábado, 20 de fevereiro de 2010

O INCRÍVEL HOMEM QUE ENCOLHEU


















A nova geração de cinéfilos não teve acesso ao filme “O Incrível Homem que Encolheu” (The Incridible Shring Man/EUA,1957), exibido em Belém (Cine Olimpia) no final do ano de 1957. Dirigido pelo veterano diretor Jack Arnold (1916-1992), a partir do argumento e roteiro do escritor Richard Matheson, foi exibido na Sessão Cult da ACCPA, no Cine Libero Luxardo, neste sábado, 20. Nesse dia, Matheson completou 84 anos o que não deixa de ser uma celebração auspiciosa na escolha desse filme tão importante e instigante da literatura fantástica para exibição entre nós.
Num breve traçado do perfil desse escritor, sabe-se que desde bem jovem ele começou a escrever histórias fantásticas, algumas ligadas à ficção-cientifica. Foi dele o roteiro de “Encurralado” (Duel), primeiro filme de Steven Spielberg produzido, primeiramente, para a televisão. Outros sucessos da tela grande podem ser elencados como: “Em Algum Lugar do Passado” (Somewhere in Time/1980), “A Última Esperança da Terra” (The Omega Man/1971) refilmado como “Eu Sou a Lenda” (I am a Legend/2005), além de episódios das séries de TV como “Além da Imaginação”(Twilight Zone) e “Histórias Extraordinárias” (Amazing Stories).
O escritor permanece ativo sendo prova “A Caixa”(The Box/2009) de Richard Kelly com Cameron Diaz, produção vinda de uma história sua, “Button Button”. E para o futuro próximo há, pelo menos mais 3 filmes com base em suas idéias (e “scripts”).
“O Incrível Homem que Encolheu” foi classificado pelo autor como uma fantasia de horror e não como uma abordagem ficcional na ciência. O filme endossa essa impressão. Trata de Scott Carey (Grant Williams/1931-1985), um executivo que num passeio de iate, com a esposa, é envolvido por uma névoa que lhe proporciona, gradativamente, a diminuição do corpo. Os médicos não encontram explicação sobre o fenômeno, havendo encolhimento de forma progressiva. Caminhando para o terreno quântico, vê o seu universo ser substituído pelo infinitesimal sem que isso o prive da faculdade de pensar. O pensamento cartesiano dimensiona o achado do personagem.
A principio Scott luta com o complexo que lhe dá o encolhimento, não só em relação à vida social como a afetiva (há uma breve cena dele discutindo a sua vida conjugal com a esposa, Louise (Randy Stuart). Arruma-se numa casa de boneca, mas um gato cerca o pequeno espaço e ele acaba sendo jogado no porão. Louise pensa que está viúva e deixa a residência pesarosa. No porão, um novo mundo espera pelo cada vez diminuto personagem. Ele luta com uma aranha por um pedaço de queijo, toma banho num pequeno vazamento de torneira, faz uma arma de um alfinete, enfim, usa pequenos instrumentos e estratégias para se manter vivo. Passa pelo orifício de uma tela que leva ao jardim e, desse momento em diante, a historia ganha o terreno da poesia aludindo ao infinitamente grande e pequeno (“Eu vejo que as estrelas parecem mais próximas de mim”).
O filme, considerado “classe B” pelos estúdios da Universal foi lançado em tela panorâmica (superscope) e fez sucesso de público e de critica. Os mais céticos se impressionaram com a obra assinada por Jack Arnold, conhecido por aventuras descompromissadas como “Tarântula” e “O Monstro da Lagoa Negra”, o que não impediu ser homenageado no Festival de Cannes, confessando que “O Incrível Homem que Encolheu” foi o seu melhor trabalho e dele não mudaria um só plano, nem obrigado pelo estúdio. De fato o filme foge aos clichês, ganha uma profundidade incomum no cinema industrial da época e até seus efeitos especiais, no tempo em que não havia computador impressionam (os objetos foram edificados de forma a realçar a diferença de tamanho deles para o ator).
Há uma seqüência em que o personagem se aproxima de uma jovem anã de circo, período em que o processo de diminuição parece estacionar. Mas em um plano em que os dois são captados em um banco de praça ele percebe (e a perspectiva do ângulo demonstra isso) que está menor. Explode em gritos pela constatação do retorno do processo. Tudo isso em uma tomada. Há a impressão de angustia e ao mesmo tempo a vontade de prosseguir lutando “enquanto pode pensar”.
Um excelente filme, dos melhore exemplos desse tipo de fantasia, numa época em que se utilizava dela, primordialmente, para a propaganda com vistas à guerra fria entre EUA e URSS.
Cotação: ****(Excelente).

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