quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

O LOBISOMEM







Nos anos 30, os estúdios da Universal, até então considerados pequenos, criados pelo imigrante judeu Carl Leammle para suprir os cinemas de bairro que ele edificou logo que chegou à América, passaram a utilizar o chamado “filme de monstro” como um meio de criar uma projeção mais sedutora da empresa. A idéia se deve ao filho desse pioneiro da indústria cinematográfica, Carl Leammle Jr., a quem o pai dera de presente de aniversário o controle das filmagens. Foram exploradas as figuras de monstros da literatura universal como Frankenstein (de Mary Shelley), Drácula (de Bram Stocker), O Homem Invisível (de H.G. Wells), e, encerrando a “fauna”, o Lobisomem, este sem respaldo literário, derivando de uma lenda cigana que tratava de um homem capaz de se transformar em lobo depois de mordido por uma criatura semelhante.
O primeiro lobisomem da Companhia Universal foi realizado em 1941, com direção de George Waggner (1894-1984), uma espécie de “patinho feio” da empresa, apesar de ter sido a produção mais cara, com atores famosos como Claude Rains, Ralph Bellamy e Maria Ouspenskaya (atriz russa que já protagonizara a avó da heroína de “Duas Vidas”, melodrama de Leo McCaret , entre outros). Esse diretor foi o menos aplaudido do grupo. O ator Lon Chaney Jr, na época inexperiente, convidado certamente por se levar em conta o sucesso de seu pai em filmes como “O Fantasma da Ópera”(versão muda), não convenceu. E o roteiro não explorou nem mesmo o pavor exalado da metamorfose, com os assassinatos que se seguiram.
Quanto ao novo “O Lobisomem”(EUA, The Wolf man, 2010), dirigido por Joe Johnson de um roteiro de Andrew Kevin Walker e David Self, inspira-se no que escreveu Curt Siodmak para a primeira versão. Este roteirista seria, mais tarde, um diretor de filmes de ficção inclusive dois realizados na Amazônia e de péssima lembrança: “Curuçu”(1956) e “Escravo do Amor das Amazonas”(1957). É possível pensar que a nova estruturação da Universal Pictures, após a greve dos roteiristas em 2008, tirou do arquivo o texto de Siodmak, engendrou detalhes que antes não podiam ser explorados, dando um toque de produção requintada graças à uma cenografia e uma cinegrafia de alcance gótico.
O resultado exibe, principalmente, um visual que lembra o cinema do veterano Roger Corman nos anos 70, com orçamentos reduzidos. As nuvens de gelo seco ganham endosso na iluminação que dá o clima pedido ao palacete onde mora Sir John Talbot (Anthony Hopkins) o pai do atual lobisomem (Benicio del Toro), ele próprio uma das figuras condenadas a se transformar em lobo nas noites de lua cheia (um acréscimo na lenda original, assim como as balas de prata para matar o monstro). Também foram colocados detalhes impensados na época em que a censura limitava os autores: aqui, Sir John é o assassino de sua esposa e de um filho. O novo lobisomem, Lawrence Talbot, mata o pai. Os assassinatos ocorrem quando estão transformados, mas eles guardam na memória o que fizeram. Apesar disso, e em resposta ao filho, o patriarca afirma que uma vez pensou em se matar, mas desistiu, pois “gosta da vida”, separando a sua atitude como ser humano do que pensa como fera. Apesar dessa afirmação paterna, Lawrence como lobo reconhece a namorada Gwen (Emily Bont) e se recusa a matá-la. Conclui-se que há modalidades de amor que não são vulneráveis às mudanças física e mental como os casos de licantropia, a transformação lendária do homem em animal irracional que na psiquiatria limita-se a uma disposição do cérebro em assumir essa postura.
Se em 1941 essa história e monstro podiam aterrorizar alguém ou criar o interesse por algum liame de profundidade temática, hoje, passa como uma artimanha de cinema comercial. E pela bilheteria atual pode até gerar uma franquia. Há público para tudo.
Cotação: Fraco(*)

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