quarta-feira, 22 de maio de 2013

SOMOS [TÃO]JOVENS


"Somos tão jovens" filme sobre Renato Russo 

O Brasil tem certa tradição de cinebiografias de músicos. Em 1952 (para não ir muito longe) quando o prolífico diretor Luís de Barros (1893-1982) realizou “O Rei do Samba” sobre o compositor Sinhô, ícone dos anos 30 (cf. os clássicos “Jura”, “Gosto que me Enrosco”, não do conhecimento desta geração), com o pianista Bené Nunes na protagonização. E naturalmente lembrar Noel Rosa, conhecido como “O Poeta de Vila Isabel”, primeiro em uma parte do filme hoje lendário (não existe mais cópias) “Favela dos Meus Amores (1935), a chegar ao sofrível “Noel, O Poeta da Vila”(2007), de Ricardo Ban Steen e Rafael Raposo. Nos tempos modernos, com o advento do rock, “Cazuza o Tempo Não Pára”(2004) de Walter Carvalho e Sandra Werneck salta bem alto, ganhando, possivelmente (falta uma análise histórica mais densa), o pódio do gênero. Agora é a vez de Renato Russo, ídolo da juventude a partir dos anos 70, neste “Somos Tão Jovens” (Brasil, 2013) de Antonio Carlos Fontoura, cartaz nos cinemas há mais de 3 semanas, o que representa sucesso de publico.

Confesso que não acompanhei a trajetória de Renato Russo e de sua banda Legião Urbana e das demais que foram surgindo nos anos de chumbo. Apesar de ter vivido o período em que ele se projetou eu ouvia outro ritmo. Não porque eu já não fosse “tão jovem” (pois curto outros como os Beatles nesse tom). Mas nesse ponto vale observar que o titulo do filme atual resta no tempo presente porque os roteiristas acharam (e devem ter razão) que a música de RR prossegue atrativa dos adolescentes de hoje.
O filme começa bem interessante com um resumo da infância do personagem. Trata rapidamente dos pais, da relação pais e filho, detém-se no momento em que Renato Mendonça (só depois Russo) cai e machuca seriamente a coluna, destaca as aulas de inglês que ele proferia e só depois chega ao terreno em que se projetou. Mas é aí que certa ala de público sentiu-se decepcionado. E alguns críticos também. No primeiro caso, o noticiário revelou que estes acharam que o filme apresenta muito pouco da ilustração musical, de como surgiram as letras das composições hoje clássicas. E reclamaram da omissão na vida amorosa do cantor e de sua morte. Quanto aos críticos, o maior reclamo foi sobre a desimportancia do meio em que Renato viveu. Passam ao largo os chamados “anos de chumbo”, a ditadura reinante, a censura castradora, a luta dos artistas pela liberdade de expressão. Tudo isso desaparece num filme que em termos de narrativa nada tem do inicio do rock brasileiro. É simplesmente uma abordagem comportada da trajetória de um ídolo que extrapola aquele John Lennon de “O Garoto de Liverpool”(Nowhere Boy/UK, 2009). Mas essa foi a opção dos roteiristas em realçar apenas um recorte/período de sua vida evidenciando o tipo de garoto que ele era, extremamente soltário, caracteristica que não foi capaz de deixá-lo à margem da fama e ele se constituiu em um nome de excelência na cultura da música brasileira.
As primeiras sequências remetem a Brasília de 1976, quando um Renato Mendonça, ainda adolescente, demonstra dedicação à poesia, filosofia e, consequentemente, à música. Daí o tempo é deslocado para o período em que ele descobre os Sex Pistols e se envolve com o punkrock em um cenário ditatorial. A idéia do prefácio seria "de uma grande história desconhecida do público, em que sedefine uma personalidade e começa a desabrochar o artista, com suas influências e inspirações". Mas a realização diluiu uma parte dessa idéia ao recortá-la de forma episódica, mesclar de personagens/protagonistas sem explicação e sem evidenciar o significado deles na obra/vida de Renato (cf. o sul-africano e o seu parceiro afetivo). Isto resulta em que seja sentida certa superficialidade na pressa com que estes são tratados.
Nesse aspecto, desconheci o diretor Antonio Carlos Fontoura de realizações no passado, especialmente os excelentes “Copacabana Me Engana”(1968) e “A Rainha Diaba”(1974). Filmes da fase “cinema novo” que justamente se inclinavam na rebeldia artística do período. Um contraste na passividade deste “Somos Tão Jovens” . Creio que o cinema ainda fica devendo uma nova abordagem à  trajetória pessoal e artística de Renato Russo. 

2 comentários:

  1. Embora o filme force a barra em algumas histórias sobre o Renato Russo, gostei a reconstituição de epoca é excelente

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  2. Oi, Luzia!
    Que bom que vc. sempre tem mantido um compromisso bem legal com o Cinema Brasileiro. Às vezes a comparo com alguns críticos do Sudeste, que mantém esse compromisso. E isso eu constatei quando residi em São Paulo, vendo uma valorização maior do que se faz por aqui. O filme "Somos tão Jovens" é apenas isso: um registro para o fã. Nunca houve interesse do fã pela intimidade do Renato. Sempre o admirei por ser um poeta politizado, intelectual, que sabia das coisas. Acompanhei a cena roqueira no Brasil dos anos 80, curtindo Legião, Titãs, Paralamas, Biquini Cavadão, Ira, Plebe Rude, Capital Inicial... e isso até hoje roda em minha casa, com aprovação de minha mulher e filhas. Nunca curti o Cazuza (tá fora da minha praia), embora goste do Barão Vermelho. Foi bacana escutar as músicas do Renato e imaginá-lo no telão. Aquele ator até que (descontando-se alguns exageros)fez uma boa performance. Agora,a gente nem imagina que o Antônio Carlos (de??)Fontoura, daquele vigoroso "Rainha Diaba", tenha assinado esse filme.
    Grande abraço,
    R.Secco

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