quinta-feira, 30 de maio de 2013

DEPOIS DE LÚCIA


Alejandra (Tessa Ia) em uma cena de "bulling"

O cinema mexicano assume um excelente posto na cinematografia mundial numa boa fase, bem longe dos tempos dos melodramas calcados em letras de boleros. Acompanhei este período na época em que o romantismo ainda era um gênero em evidência em todas as artes. Entretanto, atribuo uma diferença nesse momento em algumas obras da dupla Emilio Fernandez & Gabriel Figueroa. Destaco também o excelente filme Macario(1960), de Roberto Gavaldón (creio que no Brasil intitulou-se Entrevista com a Morte), marcante no efeito onírico sobre a cultura da morte nesse país. Há outros, mas prefiro citar estes. No livro de Silvia Oróz, “Melodrama : O cinema de lágrimas da América Latina” (FUNARTE, 1999) esta autora tece comentários sobre o gênero.
Presentemente está sendo exibido entre nós Depois de Lúcia(Despues de Lucia/México 2012) filme que ganhou prêmio especial em Cannes e recebeu criticas entusiásticas ao redor do mundo. É o segundo trabalho do diretor Michel Franco, e o seu impacto promoveu-o a um dos mais rigorosos do cinema ocidental. Quando assisti pela primeira vez senti a densidade do final e cheguei a me envolver no drama das duas personagens numa tensão que me levou a desejar mais do que estava sendo articulado para penalizar culpados pelas violencias sofridas por uma jovem. É que o espectador ganha o desconforto do drama da jovem seduzida e aviltada.
O enredo do filme de Michel Franco trata de Alejandra (Tessa Ia) e seu pai Roberto (Hernán Mendoza) que se mudam da cidade de origem, Puerto Vallarta, para a Cidade do México, após a morte da mãe da garota (a Lúcia do titulo). Ambos, ainda lidando com esta perda, tentam se adaptar à nova realidade. Roberto é chef de cozinha e Alejandra uma estudante que se matricula em uma nova escola secundária da localidade e supõe fazer novos amigos. Orquestrado por colegas desse grupo, a jovem que vai a uma festa da turma é vilipendiada e empurrada para uma situação de estupro. Estes filmam a cena instigando pensar que a indefesa garota deixara-se seduzir. O vídeo é divulgado pela internet e todo o colégio passa a conhecer o fato, sendo repassado que a novata era uma garota fácil”. Por isso ganha novos assédios chegando ao buyiling de estrema crueldade.
Em Depois de Lucia observa-se não só um tratamento frio de um fato mórbido. Também se vê, no aspecto formal, um apego a essa frieza. Deve-se observar desde a primeira sequencia, quando Roberto recebe seu carro na oficina e depois de um percurso mais ou menos longo, abandona-o no meio da rua. A câmera que está todo tempo no banco traseiro do carro não se mexe. O mesmo ângulo explora a atitude do personagem saindo do carro e resolvendo o que tem para resolver. Essa imobilidade da câmera vai prosseguindo em muitas cenas como se a própria filmadora preferisse estar distante do drama, talvez uma alusão ao terror que ele aborda, parecendo sentir que é melhor ver de longe o que acontece ou como se pode delinear melhor tipos e situações.
Há muitos enquadramentos engenhosos durante a narrativa. E quando se vê apenas Alexandra não se tem uma menina alegre ou uma colegial ganhando novas amizades e confiando nessa vida que passa a assumir. É uma garota tímida e como não se detalha a sua reação diante do ataque dos colegas fica a surpresa do final quando ela desaparece e todos pensam que morreu afogada depois de um banho de mar com a mesma turma que a obriga a acompanha-los e vara a madrugada na praia.
O diretor poderia terminar seu filme sem explicações sobre o destino da jovem. Mas deixa um momento em que ela aparece, em certa sequencia, onde está e o que faz, embora a imagem considere a frieza de toda a narrativa. Contudo, esse não é o final. Depois de Luciaencerra com uma sequencia longa e aterradora. Um impacto que não deve ser revelado ao futuro espectador. E que desde já se insere entre os mais contundentes do cinema moderno.

         Exibição: de  29/05 (quarta) a 01/06 (sábado) às 19h, e 02/06 (dom. às 17 h) no Cine Líbero Luxardo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário