terça-feira, 7 de maio de 2013

A COR DA ESPERANÇA


Zola (Hubert Koundé) e o filho quase desfalecido. Imperdivel! No Olympia.

Quando assistimos a algum filme fora do esquema de modelos conhecidos (para não dizer a là hollywood) e esse filme tem méritos narrativos, interessa divulgar para que todo mundo assista. É o que ocorre com “A Cor do Oceano”(Die Farbe des Ozeans, Alemanha/Espanha, 2011), no momento sendo exibido no Cine Olympia (horário regular, 18h30). Trata de imigrantes africanos que tentam melhorar de vida seguindo de forma irregular para a Espanha e acabam vitima de um naufrágio numa praia das Ihas Canárias, arquipélago espanhol. Um desses imigrantes, Zola (Hubert Koundé) consegue fugir quando é salvo pela polícia e no percurso entre a areia da praia e um lugar de liberdade ganha a atenção da turista alemã Nathalie (Sabine Timoteo) quando ele pede que deem água a seu filho que está quase desfalecido. A jovem passa a cuidar de Zola, mas o delegado regional José (Alex Gonzalez) é o maior obstáculo, perseguindo os personagens para que se cumpra a lei da deportação.
O filme começa definindo o temperamento de José. A irmã o visita e pede-lhe ajuda. Ele segue com ela em um carro que ele dirige com desespero (por causa dela, viciada em drogas) e quando param e ela pede que ele lhe dê uma injeção, fato que José diz aceitar, acaba recusando o que deixa a moça irritada, aos gritos, enquanto ele parte de carro. Esta sequencia servirá de contraponto quando se sabe que a jovem toxicômana morre de overdose e o irmão é chamado para identificar o corpo.
A turista Nathalie trata dos imigrantes sem que o namorado saiba. Mas Zola é perseguido e a sua salvação parece ser uma prometida viagem de barco a custo alto. A jovem benfeitora banca a ideia, mas o imigrante é roubado e seriamente espancado por quem o abrigara na ocasião. Sabe-se que só o filho ganhará asilo espanhol se for um órfão. E tudo indica que assim será feito, pois a criança recebe a atenção da assistência social e não crê que o pai havia falecido.
O filme tem uma linguagem realista, com toque documental no modo como faz ver a imigração nas praias das Canárias, e sensibiliza sem adentrar no melodrama o relacionamento do imigrante e seu filho com a turista que casualmente o encontra. A diretora Maggie Peren tem mais dois títulos em longa-metragem na qualidade de direção e roteiro e mais 23 roteiros. Desconhecendo seus títulos anteriores fica a descoberta de uma cineasta de 40 anos muito eficiente em seu trabalho. Não há, com prudência, um aprofundamento nos tipos focalizados, ficando maior substancia na pintura de José. Isto talvez prejudique uma analise da atitude samaritana de Nathalie, mas o roteiro visa o quadro dramático esboçado na imigração ilegal a lembrar uma série de filmes franceses sobre marroquinos que tentam viver em Paris .
O titulo do filme ganha razão numa das últimas sequencias quando uma personagem fala do mar de onde chegam os sofridos africanos. Também se deixa margem à esperança do menino que pensa no pai vivo e ativo que viajou, mas voltará para buscá-lo das praias onde sempre estão chegando seus conterrâneos.
A cor azul contrasta com a desesperança em crescendo dos tipos que vivem o drama de tentar mudar de vida. E não somente entre os imigrantes. José também queria que sua irmã mudasse de vida, mas como ela não conseguiu, ele não imagina que outros possam e faz do rigor da lei uma arma para salvarguardar seu rancor.
“A Cor do Oceano” foi exibido na TV alemã e foi selecionado para o Festival de Toronto. A diretora está no seu segundo longa, mas anteriormente dirigiu curtametragens, além de atuar como atriz. O filme não ganhou nossos cinemas nem nossos canais televisivos. Chega agora para as sessões regulares do cine Olympia graças ao Instituto Goethe da Bahia. Vale a pena conhecer este filme que se pode considerar raro.

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