terça-feira, 28 de maio de 2013

UMA CRÔNICA SOBRE A CIDADE

Imagem perfeita para captar os efeitos de "Sob Você, a Cidade". Em exibição no Olympia. 18h30.


O Instituto Goethe (Salvador/Bahia) tem proporcionado ao cinéfilo paraense, um acervo considerável  em obras cinematográficas que jamais chegariam ao circuito comercial , não só porque há desnível na forma de distribuição de filmes para o Norte (no caso, Belém/PA), como devido a uma produção que as vezes é dedicada a cineclubes. Esse formato de circulação de filmes, o CC-APCC efetivou nos idos de 70-80 numa parceria com o então diretor desse instituto, Guido Araujo. Hoje, reativado esse contato com a ACCPA ( seguimento daquela associação anterior) esse instituto está enviados a melhor produção que tem por lá. Louve-se, então, essa parceria reativada.
O filme presentemente exibido no Cine Olympía é “Sob Você, a Cidade”(Unter dir die Stadt, Alemanha, 2010). Centra sua perspectiva em dois enfoques. As personagens e a cidade. No primeiro caso, há dois tipos, em que cada um deles tendo tempos específicos em seu objetivo de vida: um banqueiro – que define a dimensão de um micro-mundo onde circula o recurso financeiro da cidade. E a esposa de um funcionário recem-chegado em Frankfourt, que domina a cena do jogo afetivo em meio á turbulência financeira que se desenrola no centro de interesse dos negócios do patrão do marido. Evidencia-se um sistema capitalista destruidor subjacente nas entrelinhas das negociações entre os “grandes” da cidade e os pequenos funcionários que tendem a se adequar à máquina que é destruida e ou renovada conforme o interesse do capital circulante.
Em meio à trama afetiva iniciada entre o presidente do conglomerado bancário - que “arremata” seus congêneres e torna quase impossivel a vida dos citadinos (só se percebe como estes são atingidos pelas negociações envidraçadas, na cena final) – e a jovem esposa do funcionário novato naquele novo cartel – as situações de violência subjazem nesse “affair”.  Sem dúvida serão definidas em novas negociações, agora na base das trocas, em que a suposta inadvertência desta jovem ao iniciar seu jogo de sedução ao banqueiro desconhece as consequências que advirão. Somente muito depois percebe o quanto se tornou cúmplice de toda a trama de violência ccometida nos subterrâneos dos negócios. No final, embora se considere que o filme poderia terminar em dada cena, este vai além e capta o teor da trama de amor. De quem? E porque deixou de ser drama? É o público quem decidirá essa situação.
A direção de “Sob Você a Cidade”  é de Christoph Hochhäusler, com roteiro do próprio diretor associado a Ulrich Peltzer. A narrativa tende a afastar-se daquela construção tradicional imposta pelo “cinemão norte-americano”, daí porque há estranhamento sobre a dinâmica dialética da apresentação dos personagens. O envolvimento linear que uma dada escola de cinema credencia para a formação de seu público, diga-se, nem sempre é seguida pelas várias escolas do cinema mundial. É o caso da escola alemã e de outras escolas do cinema europeu que desmontam a criação desses tipos e desenvolvem excelentes maneiras de tratar enredos simples com insights inteligentes. Dessa forma, somente ao final do filme é que o/a espectador/a percebe o significado inicial da sedução da jovem ao chefe do marido, cuja atitude não se traduz como a apelação do conhecimento da causa que será o jogo principal das negociações na mesa dos demais empresários. O caráter  desse tipo feminino é observado no processo de exposição dos demais figurantes do négócio. Assim, a sequência final – atitude do banqueiro e de sua amante – reduz a presunção dos conflitos conspiratórios dos primeiros momentos em suposição de evidencias. A partir daí, uma nova configuração do re-encontro e dos negócios decidirão a trama. Agora não sob os olhares do público, mas na sua imaginação do que acontecerá a partir daí.
Outro detalhe a observar, é sobre a arquitetura da cidade, com os grandes prédios dominando o ambiente e planos demorados de vidraças, refletindo de forma distorcida as imagens de habitantes. Nesse caso é a sempre procurada ideia de que há uma forma de massificação das pessoas, de que os sentimentos se diluem numa amostragem de gigantismo arquitetônico.
Desempenho impecável dos atores, em especial de Nicolette Krebitz, protagonizando Svenja Steve, e de Robert Hunger Bühler, como Roland Cordes.

O sucesso da programação extra dá o seu recado ao  cinema comercial em Belém. Ainda bem. 

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