quinta-feira, 12 de novembro de 2009

ANSELMO DUARTE: GALÃ E DIRETOR



Pedro Veriano, sempre presente neste espaço que para ele é mais do que uma “janela”, mas um lugar especial, revê um tempo de cinema onde a presença de Anselmo Duarte se inscrevia com várias identidades: galã, diretor, ator e o único a trazer para o Brasil a Palma de Ouro de Cannes pelo filme: “O Pagador de Promessas” (1962). Memórias ...(LMA)




Com a morte de Anselmo Duarte fecha-se mais uma janela dos apelidados “anos dourados”. Lembro quando estudava o curso ginasial e a minha turma não perdia as chanchadas da Atlântida que mereciam lançamento de vulto no melhor cinema da cidade (o ainda hoje vivo Olympia). A gente falava do que viu por muito tempo. E criticava certas posturas, especialmente da dupla romântica Anselmo Duarte & Eliana (Macedo). Para mostrar que estava zangado ou preocupado ele só fazia mexer as sobrancelhas. Para dizer-se em perigo ou mostrar-se alegre ela simplesmente não fazia nada. Os dois eram salvos pelos comediantes, especialmente Oscarito (Grande Otelo era a escada para gags de Oscar Terezo Dias, nosso maior cômico).
Quando surgiu em S. Paulo a Cia. Cinematográfica Vera Cruz, sonho do industrial Franco Zampari em que se pretendia combater o improviso do cinema que se fazia no Rio de Janeiro com um arremedo de Hollywood, Anselmo foi contratado para ser o galã. Namorou Tonia Carrero como o compositor Zequinha de Abreu em “Tico Tico no Fubá”(cinebiografia para exportação), e, entre outras coisas, foi uma espécie de Zorro no até que razoavelmente sucedido “Sinhá Moça” de Tom Payne. Contudo, era sempre o Anselmo da Atlântida, aquele imediato de “Aviso aos Navegantes” ou o dono da cigarreira do “Anjo”(José Lewgoy)em “Carnaval no Fogo”. Simplificando, do Anselmo ator só lembro de bom a sua intervenção em “O Caso dos Irmãos Naves” de Luis Sergio Person onde fazia um policial vilão.
Mas chegou o dia de passar para trás das câmeras. E aí o ator mostrou seu talento. Em “Absolutamente Certo” soube empregar a formula da comédia carioca, botando um toque neo-realista que deu o charme necessário ao produto paulista. E em seguida surpreendeu com “O Pagador de Promessas”, nunca um grande filme, mas um filme digno da Palma de Ouro ganha em Cannes (desde que não se meça o concorrente como “Anjo Exterminador” de Buñuel).
O sucesso da peça de Dias Gomes (“O Pagador...”) fez com que Anselmo como diretor tentasse um bis com “Vereda da Salvação”, outro original de teatro (agora de Jorge Andrade). Foi candidato ao Urso do Festival de Berlim, mas fez feio. Os exageros estéticos, tentando fazer “cinema de arte”, resultaram em fracasso comercial. E daí em diante o Anselmo diretor não brilhou mais: “Quelé do Pajeú”, “Um Certo Capitão Rodrigo”, “O Descarte”, “Ninguém Segura Essas Mulheres”(um episódio), “Já Não Se Faz Amor como Antigamente”(um episódio),”O Crime do Zé Bigorna” e “Os Trombadinhas”.
Aos 89 anos, magoado com o que o pessoal do movimento “cinema novo” disse de seus filmes, o paulista de Salto (SP) perdeu a luta contra uma série de doenças, de um câncer a um avc hemorrágico. Ficou a sua participação na história do cinema brasileiro, ou melhor, do cinema em geral. Permanece o único a ganhar para o país o grande prêmio em um festival tradicional como é o de Cannes. E um verdadeiro campeão de bilheteria nos primeiros anos, na fase de namorado das mocinhas e amigo dos palhaços em comédias que tinham o carnaval na alma.
A mim cabe fechar mais um capitulo do cinema-memória. Ainda hoje curto em dvd coisas extremamente simples como “Aviso aos Navegantes”. Lamento não se ter mais acesso a “Carnaval no Fogo”, filme que se perdeu (acharam uma cópia de colecionador, mas sem os créditos, e há outra sem a seqüência – capital – de Oscarito e Grande Otelo parodiando Romeu e Julieta). Do muito desaparecido existe “Maior do que o Ódio” mas este eu não gosto de rever (como detestei quando vi na época do lançamento).
Bem, este é o passado. Ou “um” passado. Sempre achei que o cinema requer memória, requer preservadores para salvar títulos fadados à lenda. Mas quem quer ser preservador? (Pedro Veriano)




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