sábado, 21 de novembro de 2009

LA FRANCE







Serge Bonzon, o ator e cineasta, realizou “La France (Fr. 2008,102 min.) concorrendo em seis festivais internacionais, sendo laureado em dois: Prêmio Jean Vigo 2007 de melhor longa metragem; e Melhor cineasta de ficção do Festival Internacional de Cinema Contemporâneo de Mexico - Ficco 2008. Nesse drama, interpretado por Sylvie Testud, Pascal Greggory, Gullaume Verdier, Jean-Christophe Bouvet, Guillaume Depardieu, entre outros, o roteiro captura o outono de 1917 quando a Primeira Guerra está em processo. A milhas do front, a jovem Camille (Sylvie Testud) tem poucas notícias do marido, mas, certo dia ela recebe uma carta dele terminando o casamento. Sente-se desnorteada e para tirar a prova do que há de real nesse escrito, segue para o campo de batalha. No meio do caminho é forçada pela patrulha a retornar porque “mulher não anda aquela hora da noite na rua”. Mas a jovem está decidida a continuar a jornada e a decifrar o enigma do seu casamento. Assim, disfarça-se com roupas masculinas e segue diretamente ao front, corta caminho para fugir dos soldados, mas se depara com um grupo a quem segue e eles a aceitam considerando-a um jovem. Nova vida e novas descobertas sobre o que representa a convivência no cotidiano entre os colegas de batalha.
A proposta de Bonzon não fica muito clara, mas é possível ser a utilização de uma fábula para tratar da guerra e de uma re-novação de identidades quando este ambiente é situado socialmente como masculino, espaço despojado de tempo para pensar o amor. Um romance a lembrar “Yentl” (com Barbra Streissand, de uma história de Isaac B. Singer). A fantasia dá lugar a situações arriscadas para a jovem, durante muito tempo, como o encontro entre os amantes. Contudo, o cineasta viu um significado. Seria um plano onírico saído de um sentimento (o amor da esposa abandonada). Nesse tom irreal, reforçado com os soldados tocando música, próximo à linha inimiga, a narrativa acena para o surrealismo embora não assuma formalmente essa opção. Fica um híbrido estético a reforçar o temático irreal. Os amantes ficam incólumes, enquanto o pelotão que abrigou Camille segue para a Holanda. Sabe-se por uma legenda que esse pelotão não chegou a seu destino. Seria o caso de o diretor criar uma elegia ao amor do casal da história, mas a julgar pelo comportamento da esposa quando faz sexo com o marido, há limitações. Ao olhar para o lado, procurando alguma coisa, há um aceno para uma possível tragédia. Mas Bonzon não quis terminar seu filme de modo realista. Seria uma incongruência já que a construção distancia-se a passos largos da realidade.
O filme ganhou uma produção interessante com locações nos espaços onde aconteceram os fatos imaginados. Também o elenco secundário mostra-se coeso, embora pouco seja exigido de coadjuvantes. Nos diálogos, forçosamente literários, há menções a diversos temas, inclusive à missão de Camille, logo que ela revele a sua verdadeira identidade. Mas o tipo físico não conduz qualquer fala à uma consistência dramática. E quando a tropa sabe que há uma mulher entre os homens o comportamento de todos é no mínimo estranho. Na verdade, esse aspecto revela o que o imaginário social explora quando mostra a separação entre o mundo masculino e feminino.
O enredo não enfoca o título. Só em um momento um soldado revela a sua nacionalidade e a vontade de voltar a seu país. Mas não justifica a odisséia da mulher que se lança em busca do marido num campo de batalha. Supõe-se, então, que a fábula explora simbolicamente a nação (a mulher) em busca da paz (o amor reconquistado). Seria isso?
O filme não chegou a ser lançado comercialmente no Brasil. Dessa vez a distribuição considerou as perspectivas de mercado e o acolhimento por parte da critica. É uma curiosidade por ter sensibilizado organismos oficiais franceses que o premiaram com um troféu respeitado.
Aos interessados no trabalho de Sergio Bonzon, procurem assisti-lo no Cine Olympia. Não custa nada, além do tempo na sala escura.
Cotação : (***) Bom

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