quarta-feira, 16 de setembro de 2009

AINDA “UP”





Poucos filmes, este ano, reservam tanto ao espectador de todas as idades como “Up, Altas Aventuras”(Up/EUA,2009), a animação dos estúdios PIXAR ora em cartaz. A iniciar pelo curta-metragem que o acompanha, “Party Cloudy” ou “Festa da Penumbra”. Trata de cegonhas trazendo os nenês, como na velha lenda ocidental, mas agora pegando as “encomendas” nas nuvens. Há nuvens especializadas em bebês humanos, como há em macacos, gatos, cachorros, todos os mamíferos conhecidos, chegando a uma especial, no caso uma “cumulus nimbus”, que porta jacarés, tigres, enfim, os bichos carnívoros que apavoram especialmente as crianças, afinal a platéia para esse tipo de história.
Uma cegonha, especialmente, sofre maus momentos nas mãos, ou garras, dos filhotes encomendados e postados pela nuvem escura. Mas não se apavora nem se deixa intimidar. Assim como se recupera das garras de seus “pacotes” também dá ânimo à nuvem, que poderia ficar como vilã da história carregando o preconceito de ser negra. Ela ganha espaço para a alegria, no fim de uma jornada de trabalho em que chega a produzir chuvas e trovoadas. Criativo e espirituoso o curta é um dos bons trabalhos dos desenhistas.
Quanto a “Up”, concebido para ser lançado em 3D, com cópias especificas estreadas nos cinemas norte-americanos, o filme não sucumbe à idéia da técnica e pode muito bem ser visto da forma que está sendo exibida entre nós. Simplesmente porque o desenho não é só um prodígio da computação gráfica. Tem conteúdo, sendo este não uma ingênua moral de fábula como se pode supor se visto na superfície.
Primeiramente vê-se a obvia idéia de que um sonho deve ser sonhado até que se possa realizá-lo. Lembro de “A Gata Borralheira” (Cinderella), uma das melhores animações em longa-metragem da Disney, quando a jovem heroína, depois de cantar sobre o seu sonho, diz aos amiguinhos animais: “-Vocês querem que eu conte (o que sonhei)? Não conto. Pois se contar, não se realiza”. E o sonho da jovem é aquele de viver um romance palaciano que acaba vivendo por conta de sua fada madrinha.
No caso de “Up”, o modesto produtor de balões Carl Friedericksen, sonha ao lado da esposa Ellie com uma viagem às cataratas sul-americanas que um dia viram em uma publicação turística. Para realizar esse intento eles economizam, mas as dificuldades do cotidiano sempre adiam o projeto. Sobra para Carl sozinho, transformado em um viúvo amargo (cujo perfil em desenho de cara quadrada, segundo o diretor criativo da Disney, John Lesseter, “exterioriza o que o personagem sente por dentro”), decidir voar para o espaço desejado através do engenhoso processo de usar seus balões de gás para levitar a velha casa onde sempre morou, mas agora em vias de ser derrubada pelas mudanças urbanas que a circundam.
Encontrando o escoteiro Russel, o velho Friedericksen compartilha a sua aventura com a juventude. Um ajuda o outro, deixando o recado de que é salutar a convivência entre idades dispares. Mas não fica por aí o conteúdo do filme. O mito do herói cai por terra quando eles descobrem que o explorador Charles Muntz, adorado por Friedericksen quando adolescente, é o vilão que mora na selva, querendo por força capturar um animal pré-histórico mesmo que esse animal, seja criatura dócil e que deva ser defendida ao invés de transformada em troféu para exibição em museu.
Também recicla a imagem do velho ranzinza que Lesseter lembrou nos tipos encarnados no cinema por atores como Walter Matthau, James Whitmore e mesmo Spencer Tracy. É uma reciclagem dessas personas, revelando no viúvo aventureiro, capaz de proezas mirabolantes para salvar seu amiguinho e as novas personagens que encontra em sua viagem como a ave cobiçada por Muntz e um cão falante que a ele se associa a lembrar o Pluto da fauna Disney.
Mas o que me emocionou bastante foi a constatação escrita no álbum de Ellie, a sempre lembrada amada e companheira de Friedericksen que ao construir uma trajetória futura a percorrer, escreve “O que eu vou fazer” deixa fotos da vida com o marido, desde o tempo de namoro. Ela reafirma que a maior aventura é a vida vivida. Um casal que se ama e se ajuda em tantos anos participa de uma grande aventura, sujeita a perigos, surpresas, tristezas e alegrias.
Um filme que toca as emoções, realçando, ainda, o que disse Lasseter citando Walt Disney: “O segredo de qualquer filme de animação está na historia e não nos métodos para contá-la”. E ainda: “Para cada risada deve haver uma lágrima... o coração é que importa”.
Vejam o filme de coração e mente abertos, pois muito se aprende com ele. Inclusive a visão dos direitos humanos, os quais todos tratam, mas ninguém vive.
Cinema não é só a racionalidade estética. É a arte sensibilizando e extraindo emoções.
REGISTRO
O desabafo de Pedro Veriano neste blog sobre a situação precária dos espaços de cinema extra
está correndo na Internet.
É importante avaliar sua preocupação e a de todos os que pensam
seriamente a exibição de filmes em Belém, filmes que
uma parte da nova geração não assistiu ainda. Nossa preocupação
não está calcada em dissabores pelo lugar que cada um conseguiu no
espaço de cinema em qualquer lugar.
Tende a ser mais pelo resultado de toda
uma história de vida para construir as alternativas deixando lugar
para os que ainda vem ou estão com seus ideais em outra sintonia.
Não competimos com ninguém, nem recebemos provocação.
Estamos para construir.

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