sexta-feira, 11 de setembro de 2009

UP, ALTAS AVENTURAS




O poeta brasileiro Manoel Bandeira viu como Pasárgada, o seu recanto a lá Shangri-la onde ele se dá bem “por ser amigo do rei”. Em “Horizonte Perdido” (Lost Horizon), o livro de James Hilton (que já lançou pelo menos duas versões no cinema), no prólogo da primeira realizada por Frank Capra, há menção a um desejo das pessoas sobre uma terra maravilhosa onde é possível viver sem os ruídos da grande metrópole.
Agora, no filme da PIXAR escrito e dirigido por Bob Peterson e Peter Docter “Up, Altas Aventuras” (Up/EUA, 2009), o recanto dos sonhos está na floresta sul-americana, em um espaço cultuado por um casal que a câmera nos apresenta desde a infância: Ellie, fazendo troça de Carl Fredericksen, um garoto tímido que se torna um fabricante de balões e logo a toma como namorada, esposa, companheira até que a morte os separe.
A animação tecnicamente impecável como é característica do estúdio PIXAR, hoje ligado a Disney, possui uma seqüência sem diálogos (lembra “Wall E”) onde se vê de forma cronológica a vida de Ellie e Carl. O sonho de viajarem para a floresta é enunciado quando ainda bem jovens, época em que podem subir uma montanha sem demonstrar cansaço. Vê-se como economizam para isso. Mas as despesas do cotidiano levam a quebrar o cofre por diversas vezes. Aliás, todo o romance e a vida em comum do casal passam em prodigiosa síntese na tela. Gradativamente os personagens vão parecendo idosos, ela adoece e sua última imagem é na cama, onde morre. As imagens subseqüentes mostram como as circunstâncias perseguem a vida de Carl, com a casa rústica onde mora ser cobiçada pela expansão imobiliária e as pessoas próximas alertarem a necessidade dele seguir para um asilo.
Ellen não conseguiu concretizar o sonho. Mas Carl achou, na solidão da velhice, que podia fazer a viagem em memória da companheira amada. E para isso prepara um transporte extravagante: amarra milhares de balões de gás no telhado da casa fazendo-a voar, estudando o caminho do vento, para dirigir-se à terra almejada. Inesperadamente aporta em seu “veiculo voador” um garoto, escoteiro, que insiste num pedindo para ajudá-lo em algo visando ganhar um diploma por uma campanha benemerente. Não há como recusar o companheiro de viagem e isto serve para o roteiro criar mais substância à historia da casa voadora, mostrando como juventude e velhice podem conviver e se ajudar mutuamente.
Para os adultos, a concessão aos perigos encontrados pelos viajantes pode parecer comercial atendendo ao público infantil, por anos o maior consumidor de desenhos animados. Mas não é bem assim, embora o ritmo caia da poesia para a aventura. “Up” sempre diz alguma coisa edificante. Chega a comover quando a casa voadora se perde das mãos do dono e este lembra que “é apenas uma casa”. Na busca de um paraíso, o despojamento é capital, assim como a amizade. E mais: um explorador que se vê no início do filme como um falso herói nacional, é focalizado como um tipo inescrupuloso que (bem no tema atual) ataca o meio ambiente.
Com mais este exemplar primoroso, a equipe da PIXAR segue na obrigação de fazer sempre o melhor. Não é fácil, mas a sinceridade aliada à técnica, a criatividade e a sensibilidade produzem esses resultados que merecem espaço na história de uma arte.
Cotação: *****(Excelente)

Nenhum comentário:

Postar um comentário