domingo, 30 de agosto de 2009

VITUS






O cinema moderno vem se mostrando inflexível diante de certos temas. Hoje é improvável que se encontre um filme em que haja vilões, as situações esboçam qualquer tipo de violência, ou a idéia de “viver a vida” lembre de perto a peça que deu origem ao filme “Do Mundo Nada Se Leva”(You Can’t Take It With You) de Frank Capra (exibido no sábado passado na Sessão Cult da ACCPA no Cine Libero Luxardo, e aplaudido pela platéia presente).
Nesse tom descontraído evidencia-se, de certa forma, o filme “Vitus”, roteiro original de Peter Luisa e Fredi M. Murer com direção deste último. Trata-se de uma produção suíça que aborda as peripécias de um garoto de QI acima da média, hábil no teclado como um pianista profissional, desejoso de ler e conhecer as coisas (fica intrigado quando os pais dizem, por exemplo, o termo “paradoxo”, e não explicam de imediato o que quer dizer a palavra, obrigando-o, aos seis anos, a consultar um dicionário). É mais inclinado a apreciar a vida na ótica do avô (Bruno Ganz), que o trata como criança normal (e não como um superdotado a exemplo da mãe) e sonha com aventuras como pilotar um avião sem fazer curso de pilotagem. O menino Vitus, ao chegar aos 13 anos, cansa-se de ser tratado como prodígio e fantasia o resultado de um acidente que diminui a sua potencialidade intelectual. Mas não é uma fórmula para fechar a história, na verdade um conto de fadas sem bruxas ou lobos maus. Assim como domina o piano, o menino passa a dominar a informática e com isso entrar no jogo da Bolsa de Valores, conseguindo aplicar de tal forma as economias do avô a ponto de fazê-lo milionário e, por continuidade, melhorar a situação do pai, despedido de uma firma preste a ser vendida por baixa das ações, comprando-as e nomeando-o para a direção com meios de erguer os negócios.
A precocidade de Vitus segue também a afetividade, contando que ele se apaixona, aos seis anos, por sua babá e, quando chega à pré-adolescência, tentar namorá-la, inclusive dizendo a ela que “ele pode esperar pelo sexo”.
Mas o filme não entra em detalhes que tirem o sabor da fantasia. Tanto que os momentos em que as personagens se realizam são vistos de forma metafórica. O avô sente-se feliz quando consegue comprar um avião e sair voando, mesmo que logo sofra um acidente fatal. Vitus, por sua vez, também sai pilotando o monomotor herdado. A primeira seqüência do filme é a de um menino (que o público ainda não conhece) entrando num avião e dando partida no motor para surpresa de um funcionário do aeromodelo que corre atrás dele. Quando as imagens entre futuro e presente se fundem, vê-se que o pequeno piloto aterrissa defronte da casa de uma pianista famosa a quem a mãe o levara e nessa ocasião não chegara a presenciar o talento musical do garoto que, aborrecido por ser tratado como gênio, recusou-se a ir ao piano.
Não falta ao filme nem mesmo a apoteose do gênero. Sei que muitos espectadores renitentes por um cinema “erudito” (cabem as aspas) se decepcionaram com o enfoque de Murer. Mas o cineasta suíço jamais vacila: persegue a alegria que ainda possa existir nas platéias mundiais. E consegue comunicar a sua idéia.
Há muito mais no filme, mas o contagiante é ver uma luta pela felicidade, mesmo a custa de fantasia.
Cotação: Muito Bom (****)

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