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sábado, 29 de agosto de 2009
DARWIN E KRAMER
Pedro Veriano manda a sua colaboração semanal para o blog hoje tratando de um dos filmes que “achou” no meio de sua volumosa videoteca. (LMA)
"Remexendo o meu baú, ou seja, tentando por em ordem uma velha desordem, com o auxilio do meu ator predileto Manoel Teodoro, encontrei entre mais de mil dvds algumas raridades que eu já havia esquecido que tinha (chegou a um ponto que eu ia comprar “Vinhas da Ira” e deparei com um original numa das muitas prateleiras).
“O Vento Será Tua Herança”(Inerite the Wind) é uma dessas jóias. O filme de Stanley Kramer ainda não apareceu no mercado brasileiro em disco digital. Não chegou nem mesmo em VHS. E caía bem agora quando se festejam os 200 anos de Charles Robert Darwin (o aniversário redondo foi em fevereiro mas o ano é dedicado ao autor da Teoria Evolucionista).
O roteiro veio de uma peça de Robert E.Lew. Em uma pequena cidade norte-americana, nos anos 1920, um professor é preso porque estava ensinando “A Origem das Espécies”, ou seja, o livro que Darwin lançou em 1859 e fez muita gente se engasgar com a maçã do Gênesis. Aproveitando a deixa, um jornalista (Gene Kelly sem dançar) contrata um famoso advogado para defender o rapaz. E os religiosos fanáticos contrapõem com um promotor também famoso, ex-candidato a governo de um Estado e candidato a candidato à presidência.
O debate em um tribunal é o filme. Podia ser uma coisa chata filmar em pequeno espaço só bate-boca de dois velhos. Mas o texto é ótimo, e Kramer juntou seqüências que ajudam na constituição das personagens, e o final é um mimo de síntese: Spencer Tracy, que faz o advogado Henry Drummond, coloca o livro de Darwin em cima da Bíblia. Quer dizer: em cima do muro. As palavras da Bíblia não devem ser desprezadas até por seu valor poético. Mas a ciência deixa de ser ciência se não for investigativa. E a evolução das espécies é uma teoria sedutora que encontra respaldo prático.
Penso em como este filme calaria bem se visto hoje em uma sala grande, num desses programas da ACCPA. A minha cópia foi gravada de um programa de televisão, especificamente do Telecine 5 (hoje Cult). Até nessa área “O Vento...”não levou mais.
Frederic March em um de seus últimos trabalhos no cinema é Matthew Harrison Brady, o tradicionalista que se apega aos textos sagrados para tudo e de forma linear. Há um momento que ele responde simplesmente: “-Está escrito assim e é assim”.
Há tempos dizia-se em tom de graça que o homem é um macaco aprimorado. No filme há uma fala nesse tom anedótico. Aqui no Brasil deu muita marchinha de carnaval. Uma delas: “A história da maçã/é pura fantasia, /maçã igual aquela/ o papai também comia”. Há pouco eu vi na Internet uma foto de um satélite de Urano. Um bonito close das montanhas de um mundo tão distante. O site deu margem a comentários e estes foram trágicos. Diziam que “aquilo era uma besteira, que há muita coisa importante por aqui enquanto se gasta milhões nessas aventuras espaciais”. Eu mandei a minha resposta batendo na macaquice: “_ A Terra não é dominada pelo chamado “homo sapiens”: há muito primata se manifestando”. Mais ou menos assim.
Stanley Kramer salientou-se por ser um cineasta de filmes sérios na industria de entretenimento. Foi produtor e avanços como “Cruel Desengano”(Member of Wedding) e “Os 5 Mil Dedos do dr T” e dirigiu entre muitos “A Hora Final”(On the Beach). Seus filmes chegam ao Brasil de forma homeopática. Mas valem muito. Oxalá as distribuidoras pensem neles. (Pedro Veriano)
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