quarta-feira, 5 de agosto de 2009

QUEM GOSTA DE GODARD?





Jean Luc Godard, cineasta francês de 78 anos (fará 79 em dezembro) e 92 filmes entre os já realizados e em edição, marca o cinema com um estilo, ou uma proposta que difere de todos os outros colegas seja de qualquer escola. Tudo bem que possa existir seguidores e até mesmo quem antes dele já fazia cinema “diferente”. Mas a marca de Godard superou, até porque encontrou mais distribuição e tem um processo de circulação que se torna muito mais abrangente.




Nós todos fomos acostumados a ver filme com a métrica norte-americana. Somos de uma geração “criada” por Hollywood, verdade que se espelha na oferta de material que os EUA enviam à maior parte do planeta. Mesmo os mais contestadores são obrigados a confessar que, em criança, “torciam pelo mocinho” dos faroestes, sentiam certo medo das máscaras dos monstros da Universal Pictures ou cantarolavam as canções em inglês ouvindo as músicas editadas nas luxuosas produções da MGM.
Godard surgiu no bojo do movimento “nouvelle vague” (fim dos anos 50) depois de alguns anos escrevendo sobre cinema na revista “Cahiers du Cinema”. Como crítico ele já demonstrava a sua rebeldia. Foi pioneiro em prestigiar cineastas norte-americanos que os colegas mais velhos não davam atenção (como Samuel Fuller ou Joseph H. Lewis). E juntamente com François Truffaut encabeçou a ojeriza pelo velho cinema francês, especialmente o dirigido por Jean Dellanoy, muito prestigiado até a nova turma, ou “vague” (onda) passar da teoria a pratica.
A rebeldia de Godard começou na dedicatória de seu longa-metragem de estréia: “Acossado” (À Bout de Souffle). Homenageava a Monogram, empresa americana produtora de westerns baratos, policiais de uma hora de projeção e quase sempre sem atores conhecidos.
O cinema, segundo Godard, vivia na pré-história. Porque se limitava a contar enredos. Um filme teria de ter principio, meio e fim bem delineados. Mais ou menos o que diziam os atores da fase muda: um herói, uma heroína, um vilão, uma vitória dos primeiros e o beijo final.
Em “Uma Mulher é uma Mulher” (Une Femme Est Une Femm/1961) ele deixava os principais interpretes por muitos minutos discutindo o que liam na cama. Quem estava acostumado com a idéia de que o cinema francês era pródigo em vender erotismo achava estranha a cena de um casal ir para o leito para....ler.
Em filmes como “Week End”, o terror citadino chegava à estrada para onde um casal seguia em veraneio. Os acontecimentos se precipitavam de tal forma que a situação de um “thriller” era totalmente subvertida para uma observação cínica do aspecto social.
Não há um só filme de Godard que se possa dizer “acadêmico”. Quando Carlo Ponti, mega-produtor italiano, contratou-o para dirigir “Le Mépris” (Desprezo, 1963) com a vedete do momento, Brigitte Bardot, o resultado espantou o "negociante". No final, um desastre que eliminaria os principais tipos nem é visto. Godard não se dobrou nunca.
Há, contudo, certo tipo de pessoas, com significativa cultura cinematográfica que não reconhece a objetividade estética do mestre Godard contra o cinema tradicional. É preciso entender, daí porque não é possível desconhecer, que na rebeldia há cinema. A busca pela leitura desconectada de um centrismo mistificador é o que dá o tom da versatilidade do cinema godardiano.
Neste sábado, o público terá o privilégio de ver o primeiro filme de Jean-Luc Godard, “Acossado”, na Sessão Cult da ACCPA no Cine Libero Luxardo (às 16h30 com entrada franca).

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