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quinta-feira, 24 de junho de 2010
EDUCAÇÃO
Em “Amor na Tarde”(Love in the Afternoon/EUA,1957) Billy Wilder mostrou um romance aparentemente inconvincente entre uma garota (Audrey Hepburn) e um cinqüentão (Gary Cooper). Diz-se assim porque ela, apesar de ser a esperta filha de um investigador (Maurice Chevalier), está longe de ter a experiência do norte-americano conquistador, um milionário que arranja “matéria” para seu “currículo”em Paris.
No filme do consagrado diretor de “Quanto Mais Quente, Melhor”, o encontro de tipos antagônicos dá certo. Mas não dá certo, por exemplo, em “Crepúsculo de uma Paixão” (Middle of the Night/EUA,1959) onde Frederic March, em avançada idade, se apaixona perdidamente por uma ninfeta (Kim Novak). Exemplos que relativizam o relacionamento de pessoas com idades muito diferentes uma da outra.
Um enfoque mais ou menos nesse estilo volta à tela em “Educação”(An Education/Ingl./ 2009) ora em cartaz nos cinemas da cidade. O cenário é a Londres dos anos sessenta, numa família de classe média baixa cuja filha foi matriculada em um curso altamente qualificado, objetivando a sua preparação para o ingresso na Universidade de Oxford.
Jenny (Carey Mulligan) é a garota cujos pais instigam para que o grande fator cultural e social aspirado por eles seja também o da jovem. E ela satisfaz essa expectativa, sendo uma aluna exemplar e eficiente. Além da base escolar, a jovem aprende violoncelo, tem flerte com um rapaz de sua idade, mas se impressiona vivamente quando atende à carona de um homem bem mais velho, David (Peter Sasgaard), auxiliando-a a transportar o objeto musical de estudo. Para a adolescente (e se pode colocar Jenny ainda nessa faixa), o bem apessoado e erudito desconhecido é a chave para um mundo novo, o ingresso na cultura francesa que era moda no tempo e espaço da ação. Com David, a meiga Jenny vai a concertos, a reuniões elegantes, a passeios que jamais faria com pessoas de sua idade e classe social, enfim, vive uma vida que podia ter sonhado, mas sem desprezar do consciente a distancia prática do sonho.
Ao espectador é oferecido o dilema da mocinha. E o enigma de David. Ele seria um (bom) futuro marido? As suas intenções seriam as que aceitaria o vigilante pai da jovem (Alfred Molina), considerando que o projeto que este tem para a filha é da ascensão acadêmica que a levaria ao escopo social.
O filme tem o roteiro baseado em “An Education”, uma autobiografia escrita pela jornalista inglesa Lynn Barber, com roteiro de Nick Horby. Preso a essa origem, ele não dá muita chance para a diretora dinamarquesa Lone Scherfig (adepta do estilo Dogma 95 criado pelo conterrâneo dela Lars Von Triers) voar muito alto. Para muitos pode parecer uma “comédia romântica tradicionalista”, ou “moralista”. Mas além do fato de locar a história num tempo anterior aos Beatles, a Woodstock, e a liberdade sexual, situa muito bem a cultura da personagem, o quanto a família pesa no comportamento dos filhos/as, os limites de uma aventura capaz de gerar desconfiança.
Tudo funciona numa linguagem acadêmica. “Educação” (ou, como bem diz o titulo original “Uma Educação”) tende a ser visto como um exemplar produzido no ano em que se passa o enredo. Seria até considerado inovador se fosse projetado no mesmo tempo do citado filme de Billy Wilder (houve quem achasse muito ousado “Amor na Tarde”). Isso é mérito. Candidato ao Oscar de melhor roteiro, atriz e filme, saiu do páreo sem prêmios, mas foi um raro candidato inglês este ano, período em que se valorizou o norte-americano na demonstração esfuziante de bravura na Guerra do Iraque (“Guerra ao Terror”) ou a critica ao belicismo na exposição de nova tecnologia, ou seja, “Avatar”.
É um programa muito bom. Nada de superlativos, pois a condição geográfica, onde se engloba o fator tempo, não impediria uma densidade maior na exploração do sonho juvenil ou na interrogação de um oportunismo como William Wyler aplicou no desempenho de Montgomery Clift e Olívia de Havilland no clássico “Tarde Demais” (The Heiress/EUA/1949). Mas é uma boa exceção nesta fase de blockbusters.
Cotação: Muito Bom (****)
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