Tudo bem que o dia que o comércio marcou como dia dos namorados (não à toa véspera do dia de Sto Antonio, santo que tem a fama de casamenteiro) já passou. Mas em cinema jamais passa. E começo este comentário expondo o absurdo do titulo “Namorados Para Sempre” que a distribuidora nacional optou para “Blue Valentine”. O filme, um dos bons independentes norte-americanos, que só chegou às telas grandes brasileiras, e em lançamento nacional, por conta do titulo e data. Seria o ideal para os casais que sonham com um amor eterno. Mas a história não é nada disso. Amanhã eu comento o filme, mas ressalto logo que o titulo nacional é equivocado. Melhor foi o que recebeu em Portugal, apesar de ainda asssim dar margem a risos: “Eu e Tu”. Seria correto se a narração fosse em primeira pessoa. Não é.
Este espaço assinala o que parece o mais sugestivo do tema namorados, em filmes. Não vale especificar que o par fica junto, felizes para sempre como se fecha um conto de fadas. Em “Casablanca”, por exemplo, um ícone do gênero romântico, o casal que se ama se separa, se reencontra anos depois e ainda assim não fica junto. Mas a platéia guardou os dois dançando ao ritmo do bolero “Perfidia” e ouvindo “As Times Goes Bye” que Sam, no piano teima em tocar.
Namorados eternos seriam os personagens Kate e Heatchcliff os heróis de “O Morro dos Ventos Uivantes”. Mesmo depois de mortos. No filme de William Wyler (1939), bem diferente do romance de Emile Bronté, está mais explicita a união que vence a vida. Marcou aquele passeio das almas pelo morro onde namoraram na juventude.
O gênero (romance) está cheio, em cinema, de exemplos piegas. Basta citar “Love Story”, para a indústria um arquétipo de roteiro sobre namorados. A frase da heroína ao morrer (“Amar é não ter jamais que pedi perdão”) ganhou a resposta ridícula num close do galã Ryan O’Neal. Em compensação, espectadores (e historiadores de cinema) lembram sempre Katherine Hepburn em Veneza despedindo-se do breve romance com Rossano Brazzi em “Quando o Coração Floresce”. O mesmo diretor deste filme, David Lean, realizou o clássico “Desencanto” onde uma paixão por outro marca a vida de uma mulher presa aos afazeres domésticos: “Desencanto”(do conto de Noel Coward “Brief Encounter”).
Romances que empolgaram gerações passadas podem ser lembrados nos DVDs de “A Ponte de Waterloo”(desencontro de Vivien Leigh com Robert Taylor), “Carta de uma Desconhecida”(Louis Jourdan sabendo por uma carta do amor que Joan Fontaine tinha por ele), “Orgulho e Preconceito” (em duas versões, a mais famosa dos anos 30 com Laurence Olivier tentando ser o eleito de Greer Garson) ou, principalmente, “Aurora” (George O’Brien reencontrando o amor que tinha por sua esposa, interpretada por Janet Gaynor).
Mas os finais infelizes, fora dos padrões de Hollywood, ficaram mais evidentes para muitos cinéfilos (não só “fãs”). Começa com Scarlet O’Hara recebendo um fora de Rett Buttler(ela Vivien Leigh , ele Clark Gable) em “...E O Vento Levou”. Há o grito de “Inocência” (Fernanda Torres) pelo amado, ao morrer (no filme que leva o nome dela). Há o apaixonado sessentão (Laurence Olivier) que perde posição e família ao seguir sem sucesso Jennifer Jones em “Perdição por Amor”. E para não dizer que historias de amor são um privilegio de filmes antigos, lembro dos recentes “Carta para Julieta”, “O Amor Acontece”, “500 Dias com Ela”, “Sex and the City”, e a série “Crepúsculo”.
O amor está no cinema como elemento básico de muitas histórias. E mesmo quando o filme não é de contar história, quem esquece as lembranças de Marcello Mastroianni nos filmes de Fellini (“A Doce Vida” e “8 e Meio”) ou a análise da vida a dois por Ingmar Bergman (“Cenas de um Casamento”) ou ainda as observações de Woody Allen em “Annie Hall” e “Hannah e suas irmãs” ?
Esses romances de cinema fazem a projeção para muitas vidas. E assim, esta coluna não poderia deixar de lembrá-los. Como a vida (pelo menos para mim), o amor é o sentimento eterno.
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