Cena do enterro em "Obssessão Macabra", com Ray Milland.
Entre os filmes que estão sendo
exibidos no Ciclo de Cinema de Horror, no Cine Olympia, um me trouxe impacto e
às minhas filhas que assistiam comigo no velho Bandeirante, nosso cinema
particular. Foi “Obssessão Macabra” (The Premature Burial/EUA,1962) que até a
música através de um assobio distante, ficou como lembrança de algo povocativo
do medo.
O argumento do filme foi extraído
de um conto de Edgar Allan Poe e pertence a uma série que o produto-diretor
Roger Corman realizou para a empresa American International. Os filmes de
Corman com base nas historias do escritor-poeta norte-americano recentemente
“biografado” (cabem as aspas) em “O Corvo” (com John Cusack no papel de Poe),
eram de baixo custo, mas exibiam um porte de produções classe A, pelo modo como
esse diretor usava miniaturas, gelo seco representando brumas, quase sempre o mesmo
figurino e a mesma equipe técnica. Além disso, cada filme não chegava a superar
90 minutos de projeção. Mas como eu disse antes, guardo na memória desse
gênero, especialmente este “Premature Burial” que o tradutor brasileiro
preferiu tirar a tradução linear que seria “Sepultamento Prematuro” por
“Obsessão Macabra” (nada a ver com o enredo). E guardo devido ao momento em que
foi exibido pelo Cine Clube APCC, no anos 70, e como disse antes, também, da
impressão que marcou minhas filhas então crianças. Elas ainda hoje lembram a
“canção dos coveiros”, assobiada pelos que, na primeira sequência do filme,
estão enterrando uma pessoa.
“Obsessão....” trata de um homem
que pensa ter herdado a enfermidade de seus ancestrais, catalepsia. Com medo de
ser enterrado vivo ele arma um verdadeiro mausoléu em casa, com um dispositivo
que acionaria a porta de entrada e o faria sair do caixão. Mas este homem,
interpretado pelo ator Ray Milland, casa-se com uma mulher que ambiciona a sua
fortuna e, sabedora do problema genético do marido, manda sepultá-lo num
cemitério comum quando ele sofre um ataque cardíaco em um lugar longe da mansão
onde moram. O personagem desperta sob a terra e luta para sair com vida e se
vingar de quem o colocou naquela situação.
A série de filmes de horror realizada
por Roger Corman teve outros títulos memoráveis. Lembro “O Homem dos Olhos de
Raio X”(1963), também interpretado por Ray Milland. Nesses casos não há final
feliz. Os filmes suplantavam clichês e seguiam novos rumos temáticos.
O cineasta tem 86 anos, ainda é
produtor, somando 400 filmes nessa qualidade, e dirigiu 56 títulos até 1990. Um
ícone de Hollywood. A nova geração merece conhecer a sua obra (foi ele quem
descobriu Jack Nicholson) e é muito bom que “Obsessão Macabra”esteja amanhã na
mostra de filmes de terror em cartaz no cinema Olympia. E lembrando Corman
quando esteve no Brasil e um critico de S.Paulo, Carvalhaes, solicitou a vários
jornalistas especializados algumas perguntas que seriam incluídos numa
entrevista que seria dada pelo diretor, eu já estava no “O Liberal”, recebendo
essa incumbência. Fiz duas questões a Corman que respondeu, evidenciando a
estratégia de seu trabalho no plano comercial e artístico.
Ainda dentro da mostra em cartaz
no nosso cinema centenário, o filme de hoje, terça, é outra relíquia: “O
Monstro do Ártico” (The Think/EUA,1951). Produzido pelo famoso Howard Hawks e
dirigido pelo amigo dele Christian Nyby com a sua orientação (não creditada) é
o primeiro a tratar de discos voadores como naves interplanetárias. Segundo o
enredo, um desses engenhos cai em montanhas geladas e dele sai um ser vegetal
que pode se fragmentar com as partes gerando outros seres. O nome “A Coisa”
gerou uma refilmagem em 1982, dirigida por John Carpenter. Mas a versão de
Hawks, em preto e branco e de baixo orçamento, marcou época. O ET é focalizado
de modo discreto num tempo em que não havia efeito especial por computador.
Hoje, quando se trata do assunto, o públio lembra mais da realização de
Carpenter. Poucos sabem do primeiro exemplar da RKO realizado há exatos 61
anos. Como se vê essa Mostra é, como se diz, “o creme do creme”, que também serve para estudos sobre cinema e narrativa ontem e hoje.
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