terça-feira, 10 de julho de 2012

ENTERRO PREMATURO

Cena do enterro em "Obssessão Macabra", com Ray Milland.

Entre os filmes que estão sendo exibidos no Ciclo de Cinema de Horror, no Cine Olympia, um me trouxe impacto e às minhas filhas que assistiam comigo no velho Bandeirante, nosso cinema particular. Foi “Obssessão Macabra” (The Premature Burial/EUA,1962) que até a música através de um assobio distante, ficou como lembrança de algo povocativo do medo.
O argumento do filme foi extraído de um conto de Edgar Allan Poe e pertence a uma série que o produto-diretor Roger Corman realizou para a empresa American International. Os filmes de Corman com base nas historias do escritor-poeta norte-americano recentemente “biografado” (cabem as aspas) em “O Corvo” (com John Cusack no papel de Poe), eram de baixo custo, mas exibiam um porte de produções classe A, pelo modo como esse diretor usava miniaturas, gelo seco representando brumas, quase sempre o mesmo figurino e a mesma equipe técnica. Além disso, cada filme não chegava a superar 90 minutos de projeção. Mas como eu disse antes, guardo na memória desse gênero, especialmente este “Premature Burial” que o tradutor brasileiro preferiu tirar a tradução linear que seria “Sepultamento Prematuro” por “Obsessão Macabra” (nada a ver com o enredo). E guardo devido ao momento em que foi exibido pelo Cine Clube APCC, no anos 70, e como disse antes, também, da impressão que marcou minhas filhas então crianças. Elas ainda hoje lembram a “canção dos coveiros”, assobiada pelos que, na primeira sequência do filme, estão enterrando uma pessoa.

“Obsessão....” trata de um homem que pensa ter herdado a enfermidade de seus ancestrais, catalepsia. Com medo de ser enterrado vivo ele arma um verdadeiro mausoléu em casa, com um dispositivo que acionaria a porta de entrada e o faria sair do caixão. Mas este homem, interpretado pelo ator Ray Milland, casa-se com uma mulher que ambiciona a sua fortuna e, sabedora do problema genético do marido, manda sepultá-lo num cemitério comum quando ele sofre um ataque cardíaco em um lugar longe da mansão onde moram. O personagem desperta sob a terra e luta para sair com vida e se vingar de quem o colocou naquela situação.
A série de filmes de horror realizada por Roger Corman teve outros títulos memoráveis. Lembro “O Homem dos Olhos de Raio X”(1963), também interpretado por Ray Milland. Nesses casos não há final feliz. Os filmes suplantavam clichês e seguiam novos rumos temáticos.

O cineasta tem 86 anos, ainda é produtor, somando 400 filmes nessa qualidade, e dirigiu 56 títulos até 1990. Um ícone de Hollywood. A nova geração merece conhecer a sua obra (foi ele quem descobriu Jack Nicholson) e é muito bom que “Obsessão Macabra”esteja amanhã na mostra de filmes de terror em cartaz no cinema Olympia. E lembrando Corman quando esteve no Brasil e um critico de S.Paulo, Carvalhaes, solicitou a vários jornalistas especializados algumas perguntas que seriam incluídos numa entrevista que seria dada pelo diretor, eu já estava no “O Liberal”, recebendo essa incumbência. Fiz duas questões a Corman que respondeu, evidenciando a estratégia de seu trabalho no plano comercial e artístico.
Ainda dentro da mostra em cartaz no nosso cinema centenário, o filme de hoje, terça, é outra relíquia: “O Monstro do Ártico” (The Think/EUA,1951). Produzido pelo famoso Howard Hawks e dirigido pelo amigo dele Christian Nyby com a sua orientação (não creditada) é o primeiro a tratar de discos voadores como naves interplanetárias. Segundo o enredo, um desses engenhos cai em montanhas geladas e dele sai um ser vegetal que pode se fragmentar com as partes gerando outros seres. O nome “A Coisa” gerou uma refilmagem em 1982, dirigida por John Carpenter. Mas a versão de Hawks, em preto e branco e de baixo orçamento, marcou época. O ET é focalizado de modo discreto num tempo em que não havia efeito especial por computador. Hoje, quando se trata do assunto, o públio lembra mais da realização de Carpenter. Poucos sabem do primeiro exemplar da RKO realizado há exatos 61 anos.

Como se vê essa Mostra é, como se diz, “o creme do creme”, que também serve para estudos sobre cinema e narrativa ontem e hoje.


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