segunda-feira, 9 de julho de 2012

FILMES PARA NÃO ESQUECER

Uma das cenas mais marcantes do filme de Leclerc.

Dois filmes, um francês e um canadense, se destacam no programa que assisti esta semana em cópias DVD: ”Os Nomes do Amor”(Le Nom des gens, Fr., 2010) e “Eu Matei Minha Mãe” (J'ai tué ma Mère, Canadá, 2009). O primeiro é uma comédia criativa de Michel Leclerc sobre comportamentos distintos de herdeiros de pessoas que sofreram discriminações: ele (Jacques Gamblin) filho de uma judia sobrevivente do holocausto, ela, de argelinos que lutaram pela independência contra os franceses.
O filme de Leclerc é literalmente narrado pelo personagem de Jacques, Arthur Martin, que diante da câmera vai relatando o pitoresco de nomes semelhantes, a exemplo, cita um time de futebol numa copa do mundo em que vários jogadores tinham o mesmo nome e por isso geravam grande confusão. O titulo original, “Le Noms des Gens” diz tudo. E este título leva ao relacionamento dele, um biólogo especializado em necropsia de animais, com a ativista política Bahia Benmahmoud (Sara Forestier), que havia criado para si própria uma teoria simbólica para combater os membros da extrema direita.

Um tom pitoresco leva a uma dimensão curiosa sobre o momento politico francês, a partir dos anos 1970. E chega a considerar figuras recentes do governo como o presidente que saiu do cargo este ano, Nicolas Sarkozy .
Além do modo irreverente de narrar os fatos (que muitas vezes são dramáticos), o roteiro do próprio diretor e de Baya Kasmi discute várias posturas e passa em revista fatos históricos em tom de comédia. Sempre criativo. Uma surpresa agradável que os cinemas (pelo menos os de Belém) esqueceram.

“Eu Matei Minha Mãe” é uma obra semi-biográfica do diretor Xavier Dolan. Trata de um jovem que quer se emancipar, vivendo desde a infância ao lado da mãe, abandonada pelo marido. Mas esta corta as ideias de independência do filho. E ele reluta chegando a escrever uma dissertação no colégio, em resposta à questão sobre identidade familiar informando que sua mãe está morta. Namorando uma professora mais velha é desiludido quando esta o abandona. Rebelde sempre, a mãe resolve coloca-lo num internato. Mas ele foge. E ao saber da fuga, ela corre em sua busca, não antes de esbravejar com o diretor pela falta de responsabilidade do colégio. Descobre o esconderijo do filho tal como prevê: no lugar onde este passou os melhores dias de sua infância. O último plano focaliza os dois abraçados. Uma frase-prólogo evidencia o tempo certo de se conhecer o amor materno. Mas esse é o dilema circulante em todo o filme.
Com uma linguagem simples, mas suficientemente hábil em cortar os vínculos com o melodrama, o diretor-roteirista discute a superproteção materna sem criar estereótipos que evidenciem quem é bom e quem é mau na história.

Filme simples com bons desempenhos, que esteve no Festival de Cannes, Semana dos realizadores em 2009, e na Mostra de São Paulo.
Outro filme inédito nos cinemas é “Amor Obsessivo”(A Woman/EUA,2010) dirigido por Giada Colagrande, de nacionalidade italiana, esposa do ator Willem Dafoe (de “A Última Tentação de Cristo”) com ele interpretando um escritor viúvo que se apaixona por uma mulher (Jess Weixler) interessada em assemelhar-se à falecida, uma dançarina de tango. A cineasta corta qualquer tendência mais inusitada embora use uma fotografia descorada, enquadramentos que buscam certa plasticidade e edição que prefere seguir liames emotivos distanciando-se da linguagem acadêmica. Pode-se dizer que Giada segue preceitos da já antiga “nouvelle vague”, mas nem sempre sua opção é funcional e o filme se apresenta erudito e de certa forma, monótono.

Entre estes programas revi ainda “A Nau dos Insensatos” (Ship of Fools/EUA,1965) de Stanley Donen. O cineasta, historicamente um grande produtor e descobridor de talentos, tenta sintetizar o livro de Katherine Potter através de um roteiro escrito por Abby Mann, seu roteirista em “Julgamento em Nuremberg”(1961). Mas nem o grande e famoso elenco resiste à superficialidade da abordagem. Realce para Simone Signoret e Vivien Leigh, esta, já doente, em sua última aparição nas telas.

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