"Na Estrada", filme de Walter Salles com base no livro de Kerouac.
Quem leu
o livro de Jack Kerouac (romance cult que se tornou bíblia para toda uma
geração dos anos 1960), publicado em 1957 e adquirido em 1970 por Francis
Coppola para traduzir-se em matéria de cinema, tende a achar o filme de Walter
Salles, “Na Estrada”(On the Road/EUA,França, 2012) uma tentativa séria de
adaptar a saga de rapazes da chamada “geração beat” (não confundir com beatnik)
em sua busca por uma individualidade que parecia perdida num mundo em mudanças
(o final dos anos 40, ou seja, logo depois da 2ª.Guerra Mundial). O livro
recebeu críticas positivas realçando a inovação da obra. Mas muitos o
consideraram subliteratura imoral.
Entretanto,
quem desconhece o original literário fica com a escritura adpatada por José
Rivera (que trabalhou com Salles em “Diários da Motocicleta”) e com as imagens
de Eric Gautier, o fotografo de “Natureza Selvagem”(Into the Wild/2007), filme
de Sean Penn com grande afinidade a este novo. Gautier também fez a fotografia
de “Diários da Motocicleta” e uma das qualidades de “Na Estrada” é esta
habilidade de focalizar diversos ambientes, afinal, o cenário, no sentido
teatral, por onde circulam os amigos da história.
Desconhecendo
o original literário achei que o filme tenta obedecer ao texto original seja
nos diálogos seja no enquadramento dos tipos & situações. Mas se estou
certa, esta fidelidade acaba sendo excessiva e é responsável pela monotonia que
cerca a narrativa.
O foco
maior é Sal, alter-ego do escritor (Jack Kerouac). Ele escreve a odisseia de
sua turma, e pela ética exigida a toda e qualquer obra, o filme muda os nomes
originais por ficticios: Neal Cassidy se torna Dean, LuAnnne altera-se para Marylou,
Carolyn Cassidy passa a ser Camille, e o poeta Allen Ginsberg será Carlo Marx.
Todos jovens, procuram um sentido na vida em que o maior peso está na tentativa
de sentir-se livre. Se for considerada a época em que viveram, quando a
repressão se fazia sentir na classe média, mesmo no após-guerra, eles são compreendidos
no modo como procuram cortar vínculos. Por isso nada melhor do que “fazer
estrada”. E a primeira sequencia do filme já mostra Sal andando com sua mochila
e pedindo carona em um caminhão cheio de trabalhadores rurais. Encontros com os
amigos em diversas paradas ao longo dos EUA percorrendo durante sete anos a
rota 66 que cruza esse país de leste a oeste, saindo de Nova York em direção a
São Francisco, eles divagam entre “conversa fora” e sexo. As namoradas seguem
em momentos de intimidade e também de drogas. Quem pensa que o uso de maconha e
cocaína ganhou campo com a juventude dos anos 1960, com o pessoal de Woodstock,
percebe que já com esses que seriam seus ancestrais já se dividia “erva” e com
isso se mergulhava em noites (e dias) de orgia.
Apesar de
misturar tempo e espaço de sequências e diluir com isso um teor dramático dá
para se perceber que a busca é interior, que a estrada é uma metáfora para se
achar o intimo. Por aí se aproxima a obra de Jack Kerouac, pelo menos a julgar
vendo o filme de Walter Salles, com a de Jon Krakauer, em “Na Natureza
Selvagem”, filmado por Sean Penn, onde também é focado um jovem desencontrado
que sonha em viver no Alaska mesmo tendo as facilidades de ser filho de pais
abastados, cursar universidade e ter namorada. A diferença é ampliar o aspecto
grografico. Na busca por uma identidade Sal e amigos correm vários estados,
várias estações do ano, vários tipos de pousada.
Achei o
filme extremamente longo e perdido num flagrante contexto literário. Apesar de
uma edição que tenta acelerar o ritmo tornando-o compatível com o tema, o
conjunto é cansativo. É um longa-metragem
de 136 min, requerendo muita paciência do/a espectador/a, sobretudo dos que não
conseguem uma conexão com as figuras apresentadas e/ou com lentidão narrativa,
e fragmentada. Não
seria por aí a tradução desse emblemático “boas vidas” norte-americanos. Pelo
menos em linguagem de cinema.
Essa é uma experiência de um
determinado grupo de jovens e não de todos os dessa geração. O proprio Sal, no
final da vida, reconhece-se angustiado e sem se encontrar, retornando para a
companhia da mãe e com a esposa, para São Petersburg, na Flórida.
Oi, Luzia!
ResponderExcluirAinda não fui assistir "On the road", mas só em saber que são 136 minutos, pergunto-me se vale a pena encarar. Os cineastas brasileiros ainda "não se emendaram" e insistem em se americanizar ao invés de seguir a cartilha dos argentinos e iranianos, que continuam batendo um bolão. Uma pena, e que falta nos faz o espírito do cinema novo...
R.Secco
Oi Ricardo Secco, é isso mesmo. Mas no caso do WalterSalles, creio que ele está avaliando um tempo, quem sabe, que ele próprio seguiu numa segunda temporada. Não sei, só projeto o motivo de ele investir nessa produção.
ResponderExcluir