sexta-feira, 16 de novembro de 2012

FRANKENSTEIN MIRIM


 Tim Burton e seu novo trabalho : "Frankenweenie"
 
Em 1984, o diretor Tim Burton realizou um filme curta metragem artesanal, para uso doméstico, com o título “Frankenweenie”, explorando a seguinte história: um cachorro morre atropelado e no desespero de seu jovem dono, Víctor (que é fascinado pelo filme de James Whale, “Frankenstein” mais do que pelo livro original de Mary Shelley), providencia o arsenal técnico capaz de ressuscitar o animal, com o uso da eletricidade. Não falta nem mesmo o papagaio que Benjamin Franklin usou como para-raios. A engenhoca funciona, mas o animal só revive quando o dono se acerca dele, abraçando-o com ternura. Seria mais o amor do que a eletricidade que trouxe de volta o cãozinho Sparky.
É de supor que este “Frankenweenie” ”(EUA/2012), lançado agora, seja uma espécie de auto-homenagem ao tempo do diretor de “brincar de cinema”. Para refazer o pequeno filme, agora em longa-metragem produzida pela Disney, Tim Burton preferiu continuar usando o preto-e-branco e acrescentou a 3D. O que se vê é uma rara animação, sem cores, e no moderno processo tridimensional. Confesso que foi o primeiro filme p&b (e ainda mais desenho animado) que assisti em três dimensões. Uma pena é que o respeito ao original não tenha conseguido manter o som que Burton imaginou com os atores que ele escolheu. A dublagem brasileira bem que é esforçada, mas o cochichado necessário faz com que se percam muitas frases dos diálogos.

Burton já havia trabalhado numa animação “de terror”. “Noiva Cadáver”(Corpse Bride/EUA, 2005) fez sucesso, assim como “O Estranho Mundo de Jack” (Nightmare before Christmas/EUA,1993) que ele só escreveu e produziu, entregando a direção a Henri Selick. Creio que os dois filmes citados resolveram melhor a inclinação do cineasta pelo macabro. Este desafio de agora não é nada desprezível. Os tipos desenhados estão fora do padrão de beleza tradicional, mas, ao mesmo tempo são hilários. O garoto vizinho do principal personagem, um solitário com cara de monstro, é um bom exemplo e se encarrega também de promover uma sessão de bulling ao obrigar Vitor a investir sua expertise em outras experiências sob pela de denunciá-lo para a cidade inteira. Há, também, um professor que por certo foi inspirado num dos ícones dos filmes de terror, especialmente os de Roger Corman: Vincent Price. Pode-se dizer que é uma caricatura de Price. Além desses tipos há um executivo que estereotipa os donos de escolas de comédias e desenhos. Este é o “ranzinza”da trama, mas segue a regra de um gênero de comédia ao se penitenciar do comportamento ríspido quando sua sobrinha é raptada por um “morto vivo” que surge de experimentos de colegas do dono de Sparky. Carregando na energia elétrica os meninos acabam lembrando os filmes de George A. Romero, ressuscitando mortos que são desde formigas a monstros que deviam estar sepultados há muitos anos.

Curioso é que os filmes de animação de Burton, que seriam amedrontadores diante das crianças de antigamente, hoje são preferidos por muitos meninos e meninas. Interessante como estes agem diante do que veem. Um garotinho que estava atrás de minha poltrona na sessão em que fui assistir ao filme, comentava as sequencias com uma impressionante propriedade. Nada de medo: a resposta era entender Burton e ir além. Um neto, Carlos Eduardo, de oito anos, achou que Sparky devia permanecer morto no final. A licença poética de Burton afirma que o amor do dono pode afastar a morte de seu animal tantas vezes quanto ele queira. E não se diga que o cãozinho acha melhor ficar no outro mundo como um Gasparzinho animal. As personagens de Burton podem ser fantasmagóricas, algumas bizarras como Edward Mãos de Tesoura, mas todas (ou quase todas) têm um “que” de afetividade. O“quase” fica por conta de Sweeney Todd, o barbeiro que joga cadáveres para umaestranha “maquilagem (O Barbeiro Demoníaco da Rua Fleet/2007).
“Frankenweenie” é bem interessante. E bem melhor do que os últimos filmes do seu diretor.

 

Nenhum comentário:

Postar um comentário