Sequência inicial de "La La Land" - afinidade com um recorte em "Fame"
Tempo curto para
muita coisa. Inclusive registrar minhas opiniões sobre os filmes que tenho
assistido. E olha que são muitos. Já se disse que a pressão é o melhor meio de aumentar
a produção. E no meu caso, está marcando meu tempo de prioridades. Atividades
acadêmicas e outras, pessoais, encurtaram meu tempo. Que antes o jornal levava.
Revendo o filme mais
tratado em opiniões, discussões, tensões, vencedor de festivais e o mais que
aparece, como as vezes, a quebra do respeito por tal pessoa não gostar dele,
resolvi reiniciar meu tempo de escrita no blog com “La La Land - Cantando
Estações” (EUA, 2016, 128 min.). Na primeira vez que o assisti percebi um
musical marcado por recortes de outros nessa linha e dos quais havia gostado
muito. Agora não. Mas vi que a primeira sequência, antes da apresentação dos
créditos, por exemplo, me lembrou muito uma outra do filme de Alan Parker,
“Fame” (1980) que mostrava estudantes de diversas origens étnicas e sociais em
busca de uma vaga numa escola de artes cênicas em Nova York. Sonhos, lutas,
frustrações, afetos se expressaram nessa sequência, para mim uma das melhores
em um musical porque representava todas as pequenas histórias que estavam sendo
contadas pelos alunos e o problema que eles enfrentavam para realizar seus
sonhos.
Em “La La Land” a
sequência representa o caos numa cidade, mas que vai ser o proxy dos dois
personagens que serão o core do filme. É uma entrada perfeita. Nesse mundo em
que se dança, se espera, se transita, as relações são agressivas como se vê no
gesto da jovem, que pouco depois se sabe ser Mia (Emma Stone) para o condutor
do outro carro (Ryan Gosling), Sebastian.
E daí em diante se
desenrolam as histórias singulares dos dois tipos, ela tendo maior foco, ele
surgindo de um acaso na aproximação com ela. Nessa relação que se emparelha
surge uma ligação amorosa, traduzindo-se em percursos em que as aspirações e os
sonhos de atingir o sucesso – ela na arte de representar, ele na música, em
especial, no jazz - é o leit motiv da vida dos dois então parceiros.
Entre sequencias de
dança e música caminham os jovens em busca de garantir um espaço naquele mundo
em que eles vivem. Mas em que se inscreve essa conotação de coreografias e
canções que instigam o par a penetrar nos seus próprios sonhos? A musicalidade
e a dança do filme repercutem no próprio gestual de suas vidas pelo ambiente em
que se acham. Uma canção sublinha os efeitos românticos, o conhecimento entre os
dois e a revelação de quem são entre si (“Mia and Sebastian’s Theme).
O que me pareceu
muito forte no que o diretor Damien Chazalle quis tratar no filme foi apontar
os caminhos com que se deparam os/as candidatos/as ao star system
hollywoodiano. Mia, de garçonete num café da Warner Bros esperava sair
contratada pelos estúdios tão perto de si. Idealizava-se uma grande intérprete
não reconhecidos os seus dotes porque as oitivas de seus diálogos nos ensaios
que deveriam contemplá-la em algum papel dramático eram desprezadas pelos que
compunham a equipe de sondagem. Mesmo mudando de foco ao criar sua própria peça,
ensaiar e representar, a falta de público se tornou um desastre.
No caso de Sebastien,
seu ideal de levar avante um espaço para recuperar as músicas dos velhos
criadores do jazz também não foi avante. Revisão de vida, rupturas com a
realidade de Mia e novo esforço para decidir o que aquela cidade queria que ele
fosse desmontou as duas vidas já unidas.
Na sequência final em
que os dois se juntam e recontam as suas histórias em outro tom a partir de um
reencontro distanciado – ela na plateia, ele no palco – salienta-se o fulcro do
filme. Esse é o epílogo de um caso em que os sonhos pessoais fizeram a sua
parte, não conseguindo, entretanto, agregar os dois pontos – sucesso e vida a
dois.
Se alguém lembra de
“A Noite Americana” (1973), de François Truffaut onde a realidade de vida dos
atores em que se instalava a realidade do cinema nos bastidores com os
personagens se transformava quase num hospício, a sequência final de “La La
Land” é uma apoteótica demonstração metalinguística de como os sonhos
realizados pelo cinema se concretizam nas imagens cantadas e coreografadas para
uma plateia. Que está à espera de luzes, muitas luzes e ao mesmo tempo do tom
dramático para as lágrimas aos seus “mortos”. Ou aos fantasmas? Ou às imagens
fantasmáticas que levanta naquele momento síntese de sua perspectiva
cinematográfica?
Isto é Hollywood. E é
o cinema para o grande público, cinema que não deixa de ter uma estética
admirável.
Ao rever o filme com
outro olhar deslocado do que eu já havia lido sobre ele, pensei que o cinema
ainda vai ter vida longa. Digo, um tipo de cinema.
Paz ao meu ponto de
vista.
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